A Memória: Resgate do “Eu-Comunitário”

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A Memória: Resgate do “Eu-Comunitário”

[Catarina Almeida e Inês Diana Silva]

Daniel Brandão é Professor Auxiliar no Departamento de Ciências da Comunicação do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, investigador integrado do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade e colaborador do Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura. Criou o Museu do Resgate no âmbito do seu doutoramento e trabalhou em projetos como CitaDocs e Eco-Ar. Falou sobre memória, sobre este resgate e sobre aquilo que consegue alcançar com um telemóvel.

#infomedia: Um dos projetos que mantém é o Museu do Resgate. A linguagem nesse site é bastante curiosa com termos como “passa-para-cá os vídeos” ou “estes já cá cantam”. Porquê a escolha destes termos para designar secções no site?

Resposta: A linguagem, a nomenclatura, os títulos para estas áreas do site têm como objetivo também uma aproximação em termos de comunicação aos moradores, às pessoas do centro histórico do Porto que usam este tipo de expressões de cariz muito informal, de conversa de café, de conversa de rua. E o “passa-para-cá os vídeos” têm como intuito também essa coisa de quase como se fosse um assalto. Deixa-me ver o que é que está dentro do teu telemóvel. Também com um espírito lúdico, de brincadeira e por isso teve como objetivo isso, desinformalizar, não deixar que o projeto e o site tivesse um cariz muito formal porque eu acreditava que esse cariz muito formal, muito duro, poderia afastar algumas das pessoas de participar.

Se tivesse uma linguagem mais direta, mais informal, conseguiria conquistar algumas dessas pessoas. E o “este já cá cantam”, que é uma expressão totalmente portuense ou“o que é que é isto?” São coisas que nós dizemos no dia-a-dia. E foi um bocado com esse objetivo.

Daniel Brandão na sessão da tarde do Jornalismo Frankenstein

#infomedia: O professor é designer. De que forma a sua formação nesta área o ajuda na produção de projetos como o Citadox e o Eco?

Resposta: O Eco acaba por explicar bem a forma como eu vejo o design. O design de comunicação, que foi o design, a área dentro do design, que eu estudei, que me formei e que aliás trabalhei durante muitos anos, nomeadamente em Serralves. Eu vejo o design como uma disciplina que é muito horizontal e que consegue cruzar muito facilmente com outras disciplinas. Cruzar-se, juntar, agregar outras disciplinas, como a arquitetura, como a etnografia, o documentário, a geografia, outras disciplinas. O design vai-se associando a várias… Porque, no fundo, habitua-se também, como o próprio nome indica, da origem do termo design, de desígnio, está associado muito à ideia de projetar. Estudar um problema e projetar uma solução, no fundo. Sendo na área da comunicação, a solução são soluções de comunicação, gráficas, etc.

Na área do design industrial são soluções de industrial, como uma garrafa. Noutras áreas são outros problemas, que podem ser sociais. E esta ideia de design social, ou de design universal, aliás, que é um termo que eu aprecio mais, está muito associada a este projeto do Eco-Ar, o Eu Comunitário, porque utiliza as bases do design, associadas, interligadas com o documentário e a etnografia, para fazer isto, que é recolher informação e partilhar sobre casos de sucesso de práticas comunitárias que são auto iniciadas, que começam no bairro, pelas pessoas, no fundo.

E eu vejo muito isto, como é que o design pode funcionar para capacitar pessoas, colocando-as a participar em documentários, por exemplo, como no Citadox, mas também, ao mesmo tempo, pode contribuir para melhorar a sociedade, aquilo que as pessoas conseguem fazer para lutar contra aquilo que são as vicissitudes da vida.

Portanto, a ideia de resiliência. Como é que o design pode ajudar e contribuir para a resiliência, no fundo. E pronto, isto é um bocado aquilo que me vai puxando, estimulando e acaba por fazer, para mim, sentido em relação àquilo que eu vou fazendo. Basicamente é isso.