Diogo Resende: “A relação que os pais estabelecem com os filhos tem um papel decisivo na saúde mental.”
- Diogo Azevedo
- 03/12/2021
- Desporto Saúde
Ansiedade, falta de autoestima e pressão são alguns problemas que os futebolistas jovens enfrentam, segundo o psicólogo Diogo Resende.
[Texto de Diogo Azevedo e Henrique Silva]
Diogo tem uma responsabilidade no desenvolvimento de atletas e uma das suas competências é preparar mentalmente os jovens atletas que anseiam em chegar ao futebol sénior. “O nosso papel é ajudar a que se desenvolvam de uma forma mais plena, mais completa e que sejam, psicologicamente, cada vez mais robustos.”
Na formação, os jogadores vão criando certos hábitos e competências que, quando chegam ao patamar sénior, serão decisivos.
Esta fase de transição de futebol das camadas jovens para sénior é muito sensível. Muitos jovens não conseguem “dar o salto”. Os psicólogos ajudam-nos a preparar-se para a exigência dos momentos do futebol sénior, de modo a “lidarem com eles da maneira mais ajustada”.
O psicólogo nota que alguns atletas têm as suas expetativas desajustadas. Para os ajudar, “tem mais o dever de colocar a seguinte pergunta ao jovem jogador: ‘Tu estás a sentir dificuldades neste momento, como é que gostavas de te sentir daqui a um mês? Daqui a três meses? seis meses? Um ano?’ Ou seja, o psicólogo vai ajudar a definir objetivos para esses períodos de tempo e também algumas estratégias que ajudam o atleta a aproximar-se desses objetivos.”, refere o psicólogo.
Diogo Resende já jogou no Futebol Clube Pedras Rubras, esteve perto de enveredar pelo mundo do jornalismo, mas a psicologia acabou por falar mais alto. O psicólogo de 24 anos formou-se na Universidade Católica Portuguesa, no Porto, onde também fez mestrado em psicologia da educação e desenvolvimento humano. No seu ramo de trabalho, passou pela escola de futebol Dragon Force Ermesinde e, atualmente, encontra-se a trabalhar com o plantel sub 19 do Sporting Clube de Braga. Além disso, Diogo aventurou-se num projeto no Youtube de promoção à Psicologia do Desporto denominado “Na Desportiva”.
“(Os pais) São as pessoas que têm o papel mais relevante na vida dos jovens.”
De uma outra perspetiva, Diogo Resende deteta diariamente problemas nos jovens com quem trabalha. O psicólogo destacou as questões da (falta de) autoestima, autoconfiança, ansiedade, gestão emocional e, principalmente, a questão familiar. Referiu também as consequências que isso traz para os atletas, do ponto de vista mental.
“(Os pais) São as pessoas que têm o papel mais relevante na vida dos jovens.”, começa por destacar Diogo. Os comportamentos parentais poderão facilitar ou dificultar o rendimento dos atletas, explica. “A relação que os pais estabelecem com os filhos tem um papel decisivo no bem-estar deles, na saúde mental e no desenvolvimento.”, completa.
Diogo Resende exemplifica com a história de quando um psicólogo interveio perante o pai de um atleta. “Um psicólogo pôs (o pai) a refletir sobre alguns comportamentos que tem durante os treinos e os jogos, para perceber as consequências que isso tem nas emoções, sentimentos e pensamentos do filho.”. Assim, o objetivo desta intervenção foi para o próprio pai ajustar o seu comportamento, de modo a que o seu filho responda e se desenvolva melhor.
Este episódio aconteceu (e foi possível acontecer), dado que, “há bastante abertura dos pais ao trabalho do psicólogo-atleta”. Continua referindo que “os pais, os atletas e os treinadores já estão educados para a intervenção e a função do psicólogo”.
Contudo, para que algum ato dos psicólogos tenha efeito, é necessário desenvolver uma relação entre psicólogo e atleta. Caso o jovem não se sinta à vontade ou não se sinta “num ambiente seguro”, as conversas entre ambas as partes não terão qualquer impacto na saúde mental do adolescente.
Diogo Resende, agora, é psicólogo. Porém, anteriormente, já esteve do outro lado da história. De 2005 a 2014, foi jogador das camadas jovens do Futebol Clube Pedras Rubras e reconhece a diferença entre um jovem jogador ter ou não ter psicólogo no clube.
Quando entrou para a universidade, considerou que não teria tempo para gerir tudo, tendo deixado o futebol nesse momento. “Se tivesse o apoio da área da psicologia, se calhar ter-me-ia ajudado a definir prioridades, a definir objetivos, a ser mais estratégico no que toca a olhar para as minhas rotinas”, desabafa o psicólogo. Reconhece a capacidade dos especialistas em “ajudar a desenvolver competências de uma forma mais rápida e eficaz”. Deste modo, poderia não ter deixado de jogar futebol, no momento, “se tivesse ajuda de um profissional”.
Pandemia reduziu tolerância à frustração
A pandemia trouxe novas dificuldades em que foi preciso por parte de todos se adaptar à situação. Diogo Resende assistiu a esta revolução nas nossas vidas provocada pelo vírus da SARS COV-2, ainda enquanto estagiava na Dragon Force, tendo feito transição para o Sporting Clube de Braga ainda nesse contexto. Numa altura em que os atletas tiveram seis ou sete meses sem competição, as mudanças de comportamento foram evidentes. “Eles gostam de treinar à semana, mas gostam é de chegar ao fim de semana e mostrar dentro de campo. Quando vem outra equipa jogar contra nós, e provar que trabalhamos bem durante a semana. E estiveram privados disso durante muito tempo.”
Os atletas ficaram sem a hipótese de tirarem aproveitamento do desenvolvimento a nível tático e de jogo, apenas para desenvolvimento próprio. Para Diogo “foram evidentes durante este tempo algumas quebras na motivação deles para a prática desportiva, níveis de motivação muito mais baixos para treinar, para se esforçarem, para passarem além do limite da dor”.
Essa dor que refere o psicólogo é algo importante que os atletas devem aprender ultrapassar, pois são essas situações que permitem subir para o patamar acima e “essa tolerância à frustração, ao empenho máximo, foi baixando… os níveis de motivação para a aprendizagem foram baixando, os níveis de envolvimento nas tarefas, nas diferentes tarefas que eles tem para fazer foi baixando”, conclui Resende sobre os últimos meses.
Sou o Diogo Azevedo, tenho 20 anos e estudo ciências de comunicação no ramo do jornalismo. Apaixonado pelo desporto e por futebol, pretendo trabalhar um dia nessa área aproveitando o trabalho realizado ao longo destes anos dentro e fora da universidade.