“A redação YouNDigital será um espaço facilitador da ação participativa dos jovens, promovendo uma voz ativa e a criação de uma rede internacional”

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“A redação YouNDigital será um espaço facilitador da ação participativa dos jovens, promovendo uma voz ativa e a criação de uma rede internacional”

Vanessa Ribeiro-Rodrigues é jornalista, documentarista, investigadora e professora universitária na Universidade Lusófona- Centro Universitário do Porto (ULusofona-CUP). A propósito do lançamento da redação digital internacional online, YouNDigital, no dia 20 de fevereiro na ULusófona – CUP, em parceria com o #infomedia, a mentora e fundadora do #infomedia reflete como as redações online digitais dinamizadas por jovens são fundamentais para o exercício da cidadania responsável e pela formação de jornalistas comprometidos com a literacia dos média.

[Texto de Maria Neto]

Qual a importância deste tipo de iniciativas no jornalismo?

Estas iniciativas continuam a ser fundamentais para promover quer a cultura jornalística entre os futuros e futuras jornalistas, quer para exercitar a prática em contexto académico da rotina produtiva do jornalismo, ao mesmo tempo que se permite a criação de uma rede internacional de jovens jornalistas. Possibilita dar espaço para que os jovens possam se expressar num espaço seguro e fiável. Simultaneamente, está a formar-se uma geração com competências críticas para o exercício do jornalismo. O facto de o YouNDigital formar parceria com o #infomedia permite a ampliação de uma rede de trabalho entre jovens, para jovens e sobre jovens. Serão os temas que os preocupa que importa, ao mesmo tempo que se educa para a literacia mediática.

Quais os principais objetivos da criação da redação online YouNDigital?

O tempo que percorre a transição dos jovens para a idade adulta é uma fase muito importante na formação do pensamento crítico e reflexivo e que necessita de ser acompanhada por práticas ponderadas e alicerçadas em valores humanos e colaborativos: essa é a base da redação YouNDigital. Acreditamos que o YouNDigital poderá ser um bom contributo para formar futuros adultos comprometidos com a produção de informação responsável, atendendo a premissas de rigor, verificação e pluralismo na escuta de vozes/fontes. Nesse sentido, a redação YouNDigital pretende promover a participação dos jovens no espaço público mediático, a partir da abordagem de assuntos que os preocupa, quer geracionalmente, quer enquanto cidadãos. Dessa forma, a redação será um espaço facilitador da ação participativa dos jovens, promovendo uma voz ativa e crítica sobre vários temas, ao mesmo tempo trabalha-se competências de literacia crítica. Da minha experiência, é a partir da educação para os media e para o jornalismo que se pode criar efetivas mudanças para a promoção de boas práticas e uma cidadania digital informada e responsável.

De que modo o ecossistema digital online impacta no jornalismo?

O ecossistema digital exige que o rigor na prática jornalística seja desafiado, diariamente, pela pressão da velocidade informativa, a par de contra informação, mascarada de verdade. Para combatermos a desinformação é necessário que haja um conhecimento maior de todos e de todas do que são as desordens informativas: como toldam e lesam a nossa liberdade, como identificá-las, o que fazer para denunciá-las e como retificá-las. Esta é uma responsabilidade de jornalistas e cidadãos em geral. Os jornalistas têm o dever de consciencializar, contudo eles não conseguem chegar às pessoas se não houver abertura e um trabalho de compromisso pelo lado dos cidadãos. Tem de haver um diálogo constante.

Poderá o contexto digital online ajudar na luta contra problemas de silenciar a liberdade de imprensa?

O facto de os meios de comunicação estarem disponíveis no contexto da web é uma forma de liberdade importante, contudo é preciso enfatizar também as nuances, porque isso não é garantia de liberdade de imprensa. Exemplifico de duas formas. Por um lado, há países como a Guiné-Bissau, onde cidadãos guineenses têm acesso à internet, pelo menos na capital, podendo navegar em vários websites mundiais, contudo, dentro do próprio país permanece um clima de intimidação a jornalistas e repressão. Ou seja, na teoria a imprensa é livre. Na prática, não o é. Por outro lado, em países autoritários, onde o acesso à informação é controlado, ou até mesmo quando grandes potências democráticas limitam o acesso a conteúdos informativos, quer a meios de comunicação, quer a conteúdos verificados das redes sociais, percebemos como é complexo responder a essa questão. O ecossistema digital tornou-se num terreno de disputa geopolítica e de controlo de conhecimento. Essas disputas são-nos, enquanto cidadãos, muitas vezes alheias. E isso é uma forma de silenciar a liberdade de imprensa. É nesse sentido que o fomento de práticas como o YouNdigital, entre outras, são importantes para, pelo menos, nos obrigar a parar para pensar no que escrevemos e no que publicamos, contra uma sociedade atual que é extremamente reativa aos milhares de publicações que circulam na internet, sem conseguir distinguir entre o que é verdade e mentira; sem ter a capacidade de perceber a imposição de perspectivas sobre o mundo e a importância da representação de vozes plurais.