A cura do coronavírus: Que critérios?
Por Esperança Joaquim e Jordania Santos
O relato de quem passa pela angústia do que é estar infetado pelo novo coronavírus e pela contingência da cura
Roland Manuel tem 27 anos de idade e é de Lisboa, é Operador de logística, é dos que ajuda a garantir a sustentabilidade dos supermercados, portanto, durante todo o estado de emergência, nunca deixou de trabalhar. Sempre respeitou e praticou as regras de prevenção de combate a pandemia, mas, quando menos esperava viu-se na angústia do que é estar infetado pelo coronavírus. Roland fez o rastreio de despiste do coronavírus depois de ter estado em contacto com um colega de trabalho que havia testado positivo.
“Nos primeiros dias, senti febre, dor de cabeça, perdi o olfato e o paladar. Comia e bebia, não sentia prazer nenhum, só se fossem sabores muito fortes e, mesmo sendo sabores muito forte para sentir tinha de ser pela ponta da língua porque de concreto não sentia nada, mas, o sintoma que até agora persiste é dor de cabeça, tenho dor de cabeça todos os dias e incomoda”.
Desde os primeiros momentos das suspeitas, o jovem rapaz foi isolado das pessoas com quem reside e diz estar a se cuidar como pode, enquanto aguarda a data do segundo teste, que é a 14 dias depois do primeiro teste positivo.
Roland diz não ter recebido nenhuma receita em específico para o combate do novo coronavírus, mas conta que, apenas lhe foi receitado um determinado tipo de paracetamol para controlar ou combater as dores de cabeça.
“O vírus é parecido a uma gripe, mas, estou longe de estar engripado não sinto o nariz obstruído, então uma pessoa tenta combater como pode, mas supostamente, o nosso organismo se reagir bem elimina o vírus”.
As dimensões do coronavírus são muitas, e a verdadeira cura é no fundo a sorte, é não correr o risco de o apanhar e de morrer com ele. E, a melhor prevenção continua a ser o distanciamento social e a higienização.
A origem do vírus que abalou o mundo
O surto do coronavírus terá surgido em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, no mercado de frutos do mar, acredita-se que o vírus derivou de determinadas espécies de morcegos e de um animal consumido como alimento exótico das regiões da China, o pangolim.
Teve o primeiro registo na Europa a 20 de janeiro, em França, no mesmo dia em que os Estados Unidos anunciam ter já registado os seus primeiros casos suspeitos. A pandemia entrou em África, pelo Egito, a 15 de fevereiro, e passado dez dias chegou à América do Sul, pelo Brasil. Bloqueando assim, a maior parte do mundo desde os meados de março de 2020.
Nomeado de Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde a 11 de fevereiro, a pandemia já infetou até agora, mais de 7,948,001 pessoas no mundo e, já terá contribuído para mais 434,097 mortes, havendo mais de 4,086,702 de pessoas recuperadas da doença provocada pelo novo coronavírus, segundo a atualização em tempo real da evolução do vírus no mundo da plataforma Worldometers.
A crise da pandemia na lusofonia
Com a inexistência de uma vacina que possa imunizar a população contra o novo coronavírus, passou a existir critérios de cura que podem variar para cada país
Coronavírus no Brasil
Em meio a pandemia que já levou a óbito mais de 43 mil brasileiros/as, o Brasil enfrenta além de uma crise sanitária e económica, uma das suas maiores crises política e social, resultado da ineficiência do governo em evitar e controlar o avanço do Covid-19 no país. A desvalorização dos danos causados pelo novo coronavírus, por parte do presidente Jair Bolsonaro, fez do Brasil o epicentro da doença no mundo, ocupando a posição de segundo país com mais mortes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, com mais de 100 mil vítimas mortais.
Em entrevista a RTP, o secretário-geral da Organização da Nações Unidas (ONU), António Guterres, reforça que a falta de unidade e solidariedade entre os países durante a pandemia, fez com que cada Estado desenvolvesse a sua própria estratégia e as orientações da OMS não foram seguidas na maior parte dos casos. “O resultado está à vista, uma pandemia que se move de país para país”, concluiu.
O Brasil regista todos os dias um aumento significativo no número de novos casos confirmados de Covid-19, sendo o número de infetados mais que o dobro dos recuperados. Além disso, enfrenta dificuldades para realizar a testagem do vírus na sua população. Devido a falta de testes moleculares torna-se complicado cumprir o pedido da OMS de que todos os casos suspeitos sejam testados. Essa é uma das principais medidas, juntamente com o isolamento social, para controlar do vírus.
Para detetar a presença do SARS-CoV-2 se coletam amostras de secreções através do nariz ou da garganta para encontrar o material genético do novo coronavírus. O teste molecular chamado RT-PCR é um dos mais utilizados nesse processo, no entanto, a falta dele tem feito com que os médicos utilizem outras medidas para confirmar se uma pessoa está infetada ou recuperada.
No mês de abril o Ministério da Saúde disse que os casos graves teriam prioridade na testagem com o RT-PCR. Juntamente com o Brasil, vários países do mundo sofrem ao lidar com a falta de testes para o novo coronavírus, o que levou ao surgimento de diferentes critérios quando se fala em ´cura´ ou recuperação.
Os critérios de cura do coronavírus no Brasil
Enquanto isso, o critério utilizado para considerar que o paciente pode voltar à normalidade é com base no critério clínico. “O critério mais importante para a dispensa do paciente é genérico: é a convicção pela avaliação clínica de que a doença parou de progredir, principalmente na parte respiratória. Quando para de apresentar febre e não tem nenhuma progressão no quadro respiratório, é hora ir para casa e fazer o acompanhamento de lá”, explica o médico Luís Fernando Aranha Camargo, que trata de pacientes com Covid-19, em entrevista para o jornal O Globo.
