Interrompemos esta emissão das nossas vidas… retomamos dentro de uns meses

Editorial: Vanessa Rodrigues

“O Ano em que o mundo parou” é o nosso novo projeto colaborativo em co-criação com as nossas fontes. Durante dois meses recolhemos histórias em vídeo e em áudio, com várias coordenadas geográficas. Vai estar em constante atualização, dia-a-dia, com novas histórias. É a narrativa coletiva de vidas em suspensão. E suspender faz-nos sempre pensar numa apneia, num suster de respiração, num sôfrego estado de intermitência.

Navegamos quedos, na miríade de mundos da rede. E percorremos, inevitavelmente, os metros quadrados da nossa existência, confinados, encarcerados, constrangidos, limitados, obedientes aos desafios impostos de uma ditadura mundial pandémica, invisível, desoladora.

É a autocracia de uma distopia que nos parecia tão imensa e ficionalmente longínqua. E agora tão efetiva que permanece o hoje, ainda. Permanecerá memória inscrita nos nossos dias do passado. Será um impressão digital na existência de uma geração: esta, hoje, agora!

E, nós, também, circunscritos às aulas à distância, desobedecendo, isso sim, à prática jornalística, que pede terreno, contacto, exercício deambulante e circunspecto, diálogo, cara-a-cara, corpo-a-corpo.

Este trabalho é a prova que não nos rendemos. E que, desafiando todas as probabilidades, reunimos grandes histórias sentados em casa. Não será prática comum, mas é prova de que mesmo confrangidos, conseguimos mexer-nos. É testemunho de que não cruzamos os braços e que, mesmo, confinados, fazemos o nosso trabalho de redação.

O #infomedia é a nossa casa virtual e, por isso, tiramos o máximo proveito da distância para as nossas aulas de Ciberjornalismo. “O Ano em que o Mundo Parou” é o resultado de uma redação inquieta, motivada, cheia de garra e com vontade de provar que é na adversidade que emergem também os melhores jornalistas, os melhores cidadãos e cidadãs, as melhores pessoas. Não necessariamente por esta ordem, mas necessariamente com a mesma urgência.

Foi esse sentido de premência em registar um momento único, histórico, para criar memória que “O Ano em que o Mundo Parou” emergiu.

São narrativas de uma narrativa. Médicos, enfermeiros, estudantes, polícias, bombeiros, donas de casa, empresários, trabalhadores de supermercado, professores, adultos, miúdos e graúdos, etc. Todos com distintas histórias para sobreviver a um inimigo comum. São as vidas ativas de uma suspensão coletiva. E nós mergulhamos nelas, para vos trazer à linha de água o essencial.

São mais de cem histórias. São fontes históricas. São acervo. São memória. São a memória do nosso ano excepcional como redação à distância e, inevitavelmente próxima. Sigam a jornada deste nosso balão de oxigénio que hoje principia!

[Por Vanessa Rodrigues, jornalista e docente em Ciberjornalismo na Licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade Lusófona do Porto]