Ensino à Distância
Rotinas da Quarentena
Por Beatriz Walviesse Dias
O cotidiano de muitas famílias alterou-se devido à Covid-19. Pais e filhos, todos dentro de casa, adaptando-se ao Teletrabalho e às Aulas Online. Entre as medidas do Estado de Emergência ao desconfinamento cada família moldou o sua próprio rotina.
Das salas de aula para as salas de estar, das mesas de escritório às mesas de jantar.
O despertador toca, todos se levantam e vão se vestir para sentarem-se em frente a um computador. De um lado uma reunião de trabalho, do outro uma aula de matemática e ao fundo o choro do bebé que quer atenção.
A casa que até ontem parecia ‘caber toda a gente’ tornou-se pequena, quando transformou-se no local de trabalho e de estudo para várias famílias em confinamento.
A quarentena narrada pela voz de seis mulheres, mães e trabalhadoras. Em teletrabalho, em layoff ou desempregadas. Situações diferentes, com problemas diferentes, mas ligadas pela maternidade.
A realidade das mães que dividem as atenções entre o seu trabalho e a aula do seu filho a meio metro de distância como a Cândida. Ou a Carla que precisou pedir o apoio salarial ao Estado para poder continuar a cuidar sozinha dos três filhos em casa.
A realidade de duas mães que não educam apenas os seus filhos, mas são Educadoras de Infância de profissão. Esta é a história da Paula e da Marisa.
E a realidade das mães que acompanham de perto os desafios da telescola. Das dificuldades pelo excesso de trabalho que as crianças recebem, como na casa da Tânia. Ou da alegria ao realizarem atividades divertidas que a escola propõe, como no lar da Yolanda.
Apesar de estarem todas a viver em Portugal, sob o mesmo Estado de Emergência, e atualmente a viver o desconfinamento, as rotinas dentro de casa podem ser totalmente diferentes.
Escolas Fechadas. E agora?
Os filhos foram os primeiros a entrar em quarentena. Cândida Pina tem 49 anos e é Técnica Superior de Administração Pública. Com as aulas suspensas na escola dos filhos a partir de 13 de março, Cândida voltou para casa nessa sexta-feira com a condição de não regressar ao trabalho na semana a seguir.
As possibilidades passavam pelo teletrabalho ou por recorrer ao despacho emitido pelo Governo Português para o apoio aos filhos menores de 12 anos. No final, a Entidade Patronal de Cândida optou pelo regime de teletrabalho para todos os seus funcionários. Trabalha de casa desde então, e menciona que o seu marido Luís entrou em quarentena apenas na semana seguinte.
Começava assim o confinamento da família da Cândida, com o marido e os dois filhos, Dinis de 10 anos e Afonso de 15 anos.
Com as aulas presenciais suspensas as escolas precisaram rapidamente adaptar-se. Cândida explica que as duas semanas antes das Férias da Páscoa foram um período experimental, tanto para Professores como alunos, e após este período de pausa a nova metodologia online foi aplicada de forma efetiva.
Com os dois filhos a terem aulas online e Cândida em teletrabalho, os horários por vezes coincidiam. Em consequência, algumas mudanças foram necessárias para adaptar a sala ao novo local de trabalho de todos. A compreensão por parte dos colegas de trabalho foi também um elemento crucial para que Cândida e o seu filho mais novo conseguissem dividir o mesmo espaço.
Apoio excecional à Família
Para Carla Silva, o teletrabalho não foi opção. Aos 37 anos é assistente dentária e logo que as escolas fecharam precisou ficar em casa para cuidar dos seus três filhos, o Dinis de 6 anos, o David de 4 anos e o Duarte de 2 anos. A solução passou por recorrer ao “Apoio excecional à Família”.
Em consequência da antecipação das férias, o Governo garantiu aos pais com crianças até os 12 anos e que necessitassem ficar em casa, um subsídio extraordinário que cobriria 66% do seu respectivo salário.
O Conselho de Ministros aprovou ainda medidas de apoio à proteção social dos trabalhadores e das suas famílias:
- Atribuição de faltas justificadas para os trabalhadores por conta de outrem e trabalhadores independentes que tenham de ficar em casa a acompanhar os filhos até 12 anos;
- Apoio financeiro excecional aos trabalhadores por conta de outrem que tenham de ficar em casa a acompanhar os filhos até 12 anos, no valor de 66% da remuneração base (33% a cargo do empregador, 33% a cargo da Segurança Social);
- Apoio financeiro excecional aos trabalhadores independentes que tenham de ficar em casa a acompanhar os filhos até 12 anos, no valor de 1/3 da remuneração média;
O apoio porém, não aplica-se a trabalhadores que prestem serviço através do regime de teletrabalho, não pode ser recebido simultaneamente por ambos os progenitores e tem o valor fixado independentemente do número de filhos.
O subsídio decretado pelo Governo não cobriu o período das Férias da Páscoa entre os dias 30 de março e 13 de abril, por ser um período que já estava pré-estabelecido como férias.
Para Carla o subsídio foi logo a sua primeira opção. Questionada acerca do valor referente aos 66% do seu salário, Carla explica que por ter o salário superior ao salário mínimo acabou por ter uma redução maior nesse valor.
Isto ocorre porque o Apoio excecional tem o limite mínimo de uma remuneração mínima mensal garantida (RMMG) e o limite máximo de três RMMG. Por isso, para quem já recebia o valor mínimo, a nível económico “recebe exatamente a mesma coisa”, como menciona Carla. No seu caso, por receber um valor superior, a redução foi sentida no valor final.
Em contrapartida, Carla refere que durante este período as atividades extracurriculares dos seus filhos foram suspensas, o que acabou por “compensar” nas contas da família.
Quarentena Antecipada
Na casa de Yolanda Fonseca, o confinamento começou duas semanas mais cedo. No início de março, surgiu o primeiro caso de coronavírus em Santa Maria da Feira, cidade onde reside. Por precaução, Yolanda optou por ficar em casa desde esse dia, logo após conversar com os professores das filhas.
Para a mãe da Maria Clara de 8 anos e da Maria Sofia de 6 anos, a quarentena foi tempo de aproveitar e divertir-se junto das filhas.
