“ A obrigação do futebol não é transformar todos os atletas em jogadores, é transformar todos os atletas em homens.”
- José Jesus
- 16/12/2021
- Desporto
O “desporto rei” foi uma ferramenta de aprendizagem capaz de formar Fábio André e ajudá-lo a tornar-se a pessoa que é hoje.
É na cidade costeira de Esmoriz, em Aveiro, que encontramos Fábio André. O jovem de 20 anos, abandonou os estudos assim que concluiu o ensino secundário: ” A escola nunca foi uma das minhas paixões apesar de ter chegado a pensar se ia tentar entrar para o ensino superior acho que foi fácil perceber que não era o que eu queria pelo menos naquela altura.” Com o fim dos estudos Fábio tinha agora de encontrar uma nova atividade onde ocupasse o tempo. Foi então que passou por alguns trabalhos, desde a linha de montagem de uma das maiores empresas de torneiras a nível mundial até ao bar de praia onde se mantém até hoje: “Sem dúvida que este trabalho, de todos os que tive até agora, é o que mais se adequa a mim e como tal o que me custa menos. É um ambiente muito amigável, os horários são flexíveis, normalmente trabalho dia sim, dia não. Sem esquecer o que o diferencia da maior parte dos trabalhos: é na praia, o que torna tudo mais fácil. A praia é um dos meus lugares favoritos.”
Durante todo trajeto, e a acompanhar as mudanças, o que sempre se manteve constante foi a paixão e o entusiasmo por um desporto que é uma das, senão a maior paixão da sua vida: “O futebol está na minha vida desde sempre, desde que tenho memória pelo menos. São muitos anos. Acho que posso dizer que se não é a maior paixão e o que mais gosto de fazer é sem dúvida uma delas.” Uma paixão tão grande que em meados do ano 2015 mudaria até a maneira como era conhecido, quase como se a sua identidade fosse alterada: ” De alguns anos para cá deixei de ser conhecido como Fábio. Agora sou o “Villa”, e foi tudo por causa do futebol.” Em 2015 aos 14 anos, Fábio mudava de clube. Deixava o Esmoriz para representar o Clube Desportivo Paços de Brandão e foi então que tudo começou a mudar: “Lembro me como se fosse hoje, era o meu primeiro treino e não tinha nada do Paços, levei uns calções pretos e uma camisola do Barcelona. A camisola era do David Villa, o avançado espanhol. Eu também era avançado e na parte final do treino o treinador meteu-nos a fazer uma peladinha uns contra os outros. Lembro-me desse treino me ter corrido muito bem e fiz alguns golos. No dia seguinte, no segundo treino quando cheguei às instalações, já com uma camisola que me deram do Paços, toda a gente me chamava “Villa”. Acho que posso dizer que tenho amigos e amigas e até mesmo pessoas que não têm nada a ver com o mundo do futebol que me conhecem como Villa e não fazem ideia sequer que o meu nome é Fábio.”
“Villa”, como é agora conhecido, realça o seu gosto e obsessão por esta modalidade. “Quando eu era miúdo, até na escola, o futebol puxava mais por mim do que a própria escola. Tinha aulas de 45 minutos e o que eu mais queria era que tocasse a campainha a avisar que estava na hora do intervalo. Normalmente o quinto ano jogava contra o sexto. Eu adorava estes jogos porque era sempre escolhido para ir jogar com os mais velhos. Além de ganhar grande parte dos jogos por jogar com eles, sentia-me bem e fazia-me pensar que era realmente bom, tão bom que era escolhido para fazer parte de uma equipa melhor e com rapazes que eu nem conhecia bem, nem tinha qualquer tipo de ligação. Eles apenas me queriam pelo meu futebol.”
“Assim como nunca me abandonou também não vou ser eu a abandoná-lo”
Apesar de o futebol fazer parte da vida de Fábio desde que acordava, era ao final do dia que podia expressar todo o seu amor: “ O treino era sem dúvida o auge do meu dia. Não só quando era mais pequeno e passava literalmente o dia todo à espera desse momento, mas arrisco dizer que ainda mais quando me comecei a tornar mais velho e já tinha algumas responsabilidades e dores de cabeça.” Esta modalidade revelou-se um suporte muito importante na vida de Fábio. Auxiliava-o a espairecer da sua vida longe deste mundo: “O futebol ajudava e continua a ajudar-me muito. Não só pelo desporto em si mas também pelo facto de ter a oportunidade de estar com os meus colegas num ambiente um pouco mais liberal do que a escola por exemplo. Aqui não nos punham de castigo se chutássemos uma bola com mais força contra uma parede, estávamos lá mesmo para isso. Apesar de já me ter acontecido também ficar de castigo no futebol, poucas vezes mas aconteceu.”
Fábio considera que o futebol teve um papel fulcral na sua vida. Para ele o futebol deixou de ser encarado como um desporto para se tornar uma maneira de viver e uma ferramenta para o futuro: “ Há uma coisa que eu nunca me vou esquecer. No Paços de Brandão tinha um treinador que gostava muito de fazer brincadeiras com capas de jornais. Ele pegava numa capa de um jornal desportivo e fazia com que parecesse que a nossa equipa era o foco principal.” Esta rotina repetia-se semanalmente e a ansiedade para conhecer a nova capa crescia de semana para semana. Foi esta brincadeira que acabou por sublinhar aquilo que Fábio retirava da modalidade predileta. “Ele fazia isso para tentar motivar-nos de certa maneira. Lembro-me perfeitamente de que num dos treinos portamo-nos um bocado mal e no dia seguir quando chegamos ao balneário, no lugar da capa, tínhamos uma frase: “ O futebol não tem a obrigação de transformar todos os atletas em jogadores, mas tem a obrigação de transformar todos os atletas em homens.” Até hoje esta é uma frase que me marca e que me acompanha quando vou treinar. Para mim o futebol deixou de ser apenas um desporto, ajuda-me a melhorar como pessoa diariamente. A minha intenção com o futebol nunca foi tornar-me profissional, claro que era algo incrível e que gostava muito, mas praticava a modalidade porque me fazia sentir bem e dava sentido à minha vida. A partir deste dia e desta frase tudo isso fez ainda mais sentido.”
Para Fábio o futebol tornou-se algo insubstituível, o sorriso que esboça de cada vez que ouve a palavra futebol é contagiante, fruto de uma paixão que desenvolveu durante anos. Pensá-lo como um amor que acabaria por se desvanecer é inconcebível. Símbolo do sentimento e da paixão de Fábio, “Villa” no mundo do futebol, são as suas palavras: “O futebol para mim é para a vida toda. Começou quando eu era pequenino e vai acabar quando eu morrer. Eu era o tipo de miúdo que andava sempre com uma bola de futebol, estava comigo em todo o lado. Ajudou-me muito em vários momentos da minha vida, fez-me crescer como pessoa, ensinou-me a trabalhar em equipa, ajudou-me a perceber melhor valores como o respeito por exemplo. Foi uma peça muito importante na minha vida. Assim como nunca me abandonou também não vou ser eu a abandoná-lo.”
O meu nome é José Filipe Jesus e tenho 20 anos. Frequento o curso Ciências da Comunicação na Universidade Lusófona do Porto. Sempre me interessei pela área da comunicação, e o jornalismo mais especificamente. O desporto é sem dúvida algo que me atrai, sendo o futebol o principal.