Da Tradicional dieta mediterrânica ao Veganismo – O que é importante saber
- Bruno Borges
- 28/02/2023
- Saúde
Filipa Mira, estudante de ciências da Nutrição da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro explica as diferenças e os cuidados a ter com a aplicação de uma dieta vegetariana ou vegan em substituição da dieta mediterrânica.
A atual estudante de ciências da nutrição natural do Porto, afirma que sempre “quis ajudar pessoas” e o seu sonho era trabalhar na área da saúde. Desde o seu 11º ano que o curso estava escolhido e diz não se ter arrependido.” No meu 11º ano encontrei este curso, e quanto mais pesquisava sobre saídas profissionais, plano curricular, etc, mais me apaixonava. “
Nos últimos anos cresceu cerca de 30% o número de pessoas em Portugal que praticam dietas vegetarianas, ou veganas. São cerca de um milhão e 200 mil portugueses, segundo o estudo da consultora Lantern. Este tipo de dietas surge, em grande parte, como forma de substituição da dieta mediterrânica, “que se refere aos padrões alimentares encontrados no início da década de 60 na região do Mediterrâneo”, refere Filipa Mira.
“Para além da presença de determinados alimentos característicos desta zona da Europa, como o vinho, o azeite e a fruta, esta dieta tem na sua base uma característica fundamental: as competências sociais, o estar à mesa a conviver”, reflete a jovem estudante.
Apesar de estar enraizada na sociedade, os portugueses procuram agora estes novos estilos de alimentação, com base em vegetais, excluindo ao máximo os produtos de origem animal.
Mas afinal qual é a diferença entre uma dieta Vegan e vegetariana? No caso da dieta vegan esta exclui todo o tipo de alimentos de origem animal, enquanto a dieta vegetariana, pode incluir alguns alimentos dessa proveniência, como ovos e laticínios.
A estudante afirma porém que existem bastantes semelhanças entre as dietas vegetariana e vegan para com a mediterrânica no que toca à escolha de alimentos de origem animal.
“Apesar de se pensar que existe uma grande disparidade de recomendações do consumo de alimentos de origem animal entre o padrão alimentar mediterrânico e a dieta vegetariana/ vegan, a verdade é que na pirâmide da dieta mediterrânica está recomendado um consumo moderado de carne de aves e ovos e uma ingestão reduzida de carnes vermelhas e processadas e laticínios.”
Filipa Mira, estudante de ciências da nutrição
Transição para o Vegetarianismo
Uma das principais dúvidas ao realizar uma dieta com base em vegetais está assente na preocupação de o novo regime provocar alguma carência alimentar, que por sua vez pode levar a alguma doença.
Filipa refere que este tipo de dietas, “quando são bem planeadas e praticadas, torna-se difícil que uma dieta à base de produtos de origem vegetal provoque carências nutricionais”, mas acrescenta que “isto pode acontecer relativamente a qualquer padrão alimentar, porque, por exemplo, nem sempre as pessoas estão consciencializadas para o consumo de fruta e hortícolas, o que pode desencadear, mais tarde, deficiências em vitaminas ou minerais.”
A estudante diz que esta preocupação é válida não só para dietas que privilegiam alimentos de origem vegetal, como também em regimes de alimentação que incluem ovos, carne, peixe e laticínios, embora esta preocupação seja mais acrescida no caso da dieta vegan e vegetariana, visto que vitaminas e minerais, como por exemplo a B12, encontram-se em maior quantidade nos alimentos de origem animal.
“A vitamina B12 é um fator a ter em conta quando se faz uma transição de padrão alimentar, uma vez que participa em diversos processos metabólicos no nosso organismo, como prevenção de demência ou síntese de glóbulos vermelhos, a sua suplementação é muito importante.”
Filipa defende que suplementação é a solução para a cobrir a falta desta vitamina em alimentos vegetais, e que “como é normalmente prescrita por um médico ou recomendada por um nutricionista ou farmacêutico não ultrapassa os valores limites, logo, é pouco provável que venha a provocar doença.”
A prática de exercício está também latente a pessoas que se preocupam com a alimentação e cada vez mais surgem mais preocupações na disciplina da nutrição desportiva e na sua relação com dietas “veggies” (dietas que engloba o veganismo, vegetarianismo).
“Ser vegetariano ou vegan não deve constituir impedimento para praticar qualquer tipo de desporto. Dependendo do objetivo da pessoa, pode ser necessária suplementação proteica, mas hoje em dia já há disponível no mercado, por exemplo, Whey vegan. É necessário ressaltar que em atletas vegans é obrigatória a suplementação em vitamina B12. “
A estudante identifica três fases o processo de transição de uma dieta mediterrânica para uma dieta vegetariana ou vegan:
- “A decisão de se tornar vegetariano ou vegan não é fácil e exige uma grande adaptação, portanto, o primeiro e melhor conselho que posso dar é transmitir essa informação ao médico de família ou diretamente a um nutricionista.”
- “Nem sempre vai ser fácil. Vai haver dias em que parece que comer carne/peixe é a única solução, e provavelmente passa pela cabeça desistir. Calma. Não é preciso ser demasiado extremista nem sentir-se culpado(a) por num dia não conseguiu cumprir com o plano.”
- “Ler os rótulos dos alimentos. Nem tudo o que se diz ser vegan o é. Muitas vezes, os alimentos “vegan” têm aditivos alimentares que em nada contribuem para a nossa saúde, mas são entendidos como promotores da salubridade.”
Filipa, estudante com sonhos
Filipa admite não praticar nenhuma das três dietas aqui faladas, “pratico uma dieta omnívora”, pois admite consumir produtos de origem animal e acrescenta:” não me vejo a retirá-los da minha alimentação”. Refere porém que prefere carnes brancas, evita alimentos processados e utiliza azeite como gordura principal.
“Nunca esquecendo que a palavra-chave para manter o bem-estar no que diz respeito à alimentação é equilíbrio.”
Há 47 anos surgiu o primeiro Bacharelato para formação de nutricionistas em Portugal, na Universidade do Porto. Desde então assiste-se a um aumento dos cuidados alimentares e da preocupação em manter um estilo de vida saudável com base na alimentação.
Segundo a ordem dos nutricionistas, no ano de 2020 havia mais de quatro mil profissionais da área. Filipa Mira prepara-se agora para integrar este número, motivada pela ajuda às pessoas “O meu principal objetivo enquanto nutricionista, é auxiliar pessoas a melhorar a sua qualidade de vida, seja em que área for.”