Ensinar através do Computador
A escola online apresentou-se como um desafio para todas as famílias. Para Paula Espinhosa e Marisa Garrido o desafio enquanto Educadoras do Pré-Escolar passava também entre equilibrar atenções entre os seus filhos e os seus alunos.
Mãe da Leonor, de 4 anos, Marisa conseguiu conciliar os horários ao dividir tarefas com o seu marido que também está em casa em teletrabalho.
Durante a quarentena, as aulas foram dadas através da plataforma Zoom. A Educadora conta que a maioria dos seus alunos estiveram presentes e participaram nas atividades propostas. Diariamente é feita uma planificação, com os exercícios que serão propostos e recebeu um feedback positivo por parte dos pais, quando à utilização desta plataforma e da metodologia.
Quanto as rotinas da casa, Marisa refere que Leonor passou a acordar uma hora mais tarde e que a hora do almoço é também mais tarde em relação ao horário que a refeição acontecia na escola.
Para estarem presentes durante as aulas da filha, a Educadora menciona que acompanha a filha nas aulas da tarde, e que é o Pai da Leonor que auxilia a filha nas aulas da manhã.
A utilização das plataformas foi inicialmente um desafio, mas Marisa ressalta a importância de terem começado a trabalhar nas plataformas logo na semana a seguir à suspensão das aulas. Apesar de no começo serem apenas convívios entre a Educadora e as famílias, esta experiência foi muito vantajosa no recomeço das aulas, após a Páscoa, onde todos já estavam habituados à plataforma.
Marisa destaca que muitos dos pais da sua Turma dos 4 anos estiveram bastante presentes. Salienta os pais que estão em teletrabalho ficam ao lado dos seus filhos, acompanhando assim as suas aulas, ou em alguns casos, as crianças são também acompanhadas pelos avós.
“É preciso que os meninos estejam concentrados, então os pais normalmente estão ali ao lado”
Dentre as atividades propostas, as histórias são as mais frequentes, envolvendo exercícios diversos baseados nestes contos.
Na escola onde Paula Espinhosa é Educadora foi dada liberdade de escolha aos Docentes sobre como interagir com os seus alunos. Apesar de constantemente enviarem exercícios através de plataformas digitais, Paula optou também pela plataforma Zoom.
Logo no início das aulas à distância, Paula descreve as dificuldades por dar aulas num “meio rural”:
“Nem toda a gente tem acesso a meios digitais e como é predominantemente rural, estava-me a custar enviar trabalhos que depois não poderiam ser imprimidos. Limita um bocado”
Ao longo da quarentena algumas das famílias foram adquirindo e foram também facilitados algum tipo de material tecnológico e assim foi possível a criação de um Zoom. Ao contrário das aulas da Marisa, Paula realiza as suas ligações mais ao final do dia, pois muitas das crianças têm irmãos mais velhos que utilizam o computador na parte da manhã.
Contar histórias é a atividade que as crianças mais gostam durante estas aulas e para fazer chegar os materiais necessários, Paula explica como distribuiu algum material didático na casa de seus alunos.
Apesar de atualmente Paula conseguir conciliar os horários com as aulas dos seus dois filhos, Francisco e Beatriz, a Educadora explica as dificuldades que poderiam surgir e da importância de estar conectada aos seus alunos.
Estudar em Casa
Transformar a própria casa numa escola alterou não só as rotinas dentro de casa, como também acarretou variadas dificuldades em cada um desses Lares. Desde a diferença pelo número de filhos, ou pelas suas idades, todas as mães entrevistadas narraram os desafios que seus filhos sentem com a nova forma de aprendizagem.
Na casa da Yolanda, Maria Sofia está na turma dos 5 anos, realizando algumas atividades, desenhos e assistindo filmes indicados pela escola. Por outro lado, Maria Clara, que está no 2º ano, tendo de fazer exercícios e enviar fichas de trabalho diariamente.
As aulas de Maria Clara intercalam-se entre as emissões da Telescola e as atividades com a Professora online, no Microsoft Teams.
A Telescola foi uma medida adotada pelo Governo português a partir do dia 20 de abril, onde programa #EstudoEmCasa é emitido pelo canal público RTP Memória. Durante o dia são dadas aulas das diversas disciplinas desde o 1º ano até ao 9º ano.
Yolanda ressalta a importância de estar presente durante as aulas de Maria Clara e a ajudar na resolução dos exercícios.
Apesar de considerar a metodologia online muito mais prática para estudantes universitários ou jovens que pretendem ingressar numa Faculdade, pois as aulas online podem tornar-se cansativas para as crianças com o passar do tempo, Yolanda elogia a dedicação e organização da escola das suas filhas.
Limites da tecnologia
Quando Maria João e Margarida, filhas da Tânia, começaram as aulas online a internet que tinham em casa estava com problemas, o que à partida já dificultou esta retoma às aulas após as férias da Páscoa. O método utilizado pela escola foi também adaptado, das aulas através de e-mails, para as aplicações com aulas síncronas.
A rotina de casa ficou condicionada pelas aulas. Ambas assistem à telescola e precisam separar-se por diferentes espaços da casa, como a sala e o quarto, porque o horário das aulas por vezes coincide.
“Portas fechadas, não poder fazer barulho e tentar que os animais também não vão lá fazer barulho” – Tânia Sousa
Ao contrário de Yolanda, a telescola na visão de Tânia, acarreta alguns problemas, porque durante a aula as crianças conectam-se por mensagem e “estão na palhaçada” e por vezes “trocam resoluções de exercícios e não estão a fazê-los”.
Apesar de estarem a participar ativamente das aulas, Margarida refere que preferia regressar ao regime presencial das aulas, a opinião é também defendida por Tânia. A Encarregada de Educação argumenta que apesar de estar presente em casa para auxiliar as filhas, os pais não têm a mesma capacidade de ensinar e tirar dúvidas como os professores.
Para Carla a dificuldade passa por gerir o tempo a cuidar da sua casa sozinha e conseguir acompanhar a lista de exercícios que os seus filhos recebem. Apesar de entender que os trabalhos são diários, afirma que tornar-se excessivo “para quem tem três filhos, com todas as rotinas domésticas a acontecer”.
A expectativa para saber como as escolas iriam se adaptar foi a primeira preocupação da Paula. Após as férias da Páscoa, o Colégio particular da Beatriz e a Escola do Francisco conseguiram dar uma resposta eficaz e atualmente ambos têm aulas online.
