Ana Elisa Godinho: “É só um momento da vida que depois é uma experiência.”
- Ricardo Garzon
- 28/03/2023
- Atualidade Internacional Moda Sem categoria
Vencedora do Miss Earth em 2009, a luso-venezuelana conta a sua vida e experiência no certame de beleza e a sua luta contra o cancro de mama.
Na vida não há caminhos retos com um único destino caso de Ana Elisa Godinho demonstra-o. Aos cinco anos deixou Portugal e emigrou para a Venezuela, onde cresceu com a sua família, formando-se em psicopedagogia e estética. Durante estes 42 anos na Venezuela, Ana Elisa criou a sua própria família com três filhos, mas nem a complexa situação económica do país, nem o facto de estar longe da sua terra seria o maior desafio na vida da Miss.
Entrar no mundo da modelagem nunca foi algo que fizesse parte dos seus planos de vida. Na altura, em 2008, Elisa trabalhava com o seu marido, que era cirurgião plástico, numa clínica de estética onde muitas mulheres eram operadas: algumas modelos, outras atrizes. Quando um dia o diretor da Miss Venezuela, que estava com uma concorrente, entrou no escritório e conheceu Ana Elisa, deslumbrado com o seu carisma e beleza, convidou-a a participar no concurso, porque acreditava que ela tinha as aptidões necessárias para este concurso. E foi com muita insistência e de pé atrás que que a luso-venezuelana aceitou entrar neste mundo Miss.
Quase como que para provar o bom olho do realizador, Elisa ganhou este concurso em 2009, coroando-se a si própria como “Miss Earth”.
“É maravilhoso, todos te querem ver, querem fotografias, toda a gente te felicita, a minha família ficou muito orgulhosa, claro que nunca deixas de ser tu, mas ganhar e sentir este apoio faz com que te sintas lisonjeada e muito amada”.
Ana Elisa Godinho
Explicando também como este mundo funciona, ela comenta que não é fácil, pois é um ambiente muito competitivo, onde se está rodeado por muitas pessoas que seguem os seus próprios interesses. “É um mundo onde temos de trabalhar muito, temos de manter muitas horas. Começas a fazer apresentações, anúncios, entrevistas, tens convites em todo o lado e, claro, tens de estar presente e estar pronta para as pessoas que te querem conhecer.
“O mundo do Miss, tanto Miss Mundo como Miss Venezuela, não é fácil porque é um mundo muito competitivo, é um mundo onde as amizades realmente não são verdadeiras porque é como uma competência. E, claro, todas querem ganhar, então conheces pessoas muito lindas e tudo, mas estás numa competição onde os seus interesses as podem levar a fazer muitas coisas,podem até te estragar um sapato ou cortar um vestido para tu não conseguires apresentar- te”.
Ana Elisa Godinho
Contudo, aos 46 anos, a rainha da beleza foi diagnosticada com um cancro de mama. Abanando toda a sua realidade e o seu mundo, encontrava-se numa situação quase inimaginável, tanto para ela como para a sua família, a quem lhe custou muito revelar este problema presente em ela.
“Quando me diagnosticaram o cancro, foi uma notícia muito forte”, confidência “Foi uma notícia que eu não estava preparada para ouvir. A gente sempre escuta de outras pessoas e pensas que não pode ser, ficas com muita pena, mas nunca te imaginas ou não te passa pela cabeça que te pode passar a ti mesma”. E , dar a notícia “também é difícil”, recorda.. Sobretudo, aos meus filhos e eles ficaram muito afetados. Começaram a chorar. A minha família, a minha mãe, os meus irmãos, os meus sobrinhos. Foi bastante complicado”.
Ana Elisa Godinho
Um dia acordou, e sentiu um volume, uma bolinha no peito direito e com a sensação de estranheza acudiu ao médico. Após uma ecografia mamária fizeram outros exames, como mamografias, ressonâncias magnéticas, um TAC e uma biópsia. Quando chegaram os resultados, esta “bolinha” era um tumor maligno, o que significa que pode crescer e disseminar se a outras partes do corpo.Além disso, na Venezuela, o acesso e a prestação de serviços de saúde especializados como a Oncologia é limitado e escasso. ens de ter a sorte de encontrar os medicamentos para os conseguir comprar e assim poder fazer o tratamento
Com as doações e o trabalho da sua família, a rainha de beleza começou a fazer os seus tratamentos. Primeiro, foi operada para soltar o tumor do peito direito e esvaziaram a axila porque já tinha seis gânglios positivos de nove gânglios, entrando num processo de recuperação e de fisioterapia, já que o braço fica imóvel durante muito tempo. A partir daí começaram as quimioterapias: uma fase muito dura onde começas a sentir o desgaste psicológico e físico no teu corpo”, confidência “Agora pensas em tudo, no que pode passar na tua vida e na vida dos que te rodeiam. Claramente é aqui onde a fortaleza mental faz se sentir e os que te acompanham possuem um papel crucial na tua vida.”
