Edinho, o jogador que pendurou as chuteiras aos 40 anos não descarta um regresso aos relvados.
- Beatriz Silva
- 02/01/2024
- Desporto Futebol
Arnaldo Edi Lopes da Silva, mais conhecido como Edinho, tem 41 anos e 34 anos de carreira futebolística. O ponta de lança português passou por 18 clubes, 5 estrangeiros e 13 portugueses. O ex-jogador teve o mérito de fazer parte durante dez anos da seleção portuguesa. Atualmente, é comentador do Canal 11 e continua a desempenhar funções no mundo do futebol como diretor desportivo do Vitória de Setúbal.
Início de um sonho
A aventura de Edinho no futebol começou aos sete anos no Almada Atlético Clube. O pai, Arnaldo Silva, era treinador dos escalões de formação e isso fez com que o seu filho começasse a ganhar gosto pela modalidade. “Quando comecei a ir com o meu pai aos treinos descobri que a minha paixão era jogar futebol”, diz Edinho. Aos 12 anos, o pai insistiu para que considerasse o futebol como uma profissão. “O meu pai começou a apertar mais comigo, viu qualidade em mim e foi assim que comecei a dar mais valor.”
A formação de Edinho não contou apenas com a sua presença no Almada Atlético Clube, “também estive uma época de iniciados no Vitória de Setúbal”, o que fez com que vários clubes tivessem interesse em contratá-lo. Porém, o pai não aceitou que o seu filho fosse. “Sempre me disse que quando tivesse de ir para voar iria com maior experiência”, diz. Por essa razão, acabou por voltar ao Almada Atlético Clube estreando-se na equipa sénior ainda quando estava no escalão de juniores.
Aos 16 anos, conta que teve uma pequena experiência de quatro meses em Milão: “pouca gente sabe mas estive lá a fazer testes e treinos, porém era muito jovem e achei por bem voltar a Portugal.” O ponta de lança relembra que essa oportunidade deu-lhe “uma boa bagagem” para o maior desenvolvimento da sua carreira.
Ainda antes de ter oportunidade de ir para os campeonatos nacionais, Edinho passou pelo Futebol Clube de Barreirense, onde fez o seu segundo ano de sénior na primeira divisão de Setúbal.
Rumo à profissionalização
Na época 2002/2003 aparece a oportunidade de rumar ao norte do país para um clube de maior dimensão. “Quando sou chamado para o Braga acabei por parar antes no Porto. Treinei e fiz os testes. Porém, o meu empresário também trabalhava com outro jogador do Braga, e isso fez com que houvesse maior oportunidade.”
Edinho lembra as promessas que lhe foram feitas antes de ingressar no clube bracarense. “Prometeram-me trabalhar na equipa principal e se corresse bem iria ficar no plantel.” Nessa época, apenas fez um jogo pela equipa principal e 32 pela equipa B, o que para Edinho foi bom, mas não o suficiente.
Na época a seguir teve a oportunidade de fazer seis jogos pela equipa principal, o que fez com que ganhasse maior visibilidade. Graças a isso foi chamado à seleção sub-21, em 2004, “foi um dos momentos mais felizes da minha vida, era o meu maior objetivo como jogador”, disse Edinho, “sabia que o sonho de chegar à seleção principal estava cada vez mais perto”.
Após dois anos em Braga surge o empréstimo ao Paços de Ferreira e ao Gil Vicente, tendo a oportunidade de continuar na Primeira Liga Portuguesa. Edinho explica que na altura não compreendeu como um clube que insistiu tanto na sua vinda, pudesse emprestá-lo, “tive uma sensação de descrédito”, disse. Porém, atualmente, compreende que a esta mudança serviu para ganhar mais maturidade e experiência.
Saída de Portugal
Antes da sua primeira internacionalização passou outra vez por um dos clubes que fez parte da sua formação, o Vitória de Setúbal. Até que aos 25 anos de idade começou a receber propostas de clubes de países europeus, como a Alemanha, a França e a Grécia. “Optei por ir para Grécia, achei que era o mais indicado.” E assim começou a sua jornada no AEK Atenas. “Cheguei numa quarta-feira, e nesse domingo já estava a jogar”, conta. “Cheguei como um desconhecido, mas rapidamente ganhei destaque quando marco o meu primeiro golo no segundo jogo.”
Da Grécia à Espanha, desta vez para o Málaga, “quando surgiu a oportunidade de jogar na La Liga não a desperdicei”, esclarece. Edinho acredita que a ida para Espanha deu-se devido ao seu empresário da altura, Jorge Mendes, ter acordado a ida do Cristiano Ronaldo para o Real Madrid.
Após um ano em Espanha é emprestado e regressa novamente à Grécia, desta vez para outro clube, o PAOK. Nesse mesmo ano, em 2009, concretiza o sonho de convocação à seleção nacional. Edinho conta que quando foi escolhido sabia que tinha impacto no futebol, mas também sabia que a visibilidade do campeonato grego para Portugal era muito pouca: “Não existia grande reconhecimento, mas eu sabia que o Agostinho Oliveira (treinador adjunto) tinha ido à Grécia para me ver, e isso fez com que o Carlos Queirós (treinado principal) me chamasse à seleção. O jogador português descobriu a sua convocação através dos seus amigos, “pensava que era brincadeira, eles brincavam muito comigo sobre ainda não ter sido chamado à seleção principal, só quando cheguei a casa e liguei a televisão vi que era realmente verdade.”