Apesar de confessarem preferir as aulas presenciais, Beatriz refere que a escola adaptou o tempo das aulas para conseguirem estar menos tempo ao computador.
A mesma adaptação foi feita pela escola do Afonso, filho da Cândida, onde a escola optou por reduzir as aulas de 45 minutos para 30 minutos e darem aos alunos exercícios de cada disciplina, no caso do Afonso na área de Ciências e Tecnologia, que os alunos podem realizar sem estarem ligados ao ecrã do computador.
Conectar-se online para as aulas pode ser um desafio, quando os alunos podem estar determinados a “perturbar” a aula, como refere o Francisco, ou com os problemas constantes de internet, que Beatriz revela ser frequente na sua turma.
Apesar da facilidade com que hoje acedem às plataformas digitais, Francisco menciona algumas das dificuldades iniciais que sentiu, enquanto Beatriz destaca a organização que a Escola promove.
Quantidade de atividades
Relativamente ao número de exercícios propostos para os estudantes durante o período da quarentena, as opiniões são variadas.
Francisco, com 16 anos, refere que recebe alguns trabalhos, mas que os professores têm o cuidado de intercalar nos dias das entregas, para que não acumulem várias atividades para o mesmo dia. A sua irmã Beatriz, afirma que não tem sentido uma sobrecarga de exercícios e que os professores enviam normalmente para o fim de semana, tendo mais tempo de os realizar.
Apesar do Afonso defender não ter tido um aumento de exercícios, o seu irmão Dinis que está no 5º ano, expressa um aumento de trabalhos superior ao que tinha nas aulas presenciais.
Para a Margarida o aumento é evidente, chegando a expor durante a entrevista que tem “10 trabalhos para entregar para amanhã”. Além da quantidade de atividades, a estudante do 8º ano refere que os prazos de entregas são sempre “muito apertados”.
“Tenho uma aula de manhã e uma aula à tarde e depois tenho muitos trabalhos para fazer durante o dia” – Margarida, 13 anos
As aulas de educação física causam também alguma divergência de opiniões, porém as metodologias aplicadas pelas escolas são diferentes, o que pode justificar tal contraste.
Margarida refere que nas suas aulas de educação física a Professora pede para que façam determinado exercício, de forma assíncrona, mas não solicita que enviem um vídeo. A jovem afirma que com esta metodologia a aula “não faz sentido”.
Em contrapartida, Dinis e Afonso realizam as aulas de educação física através do Zoom, o que os permite estarem conectados com os seus colegas de turma. Cândida salienta que é uma das aulas que mais adoram.
Desconfinamento
Regresso às Aulas Presenciais
A partir do dia 2 de maio Portugal saiu do Estado de Emergência para o Estado de Calamidade. As medidas de desconfinamento passaram a ser tomadas a cada 15 dias, incluindo o regresso de algumas aulas presenciais.
Os estudantes do 11.º e 12.º anos e 2.º e 3.º anos dos cursos de dupla certificação para disciplinas de Exames e também as creches regressaram às aulas presenciais a 18 de maio. Os estabelecimentos de Educação Pré-Escolar reabriram a partir de 1 de junho.
Com a volta às aulas presenciais, Marisa declara que a Escola onde trabalha já começou a adotar as medidas de Contingência, para que este regresso seja feito da forma mais segura e a enviar aos pais um e-mail com todas essas novas regras.
A Educadora acredita que alguns dos pais que ainda encontram-se em teletrabalho e podem ficar a cuidar das crianças em casa, poderão não levar os seus filhos logo de início. Porém, até o final do mês de junho, julga que terá a maioria dos seus alunos presentes na escola.
As mesmas medidas serão adotadas na Escola onde Paula trabalha e esta já esteve na escola a preparar as salas de aula e todos os materiais necessários.
A Educadora explica algumas dessas medidas e também os desafios que serão sentidos tanto pelos Docentes como pelas crianças, ao terem que manter o distanciamento social.
Face à reabertura das Creches e do Ensino Pré-Escolar, Carla afirma que irá regressar ao seu trabalho como Assistente Dentária. Com o regresso ao trabalho presencial Carla deixará de precisar do Subsídio cedido pelo Estado a Pais com crianças menores de 12 anos, mas para os pais que continuarem em casa o apoio será mantido até ao final do período escolar.
Retrospectiva à Quarentena
Paralelamente às mudanças face ao teletrabalho e às aula online, várias foram as medidas adotadas nestas famílias para proteger-se contra o coronavírus. Lidar com todo o ambiente de confinamento e o medo constante do contágio, foram temas mencionados por algumas das Mães entrevistadas.
Nas semanas antes da suspensão das aulas, Cândida refere que na escola do seu filho mais novo os Professores já alertavam para algumas medidas básicas a serem tomadas, nomeadamente “não partilhar o lanche”, ou que não “podiam beber da mesma garrafa”.
As notícias aos longos dos dias com o número de casos elevados na China e posteriormente na Itália assustaram os dois filhos da Técnica em Administração Pública. Com a suspensão das aulas, o sentimento de segurança veio à tona.
“Eu acho que o que os fez ficar em casa sem reclamar foi o medo”
Descreve também como os seus filhos reagiram à distância de seus colegas. O mais velho manteve contacto através de grupos de what’s app ou instagram. No caso do mais novo, Cândida explica que percebeu uma dualidade de sensações, apesar de sentir-se seguro e próximo da família, a falta dos amigos também era muito mencionada. Segundo Cândida, Dinis por várias vezes já perguntou se poderá convidar um amigo para visita-lo, assim que for possível este tipo de interações.
Na casa da Paula, a falta do contacto com o restante da família foi o mais difícil de lidar durante a quarentena, somado ao medo do risco de contaminação se “em algum momento baixarmos a guarda sem querer”.
Francisco refere que por várias vezes sentiu-se aborrecido e “meio em baixo”, pois sua família quase toda reside no Porto, enquanto ele, sua irmã e seus pais vivem em Viseu. Para tentar “reduzir essas distâncias”, Paula conta que no Domingo de Páscoa a família manteve-se conectada através de videochamada.
“Até o final do almoço, processou-se esse contacto, à distância, virtualmente, mas foi a melhor maneira que se encontrou e que muita gente encontrou.”
