Dizem X, Faço Z: “Enfermagem é cuidar do outro, é permanecer ali e dar a mão”
- Diana Silva Fonseca
- 28/05/2021
- Geração Z
Daniela Santos estuda na Escola Superior de Enfermagem do Porto, desde 2018. Cursar nesta área não foi a primeira opção, mas, na sua perspetiva, foi a mais acertada.
Natural de Santa Maria da Feira, a jovem de 21 anos admite ter demorado a perceber que Enfermagem era a área que preenchia os requisitos para sentir-se realizada no futuro profissional: “não foi uma opção desde sempre, até por causa da má imagem que a sociedade [portuguesa] dá aos enfermeiros e que eu, de certa forma, também”, explica.
Uma escolha (bem) delineada
Quando estudou Ciências e Tecnologias no Ensino Secundário, começou a ser “apanhada” pela realidade do mercado de trabalho: “confrontaram-me com o facto de Farmácia, a minha primeira opção na altura, ser uma profissão em extinção” – no entanto, a certeza para Daniela era de seguir o ramo da Saúde, especialmente por querer sentir que iria ajudar os outros.
Esta época foi de completa emoção à flor da pele e também de muitas pesquisas e conversas com pessoas na área da Enfermagem, pois não tinha necessariamente um “plano B”, além do ingresso no Ensino Superior.
“Ansiedade, stress, pressão, incerteza, escolhas – acho que são as palavras-chave que descrevem o meu percurso” – Daniela Santos
“Levei sempre muito a sério o meu percurso escolar, tentando atingir os melhores resultados em prol de um bom futuro”, comenta, ao mesmo tempo que relembra o dia em que viu o e-mail que confirmava a admissão na sua primeira opção, a Escola Superior de Enfermagem do Porto – foi um momento de euforia e felicidade que quis partilhar com as pessoas mais próximas.
A localização da sua nova “casa” era ideal porque acabava com um dos maiores receios que Daniela tinha na altura, ser uma estudante deslocada. Além disso, o “bom nome” da faculdade conferia-lhe confiança nos próximos quatro anos de curso.
O que dizem e o que se faz
- “Vais só limpar rabinhos a velhos”
- “Só vais dar uns comprimidos e umas vacinas”
- “Enfermeira? Só no Carnaval”
Estes são o género de comentários que muitas vezes recebe quando diz o curso que frequenta, mas também acredita que só os faz quem nunca teve a experiência de estar internado num hospital, e por essa razão até fica feliz, pois há situações que não se deseja enfrentar.
A própria Daniela já pensou que Enfermagem era tudo aquilo que lhe diziam, mas mudou o seu olhar com os três anos de curso já feitos: “enfermagem é cuidar do outro, é permanecer ali e dar a mão. Exige conhecimento, técnica e acima de tudo respeito e compaixão pelo outro” – a partir do momento em que reforçou a sua convivência com esta realidade, através do estágio curricular, sentiu-se ainda mais realizada e com mais certezas sobre o seu lugar nesta área e tudo o que a mesma tem para oferecer.
“Acho que em Portugal não se tem a melhor imagem do curso de Enfermagem” – Daniela Santos
A valorização desta profissão ainda está longe, mas acredita que a pandemia veio ajudar a que “os portugueses percebam que os enfermeiros têm importância e que eles também estão expostos a vários riscos”, sendo ainda estes a fazer o acompanhamento mais pormenorizado dos utentes.
“Não se limitam a dar medicação ou a vacinar”, reforça. Porém, ainda há muitos estereótipos e mitos para desconstruir envolta da Enfermagem.
A paixão é o alicerce do futuro
Os horários são difíceis de gerir e é difícil consolidar a vida académica com a vida pessoal, em particular com os períodos em família e com atividades desportivas, às quais Daniela tenta dedicar-se sempre que pode. Mas a vontade e a realização que este ramo da Saúde lhe dá, leva a pensar em voos mais altos: “gostava bastante de ser enfermeira-gestora porque assim conseguiria aliar a Enfermagem com o meu gosto por números”. A gestão hospitalar, desde a contratação de enfermeiros, ao estudo dos rácios e à verificação do material, é o sonho da jovem, tal como a própria diz, “a cereja no topo do bolo”.
Para já, tem mais um ano de licenciatura para completar e pretende logo a seguir tirar um mestrado e uma pós-graduação em Enfermagem Médico-Cirúrgica. Também “gostaria de ser professora assistente numa faculdade de Enfermagem e conciliar isso com um trabalho num hospital, na área da cirurgia”.
[Entrevista de Diana Silva Fonseca, no âmbito da rubrica Dizem X, Faço Z: uma coluna que procura dar voz a estudantes universitários e aos estereótipos e pré-conceitos aos quais os associam.]
Nota: a fotografia foi cedida pela entrevistada.