Ana Sá, influencer: “Eu sou muito grata por trabalhar com todas as marcas (…) por mais pequenas que sejam”
- Juliana Matos Silva
- 07/12/2020
- Geração Z
Ana Sá, natural do Porto, tem 22 anos e é, desde 2018, criadora de conteúdos digitais nos setores da moda, cosmética, restauração e hotelaria. A portuense tem hoje mais de 30 mil seguidores no Instagram (@_anafsa_). Licenciou-se em Ciências da Comunicação, na Universidade Fernando Pessoa, e atualmente frequenta o Mestrado em Marketing e Negócios Digitais, na Universidade Portucalense.

O mundo digital
O marketing digital é um aliado de quem procura comunicar, digitalmente, como é o caso da influencer Ana Sá, de 22 anos, já com com mais de 30 mil seguidores. Ela sempre gostou de fotografia e, portanto, criou a sua página no Instagram como um hobby, tal como a maioria dos utilizadores. “Tudo foi acontecendo naturalmente”, explicou. Em 2018, começou a reparar na chegada frequente de novas pessoas à sua plataforma e, com isso, surgiram também pedidos para partilhar alguns conteúdos de moda e até sugestões de produtos. Foi aí que a jovem licenciada em Ciências da Comunicação deu uma maior atenção às fotografias que regularmente captava. Surgiu, assim, uma crescente atenção para os cenários, para a edição e também para as legendas que, deixando de ser tão descontraídas, faziam toda a diferença na hora de publicar, fornecendo mais informação. Nesse mesmo ano, de forma inesperada, surgiu a sua primeira parceria, com uma marca dinamarquesa de relógios, a “Nordgreen“. Conseguiu, a partir desse momento, aliar a paixão pela fotografia a um compromisso: um trabalho.
Devido à crescente convergência para a internet, o marketing teve de se adaptar e apostou em influencers, utilizadores considerados populares e com capacidade para influenciar o comportamento e a decisão de outras pessoas. Através de websites, blogs ou redes sociais, divulgam conteúdos para atingir um público-alvo específico, para envolvê-los num produto, serviço ou até mesmo causa. Com este novo conceito de comunicação de marketing digital e com o “boom” do mundo online, apareceram também os criadores de conteúdo, que produzem material para ser publicado em plataformas online. Por meio de inúmeras estratégias inovadoras, potenciam o crescimento das suas páginas e conquistam um público assíduo, ao qual chamamos de seguidores.
Quem é a Ana Sá?
“Sempre muito tímida”, Ana confessa que o gosto pela comunicação surgiu do prazer de debater temas do seu interesse. Desde pequena que é, segundo a família, muito curiosa. “Lembro-me de dizerem que seria jornalista porque estava constantemente a falar e era atenta a tudo”, revela a influencer. Atualmente, já se considera mais extrovertida, talvez por ter aprendido a comunicar na sua plataforma. Aliás, frisa que é no ambiente digital que se sente mais à vontade para falar.
Em julho, Ana terminou a Licenciatura em Ciências da Comunicação na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, e percebeu que não queria seguir uma carreira na área de jornalismo, mas que gostaria de trabalhar com comunicação. É por isso que enveredou pela área de Comunicação Aplicada. Atualmente, está a frequentar o Mestrado em Marketing e Negócios Digitais, na Universidade Portucalense, na cidade invicta. Refere que é ótimo sentir que um dia mais tarde pode transformar o seu hobby numa profissão.
“Ser paciente é uma mais-valia porque os resultados não caem do céu. Não é de um dia para o outro que as coisas acontecem…”.

Ana não se inspira numa pessoa em particular para criar o seu conteúdo, mas sim em tudo o que a rodeia. Defende ser “contra a cópia de conteúdo de outra pessoa só porque tal teve sucesso”. Atualmente, tem mais de 30 mil seguidores no Instagram, quadro que alcançou em dois anos. Afirma não ter noção da quantidade de pessoas que a acompanha e confessa que o número “é um pouco assustador”. Porém, salienta que é graças a cada seguidor que teve e tem tantas oportunidades no ambiente digital. “Por exemplo, 30 mil lugares é a capacidade que tem o estádio do Braga, e eu não me consigo imaginar num estádio a falar para tanta gente”, constata.
Com uma audiência tão vasta, a jovem influencer admite que, no começo deste hobby, partilhava tudo e mais alguma coisa. No entanto, hoje é bastante mais seletiva e cuidadosa, distinguindo o que é partilhável e o que não é. A prioridade é, sem dúvida, resguardar a família e a sua zona de residência. “Eu nunca sei a intenção das pessoas do outro lado, então prefiro prevenir”.
“No geral, eu tento sempre partilhar um pouco da minha vida pessoal porque sei que as pessoas gostam desse lado, de se sentirem integradas, mais próximas de mim e até de me conhecerem melhor. Mas faço-o com alguma atenção e imponho restrições, claro…”.
O processo de criação de conteúdo

