Drako, writter português: “O graffiti tem as suas próprias regras”
Drako acredita que é uma questão de anos até o graffiti ser aceite como forma de arte. Estrategicamente, o writter português escolhe não pintar propriedade privada, “porque não quero ter repercussões legais que, no futuro, poderão afetar a minha carreira”.
[Texto de Ana Gomes e Ana Jorge]
De cara tapada, vestido de preto e outfits discretos, é a única forma de poder criar graffitis. O writter português, Drako, fala-nos sobre a perspetiva da grande maioria da sociedade em relação ao graffiti, e a forma como este é rejeitado como forma de arte. Pinta há mais de 10 anos e afirma que o graffiti é “um tipo de arte diferente, pois é preciso destruir para criar, ao contrário dos outros tipos de arte e das outras vertentes”.
A arte que vive envolta de preconceito teve origem na década de 1970, em Nova Iorque, quando o filme Wildstyle inspirou alguns jovens a começar a deixar as suas marcas nas paredes da cidade. Ao longo do tempo, essas marcas passaram a desenhos e as técnicas evoluíram. O graffiti está diretamente ligado ao hip hop e reflete a realidade das ruas, expressando toda a opressão que os menos favorecidos vivem. O graffiti também foi impulsionado pelos sem abrigo, por terem códigos específicos para escreverem debaixo das pontes e nos vagões, com o objetivo de marcarem o local e darem indicações a outras pessoas que vivam na rua, relativamente aos perigos e ambiente da zona em questão.
Segundo Drako, graffiti é uma subcultura que “não se rege pelas regras das outras culturas” e que “tem as suas próprias regras” os writters têm, como uma das suas maiores ambições, espalhar o nome em vários locais. Procuram os sítios mais perigosos possíveis, para mostrar aos outros membros da cultura que são superiores e mais corajosos. Pelo contrário, a street art tem como único objetivo criar arte.
O mundo do graffiti é competitivo e, por vezes, acaba por ser “um jogo de egos entre os participantes”. Se alguém faz um graffiti por cima de um outro já existente criam confusões e, por vezes, algumas “rixas” na rua. Esse tipo de “rixas” passam por cada artista abafar a arte do outro com a própria arte, até um deles desistir.
Quando começou a dedicar-se a esta atividade, Drako estava apenas focado em praticar uma arte ilegal, mas, com o passar dos anos e com o objetivo bem definido de fazer do graffiti uma carreira, passou a restringir-se apenas às zonas legais – “eu, pessoalmente, não pinto propriedade privada, porque não quero ter repercussões legais que, no futuro, poderão afetar a minha carreira”. O sonho de fazer do graffiti profissão incentiva-o a ser um artista diversificado e completo, que adota todas as vertentes existentes desta técnica de pintura, vertentes essas que passam por latas de aerossol, stickers, graffitis feitos com rolos de pintura de casa, tags, que são assinaturas mais simples e, por fim, sendo algo mais recente, os graffitis na vertente digital que são feitos em tablets ou iPads.
“Sinto que os writters não são compreendidos”
Os writters veem o graffiti apenas como uma forma de expressão, mas Drako afirma que a sociedade não entende isso, “sinto que os writters não são compreendidos, porque a maior parte da população possui a ideia de que o graffiti é, apenas, dar tags e conspurcar a propriedade privada”. O repúdio por parte das pessoas relativamente a esta atividade torna o graffiti uma atividade perigosa, porque o artista nunca sabe quem é que o vai ver a graffitar e de que forma essas pessoas vão reagir e, por isso, é necessário que cada artista pinte de forma consciente. Um dos maiores problemas que os writters podem ter é com as autoridades, sendo que poderão ser punidos com pena de prisão até 5 anos ou com pena de multa nunca inferior a 100 euros e que pode atingir os 25 mil euros.
Drako afirma que durante a noite é a melhor altura para graffitar, uma vez que se encontram mais resguardados de olhares e de possíveis denúncias, mas, em contrapartida, se forem apanhados, são vistos como criminosos e vândalos. Quando se pinta à luz do dia, o cenário costuma ser diferente: “quando eu pinto em zonas centrais do Porto durante o dia, as respostas são quase sempre positivas, provavelmente, porque as pessoas, ao passar por mim, deduzem que estou a fazer uma comissão, ou que se trata de um trabalho legal.”.
Os locais e as temáticas escolhidas pelos artistas são, para Drako, algo importante e com repercussões para um futuro onde esta arte poderá vir a ser legal, “se eu fizer um tipo de arte na rua que seja tanto street art, como graffiti, que siga as regras de ambos e que o público aprecie, penso que a opinião de todos vai mudar. Se um artista fica famoso e faz obras de arte na rua e, consequentemente, atrai mais público e mais turismo, os países, normalmente, costumam mudar de opinião e passar a valorizar esse artista.”
Drako acredita num futuro em que a arte de rua é aceite pela sociedade e se torna legal perante as autoridades. O writter português estima que o possível reconhecimento desta arte comece no estrangeiro e que depois chegue a Portugal, “é uma questão de tempo até o graffiti ser aceite como uma vertente de arte como qualquer outra, e é uma questão de anos até ser ensinado nas escolas e faculdades.”.
Mesmo com todos os problemas e preconceitos que espalhar o nome pela cidade traz, Drako é contratado para fazer comissões, designs, tatuagens e morais graças à arte que espalha pelas ruas.
Apesar de ser considerada uma arte ilegal, o graffiti traz consigo uma forma de comunicação e de expressão. Para Drako, “graffitar é mais do que uma terapia, é um modo de vida, é uma vocação e é uma vertente de arte diferente de todas as outras.”
Drako anseia por um Mundo em que graffiti é legal, sem roupas escuras, sem horas específicas e sem medos. Acredita que, um dia, a sociedade irá aceitar esta arte, como aceita todas as outras, sem a descrever como poluição visual.
O meu nome é Ana Gomes, tenho 21 anos, e sou natural de Braga. Frequento o 3º ano da Licenciatura de Ciências da Comunicação na Universidade Lusófona do Porto. Escolhi esta Licenciatura porque a área da Comunicação sempre foi algo que me despertou muito interesse.