Para ajudar a lidar com o confinamento, Cândida estabeleceu uma rotina na família e com o fim do Estado de Emergência explica também a importância de sair para caminhar em família.
Ir ao mercado implicava toda uma rotina de desinfeção na Casa da Cândida e durante o Estado de Emergência essa tarefa era exclusiva do seu Marido. Com as medidas de desconfinamento revela que começou também a sair para fazer as compras com o uso de máscara. Para Cândida a partir de agora começa a ser necessário voltar a sair de casa, com as devidas cautelas.
As saídas na família da Paula eram muito limitadas. O marido continuou a trabalhar durante todo o período de confinamento, porém para o restante da família as saídas ao supermercado eram a única exceção até ao fim do Estado de Emergência. A saudade da família levou a uma visita diferente e à distância, como conta a Educadora.
Já podemos sair, ou é melhor não?
Retomar à normalidade com precauções é o que a família da Cândida está a tentar fazer. No fim de semana anterior a esta entrevista, conta que foram em família à praia. Porém foi necessário responder a algumas perguntas do filho mais velho nomeadamente, se era seguro, se realmente poderiam ir, ou se estaria muita gente na praia.
Cândida acredita que com o tempo e de forma gradual todos irão aprender a lidar com o desconfinamento e a começar a sair com as devidas precauções.
“Vamos começar a dar uma voltinha, mais ao fim de semana, precisamente com cautela, sempre com máscaras, sempre observando as leis que são impostas, mas também não podemos passar a vida sempre dentro de um ‘casulo’”
As medidas de desconfinamento aplicaram-se também ao fim da obrigatoriedade do teletrabalho. A Entidade Patronal da Cândida, já determinou a volta ao trabalho presencial, em sistema de rotatividade, porém, antes mesmo do Governo anunciar as medidas, já estava determinado que os pais de crianças menores de 12 anos poderiam permanecer em teletrabalho.
O fim da “Obrigatoriedade do Teletrabalho enquanto regime de organização do trabalho” foi anunciado pelo Conselho de Ministro no dia 29 de maio. Mas quatro situações de exceção foram determinadas pelo Governo:
- Trabalhador que mediante certificação médica, se encontre abrangido pelo regime excecional de proteção de imunodeprimidos e doentes crónicos;
- Trabalhador com grau de incapacidade igual ou superior a 60%;
- Trabalhador com filho ou outro dependente a cargo menor de 12 anos ou com deficiência ou doença crónica que necessite de prestar assistência decorrente de suspensão de atividades letivas e não letivas presenciais;
- Quando os espaços físicos e a organização do trabalho não permitam o cumprimento seguro das orientações da DGS e da ACT;
A medida permite que Cândida acompanhe não só o final do 3º Período dos seus filhos, mas também durantes as férias, pois afirma que este ano os filhos provavelmente não irão para campos de férias.
No seu local de trabalho ficou também estabelecido que a partir de 31 de agosto, todos os funcionários regressam porque, como explica Cândida, um novo ano escolar estará se iniciando e a mesma espera que os filhos terão aulas em regime presencial.
Com as medidas de desconfinamento a Beatriz diz que sente-se mais segura, mas que mantém a atenção aos cuidados necessários. O Francisco por outro lado, ainda revela alguma ansiedade, principalmente pelo risco de poder infectar outra pessoa, até mais do que pela preocupação com si mesmo.
Para Paula os cuidados terão de ser mantidos independentemente do desconfinamento. Afirma que evitará saídas desnecessárias e explica como a família tem realizado os seus almoços com as medidas de proteção e distanciamento.
De volta ao trabalho, ainda em teletrabalho, ou em casa com os filhos, os desafios do desconfinamento começam a ser vividos por estas famílias a cada novo dia. Apesar das diferentes realidades, a expectativa pelo regresso “à normalidade” é comum a todas.
Ensino à Distância: “Um Desafio Constante”
Por João Tavares
O ensino à distância alterou por completo as rotinas dos professores e dos alunos, fazendo sobressair as dificuldades inerentes a esse modelo. Se a maior parte tem acesso a tecnologia e a Internet, há aqueles cujas condições para o ensino em casa não são as mais adequadas.
A pandemia da COVID-19 modificou a estrutura do ensino em Portugal, passando de aulas presenciais nas escolas, para aulas à distância em casa.
Os estabelecimentos de ensino, os professores, os alunos e o próprio Governo tiveram que se adaptar e adotar plataformas de videoconferência para viabilizar essas aulas.
Mas essas plataformas só podem ser utilizadas, com esse fim, se houver ligação à Internet e, no país, ainda existem algumas regiões isoladas, onde não existe rede de Internet ou se existe é muito fraca, dificultando a vida a professores, a alunos e a encarregados de educação.
António Emanuel vive em Odemira, no Vale de Santiago, numa quinta de família. Frequenta o 11º ano do ensino profissional e, para ele, a adaptação não tem sido nada fácil: “As plataformas são fáceis de usar, o pior são os problemas de acesso à rede. Quando o mesmo acontece, por vezes, a visualização e o som são de fraca qualidade; só consigo estabelecer a ligação no telemóvel e apenas no exterior da casa, na quinta.”
O facto de viver num vale é o principal motivo para as dificuldades sentidas por António. Apesar disso, “Os colegas e os professores enviam-me fotos do material necessário, através de mensagem para o telemóvel e é assim que também envio os trabalhos solicitados”, diz o aluno de 16 anos, salientando a camaradagem que esta situação fez emergir.
Eduardo Silva, 13 anos, de Lourosa, não tem problemas no acesso aos conteúdos disponibilizados online. “Mas sei que na minha escola para quem não tiver computador ou acesso à Internet pode ir buscar fichas, e depois tem de as ir entregar”, afirma a aluno que frequenta o 8º ano de escolaridade.
Gabriela Tavares, 14 anos, tem conhecimento de um colega de turma, do 9º ano, da escola EB Fernando Pessoa de Santa Maria da Feira, que não tinha computador: “A escola forneceu-lhe um computador, mas este está danificado no micro e não possui câmara. Portanto, fica limitado para comunicar na aula”.
Sofia Ruz, 16 anos, aluna do 11º ano, em São João da Madeira, revela como a escola ajudou os alunos que não tinham computador nem Internet.
