Dizem X, Faço Z: “Direito é tudo aquilo que se pensa quando não se está dentro dessa realidade”

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Dizem X, Faço Z: “Direito é tudo aquilo que se pensa quando não se está dentro dessa realidade”

Leonardo Vieira da Rocha é estudante na licenciatura de Direito na Universidade Lusíada Norte – Porto. Aos 20 anos já tem as ideias bem definidas sobre aquilo que quer fazer nesta área.

O jovem de Santa Maria da Feira admite que desde tenra idade foi confrontado, seja por familiares ou pessoas chegadas, com a “importância das decisões que teria de fazer no futuro” – “apelavam sempre a que essa escolha tirasse o melhor de mim”, partilha.

Por volta dos 15 anos começou a pensar com mais seriedade no assunto e conta que conversar com uma amiga de família, licenciada em Direito, foi um fator decisivo para encontrar a sua vocação. Daí seguiram-se “pesquisas minuciosas” sobre especializações da área e consequentemente começou a “caça” às universidades.

Uma única opção

Para Leonardo o processo até à entrada na universidade foi tudo menos calmo e lento – a partir do momento que se cria consciência da exigência destas decisões, “o tempo passa a voar e o nervosismo só aumenta”.

Durante o Ensino Secundário, onde estudou Línguas e Humanidades, o foco foi desenvolver ao máximo as ferramentas que considerava essenciais para a área, enquanto tentava lidar com todos os sentimentos à flor da pele.

A verdade é que na sua cabeça não se via a fazer outra coisa que não fosse ligada a Direito, apesar de saber que por vezes surgem eventualidades que não vão de encontro ao que se pretende.

O primeiro passo

E foi em setembro de 2018 que alguns imprevistos temidos pelo jovem apareceram – não ingressou no concurso público, mas nem isso o abalou: “não seria um pequeno impedimento em termos de localização e instituição que me faria repensar o meu desejo”.

“A opção pelo ensino privado foi puramente supletiva” – Leonardo Rocha

O desenlace seria sempre o mesmo para Leonardo e por isso começou a procurar outras opções até optar pela Universidade Lusíada Norte – Porto – “foi (uma escolha) feita a dedo”, pois das várias possibilidades, esta era a que lhe despertara interesse, tanto pelas instalações como pela reputação e competência do quadro docente.

E alguma vez se arrependeu?

– “Saber que nos próximos 4 anos iria dedicar-me a algo que realmente gostava foi um motivo para sorrir”.

A satisfação é notória no rosto do rapaz, que confessa ser o primeiro no seu agregado familiar a ingressar no Ensino Superior: “é, sem dúvida, um momento marcante para mim, até diria mais para a minha família que acompanha este meu progresso com atenção, entusiasmo e um grande incentivo”.

O que dizem e o que se faz

Na perspetiva de Leonardo, “a desvalorização tradicional que recai sobre o ensino privado é algo que está presente em algum momento da vida de todos”, sendo que ele próprio não foi exceção. Porém, ao entrar na universidade nunca esperou pela primeira oportunidade de voltar a concorrer à pública.

Seja no privado ou no público, vê a entrada no Ensino Superior como “um grande mérito e demonstração de vontade (de prosseguir estudos)”. Dessa forma, tudo isso acaba por “abafar qualquer negatividade enraizada nesse estereótipo”.

“Direito é tudo aquilo que se pensa que é quando não se está dentro dessa realidade”. – Leonardo Rocha

Em relação à sua área de formação, nunca foi alvo de críticas ou opiniões negativas: “o Direito é visto com um grande prestígio, mesmo estando no âmbito do ensino privado”, explica Leonardo.

As pessoas entendem a relevância do ramo, associando-o quase de imediato ao conceito de justiça. Apesar das partes técnicas do Direito estarem mais longe da compreensão geral, muita gente vê nesta área uma “espécie de sentimento de necessidade”, daí haver um respeito e reconhecimento destes estudos.

No entanto, o Direito para quem está de fora passa por “maçador, stressante, complexo e indeterminado em vários aspetos”, e isso o jovem não nega: “é uma área que implica um grande grau de esforço, trabalho e sacrifícios que a curto prazo podem não parecer recompensadores”.

Face a tudo isto, é fascinante como Leonardo, ciente desta realidade com a qual convive há três anos, continua a olhar para o Direito com um brilho no olhar – é algo entusiasmante, tendo uma essência que o leva a comprometer-se de coração: “é o suficiente para fazer valer a pena as noites sem dormir”.

A paixão é o alicerce do futuro

Perto de concluir o 3º ano, apenas falta mais um ano letivo para terminar a licenciatura. À medida que o tempo passa, as coisas ficam cada vez mais sérias para si: “não tenho intenção de ficar apenas por aqui (licenciatura), quero ir mais longe, quem sabe até a um doutoramento”.

Ainda a avaliar as suas oportunidades, Leonardo gostava primeiro de ter alguma experiência em campo e só depois voltar à vida académica para ingressar num mestrado.

Mas a longo prazo vê-se como juiz, mais especificamente como juiz do Tribunal Constitucional, após uns anos na prática da advocacia: “pretendo dar voz a muitos e tentar prover sempre condições e oportunidades em moldes iguais a todos que necessitem e recorram a este auxílio”. O seu objetivo é cliché, mas ser um exemplo de justiça e de igualdade seria uma realização a nível pessoal e profissional para o jovem.

[Entrevista de Diana Silva Fonseca, no âmbito da rubrica Dizem X, Faço Z: uma coluna que procura dar voz a estudantes universitários e aos estereótipos e pré-conceitos aos quais os associam.]

Nota: As fotografias foram cedidas pelo entrevistado.