Com a gradual quantidade de pessoas a entrar no meio e a quererem ser criadores de conteúdo, a influencer atenta que o mundo online está cada vez mais saturado. O maior desafio para si, neste momento, é então manter a sua posição, diferenciando-se de algum modo. “Com tanta oferta, com tanta criadora de conteúdo que hoje em dia existe, as pessoas começam a dispersar-se um bocadinho e não podes deixar que gerem um desinteresse na tua plataforma e naquilo que tu partilhas”, elucida. Porém, revela-se otimista ao acreditar que existe espaço para toda a gente no ambiente digital, frisando que se não fizer parte da campanha X, com certeza irá participar na Y ou na Z.
O desenvolvimento de conteúdo exige alguns cuidados. É necessário “ler o briefing que a marca envia para a campanha, perceber o que se pretende realçar na comunicação e depois pensar, então, no processo criativo”, descreve. Assume que o procedimento é mais simples caso lhe seja pedido a publicação de fotografias, mas realça que “nem sempre corre como planeado”. Reconhece que criar conteúdo em formato de vídeo é muito mais trabalhoso. “Desde gravar, ver as filmagens, regravar se for necessário, editar… Leva muito mais tempo”, conta a jovem.
Ana sublinha, sobretudo, a necessidade de planear visualmente o post. “Depois de ter aquela que considero ser a fotografia final, penso como devo comunicar, o que devo escrever para transmitir a mensagem que a marca deseja”, desvenda. Por norma, precisa de uma tarde inteira para criar o conteúdo solicitado pela campanha, salientando que muitas vezes é preciso repetir o processo. Destaca a importância de “ter em atenção o cumprimento de prazos”, por isso expõe: “não podemos deixar tudo para a última e depois trabalhar a correr”.
As parcerias da influencer
A jovem considera que, “embora ainda haja muito para explorar na área, existem cada vez mais empresas a apostar no digital, em detrimento da televisão”, por exemplo. Sente-se muito grata por ter chegado ao lugar em que está hoje e, sobretudo, muito feliz por ter a oportunidade de trabalhar com marcas que acompanha desde pequena. Uma das parcerias que mais prazer lhe deu foi uma proposta do Sport Lisboa e Benfica, em colaboração com a “Sport Zone“, no ano passado. Ofereceram-lhe a camisola do equipamento da nova época em troca de uma publicação, na qual tinha de dar a entender o quanto o clube fazia parte da sua vida. “Eu fiquei em êxtase, foi das parcerias que mais gostei de fazer porque também teve um nível emocional, não era só trabalho”, admite a portuense.
Hoje em dia, no que diz respeito ao setor de beleza, colabora com marcas como a “NIVEA”, a “Pixi”, a “Sephora”, a “Quem Disse Berenice”, a ”Kiko” e a “Rituals”. Recebe press kits com as novidades e partilha com quem a segue, dando a conhecer os mais recentes lançamentos. No setor da moda, já trabalhou com a “Zaful” e mantém parceria com a “SheIn”, uma plataforma exclusivamente online, que lhe envia peças da nova coleção à sua escolha e lhe propõe realizar, por exemplo, vídeos com diferentes looks. Já numa área completamente diferente, a da restauração, colabora com a cadeia de restaurantes Ibersol, que detém marcas como a “Pizza Hut”, a “Pans” e a “Taco Bell”. Enviam-lhe vales para desfrutar de refeições em troca da partilha de experiência na sua rede social.
No verão deste ano, trabalhou pela primeira vez no ramo de hotelaria. Recebeu uma estadia para um fim de semana prolongado no resort de 5 estrelas Hotel Grande Real Santa Eulália, no Algarve. Tudo o que tinha de fazer era publicitar o hotel, dar a conhecer a sua logística e os espaços. Adorou a experiência, visto que, “por mais que estivesse em trabalho, estava, simultaneamente, em férias”.
“Eu sou muito grata por trabalhar com todas as marcas, com cada uma delas, por mais pequenas que sejam. Adoro sempre ajudar os negócios locais e causas solidárias sem receber nada em troca”.
Trabalhar na área do marketing digital
Sobre as características que deve ter um bom profissional de marketing digital para que se possa diferenciar neste mercado tão competitivo, a influencer evidenciou “a importância de se ser curioso”, “de estar sempre informado”, “de aceitar desafios” e “saber comunicar”. Salientou o critério “criatividade”, explicando que é isso “que nos faz destacar da concorrência”. Argumenta que todas estas particularidades reunidas contribuem para o sucesso na área do marketing, mas acrescenta que para o ramo digital, em específico, é fundamental o bom uso de tecnologias, bem como o conhecimento das ferramentas de trabalho, para que o profissional possa comunicar com o seu público da maneira mais eficaz. “Pensar fora da caixa é uma mais valia sim…”, enfatiza a influencer.
“É sempre bom estarmos atentos às notícias, às novas plataformas e métodos inovadores de comunicar. É importante estarmos a par de um pouco de tudo para podermos fazer o melhor”.

O fator “pressão” também está presente no marketing digital, assim como nos outros trabalhos. E que o diga Ana. Revela que, muitas vezes, as empresas não reconhecem o quão demorado pode ser o processo de criar um conteúdo. Determinadas marcas enviam-lhe um briefing com todos os detalhes da campanha num dia, e no seguinte já pretendem que o material seja publicado. Quando isso acontece, o pensamento da influencer é: “Meu Deus, não vou conseguir cumprir os prazos e vou desiludir a marca”, desabafa.
Outro aspeto menos positivo em termos de exposição são as mensagens e os comentários negativos. Quando se trata de críticas construtivas, a Ana admite que tem todo o gosto em ler, responder ao seguidor e tentar aprender o máximo com o que lhe é dito. Todavia, nota a jovem comunicadora, existe quem se esconda atrás de um ecrã para distribuir ódio, e aí ela bloqueia a pessoa. “Eu faço da minha plataforma a minha casa, então quem eu não quero, quem não é bem-vindo, vai embora. Aqueles comentários feitos por maldade ou por inveja, eu simplesmente bloqueio. E bola para frente, que a vida continua e não se faz de coisas negativas”, reflete.