A tradição das rusgas é um legado vivo na Póvoa de Varzim
- Maria Neto
- 11/07/2024
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Tatiana Filipa Fangueiro Lindo, tricana desde os cinco anos, reflete sobre os 70 anos de Juvenorte e a paixão que une a comunidade do Bairro Norte, na Póvoa de Varzim.
Tatiana Filipa Fangueiro Lindo é um nome incontornável quando se fala nas rusgas de São Pedro do Bairro Norte, na Póvoa de Varzim. Nascida e criada nesta cidade conhecida pelas belas praias, aos 23 anos, Tatiana já acumula 18 de participação nesta tradição, que é uma das mais enraizadas na comunidade poveira.
“É uma tradição muito sobre família. O amor pelo Bairro Norte foi-me incutido desde muito nova,” conta Tatiana, a qual viu a irmã mais velha participar nas rusgas e decidiu seguir os seus passos. Apesar do horário apertado do seu trabalho como lojista, Tatiana empenha-se ao máximo nos treinos que, por vezes, são diários, para esta que é uma das mais esperadas tradições da Póvoa de Varzim, a cerca de 40 quilómetros do Porto. “Como costumo dizer, quem corre por gosto não cansa, e esse, sem dúvida é o meu caso.”
O famoso Bairro Norte, azul e amarelo, comemora este ano os 70 anos do Centro de Desporto e Cultura JuveNorte, e que é mais conhecido pelo último nome. Foi fundado no dia 9 de julho de 1954 pelo Rancho Estrela do Norte. Este marco histórico é celebrado com diversas atividades, homenagens e símbolos, como o cravo vermelho usado ao peito pela rusga no cortejo luminoso (que remete à liberdade). Além disso, foi criado, este ano, um rancho dos veteranos criado este ano para honrar as tradições passadas depois de 70 anos, que conta com a presença de pessoas importantes na história do bairro, assim como marchas, músicas e trajes antigos.
A origem do Bairro Norte remonta a uma zanga entre irmãos, que resultou na criação dos diferentes bairros da Póvoa: Sul, Norte, Matriz, Belém, Regufe e Mariadeira. Destes, o Rancho Estrela do Norte destacou-se ao ganhar várias competições de rancho folclórico, tanto a nível nacional como internacional, sendo também o bairro que mais remete para as tradições antigas.
“O slogan deste ano do Bairro Norte é ‘Bairro Norte a mais elevada herança’,” revela Tatiana.
A Tradição do Traje
Uma das maiores tradições das rusgas é o traje da tricana poveira. “Antigamente, era um traje de passeio que remetia ao luxo,” explica Tatiana. Apesar dos trajes terem evoluído e serem nos dias de hoje muito mais trabalhados do que antigamente, há certas coisas que se mantêm. As tricanas não podem usar maquilhagem, decoração nas unhas, nem pierciengs, o puxo tem de ser o de ondas com a travessa, os chinelos mantêm-se como os de antigamente, as meias com uma linha preta na parte de trás e levam ao peito o ouro herdado. Os homens continuam com a camisa branca de corte regular, ausência de relógios e tudo o que remeta ao moderno.
“Cada ano, fazemos um traje novo para superar o anterior,” diz Tatiana, destacando que o custo pode ultrapassar os 1000 euros. Este traje é sempre feito à mão e demora vários meses para estar concluído, são poucas as pessoas que o sabem fazer devido à dificuldade e exigência de certos componentes. A produção de todos os elementos começa logo após o final de cada São Pedro. “Quando trajo sou uma pessoa diferente, vivo o ano todo à espera deste momento”, afirma.
Celebrações e Rivalidades
As celebrações de São Pedro incluem diversas atividades, nas quais participam milhares de pessoas, como a noitada de dia 28 de junho onde as rusgas de cada bairro percorrem a Póvoa, no dia 29 há a procissão de São Pedro, no dia 30 o cortejo luminoso e, no dia 5 de julho, é a segunda noitada de São Pedro, onde cada rusga só percorre o seu bairro. No dia 6 de julho, as rusgas exibem-se no campo do Varzim, num evento transmitido pelo Porto Canal. “Este é sem dúvida o dia que me deixa mais nervosa porque estamos todos a ser vistos por imensas pessoas, e com a transmissão do Porto Canal, chegamos aos quatro cantos do mundo”, afirma Tatiana.
“A noitada de 28 de junho é sempre muito especial, e é também a minha celebração preferida. Todos os poveiros anseiam por este dia, as famílias juntam-se nas suas casas assam sardinhas, convivem, vêm as rusgas. É todo um ambiente que só vivido se sabe o quão incrível é.”
Tatiana também falou sobre a rivalidade entre os bairros, especialmente entre os dois grandes: Norte e Sul. “O Norte e o Sul têm uma grande disputa entre si. Às vezes, essa rivalidade não é saudável, ocorrendo confrontos entre as claques de cada bairro.”
Futuro e Legado
Para Tatiana, a participação na rusga trouxe disciplina e responsabilidades que moldaram o seu desenvolvimento pessoal. “Pretendo ser todos os anos melhor que o anterior e incutir às gerações futuras o amor pelo Bairro Norte.”
Tatiana Filipa Fangueiro Lindo é um testemunho vivo da importância das tradições na Póvoa de Varzim. As rusgas de São Pedro não são apenas uma celebração anual, mas um legado que une a comunidade, preservando a herança cultural e transmitindo-a de geração em geração.
Letra de Sublime Constelação, Bairro Norte “Sobe a maré da folia O vento desfia Rosários de Estrelas No céu azul sobranceiro São Pedro Poveiro Sorri contente por vê-las Rebrilha desde o poente Sublime constelação Que vistão A Póvoa se faz rendida À Estrela imponente À Estrela garrida Que lindo Que vem sorrindo O Bairro Norte com ouro de campeão Poveiro Bairro primeiro Reino de sorte; tesouro; constelação O Norte É vento forte É mar salgado Gaivota sempre a sorrir É raça Astro que passa Rei coroado De Estrelas sempre a luzir A marcha no ar ecoa O Norte apregoa Envolto em vaidade Tricanas lindas princesas São Estrelas acesas À proa desta cidade Deus cobriu-as de tal porte Pintou-as de tal fulgor Por amor A Póvoa fê-las donzelas Estrelas do Norte Tricanas tão belas Que lindo Que vem sorrindo O Bairro Norte com ouro de campeão Poveiro Bairro primeiro Reino de sorte; tesouro; constelação O Norte É vento forte É mar salgado Gaivota sempre a sorrir É raça Astro que passa Rei coroado De Estrelas sempre a luzir” |