Basquetebol: Treinar por treinar ou treinar para competir?
- Diogo Araújo
- 09/12/2020
- Desporto Sem categoria
O desporto nacional vive atualmente a fase mais estranha da história e o basquetebol não é exceção. O distanciamento social, a falta de contacto, a ausência de público, mas, sobretudo, a escassez de condições geram descontentamento e incerteza. Para perceber melhor o estado atual da modalidade, Pedro Lopes, atleta do plantel sénior que sente “na pele” as anomalias presentes no basquetebol e Jorge Correia, treinador e atual coordenador desportivo, ambos do Maia Basket Clube, falam sobre esta nova realidade.
Habituado ao ruído frenético dos pavilhões, Pedro Lopes, de 23 anos, conta com um vasto currículo com mais de 15 anos de presenças em fases finais distritais e nacionais pelo Maia Basket Clube, sente a falta de barulho e público presentes no Pavilhão como “diferente, não é algo a que esteja habituado, a presença de público nos jogos é sempre uma alegria para nós jogadores, pois sabemos que temos gente na bancada que se interessa pela modalidade e está lá para nos apoiar”.
Certamente esse não é o maior dos problemas daqueles que estão em atividade, mas sim as condições que a Federação Portuguesa de Basquetebol oferece aos seus atletas, visto que “na liga de basquetebol não são feitos testes como no futebol, isso deixa-nos um pouco inquietos e inseguros, pois resta-nos confiar que os nossos colegas de equipa e adversários cumpram com as normas de segurança de forma a evitar o contágio. No entanto, a partir do momento em que entramos em campo, o foco está no basquetebol e esse receio desaparece facilmente”, afirma o atleta.
Pedro Lopes acredita que o basquetebol e outras modalidades não estão a ter o devido valor e cuidados referindo que, na sua opinião, “nenhuma modalidade devia prosseguir sem serem realizados testes à covid pelo menos semanalmente. É um risco enorme para nós atletas e principalmente para os nossos familiares continuarmos as competições sem garantias de que não há possibilidade de contágio”.
Contudo, o basquetebol profissional não é a fonte de maior preocupação, mas sim, a formação. As restrições de treino impostas pela Direção Geral da Saúde (DGS) – de não poder haver contacto – o término de todas as competições, e ainda a incerteza de quando tudo irá retomar geram inquietação nos clubes e nos atletas ainda mais.
Mas nem tudo é mau, pois apesar das restrições da DGS impossibilitarem a prática desportiva na sua componente de jogo, Jorge Correia, atual treinador e coordenador desportivo do Maia Basket Clube, ressalva que “os treinadores têm uma oportunidade única de trabalhar o atleta, passando para segundo plano a competição do jogo. Todos os minutos do treino podem ser utilizados no ensino e consolidação da técnica individual (lançamento, drible, passe) bem como da tática individual, o que deverá promover um aumento das competências dos atletas. É o momento de realizar Treino Físico em todos os treinos, para que os atletas aumentem a condição física”.
Numa altura de medos e incertezas, muitos atletas deixam as modalidades de lado pois não se sentem seguros com o receio de se infetarem, porém, o desporto é essencial na vida de qualquer pessoa, nomeadamente dos jovens, como forma de motivação pessoal. Jorge Correia assume que “manter a prática desportiva é fundamental para manter os jovens motivados e mais ainda responsabilizados para a prática das regras que lhe foram impostas”. No seu clube, “os atletas aderiram de forma espetacular ao cumprimento de regras que foram impostas para que possam treinar e, mais ainda, mantêm a motivação mesmo sem os jogos. Pelo que assisto nos treinos de todas as equipas, os atletas têm no treino o seu momento do dia, de estarem em liberdade e reunidos em equipa”.
O Maia Basket Clube, uma referência a nível nacional, mesmo numa altura de pandemia, mantém a formação como um dos pilares do clube, sendo que “a grande aposta do Clube é promover o seus atletas da formação na equipa da Liga. Esta época temos seis atletas no plantel da Liga que ainda são Sub23. Ter uma equipa na Liga e não descurar a iniciação e formação são os objetivos. O Clube faz um trabalho fantástico na iniciação e formação”, remata Jorge Correia. Para além disso, para coroar uma época mais atípica, o clube obteve a subida à Primeira Divisão na sua mais recente aposta, o basquetebol feminino.