André Rodrigues: “O entretenimento não deve absorver o jornalismo, mas pode ser-lhe útil na atratividade da mensagem.”
- Ana Jorge
- 22/04/2022
- #jornalismofrankenstein Sem categoria
[Por Ana Catarina Gomes e Ana Jorge]
André Rodrigues é licenciado em Comunicação Social pela Escola Superior de Jornalismo desde 2001. Trabalhou como jornalista no Diário de Notícias entre 2001 e 2003. Desde 2003 até ao presente, faz parte da equipa da Renascença onde, atualmente, desempenha funções de Editor Digital.
André é um dos convidados da sétima edição da conferência anual Jornalismo Frankenstein, que irá decorrer na Universidade Lusófona do Porto, no dia 26 de abril de 2022 das 10:00 às 18:30.
1 – O que é para si entretenimento? E o que é para si jornalismo? Há ou deverá haver uma diferença clara na sua perspetiva?
Entretenimento é algo que distrai e que diverte. É um conteúdo ou conjunto de conteúdos estruturados para um consumo em contexto de lazer.
Jornalismo consiste na colheita e na interpretação de dados e de informações que, uma vez encaixados numa estrutura de raciocínio, são convertidos em notícia.
Concordo que deva haver uma separação entre ambas as componentes, na medida em que o entretenimento não deve absorver o jornalismo, mas pode ser-lhe útil na atratividade da mensagem. Exemplo: a reportagem — seja em que suporte for — precisa de elementos que mantenham o recetor ligado à história. Elementos descritivos — sejam imagens, sons de ambientes, ou o recurso a uma linguagem mais criativa – e que favorecem a atenção. Num certo sentido, isso também é entreter, sem deixar de informar, que é o objetivo do jornalismo. A ideia chave é não pôr em causa a sobriedade. É isso que credibiliza a informação e quem a transmite.
2 – Na sua opinião, em que medida existem más práticas jornalísticas que afastam as pessoas da informação e as aproximam do entretenimento?
Por vezes, o combate pela liderança nas métricas e nas audiências leva algumas redações a adotar um livro de estilo que torna quase inexistente ou impercetível a linha que separa o que é informação e o que é entretenimento. O sensacionalismo pode ser um exemplo de uma má prática jornalística em que se faz uma clara opção pelo que é mais impactante e pode, até, chocar a audiência, em vez de favorecer o entendimento do público sobre o que está para lá da espuma dos dias, isto é, as implicações mais profundas que um acontecimento poder ter nas nossas vidas, como a pandemia ou a guerra na Ucrânia.
Num caso e no outro, as más práticas jornalísticas que entretêm (pela negativa) mais do que informam alimentam-se do desconhecimento, dos receios e das incertezas do público. A simultaneidade dos dois acontecimentos é um desafio fundamental para as redações e para o futuro do papel social do jornalismo.
3 – Na sua perspetiva, o facto do jornalismo, por vezes, se “misturar” com o entretenimento não acaba por tirar alguma credibilidade ao verdadeiro ato de jornalismo?
Depende da medida em que o entretenimento se cruza com o ato de informar. Se for pelo sensacionalismo, é a credibilidade que fica em causa. Se for pela via sóbria e equilibrada, é uma ‘win-win situation’: credibiliza-se o papel de quem informa ao mesmo tempo que se aumenta a capacitação de quem é informado. Exemplo: é comum vermos nos canais noticiosos debates que convocam especialistas sobre realidades complexas que são notícia e cuja leitura do consumidor acaba por ser favorecida por uma leitura especializada. Esse debate, se conduzido de uma forma construtiva, favorece o entendimento do consumidor e, se assim for, credibiliza o ato de informar e complementa-o com uma leitura que vai para lá do simples facto noticiado puro e duro. Se preferir, torna-se um ato de informar, formando/educando a audiência, que é, também, uma das funções do jornalismo. Formar, não com a intenção de instrumentalizar a audiência ou de lhe induzir determinado ponto de vista, mas com a finalidade de lhe fornecer os pontos de vista especializados sobre determinado tema para que esteja mais capacitado para compreender a realidade e promover o seu próprio sentido crítico. Desse ponto de vista, o jornalismo pode e deve ser um promotor de cidadania.
Sou a Ana Jorge e tenho 21 anos. Atualmente, frequento a licenciatura de Ciências da Comunicação na Universidade Lusófona do Porto e trabalho como manequim profissional na Best Models SA. Para o meu futuro, ambiciono trabalhar em entretenimento televisivo, em rádio e em representação.