Ana Elisa Godinho
A ex-miss mundo revela que, com as quimioterapias, começou a sentir mudanças no corpo.
“Caiu-me o cabelo todo e é difícil veres-te nessa situação. Há dias que te sentes muito mal, há dias que te custa até caminhar, mas há outros dias que estás bem, que estás normal e o apoio da família é importante.”.
Ela teve o apoio dos filhos, irmãos e namorado.
“Fazia as quimioterapias e eles estavam sempre aí a dar-me ânimo, a ajudar-me, a rir comigo, a dizer me que eu podia, que não havia nada que eu não pudesse alcançar E eles deram-me muita força, muita força para eu entender que sim, que eu, que eu podia superar isso e seguir adiante.”
O cancro é uma doença dura que constitui uma mudança drástica na vida das pessoas que dele sofrem, e é normal sofrer de ansiedade e stress devido ao impacto que tem na saúde. Compreendendo a importância da psicologia nesta doença, levantou-se a questão do que pensaria uma Miss Mundo, conhecida pela sua preparação mental, ou como lidaria com uma situação tão delicada na sua vida. Para Ana Elisa, o fator mais importante era a sua família e o seu apoio incondicional todos os dias, tal como ela nunca deixou de ser ela própria, nunca deixou de acreditar e de viver a sua vida. Sem negar a presença de um medo muito grande não só pela sua vida, mas também para deixar de se amar, para deixar de se aceitar ao espelho, quase como uma ironia da vida de uma Miss que duvida de si própria ou da sua condição física
“Deixar de me sentir bem comigo mesma ao início era um dos meus grandes medos. Claro, quando me operaram e olhei a primeira vez para o espelho, pus-me a chorar. Não é fácil. Tens uma diferença no teu corpo. Um corpo que estavas acostumada a cuidar, sabes?, ver as cicatrizes. Dói um pouco”. “Nunca deixei de me arranjar ou de me maquilhar”. “Eu gosto muito de saltos altos e nunca deixei de os usar sempre, até quando ia fazer as quimioterapias e as radioterapias, tratei sempre de não me sentir mal comigo mesma, de amar mais o meu corpo e amar-me mais a mim”.
Ana Elisa Godinho
Felizmente as coisas começaram a fluir e a ganhar mais cor na vida da lusa venezuelana que graças à ter a documentação portuguesa foi para a sua terra natal e completar todo o seu tratamento em melhores condições, esta foi a última alternativa que lhe restava para vencer este desafio, pois na Venezuela não tinha as condições para concluir este tratamento, ela entrou no IPO e fez as radioterapias, completando assim todo o processo e conquistando mais uma vitória na sua vida, uma experiência que marcou um antes e um depois na forma de viver da rainha, uma pessoa que “tocou o céu” no mundo da beleza e voltou a terra quando a vida tentou dar-lhe um grande desafio, um desafio onde Elisa não parou, nem ela nem a sua família que nunca deixaram de acreditar, nem de “erguer a coroa” que sempre lhe pertenceu e que hoje em dia continua a usá-la onde quer que esteja.
“Sim, claro, claro que há uma mudança, como pessoa, existe uma Elisa antes e uma Elisa depois. Sempre valorizei muito a minha vida, mas sinto que lhe dou mais valor agora. Sinto que há uma Elisa mais forte agora, mais calma, que valoriza muito mais as coisas, onde temos que por muito coração e muita vontade em nós, há dias difíceis, mas também há dias bonitos e alegres e se a gente tem tanta pessoa que nos quer, vale a pena viver e seguir desfrutando dessas pessoas que a gente tem à volta. Afinal é só uma experiência mais na vida e que é um momento”.
Ana Elisa Godinho