Patrícia Mota dá aulas numa escola próxima de alguns bairros problemáticos do Porto e tem conhecimento de que na Escola do Viso havia muitos alunos que não tinham equipamento informático, devido às dificuldades económicas. No entanto, salienta a forma como o assunto foi resolvido.
A adaptação a este modelo não tem sido homogénea, pois se há professores que já estavam familiarizados com as diversas plataformas de ensino à distância, outros há que tiveram algumas dificuldades para preparar as aulas nesses moldes.
Cláudia Valinho, professora do 3º ciclo e do secundário, em Espinho adaptou-se bem à nova realidade, mas confessa que tem perdido mais tempo a organizar as aulas.
A professora de Formação Musical, Patrícia Mota, e também diretora pedagógica do Pallco, refere que preparar aulas nestas condições tem sido “um desafio constante”.
Se para António a adaptação às aulas tem sido muito complicada devido à falta de rede, para Eduardo também não tem sido fácil, “porque ter aulas por video-chamada torna a aprendizagem mais difícil, nota-se claramente que os alunos não estão muito atentos”.
Tendo em conta o tempo de duração de cada aula, as opiniões dos alunos divergem. António e Sofia consideram que o tempo é suficiente. Já Eduardo e Gabriela acham que as aulas deviam ser mais longas. A estudante de Santa Maria da Feira afirma “que é pouco tempo para o professor expor/explicar a matéria da aula. Além disso, muitas das vezes não temos tempo para colocar todas as dúvidas”.
A afluência dos alunos às aulas tem sido regular. Segundo a professora Cláudia “por exemplo, numa turma de 23 alunos por norma apenas um ou dois alunos não assistem às aulas síncronas”.
A professora Patrícia notou, nas suas aulas, um aumento da assiduidade no terceiro período, em relação ao final do segundo, que já foi lecionado neste modelo.
Tanto professores como alunos consideram que têm muito mais trabalho e menos tempo livre neste contexto de aulas em casa. Sofia, aluna do ensino profissional, admite que “tem sido bastante complicado”.
A questão que também se coloca é se as aulas à distância garantem uma preparação adequada aos alunos e se esse modelo poderá ser adotado, como parte integrante do ensino, nos próximos anos.
Gabriela Tavares considera que “presencialmente se desenvolvem melhor os temas (…) em determinadas disciplinas ficamos aquém do que deveria ser absorvido”. Eduardo é da mesma opinião, até porque tem a noção de que “alguns professores avançam algumas partes da matéria”.
António acha que está a aprender o suficiente: “Tenho bons professores que se estão a esforçar imenso para nos darem as aulas e acredito que o estão a conseguir”. Por sua vez, Sofia sente que está a ter uma preparação diferente da que teria presencialmente, mas complementar.
A docente Cláudia Valinho afirma que “tal como no ensino presencial, alguns alunos realizam aprendizagens, outros não.” No entanto, “sem dúvida que a preparação para os anos futuros não é a mesma, tendo em conta o ensino à distância e quando retomarmos o ensino presencial certos conteúdos terão de ser consolidados e reforçados”.
Espera que no futuro não seja necessário recorrer a esta medida, “porque se denota um acentuado desgaste geral dos professores e dos alunos e, por conseguinte, as inevitáveis perdas no seu rendimento. De facto, sinto uma certa apreensão e incerteza com os moldes em que funcionará”.
Por sua vez, a professora de música não acha de todo que os alunos estejam a ser bem preparados.
Acha, que, neste momento, o papel dos professores “não é tanto de ensinar, mas de não deixar os alunos esquecerem a escola”, porque precisam de orientação, acima de tudo. Espera que no futuro não seja este o modelo principal, pois “não é solução, isto é um remendo. Há aspetos positivos, sim (…) tentamos encontrar suportes informáticos que nos ajudam (…) podem ser um auxílio à aprendizagem”.
Contudo, entende que isto deve ser usado como complemento às aulas presenciais, mas como regra não, porque há alunos que estão sozinhos, em casa, e não devem. Garante que “esta não é a solução ideal para o próximo ano”.
Os alunos Eduardo e António pensam que, se o vírus se mantiver ativo, deve manter-se o ensino à distância, no próximo ano letivo. “Mas é necessário ter em atenção as dificuldades de rede que afetam muitas localidades”, acrescenta António.
A estudante do ensino profissional, Sofia, tem uma opinião diferente.
Gabriela é da mesma opinião de Sofia, “as matérias não ficam bem consolidadas e isto irá prejudicar o sucesso académico de cada aluno. Contudo, podemos fazer trabalhos para nos mantermos ocupados, mas não considerar a matéria como dada. Há disciplinas que devem ser presenciais”.
De que forma os estudantes com deficiência, têm acesso ao ensino à distância e quais as suas principais dificuldades
Por Diogo Rodrigues
Tentamos dar voz aos estudantes com necessidades educativas especiais. A grande questão de investigação é: Será que os estudantes com algum tipo de deficiência, têm igual facilidade em aceder a dispositivos, que os ajudem a usufruir de iguais condições, no que concerne ao acesso às plataformas de ensino à distância?
Neste contexto, podemos percepcionar que existem ainda muitas “arestas para serem limadas” no que ao ensino à distancia para pessoas com deficiência diz respeito.
Quer em termos da acessibilidade das plataformas que têm de ser urgentemente repensadas, quer em termos de revisão e consequente reestruturação dos momentos de avaliação devendo estes serem diluídos ao longo do semestre. Sem esquecer as solicitações de trabalhos fora do horário das aulas síncronas o que faz com que estes estudantes se encontrem muito mais tempo que os seus colegas no exercício dessas funções.
No que à audiodescrição diz respeito existe uma lacuna que tem de ser equacionada de forma célere de modo a incluí-la no serviço de telescola para permitir que os alunos cegos ou de baixa visão possam compreender e usufruir da mesma forma de todos os conteúdos aí difundidos.
