Ginástica Acrobática: “Se me dissessem que um dia iria treinar no zoom não acreditava”
- Ines Guimaraes Goncalves
- 22/01/2021
- Desporto Saúde
A pandemia de covid-19 impediu, na época de 2019/2020, a realização de inúmeras competições de Ginástica Acrobática. Apesar da situação atípica, Pedro Santos, fundador e treinador da Academia de Ginástica Paulo VI (AGPVI) , situada em Gondomar, no Colégio Paulo VI, garante que os atletas continuam a ter “vontade de treinar”.
Catarina Ye, 21 anos, um dos rostos dos atletas que formam esta academia de Ginástica, relata que passaram do “tudo ao nada” quando dia “12 de março cancelaram oficialmente todas as atividades do clube”. A maior dificuldade foi mesmo a “quebra na rotina” uma vez que já “estava habituada a sair das aulas e seguir para o pavilhão treinar” e o facto de “passarmos de uma prova gigante para os treinos na sala de estar ou no quarto das nossas casas”.
“Senti que nem toda a gente tinha em casa as condições necessárias, ou porque não tinham muito espaço ou porque partilhavam as divisões da casa e não se sentiam à vontade”, declara Catarina.
“A motivação, ao longo dos meses foi-se perdendo” mas a realidade é que esta foi a única forma de manter os atletas mais próximos, “a ginástica acrobática é um desporto de contacto, de grupo, de união”. Para a atleta, os treinadores responsáveis e o clube em geral fizeram de tudo o que estava ao alcance destes inventando, por exemplo, algumas estratégias como jogos e desafios que os jovens foram aderindo. Tudo isto porque sentiam necessidade de tornar estes treinos em casa mais apelativos para que fosse possível continuar com o sentimento de compromisso destes atletas para com esta modalidade.
O que mais assusta os atletas da Academia de Ginástica Paulo VI é de não conseguirem ter “qualquer mão no futuro” e de não saberem o que pode acontecer ou quando podem voltar a competir, relata Catarina Ye.
A mudança
Pedro Santos, 35 anos, revela que a AGPVI foi fundada no ano de 2010 essencialmente no Desporto escolar e, só passado cinco anos, com o notório espírito de equipa e motivação por parte dos seus atletas, desafiaram-se a formar um clube federado, “por causa dos bons resultados que estavam a ter no desporto escolar”, uma vez que na época desportiva de 2015/2016 sagraram-se pela primeira vez campeões nacionais, em desporto escolar, afirma o treinador. Até então, esta academia já conquistou inúmeros pódios quer em desporto escolar quer em federado.
O dia a dia destes jovens atletas mudou radicalmente a partir do momento em que, devido a toda esta situação pandémica, deixaram de puder usufruir dos treinos presenciais recorrentes tendo como única solução prepararem-se através do ZOOM, plataforma de conferências bastante utilizada nesta época inesperada, “vamos ter de treinar em quadradinhos”.
Apesar disso, “treinávamos todos os dias” e, mesmo com o passar do tempo, manteve-se um número considerável de atletas nestes treinos inovadores e diferentes, apesar que “tive alguns alunos que naquele momento quiseram desistir”, comenta Pedro. Carolina Amaral, 21 anos e atleta federada, confessa que o principal desafio foi mesmo “arranjar motivação para treinar” porque, para além de sentir a “diferença no ritmo e intensidade” não sabiam quando nem se poderiam voltar a competir. Esta equipa, antes da fase do confinamento participaram numa competição de prestígio, MIAC (Maia International Acro Cup) e preparavam-se para uma competição nacional, o que provocou um grande choque para os ginastas no que diz respeito a ter de abdicar dos treinos presenciais.
Em contrapartida, Inês Sousa, 19 anos e campeã nacional de desporto escolar na época 2017/2018 e 2018/2019, ainda acreditava na possibilidade de voltarem a competir, o que impediu que esta se desmotivasse completamente.
“Queria estar na minha melhor forma física”, admite Inês.
Refere ainda que “não foi tempo perdido porque conseguimos treinar coisas que nos treinos presenciais não treinaríamos”, o que “ajudou a fortalecer a força e flexibilidade dos participantes”, admite a atleta. Com um pensamento positivo, Inês acredita que o que lhe deu motivação foi o facto de ser algo novo, vendo assim este período diferente como “uma oportunidade”. Experimentou inúmeras formas para que estas sessões online fossem o mais proveitosas possíveis como, por exemplo, treinar com livros e mochilas com livros para que fosse possível simular o peso humano, “foi um desenrasque mas foi melhor treinar online do que não treinar de todo”, revela.
Apesar de a ginástica acrobática ser um desporto em grupo, as atletas viram nesta nova realidade uma possibilidade de começarem a treinar individualmente e se superarem nesse aspeto, “o que é muito importante”, diz a campeã.
“Estamos a adaptarmo-nos a algo quase inadaptável” reconhece Ana Inês, a primeira atleta da Academia de Ginástica Paulo VI a ser campeã nacional em desporto escolar em 2015/2016.
“Se me dissessem que um dia iria treinar Ginástica Acrobática no zoom não acreditava”.
Apesar disso, Ana, dá um valor extremamente notório ao treinador por toda a sua dedicação para manter o seus atletas focados e não desmotivados, “gostei muito da prestação do treinador nesta altura porque conseguiu fazer treinos online de um desporto que é feito em grupo conseguindo assim tornar os treinos individuais mas dinâmicos ao mesmo tempo.”, admite.
Pedro Santos, completa dizendo que, apesar de todas as dificuldades de adaptação, foi a única solução que estes encontraram para puderem continuarem em forma e não serem obrigados a permanecer por tempo indeterminado sem qualquer tipo de treino bem como o contacto com o desporto e com a equipa. Por isso mesmo, criaram uma rotina essencialmente de condição física muito bem estudada.
Um dos mais recentes treinadores, Bruno Pinto, 22 anos e antigo atleta desta modalidade desportiva, começou o seu estágio na AGPVI no ano de 2019/2020 porém só deu início à sua tarefa como treinador em 2020/2021. Apesar do pouco tempo ainda no clube assegura que “este clube é como uma segunda casa para mim. Receberam-me bem mesmo sabendo que vinha de um clube “rival””. Mostra ainda a sua satisfação com a academia dizendo que “é visível a evolução ao longo dos últimos 10 anos da sua existência”.
O jovem treinador comenta que “a capacidade de transformar os exercícios de ginástica acrobática, onde os atletas trabalham todos os dias em conjunto, foi realmente o ponto mais crucial para manter os ginastas em atividade na prática individual.”. Refere ainda que ter treinos online foi um desafio enorme, principalmente porque se encontra no clube à relativamente pouco tempo. Para que existisse um bom funcionamento decidiram dividir esta “reunião” em três partes: “treino de volantes, treino de bases e treino com todos. As volantes utilizavam principalmente as mãozotas para treinar elementos técnicos mais importantes para um volante enquanto que os bases exercitavam principalmente o físico”.
Bruno Pinto, conclui dizendo que, apesar de toda esta situação obrigar os ginastas a conhecer uma nova realidade de trabalho, não abalou completamente a confiança dos atletas.
“O empenho e o trabalho vão, de certeza, fazer este clube chegar bastante longe!”, afirma Bruno.
Sem qualquer previsão de datas competitivas a Academia de Ginástica Paulo VI mantem-se unida e “continua a aguardar, treinando”, admite Pedro Santos.