Futebol: moderação das notícias no Facebook
[Notícia de Beatriz Santos, Diana Fonseca, Miguel Valdoleiros]
O boom das redes sociais não foi só para as pessoas se conectarem entre si, mas também para terem um acesso mais fácil à informação. Os jornais utilizam-nas para um maior alcance das notícias publicadas e ainda permitem que os leitores possam interagir, quase como numa lógica de jornalismo participativo.
A maior liberdade de expressão no espaço de comentários do Facebook começou a permitir que houvesse discussão sobre o conteúdo das notícias, porém também criou lugar para propagar o discurso de ódio, que normalmente não está associado à informação em si. Nas notícias de futebol a moderação deste discurso é, segundo o jornal Observador, das mais difíceis.
Leandro Coelho, é um dos muitos utilizadores que costuma comentar nas publicações do Facebook dos jornais, em particular o conteúdo desportivo/futebolístico.
Sempre esteve a par dos conflitos que o futebol e que o clubismo criam, e isso nunca o impediu de deixar a sua opinião ou alguma observação na caixa de comentários. Mas mesmo assim, acabou por ser alvo de uma intervenção negativa, ou seja, de discurso de ódio (na página do jornal O Jogo). Abordou o episódio de “um lance entre o Porto e Benfica a dizer que era penalti e depois vieram insultar: “Usas palas”, “És cego”, “És um burro, sabes que isso não é penalti nenhum” – e, “como vi que as pessoas estavam a começar a atacar-me, apaguei o comentário”, para evitar que o conflito tomasse outras proporções.
“Já vi vários comentários a discriminar jogadores de futebol por serem de outras raças.” – Leandro Coelho
Desde este episódio que o jovem já não comenta notícias de futebol, todavia continua a acompanhar os comentários de outras pessoas, de forma regular. Na sua opinião, as atitudes racistas e xenófobas são a maior percentagem de intervenções que vê n’O Jogo.
Fábio Ribeiro, investigador da UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), refere que “a discriminação, o racismo, a xenofobia, a culpabilização fácil de certas realidades, e muitas vezes não relacionadas umas com as outras, são características importantes do discurso de ódio”. Tendo em conta esta situação, considera inevitável a moderação do espaço de comentários: “os jornais, normalmente, não fazem este tipo de moderação porque não há gente suficiente e não há recursos humanos.”
Os comentários considerados abusivos e as discussões online podem prejudicar o jornalismo participativo. No entanto, Fábio Ribeiro explica que “é apetecível para um diretor de um jornal ter um espaço de comentário e saber perfeitamente que as pessoas têm uma participação desregulada, completamente à margem do debate crítico e racional. É tentador porque é uma forma de rentabilizar, dentro da lógica do dinheiro pois não é só o número de vezes que a notícia é consultada, é também o tempo que perdem naquele conteúdo.”