Combater o Bullying com Desenvolvimento Pessoal
- Sara Oliveira da Silva
- 15/12/2020
- Atualidade Geração Z Portugal
A UNICEF estima que metade dos alunos em todo o mundo com idades entre os 13 e os 15 anos – cerca de 150 milhões de jovens – passam por violência entre pares na escola ou nas imediações. Fábio Dias faz parte da estatística. O bullying causou-lhe traumas de vida. Mas este gaiense conseguiu combater o seu problema através do Desenvolvimento Pessoal. Atualmente, trabalha com Coaching para ajudar os outros a superar também os seus obstáculos psicológicos.
Fábio Dias é um jovem que gosta de ler, jogar videojogos e ver séries. Mas a sua grande prioridade é aprender. Aos 20 anos, tem um certificado em Programação Neuro-Linguística (PNL), é Coach e quer formar-se em hipnoterapia. Ao mesmo tempo que se dedica a estas formações, já fez um curso técnico superior profissional em acompanhamento de crianças e jovens e está atualmente a frequentar a Licenciatura em Educação Social, na Escola Superior de Educação, no Porto.
Foi numa sessão de depilação a laser que o jovem Coach ouviu falar pela primeira vez sobre Desenvolvimento Pessoal. “Eu cedi e quando fui ao meu primeiro workshop de coaching, a minha vida mudou”, recorda. A partir daí algo mudou na sua vida. Os ensinamentos que lhe foram transmitidos, as conversas que teve com pessoas que conseguiram ultrapassar grandes dificuldades e a introdução que teve à meditação fizeram com que Fábio começasse a ter esperança no seu futuro. “Senti uma paz como nunca tinha sentido antes”, referindo-se à contraposição do desconforto que antes sentia, pelas marcas que o bullying lhe deixou.
O bullying que sofreu na infância e durante a adolescência está na origem da vontade de querer ajudar-se a si, e mais tarde, aos outros. “Tive professores que me fizeram acreditar que eu não valia mesmo nada”, confessa, sem sinais de ressentimento. A revolta que viria a gerar contra o ensino transformou-se numa vontade de mudança.
“No meio disso tudo, prometi a mim mesmo que queria fazer parte da solução e não do problema, e estou muito contente com o que estou a fazer”, sublinha.
Quando os episódios de bullying começaram a acontecer na vida dele, não houve uma reação imediata, pois acontece que o então pequeno Fábio desconhecia ainda o conceito. Viria a descobrir algum tempo mais tarde nas aulas de Formação Cívica, quando se apercebeu de que o que se estava a passar com ele não era normal. “Empurrões, pequenos roubos, as troças” é o que mais relembra da época.
O jovem estudante conta que, apesar de ter chegado a sofrer algumas agressões físicas por parte de colegas, o que o fez abalar realmente foram os ataques verbais de alguns professores. “Eu não tinha muita aptidão para matemática e a minha professora reprimia-me por causa disso”.
Para além da forma física e verbal, são também reconhecidos pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) como formas de bullying o tipo sexual, homofóbico e o cyberbullying.
Como consequência destes acontecimentos, o jovem começou a reprimir-se a si mesmo tal como o reprimiam. “Refugiei-me na solidão e aceitei que não ia ter um futuro”. O desenvolvimento pessoal e a programação neurolinguística mostraram-lhe que há mecanismos mentais que nos ajudam quer a mudar o padrão mental, quer a mudar o comportamento perante traumas,.
“O desenvolvimento pessoal ajudou a que eu parasse de fazer bullying comigo mesmo e a partir daí deixar de tolerar certas coisas que as pessoas faziam comigo. Eu percebi que a decisão de mudar era minha e é isso que transmito hoje aos meus clientes.”
Atualmente, Fábio Dias trabalha com Coaching e PNL, de forma independente, usando as redes sociais Facebook e Instagram para divulgar os seus trabalhos e transmitir alguns ensinamentos. Enquanto mentor, o seu trabalho é ajudar as pessoas a reconhecer o seu próprio valor, onde também utiliza técnicas de PNL, ferramenta que, nesta área, usa para treinar as formas como a pessoa comunica com ela mesma, e consequentemente, com os outros.
Neste momento está a desenvolver um projeto que permita que, numa sessão, as pessoas conheçam um pouco do desenvolvimento pessoal e encontrem soluções para os seus problemas. Para além disto, ainda realiza meditações guiadas para ajudar a acalmar a mente.
O bullying nas escolas portuguesas motivou mais de cinco denúncias por dia no ano letivo de 2017/2018, segundo dados da PSP, que registou 1.898 crimes mas estima que haja muitos mais casos não denunciados.
Segundo um relatório da UNICEF, metade dos alunos em todo o mundo com idades entre os 13 e os 15 anos, o que representa cerca de 150 milhões de jovens , “relatam ter passado por violência entre pares na escola ou nas imediações desta”.
Fábio acredita que a implementação do Desenvolvimento Pessoal nas escolas traria grandes benefícios no combate ao bullying. Por um lado, seria útil para as vítimas, porque evitaria que desenvolvessem traumas psicológicos. Depois, seria essencial para os bullies, principalmente, pois na grande parte dos casos, tratam-se de jovens que não estão bem consigo mesmos. Finalmente, seria fundamental, ainda, para os professores, porque o professor precisa de ser um bom comunicador para conseguir adaptar-se à heterogeneidade dos alunos, que têm diferentes necessidades. “Hoje eu sei que a minha professora fazia bullying comigo porque estava a passar por uma situação pessoal complicada”, acrescenta, sem querer entrar em mais detalhes.
Apesar dos bons frutos que a PNL poderia trazer às escolas, a aceitação do Desenvolvimento Pessoal em Portugal ainda é reduzida, pois “as pessoas veem o tratamento psicológico como uma futilidade”, considera. “Tive familiares que não acreditaram no meu futuro dentro da área do desenvolvimento pessoal, até ao momento em que fui convidado para dar uma palestra”.
A discussão sobre o bullying arrasta-se há décadas. Como este problema não é exceção para Portugal, a PSP criou o Programa Escola Segura (PES) que “promove a realização de ações que podem ser de demonstração, visitas ou de sensibilização e formação sobre diferentes temáticas junto da comunidade educativa”.
Entre setembro de 2014 e setembro de 2016, a organização não governamental Amnistia Internacional lançou o projeto-campanha Stop Bullying! A iniciativa foi desenvolvida em parceria com dezassete escolas de quatro secções europeias da Amnistia Internacional (Itália, Polónia, Irlanda e Portugal). A ideia foi “contribuir para a redução do bullying e de atitudes discriminatórias entre crianças e jovens, capacitando as escolas participantes com mecanismos de prevenção e sensibilização adequados”, conforme se lê no website. “Tratou-se de uma abordagem baseada nos direitos humanos para combater a discriminação nas escolas enquadrado no programa de Educação para os Direitos Humanos da Amnistia Internacional”. A campanha resultou num Manual sobre Bullying.
Em Portugal, além da forma presencial, as denúncias sobre bullying podem ser feitas para o email escolasegura@psp.pt.