É muito difícil para um músico ou banda “underground” conseguir chegar ao topo

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É muito difícil para um músico ou banda “underground” conseguir chegar ao topo
Natural de Quarteira, no Algarve, Bruno Barras, tem 23 anos e é baterista nos tempos livres. A sua paixão pela música iniciou-se há cerca de 10 anos.

Não foi de imediato que Bruno começou a adorar bateria. Entre risos, relata que durante uma conversa com os pais, a mãe lhe contou que ao longo de uma viagem de carro, enquanto estava grávida dele, ia a ouvir a banda AC/DC e ele foi “a viagem toda a dar pontapés na barriga ao som da música, mesmo no tempo certo. Portanto isto começou mesmo assim, foi natural. A música está em mim desde muito cedo”.

É em 2004, durante um concerto de uma banda portuguesa de tributo a Iron Maden, os Ferro e Fogo, que a bateria entra na sua vida. “O baterista fascinou-me porque tinha cabelo comprido, fazia imensas caretas a tocar, era loiro, magrinho e muito alto. O entusiasmo dele enquanto tocava foi o que me fascinou e que me levou a querer tocar também, porque era um instrumento super barulhento e físico”.

Bruno Barras – fotografia cedida pelo baterista

Hoje em dia, o entusiasmo vem de dentro dele, e a paixão ao tocar bateria é passada através do sorriso. “Muitas vezes quando acabo um concerto, um vídeo, ou falo com músicos, das primeiras coisas que me dizem é “gostei da tua abordagem”, “gostei do teu sorriso, porque é isso que a música pede, é sentimento e tu estás a passar esse sentimento através do teu sorriso””.

Frequentou a Drumms School, uma escola de música em Olhão, e pisou um palco grande pela primeira vez, em 2013, durante o “Festival do Marisco”. Tocou a música Smells Like Teen Spirit de Nirvana e apesar de apenas ter tocado uma canção, naquele concerto, sentiu-se realizado. “Fiquei aos pulos de alegria”, refere com voz nostálgica.

Desde pequeno que tem como grande influência a banda portuguesa Xutos e Pontapés. “A primeira vez que toquei foi na bateria do Kalú, num concerto que eles deram em Quarteira. Devia ter uns seis ou sete anos. Os Xutos estavam a fazer um teste de som e o meu pai fazia parte da organização e pediu ao Kalú para eu tocar, ou melhor, fazer barulho, porque nunca tinha tocado antes”.

À medida que foi crescendo, os seus gostos tiveram uma ligeira mudança: “Comecei a ouvir mais punk, mais metal. Ganhei um amor incondicional a Metallica”, muito por influência dos pais. Os bateristas das bandas eram em quem mais se focava. Guns n’ Roses, Arctic Monkeys, Led Zeppelin e The Doors são outras bandas que o inspiram.

Música em tempos de pandemia

Integra um novo projeto desde outubro de 2015. A banda The Black Teddys, do género indie rock, é influenciada por artistas rock das décadas 60/70 e atualidade. Com um EP e um álbum homónimo lançados, continuam a compor e lançarão em breve um novo EP, com três músicas.

The Black Teddys “Star-Crossed Voyager” – imagem retirada do Facebook da banda

Devido à pandemia que se instalou, a banda sentiu alguma dificuldade no lançamento do disco. “Agora com o covid estamos a atrasar um pouco as coisas, mas em breve vamos para estúdio”.

Neste momento, em plena pandemia, diversos músicos profissionais sentem dificuldade em expor o seu trabalho. São obrigados a cancelar concertos e eventos públicos, por não poderem interagir diretamente com os fãs. No entanto, não cruzam os braços e continuam a trabalhar, utilizando outras estratégias para promover a sua música, como as redes sociais.

Para um músico amador, é ainda mais complicado devido à falta de visibilidade. A pandemia, conta Bruno, atrasou o crescimento da banda. Aproveitaram a circunstância como uma oportunidade “para fazer tudo aquilo que tínhamos em mente, mas que não tínhamos tempo. Conseguimos planear as coisas com mais calma”.

Ainda assim, o grupo continuou a dar pequenos concertos durante o período de confinamento e lançou novas músicas, entre os meses de fevereiro e maio.

“Estamos a usufruir ao máximo das redes sociais, com fotografias que temos de concertos, ensaios e o próprio processo de criação”.

Como artista amador, sente que a maior dificuldade dentro da indústria no nosso país é sem duvida a cultura portuguesa. Pensa que é muito difícil um músico ou uma banda underground conseguir chegar ao topo, às rádios e ser ouvido. Não sente qualquer tipo de pressão, mas sim dificuldade. “Existem milhares de bandas portuguesas que fazem vários concertos pela Europa, pelos Estados Unidos e pelo mundo e aqui, em Portugal, o reconhecimento que têm é zero. Temos por exemplo, um músico aqui no Algarve, que se chama Vítor Bacalhau. É um guitarrista de rock e blues que a nível europeu ganhou o terceiro lugar no “European Blues Challenge 2018” e nunca se ouviu falar disso no nosso país. Não se ouve falar das bandas underground, mais pequenas, amadoras por assim dizer.”

O estúdio de gravações “dá imensa inspiração”

A vida dentro de um estúdio de gravações tornou-se numa das coisas que mais gosta de fazer e uma das maiores fontes de inspiração para o grupo. – “Ao sair do estúdio o nosso cérebro, automaticamente, quer continuar a criar, apenas por lá ter estado. Dá imensa inspiração. Para além do palco e do público, é talvez o local onde os músicos gostam mais de estar fechados, é um mundo totalmente aberto a ideias. Abre completamente a mente”.

A adaptação a esse “novo mundo” foi imediata para este jovem músico e respetiva banda. “Adaptamo-nos muito bem. A vida dentro de um estúdio começa antes de ir para estúdio, pela parte de criar, pela parte de estar em casa a ouvir bandas ou a tirar ideias de vários géneros musicais”, relata.

Bruno e The Black Teddys ainda se encontram numa fase inicial da carreira, tendo um longo caminho a percorrer, mas isso não lhes tira a motivação para continuar a criar.

Sempre positivo em relação ao seu futuro, o único desejo é “ser feliz a fazer aquilo que gosto. Quero continuar a tocar bateria e a sorrir concerto após concerto”.

Entrevista por Beatriz Sousa Santos