A pandemia e a ansiedade: os maus mundos que se juntaram
O meu nome é Andreia Araújo. Tenho 20 anos e moro em Baguim do Monte, no concelho de Gondomar. Sou estudante finalista de Ciências da Comunicação e, desde que a universidade onde estudo encerrou portas, a minha vida tornou-se num caos.
Quando foi dada a notícia de que a universidade iria encerrar, nem todos percebemos bem aquilo que realmente estava a acontecer e não previmos o que estava para vir. Quando dei por mim, vi-me fechada em casa, sozinha com a minha irmã, dias a fio. Os meus pais continuaram a trabalhar. A minha mãe conseguiu a alternância entre o trabalho presencial e o teletrabalho, mas o meu pai não. E foi a partir desta premissa que as preocupações começaram a levantar.
Nunca fui uma pessoa de ficar em casa. Sentia-me um pouco “encurralada” e precisava de sair. Tinha a minha rotina, das nove da manhã às onze da noite, rotina essa que, totalmente do nada, desapareceu. Foi difícil lidar com as primeiras semanas de confinamento. Sempre fui muito “unha e carne” com a minha avó materna e, de um momento para o outro, só a podia ouvir através do telemóvel durante meses. Deixei de ver o meu namorado durante meses e só podia falar com ele através do telemóvel. Não só por questões de segurança mas porque vivemos separados por 150 quilometros.
A outra questão parte da profissão do meu pai. É polícia e chegámos ao pontos em que, por vezes, só o via… na televisão. Enquanto as televisões faziam os diretos em muitas autoestradas e rotundas da cidade do Porto, o meu pai estava lá. Trabalhava horas a fio, dia e noite, e eu não o via a não ser dessa forma. Além disso, a preocupação era constante porque ele vinha a casa de “longe a longe” e estamos a falar de alguém que se expunha quase totalmente ao vírus enquanto trabalhava nas ruas.
Todos os momentos acabam por contar numa soma cujo resultado era ansiedade. Lido com isso há muitos anos mas foi algo que se manifestou imenso durante a quarentena. Para além da preocupação para com o meu pai, a minha avó e o meu namorado, existiam as aulas. Por um lado, foram a minha companhia, mas com os trabalhos a amontoar com prazos super apertados parecia que tudo ia descambar. Com o tempo tudo se foi endireitando mas já não consigo contar pelos dedos das mãos o número de vezes que me fui abaixo durante estes meses.
Senti-me sozinha, apesar de ter de fazer o papel de mãe perante uma irmã mais nova, de cada vez que a nossa mãe não estava em casa. O coordenar das minhas aulas e das aulas dela. O não ver as horas a passar e 1001 tarefas de casa por fazer porque a faculdade ocupava 48 horas de um dia com 24. O ter de ajudar a minha irmã e a minha mãe quando nem eu própria me conseguia ajudar. Foi difícil, mas deu para crescer.
Tudo se tornou numa incógnita, em certa altura, mas “passando mais um dia, é menos um que falta para tudo terminar”. A mensagem é começar a pensar nos outros e não apenas em nós. A mensagem é positiva, apesar das vivências dizerem o contrário.
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