O impacto da pandemia no ensino das pessoas com deficiência
Falaremos sobre as principais dificuldades sentidas por estes estudantes, no que respeita aos materiais indispensáveis ao seu estudo normal. Abordando, com principal enfoque de que modo os mesmos têm acompanhado as aulas em tempos de pandemia no que diz respeito à educação à distância. Para tal recorremos a três testemunhos: Amadeu Cruz, aluno cego, que se encontra atualmente a frequentar o terceiro ano do curso de contabilidade no ISCAP (Instituto Superior de Contabilidade e Administração Pública). Alexandra Sousa, estudante que padece de paralisia cerebral, encontrando-se atualmente a frequentar o segundo ano da licenciatura em ciências da comunicação, na Universidade Lusófona do Porto.
Como último testemunho ouvido nesta reportagem temos Tomé Coelho, Presidente da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal) e também ele cego.
Alunos com deficiência no Ensino em contexto nacional
De acordo com os dados mais recentes disponibilizados pelo Observatório para os direitos das pessoas com deficiência, existem cerca de setecentos mil alunos com necessidades educativas especiais, ou seja, com algum tipo de limitação, seja esta a nível: motor, visual, sensorial ou até mesmo intelectual. Para esta estatística contam os alunos matriculados no Ensino Primário e Secundário que se façam acompanhar por um professor de Ensino Especial. Docente este que ficará encarregue de lhes fornecer materiais, acompanhamento nas unidades curriculares, caso seja necessário, e ainda auxiliar o mesmo na realização de tarefas básicas dependendo do grau de incapacidade do aluno.
Se nos referirmos aos números de estudantes com necessidades educativas especiais a ingressar em Institutos Politécnicos ou em Universidades (públicas ou privadas), a realidade é já bem antagónica.
De acordo com os dados disponibilizados pelo jornal, O Publico, no ano letivo 2019/20, inscreveram-se trezentos e dez mil estudantes em Institutos Politécnicos e Universidades, ao abrigo do concurso nacional para estudantes portadores de deficiência. Mesmo assim estes números têm vindo a aumentar, sofrendo um acréscimo de 20%, se tivermos em comparação os dados de 2015.
Neste sentido e tendo em conta que mesmo assim são poucos os alunos de Ensino Especial a optar por fazer uma licenciatura, tentamos compreender se existem fatores ao nível das acessibilidades que contribuam para o facto de existirem poucos estudantes com estas caraterísticas a frequentar tais instituições. Focamo-nos particularmente em tentar entender de que forma os mesmos estão a ter acesso aos conteúdos lecionados, uma vez que estamos sob a vigência da pandemia da Covid 19, inquirindo os nossos testemunhos acerca do funcionamento das plataformas de ensino à distância. Teremos como objetivo saber se as mesmas lhes são acessíveis, bem como se estas são de fácil manuseamento e quais os desafios por eles vivenciados face às novas condições de aprendizagem.
Tempos difíceis para quem é dependente
Amadeu Cruz tem 22 anos e estuda contabilidade no ISCAP é cego de nascença, tendo 95% de incapacidade. Diz que tem muita facilidade em utilizar o computador, referindo que o mesmo se revela como uma ferramenta preponderante para a realização do seu curso. Destaca que, no entanto, pelo facto de sofrer de deficiência visual, se vê impedido de ter acesso de igual forma aos conteúdos abordados nas unidades curriculares que compõem a sua licenciatura.
O jovem, quando questionado em relação à acessibilidade das diversas plataformas, não hesita em afirmar, que não existe um padrão, no que respeita à acessibilidade das mesmas. Declarando que as plataformas que não necessitam de um browser próprio como o Zoom, são de mais fácil acesso para os estudantes que se encontram na mesma situação do que o natural de Santa Maria da Feira. Já as plataformas como o moodle na opinião do mesmo, são extremamente inacessíveis para os estudantes que têm déficit visual. Apontando como justificação para tal, a existência de vários links, que não facilitam em nada a vida destes alunos.
Por este motivo o estudante relata que solicita aos docentes que lhe enviem por email os conteúdos disponibilizados na plataforma moodle, pois assim consegue aceder de igual forma aos materiais de estudo que os seus companheiros de turma encontram plasmados na plataforma. Acrescenta ainda que estes documentos devem estar em formato word, pois deste modo ser-lhe-á mais fácil a leitura por parte dos leitores de ecrãs JAWS e o NVDA, apontando que o segundo é o que mais vai de encontro às suas necessidades.
O Feirense diz ainda que apesar de o moodle não se coadunar com a sua condição, em contra ponto, na secretaria on line consegue navegar autonomamente, sendo ele a visualizar a sua avaliação e que apenas recorre à ajuda de terceiros ( normalmente os progenitores) quando tem de se inscrever em algum exame, visto que o mesmo implica uma transferência bancária, confidenciando que não tem muito à-vontade com esta modalidade.
Quando lhe perguntamos como estavam a decorrer as suas aulas à distância foi nos dito pelo próprio que “tem dias”, explicando que os seus pais têm de o ajudar a entrar nas reuniões do zoom, plataforma mais utilizada pelo Instituto Superior que frequenta, apontando seguidamente que esta não é a única dificuldade que tem vivenciado a este nível. Refere que as constantes falhas no servidor de internet bem como o facto da plataforma ter algumas contingências na duração das aulas ministradas (40m por reunião) são dificuldades descritas pelo universitário.
Numa escala de 1 a 5, o estudante classifica com nota 3, esta época em que a educação é feita à distância e em que o académico não pode deixar a sua residência para ir à faculdade. Referindo com um grande suspiro “estes tempos não são fáceis para nós”, aludindo às dificuldades constatadas pelos seus semelhantes.
Um exemplo de superação
Dêmos agora voz a Alexandra Sousa, vinte e dois anos, estudante na Universidade Lusófona do Porto, estando a frequentar o segundo ano da licenciatura em Ciências da Comunicação. A estudante natural da cidade Invicta, sofre de paralisia cerebral, que lhe afeta a destreza e dificulta o modo como trabalha.
Dada a sua diversidade funcional conversámos, com a estudante Portuense, acerca das principais dificuldades por ela constatadas nesta modalidade de ensino à distância, tentando apurar quais os constrangimentos mais salientes na opinião desta jovem inspiradora, que possui uma enorme força de vontade.