No Brasil, os pacientes considerados recuperados da Covid-19 não estão a ser submetidos a testes moleculares, muito menos os que possuem suspeitas de estarem infetados, com algumas exceções. Uma medida alternativa tomada foi a utilização de testes sorológicos, pois conseguem identificar anticorpos produzidos pelo organismo quando o paciente está infetado pelo vírus, através de amostras de sangue. No entanto, estes testes por possuírem uma sensibilidade inferior aos testes moleculares não são recomendados para diagnosticar se o paciente está com o vírus ou não, pois no início da doença o organismo leva cerca de 7 dias para desenvolver anticorpos. Os especialistas aconselham a sua utilização em pacientes que já não apresentam sintomas e estão em fase de recuperação.
As pessoas que apresentam sintomas leves devem se manter em isolamento, após um período de 14 dias sem sintomas persistentes são consideradas recuperadas por meio de critério clínico. Pacientes internados em Unidades de Tratamento Intensivos (UTI), devem apresentar no mínimo três dias sem febre e não apresentar dificuldades respiratórias para receber alta médica. Como ainda não existe um medicamento específico ou vacina para o novo coronavírus, a única medida é o cuidado dos sintomas.
No dia 26 de fevereiro de 2020 surgiu o primeiro caso de Covid-19 no Brasil, a doença chamada de “apenas uma gripezinha” pelo presidente Jair Bolsonaro, evolui para de 800 mil casos confirmados. O Ministério da Saúde chegou a deixar de publicar os números que mostram o avanço da pandemia no país, por ordem do presidente, mas o Supremo Tribunal Federal refutou a decisão.
Coronavírus em Portugal
A 2 de março a ministra da Saúde, Marta Temido, confirma em conferência de imprensa exibida em direto diariamente pelos meios de comunicação do país, que tinham sido registados os dois primeiros casos de infeção por coronavírus em Portugal, os mesmos tinham sido identificados no dia 1 de março, no Porto.
Tratava-se de um médico de 60 anos de idade que tinha estado no norte de Itália e, um homem de 33 anos que havia regressado de Espanha, ambos tinham sido já encaminhados ao serviço nacional de saúde.
Atualmente, dia 15 de junho de 2020, em Portugal existem 37 036 casos confirmados; 22 852 casos recuperados; 1 520 mortes; 351 057 casos suspeitos e 975 737 amostras de coronavírus. Deste total de casos, a região do norte do país é a zona com maior registo de propagação do vírus, com mais de 17 078 casos; e segue-se a região de Lisboa e do Tejo com mais de 14 828 casos; e em terceiro a região centro com mais de 3 874 de casos…
A situação do país é atualizada diariamente a partir das 12h no site da Direção Geral da Saúde.
Os critérios de cura do coronavírus em Portugal
Inicialmente em Portugal, os critérios para se considerar um paciente que tenha testado positivo para o novo coronavírus oficialmente curado, era ter dois testes negativos para o novo coronavírus num intervalo de 24 a 48 horas.
No dia 25 de abril, Marta Temido, disse em conferência de imprensa que Portugal alterou a metodologia como considera um doente de coronavírus curado da doença.
A ministra explicou que foi atualizada a norma que determina o critério de cura, justificando que a mudança foi feita em linha com recomendações das instituições internacionais.
A Diretora da Direção Geral da Saúde, Graça Freitas, reforçou as declarações de Marta Temido argumentando o seguinte: “Seguimos a literatura que saiu nos últimos dias, que indica que se os sintomas melhoraram e um teste deu negativo, é suficiente para assumir o negativo”.
Com isso, em Portugal considera-se curado ou livre do vírus quem tenha tido sintomas resolvidos e ultrapassados e simultaneamente tenha testado negativo para o coronavírus.
A diferença em relação à situação anterior é que os doentes sem internamento hospitalar, necessitam de apenas um teste negativo após 14 dias de cuidados e isolamento social. No entanto, para os doentes internados o critério de dois testes mantém-se, com um dia a separar as duas testagens.
Ainda não é possível falar em uma cura permanente para o coronavírus, mas existem já alguns avanços que podem contribuir para a elaboração de uma possível vacina
Embora existam já vários estudos sobre o coronavírus, a verdade é que de concreto nada existe ainda para a cura deste vírus.
No dia 16 de março a revista Nature Medicine publicou um artigo sobre uma investigação científica, no qual cientistas australianos afirmam ter identificado o processo através do qual o sistema imunitário combate a doença do novo coronavírus. Segundo esta investigação, as pessoas infetadas estariam a recuperar do coronavírus, da mesma forma que recuperam de uma gripe.
Pela primeira vez, os cientistas identificaram quatro tipos de células imunitárias com a capacidade para lutar contra o coronavírus. O estudo se baseou na observação e acompanhamento da evolução do estado de saúde de doentes que apresentaram sintomas moderados e sem quaisquer antecedentes de prolemas de saúde.
Os especialistas informaram que ao descobrir o modo como funcionam as células do sistema imunitário perante ao coronavírus, estão também colaborar no desenvolvimento de uma nova vacina contra a doença.
Até à data, não existem vacinas ou medicamentos específicos para o coronavírus. Estão a ser investigados possíveis tratamentos, que segundo a Organização Mundial da Saúde serão testados através de ensaios clínicos.