Quando acabou o empréstimo na Grécia, Edinho voltou novamente ao Málaga, porém apenas por meia época. Devido a isso, acabou por voltar para Portugal, mas desta vez para a ilha da Madeira. Edinho admite que as coisas no Marítimo não correram bem, e esclarece que uma das maiores razões era a rotina de atleta que tinha de enfrentar. “A adaptação às viagens para o continente de duas em duas semanas não são nada fáceis, logo para mim que não gosto de andar de avião.”
Voltou ao continente, desta vez ao centro de Portugal, a Coimbra. “Os dois anos no Académica foram fantásticos, e a melhor parte foi ter ganho a Taça de Portugal”, desabafa Edinho sobre uma das suas experiências em um clube, na altura, de primeira liga.
Antes de ir para a Turquia fez o seu último ano pelo clube do Minho, o Sport Club de Braga. Edinho conta que quando recebeu novamente a proposta para Braga decidiu arriscar, porém tinha em mente que o Braga passava por uma má fase, ainda não tinha treinador devido à saída de José Peseiro. Para a sua surpresa quando é anunciado o novo treinador, Jesualdo Ferreira, Edinho sentiu que talvez não deveria ter tomado a decisão de voltar ao clube bracarense. “Ele tinha sido meu treinador no Málaga, tivemos uma relação de altos e baixos”, disse. Por essa razão, segue rumo a um novo país, a Turquia, onde passou pelos clubes Kayseri Erciyesspor e Sanliurfaspor. Edinho diz que ir para a Turquia foi um enorme risco, visto que, apesar de estar situado numa cidade conservadora, acompanhava recorrentemente situações de perigo devido à instabilidade política do país. “Na cidade vizinha víamos jatos da Rússia a controlar a fronteira e camiões blindados a passar por nós.” O jogador explica ainda que sentiu-se obrigado a voltar a Portugal por causa da tentativa do golpe de Estado.
O regresso definitivo ao seu país
Edinho regressa a Portugal, novamente ao Vitória de Setúbal. Os adeptos do Vitória acabaram por aceitar o seu regresso, porém, o jogador conta que a sua saída foi muito mal encarada. “Saí de forma inesperada, o Carlos Carvalhal [treinador da altura do Vitória de Setúbal] não contava com a minha saída.”
A seguir ao Vitória de Setúbal, Edinho regressa ao norte para o último clube que jogou da Primeira Liga Portuguesa, o Feirense. “Nesse ano não conseguimos o resultado que queríamos e acabamos por descer.”
Após essa época no Feirense, chega o momento de jogar na Segunda Liga Portuguesa. Edinho diz que já contava com essa transição, visto que não tinha o mesmo rendimento de antes e já se encontrava na fase final da sua carreira. Porém, o Cova da Piedade, para ele foi um clube em que teve um enorme vontade de jogar, devido ao investimento garantido para a luta pela Primeira Liga Portuguesa. “Preferi lutar para subir do que estar em um clube de Primeira Liga e lutar para não descer.” O jogador sempre foi reconhecido ao longo da sua carreira por nunca ter falhado um penálti, porém, nessa época falha o seu primeiro penálti.
Edinho não se contentou em terminar a carreira na Cova da Piedade, e abraçou o projeto de levar o Torreense da Liga 3 à Primeira Liga. “Montaram a equipa ideal, tive a felicidade de ter a minha primeira vitória de campeonato”, diz.
O suposto final da carreira futebolística
A ideia de Edinho seria terminar a sua carreira futebolística no Torreense, porém surgiu um projeto que rapidamente interessou o jogador, o Villa Athletic Club. O Villa Athletic Club, fundado por Fábio Lopes, mais conhecido como Conguito, youtuber e locutor de rádio, acabou por se tornar no projeto indesejado para o final de carreira de Edinho: “Na altura quando o Fábio apresentou-me o projeto achei bem construído, tinha contratos e ações com artistas conhecidos, aparentemente tinha um bom sustento e estabilidade financeira, porém foi ocultada a verdade.” Edinho esclarece que o Conguito, na realidade, não tinha investidores porque queria ter a totalidade do clube, o que fez com que não existisse forma de sustentar o projeto nem os atletas. Por essa razão, Edinho foi quem expôs o caso nas redes sociais e nos media.
Após a insatisfação de não ter terminado a carreira a jogar futebol, Edinho decidiu voltar a jogar após assinar contrato como comentador do Canal 11. Por essa razão, na época passada 2022/23, encerrou a sua carreira voltando à distrital, nesta vez no Clube Olímpico do Montijo.
Edinho sente-se grato da sua carreira como jogador. “Fiz tudo o que queria, atingi o que queria. Ganhei uma Taça de Portugal, uma Taça da Liga e um campeonato de Liga 3. E claro a representação do meu país.” Porém, o jogador diz que se algum dia voltarem a pedir para jogar futebol não hesitará em tentar novamente.