Desde o passado dia 11 de março (data da última aula a que a aluna assistiu fisicamente), Alexandra tal como tantos outros universitários, teve de adaptar-se a uma nova realidade de ensino. Se já para um académico sem limitações, foi e ainda, continua a ser deveras complicado a adaptação a estes novos tempos e métodos, imagine-se para um aluno que possui diversidade funcional (termo adotado e que significa pessoa com deficiência). Esta conta quais os grandes desafios por ela vivenciados nesta época de exceção, referindo alguns setores desta nova vertente de aprendizagem que necessitam ser melhorados para que exista uma maior inclusão. A jovem dá ainda algumas sugestões, que poderão ser operacionalizadas, caso tenhamos de manter ou de voltar a passar, e de conviver com uma situação de exceção semelhante a esta provocada pelo surto da COVID 19.
Alexandra começa por declarar “que este período está a ser um grande desafio, para a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais”. Justifica tal afirmação, evidenciando que os mesmos têm ainda maiores barreiras para suprir em comparação com os demais estudantes, uma vez que muitos destes alunos com limitações (visuais, auditivas ou motoras entre outras), dependem muitas vezes de terceiros (familiares ou assistentes pessoais) para os auxiliarem nestas tarefas.
A estudante universitária, destaca, na sua opinião, que á semelhança dos alunos que não padecem de qualquer tipo de patologia, o ponto mais negativo desta nova modalidade de ensino e aprendizagem tem sido o número excessivo de horas passadas em frente do computador. Sendo que no caso da futura comunicadora, esta questão ganha ainda uma maior relevância, dado que a doença a limita sobretudo na destreza de escrita, levando a que a estudante demore mais tempo do que os demais colegas de turma a realizar os trabalhos que lhe são solicitados provocando-lhe um enorme desgaste físico e cansaço visual “enquanto que os meus colegas levam entre duas a três horas para realizar um trabalho, eu tenho de estar o dobro do tempo ao computador”.
A Portuense admite que o tempo excessivo passado a realizar tais tarefas de estudo, ao final do dia, resultam em fortes dores físicas por ter de manter a mesma postura corporal, acrescentando que tal facto a leva a necessitar de muito mais tempo e energia para desempenhar o que lhe é proposto.
Do ponto de vista da jovem não lhe parece justo que os estudantes tenham de passar o dobro do tempo sentados ao computador, dado que para além das aulas síncronas, os mesmos têm ainda de realizar as tarefas de estudo e aprendizagem relativas às diversas unidades curriculares.
A estudante refere que os testes realizados on line são outra das grandes dificuldades por ela constatadas nesta fase, visto que a aluna necessita de mais tempo para realizar a prova. Mesmo assim vê-se forçada a despender muito tempo para consultar apontamentos (isto se a prova for de consulta) algo que parece benéfico para todos, para ela não, dada a sua diversidade funcional. Quando a prova não necessita de consulta, Alexandra Sousa, proclama que a principal dificuldade é a constante submissão das respostas, nas quais diz perder muito tempo, visto que tem de voltar ao enunciado do exame frequentemente, algo que a faz gastar tempo, e simultaneamente perder a concentração. Esta situação, dada a sua limitação física, é algo de terrível, conduzindo a momentos de stress e angústia por parte da aluna.
Alexandra conclui o seu testemunho deixando algumas sugestões que poderão ou não ser postas em prática, em condições extremas como estas por todos nós experienciadas e em que a educação à distância seja a ferramenta utilizada de forma a que os estudantes com algum tipo de diversidade funcional não sejam esquecidos ou negligenciados.
A primeira sugestão que Alexandra propõe é que exista uma melhor organização em termos letivos, isto é: existir uma maior aposta nas aulas assíncronas em detrimento das síncronas, visto que de acordo com a universitária, este processo traria melhores resultados, pois o facto dos estudantes se quedarem tantas horas em frente ao computador, faz com que o estudo e a aprendizagem sejam improdutivos.
A outra proposta, vai no sentido, de a avaliação contínua não ser tão concentrada nas últimas semanas do semestre, mas que esta seja sim mais espaçada, de forma a que os seus colegas e ela também não se sintam tão pressionados e stressados. Concluindo que esta tem sido uma altura de muitos desafios e que o nosso País ainda não se faz dotar de todos os instrumentos e estratégias, necessárias para a inclusão de estudantes em situações iguais ou semelhantes às de Alexandra Sousa.
ACAPO luta contra a desigualdade de oportunidades no Ensino à distancia
Tomé Coelho Presidente Nacional da ACAPO, sediada na capital, mostra-se preocupado com a acessibilidade quer dos conteúdos que estão a ser colocados em telescola (serviço disponibilizado a partir do dia 15 de abril) na RTP Memória para o ensino primário até ao secundário quer mesmo com as plataformas para os alunos cegos e de baixa visão a nível universitário.
O mesmo aponta como principais problemas a falta de audiodescrição que limita a compreensão dos conteúdos lecionados na telescola. Em relação às plataformas utilizadas o dirigente afirma “estas não são, em si mesmas, acessíveis a leitores de ecrã, porque funcionam muito com a inserção de gráficos, e estes são inimigos das pessoas com deficiência visual”.
No sentido de proporcionar uma igualdade em termos de oportunidades para estes estudantes a ACAPO encontra-se presentemente em contacto com a Secretaria de Estado para a Inclusão das Pessoas com Deficiência no sentido de alertar para a situação vigente, de forma a serem criadas condições propícias para eliminar ou pelo menos minimizar este tipo de problemas para esta camada da população. Tomé Coelho é perentório ao concluir dizendo “nós estamos habituados a trabalhar, ao longo de toda a nossa vida, sempre em condições de desigualdade e de desvantagem. Seria justo que estivéssemos todos no mesmo pé de igualdade em termos de oportunidades no que à educação à distancia diz respeito”.
Plataformas de Video-chamada: Conviver à distância
A plataforma de videoconferência Zoom tornou-se a mais usada plataforma desde o surto do Coronavírus. Com a população a ser forçada a trabalhar ou estudar em casa, o zoom, têm sido a ser mais usado devido às suas capacidades de chamada com vários usários ao mesmo tempo. Com esta grande popularidade, vêm um grande perigo também, o “zoombombing”, como é chamado, é um dos grandes perigos que esta plataforma possui.
