Além do ambiente, o que a sustentabilidade envolve

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Além do ambiente, o que a sustentabilidade envolve
Fotografia cedida por Gianluca Senatore

Gianluca Senatore é investigador e professor italiano na Universidade de Roma “La Sapienza”, Italia. Ensina sociologia do ambiente, do territorio e do turismo.

Atualmente também é membro do grupo de trabalho ministerial: “Escola, Universidade e Pesquisa para a Agenda 2030” e delegado do Consórcio Nacional Interuniversitário para Ciências Ambientais (CINSA), sediado em Veneza. 

Na universidade onde trabalha, fez os seus estudos na área das Ciências Políticas e o doutoramento em História da Europa, mostrando interesse pela análise histórica e pelas dimensões socioeconómicas do desenvolvimento sustentável. 

Na sua fase de investigação foi convidado no departamento de Engenharia Mecânica e Aeroespacial do Instituto Politécnico da Universidade de Nova Iorque.

Foi aqui que fiz a sua pesquisa pela tese de doutoramento: “Os Sistemas Dinâmicos de J. W. Forrester nas origens da Sustentabilidade entre os setores científico-tecnológico e humanístico-social”, analisando os sistemas de avaliação universitária, (investigação e didática na NYU).

Durante a publicação do seu livro: Modernità e sostenibilità in Russia

Entre os seus livros que abordam este tema podemos destacar:

“Modernità e sostenibilità in Russia alle origini di un ambientalismo scientifico” (Modernidade e sustentabilidade na Rússia: as origens de um ambientalismo científico) e “Storia della sostenibilità: Dai limiti della crescita alla genesi dello sviluppo” (História da sustentabilidade: Dos limites do crescimento à gênese do desenvolvimento).

Enquanto investigador crítico, o professor Senatore entende o desenvolvimento sustentável como um conceito integral que não se limita aos aspetos ambientais ou económicos, mas engloba todas as facetas sociais.

“Não existem ecossistemas que não tenham sido moldados pelo ser humano, mas isto não nos dá direito de interromper os tempos e os ciclos da natureza”, defende.

Este académico opina ainda que é importante conhecer a circularidade linear do Meio ambiente, ou seja o respeito pelos tempos demarcados da natureza.

Explica que, o conceito foi introduzido na área económica por Harlem Brundtland, uma política norueguesa, com o nome de “economia circular” (a utilização de um produto que, na fase final, é transformado noutro, e cujo ciclo poderia funcionar continuamente, reutilizando parte dos recursos e reduzindo a produção de resíduos).

Modelo de economia circular

Mas o professor considera que a sustentabilidade não pode ser ligada só a parâmetros quantitativos, porque a qualidade de vida depende especialmente dos qualitativos.

“Depois da crise do ano 2010, que prejudicou todo o planeta, nós conseguimos superá-la nestes últimos anos, mas quais foram os resultados? Uma maior desigualdade entre países.”

Depois, dá um exemplo das discrepâncias do mundo: “O que produz economicamente [uma empresa como] Amazon num ano poderia acabar com a fome por dois anos que existe em Etiópia.”

Se analisarmos o contexto lusófono podemos constatar no caso de Portugal que, claro em comparação com outros países, tem uma situação de saúde melhor uma vez que a sua economia é maior.

Mas o professor, acha que a economia não deveria ser o único parâmetro.

Por exemplo, uma doença como a anemia (indica a hemoglobina, uma proteína que transporta o oxigênio, é baixa no sangue), é um verdadeiro parâmetro porque mostra-nos a situação nutricional de um país portanto a qualidade de vida.

ANEMIA EM MULHERES (15-49 ANOS)

fonte: data.unicef.org

Gianluca Senatore afirma que os objetivos globais das Nações Unidas foram determinados por parâmetros tradicionais, especificamente peça uma visão económica do século pasado, quando se pensava que a qualidade de vida era fortemente ligada ao contexto económico.

No presente ele considera que aqueles parâmetros não são confiáveis porque calculam só quantidades e nós agora temos de dar mais atenção às condições sociais.

“Neste 2020 todos os países tiveram que diminuir o comércio exterior, claro, e isso faz reduzir a economia, mas não significa que um país não consiga produzir elementos indispensáveis para os seus cidadãos por tanto assegurar o bem-estar deles.”

Depois, ele acrescenta que: “Quanto mais nós ficamos longe dos aspetos quantitativos, mais conseguiremos estar perto dos aspectos verdadeiramente importantes para a sustentabilidade do nosso planeta.”

PROMOÇÃO DOS OBJETIVOS DA “AGENDA 2030” NA FACULDADE DA ENGENHARIA ENERGETICA

Se fizermos uma análise dos objetivos da Agenda 2030 poderemos perceber que as ideias são boas, mas em contraste entre elas, aborda várias dimensões, mas nós temos de fazer que as pessoas consigam elaborar estes conceitos desde um ponto de vista cultural.

Explica: “antes da covid-19 falava-se muito sobre a questão do ambiente pelo medo que existia das consequências mas quando a pandemia chegou às nossas vidas”, acrescenta: “ninguém mais falou sobre a sustentabilidade.”

A nossa sociedade habituou-se a agir quando temos medo, mas não quando  achamos que algo não está bem. Certamente a sensibilidade sobre os temas sustentaveís agora é maior que no pasado, mas temos de promover um pensamento justo.

“Se uma pessoa da um passeio pela cidade e não consegue ver sistemas equilibrados por exemplo, espaços urbanos na mesma o quase quantidade do que os espaços verdes, deveria sentir que este aspeto falta nesse sitío”

Adiciona: “a etica faz-nos reflexionar, mas os motivos justos para agir somos nós quem temos de encontrar.”

É por isso que é importante eu falar sobre a importância de uma cultura sustentável mundial.

“Como primeiro objetivo, acho que seria importante proteger os espaços verdes, criar reservas naturais  e transformá-los em património cultural”, sublinha Gianluca.

Para ele, é essencial fazer perceber às pessoas que o ambiente não tem um valor económico que nós podemos adicionar, adquirir ou vender.

A natureza é a única coisa que todos partilhamos, além das diferenças sociais, religiosas ou econômicas.” E continua: “Por esta razão nós deveríamos respeitar a circularidade linear.”

Ele considera que o progresso da sociedade e a evolução dos nossos sistemas não sejam importantes, pelo contrário, acredita que é importante associar as novas tecnologias aos objetivos sustentáveis e fazer que os novos mecanismos digitais possam ser transformados em serviços eficientes pelos cidadãos, ao mesmo tempo que se respeita o ambiente.

Nota que é preciso mudar o nosso pensamento para aplicar as novas tecnologias na forma correcta. 

Segundo este académico, o nosso maior recurso é a “nossa herança cultural”, portanto, acha é essencial resolver os conflitos sociais com o nosso conhecimento, a nossa ética e a nossa reflexão.

“Por exemplo o projeto da abelha-robot é muito conhecido e falado neste momento, mas na minha opinião o ser humano deveria perguntar-se porque substituir uma espécie animal se estamos ainda  em tempo de salvaguardá-lo.” 

Acrescenta: “Fundamental é a cooperação internacional sem excluir ningúm país, para acabar com o problema maior, a desigualdade.” Constata:“ Temos de pensar nas gerações futuras mas também nas atuais”.