Cinema Feminino: Em busca de uma oportunidade

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Cinema Feminino: Em busca de uma oportunidade

A indústria do cinema não é fácil, e para uma mulher muito menos. As escassas e fugazes oportunidades de mostrar o trabalho dificultam a entrada e continuidade na indústria. Há, no entanto, um festival que tenta dar palco a cineastas e permitir que se acredite que a oportunidade um dia chegará. Filipa Alves, de 22 anos, esteve em cartaz no festival Olhares do Mediterrânio.

Imagem de Being Uncanny

Filipa Alves desenvolveu o interesse por cinema desde tenra idade, “principalmente o de animação”. Saber como funcionava tudo em termos de técnica, como se processa a animação sempre foi algo que lhe despertou curiosidade. Agora, aos 22 anos, começa a dar os primeiros passos no mundo da sétima arte e depara-se com as poucas oportunidades para as mulheres. Mesmo quando há a oportunidade de mostrar o trabalho, “infelizmente não temos tanto tempo com o espectador, não temos tantas oportunidades, nem tantas chances de errar”. Este é um ciclo vicioso em que depois da oportunidade dada não se pode falhar. O festival Olhares do Mediterrâneo reveste-se de especial importância e simbolismo. Destaca-se por dar voz a mulheres e uma oportunidade para “explorar, criar, experimentar e também errar”, explica Filipa.
Um artigo publicado por Ana Sofia Torres Pereira sobre a questão “O cinema em Portugal tem sexo?” revela que num estudo que pretende estabelecer a influência do género do guionista na representação do género no filme, desenvolvido pela Media, Diversity & Social Change Initiative, mostra que não havendo nenhuma mulher guionista na equipa do filme, há uma média de 25,9% de personagens femininas no filme; havendo pelo menos uma mulher na equipa, essa média sobe para os 34,8%. Um maior número de mulheres guionistas equivale não só a mais mulheres representadas no filme, como a uma maior diversificação da personagem feminina nos filmes (com personagens menos sexualizadas e estereotipadas).

Confrontada com este estudo Filipa, mesmo que não tenha tido muita experiência e de ainda não ter sentido “muito essas dificuldades” acredita que “deve haver imensas [dificuldades], principalmente para as mulheres. Acredito completamente nesse estudo, quantas mais mulheres trabalharem numa equipa de um filme melhor e maior será a sua representação, sim faz todo o sentido, infelizmente”. Apesar da insistência nessa diferença, existe, agora, uma maior sensibilização, as mulheres começam a fazer-se notar e as pessoas estão a tentar mudar esse futuro e incluir as mulheres, “acho isso ótimo”.

Imagem de Being Uncanny

A animação “Being Uncanny” feita pela Filipa e a colega de faculdade Maria Barbosa é um projeto final do curso e esteve em cartaz no festival Olhares do Mediterrâneo, um festival feminino internacional. Este não foi o único momento em que a obra esteve presente ao público. Já participou na I Bienal da Fábrica e no Cinenova. Em novembro, marcou presença em mais três, e o Olhares do Mediterrâneo foi um deles. Embora não fosse esperada a aceitação, Filipa fica “muito feliz pelo Being Uncanny já ganhar algum reconhecimento , visto que é uma animação completamente experimental”. Este reconhecimento advém de o Being Uncanny se tratar de uma animação diferente das outras que são normalmente exibidas nos festivais.

Filipa sempre duvidou muito das capacidades que tem, e por vezes, subestima aquilo que cria, portanto, nada a faz mais feliz do que ver as pessoas gostarem daquilo que faz e fica “grata por estar a participar em tantos festivais”. Estar presente nos festivais e ter a oportunidade de perceber a receção e a opinião das pessoas. É uma forma de evoluir porque “é com os nossos erros que aprendemos bastante. É mesmo com os nossos erros que temos surpresas boas, melhores do que estávamos à espera.”
Being Uncanny surge do conceito de “o que é o ser, o que é nós somos daquilo que não se pode ver”. O título é então o espelho daquilo que trata esta animação, um constante sentimento de entendimento do que é o ser. “É a base do que é que nos somos por dentro, à procura do nosso sentido de vida.”

A área de eleição da cineasta é a animação, mas não é só nela que trabalha. Dedica parte do tempo na ilustração, isto justifica-se com o facto de que “as duas interligam-se muito.” Mas não quer ficar por aqui, Filipa “gostava de ir para além da animação”. A ideia de trabalhar numa equipa e estar atrás da câmara é algo que lhe apraz.

Esta aventura começou muito cedo, antes de ingressar no ensino secundário. Numa fase de muitas dúvidas para a maioria dos estudantes, Filipa já “tinha a ideia que queria seguir animação.” Entrou na faculdade de Belas Artes, em Lisboa, porque era o único curso no ensino público que tinha animação, “apesar de não ser aprofundado da maneira que deveria e ser, tudo muito teórico.” Termina o curso no ano de 2019 e desde essa altura que se dedica ao desenvolvimento de projetos pessoais e ao mesmo tempo que procura oportunidade de trabalho como freelancer na área.