Por Pedro Faria
A popularidadade do Zoom
Não é nenhum segredo que a plataforma Zoom tornou-se a plataforma mais usado durante a pandemia do COVID-19. A primeira pergunta que se pode fazer quanto a esta plataforma é, “como e porque é que ficou tão popular de repente?” De acordo com o jornal online da CNBC:
“O Zoom é conhecido pela sua fiabilidade, evita longas interrupções que desencorajam o uso repetido e não tem a latência que faz com que certos serviços sejam dolorosos de usar para reuniões extensas.”
A plataforma Zoom, possui serviços de reuniões, salas de trabalho, sistemas de telefonia e um sistema de bate-papo. Além disso, com o surto do coronavírus, oferece apoio à Educação, permite um modo de trabalho eficiente, a organização de eventos virtuais, e suporte durante a pandemia de COVID-19. Com estes serviços que o Zoom disponibiliza para o público, têm sio constantemente usado durante a pandemia para o uso de trabalho e de estudo.
A popularidade do Zoom aumentou tanto que apenas na primeira metade do ano de 2020, o seu número de usuários ativos é maior do que todo ano de 2019.A empresa conseguiu um número de 2,22 milhões de usuários em 2020, enquanto que no ano de 2019, conseguiu apenas 1,99 milhões de usuários, de acordo com os dados do jornal online da CNBC. Os números também revelam que as ações aumentaram 40% no mês fevereiro, sendo este o melhor mês que a companhia já teve.
Desde o final de mês de janeiro as ações do zoom aumentaram em 101%. Desde o dia 18 de março, a app do Zoom, ficou em primeiro lugar nos downloads diários do AppleStore, como refere o Markets Insider. As ações da Zoom aumentaram para US$160,98 por ação, um aumento de 263% em relação aos preços iniciais das ações quando foram abertas.
Zoomers: A Geração Z e o Zoom
Com o aumento de casos do Coronavírus, a população foi forçada a se fechar em casa para sua segurança, impedindo assim o aumento de número de casos que têm vindo a aumentar.Os jovens adaptam-se ao isolamento social através do uso de plataformas de videochamada para estudar, trabalhar ou até mesmo para se juntarem e se divertirem juntos.
O Zoom está a ser usado para reuniões de trabalho, aulas online, por famílias ou por amigos que querem estar juntos. Um novo termo foi inventado para estes jovens que passam o seu tempo no Zoom, os “Zoomers”. O Zoom, tem substituído várias outras redes sociais e têm se tornado a predileta para o combate do isolamento social.
“ Na manhã de segunda feira, Eleanor Dolan, celebrou o seu 17º aniversário no Minnesota com o seus 20 amigos. Eles ouviram música e contaram algumas piadas. Quando o grupo começou a cantar o “Parabéns a você”, Eleanor usou uma fatia de um bolo de chessecake e pôs à sua frente e fingiu apagar as velas com os palitos que ela usou para substituir as velas no topo.”
Este é um dos vários casos de jovens que se reúnem para atividades de lazer, o caso foi relatado no jornal online do The New York Times e mostra como os jovens se adaptam aos tempos difíceis que nos encontramos onde não podemos estar juntos daqueles que mais amamos em ocasiões epeciais.
Porque é que os jovens usam o Zoom? O jornal britânico online Metro News refere que:
“ Parte do apelo do zoom é que é simples, fácil de usar e gratuito. Possui uma interface simplificada e alguns recursos que deixam as coisas mais interessantes.”
Um desses recursos que o Zoom possui é chamado de “Touch up my appearence”. Esse efeito, serve para suavizar a pele do usuário e deixar livre de “imperfeições”. A própria empresa explica que: “A opção Touch up my appearence retoca a sua exibição de vídeo com um leve foco. Isto pode ajudar a suavizar o tom da pele no ecrã, para apresentar uma aparência mais retocada quando mostras a tua camara a outros.”
Outras ideias são criadas para o uso do Zoom. Os jovens estão a criar vídeos no TikTok com “Hacks do Zoom”, onde ensinam várias truques do Zoom, sendo que, um dos mais populares, é onde a pessoa finge estar na aula quando na realidade, não está.
O Zoom também está a ser usado de outras maneiras. Jovens da faculdade usam o Zoom para encontros, pais usam para criar recreios para os seus filhos, desenvolveram-se jogos de bebida usando o zoom, adaptando o famoso “eu nunca” para “eu nunca sai da quarentena”.
A facilidade e disponibilidade do Zoom é o que permite os usos originais que os jovens que fazem. O zoom é fácil de usar, gratuito e disponível é vários aparelhos e dispositivos tal como Iphone, Android,Mac, PC etc…
“Zoombombing” e Segurança da Plataforma
“Zoombombing”, é o nome que se dá quando alguém que não foi convidado, invade uma reunião do Zoom. O objetivo deste ataque, normalmente, é de fazer piadas de maus gosto aos participantes de uma reunião. Os “zoombombers”, são trolls que invadem reuniões de zoom, eles compartilham material inapropriado em reuniões como pornografia, conteúdo violento, piadas racistas e conteúdo ofensivo.
O Los Angeles Times, relatou um caso de “zoombombing” numa escola em Conejo Valley, onde aconteceu o seguinte:
“Caras familiares apareceram no ecrã – membros do conselho e funcionários do distrito. Mas minutos antes de começar, um número de usuários não reconhecidos entraram na reunião de grupo e começaram a gritas a “palavra N” repetidamente. Imagens pornográficas assumiram de repente o ecrã central.”
Outro caso aconteceu na Universidade da Califórnia do Sul, onde, segundo o The Washington Post:
“Sabotadores usando “linguagem racista e vil” infiltraram e interromperam aulas online dadas pela Universidade da Califórnia do Sul.”
Para combater estes ataques, a empresa Zoom, oferece avisos e dicas para evitar que ataques a reuniões não aconteçam. Na página de Zoom Blogs intitulada de “ How to keep Uninvited Guests out of your Zoom event”,é uma página onde mostra vários modos de como impedir que pessoal não autorizado entre em reuniões privadas. Dicas como: Evitar usar o ID de Reuniões Pessoais, gerenciamento de partilha de ecrã, gerenciamento de participantes, fechar reuniões, remover participantes não desejados, desativar chat privado e o uso da área de espera, são aconselhadas para os usuários do Zoom.
Com o acontecimento destes ataques à plataforma, o CEO da Zoom, Eric Yuan, declarou um pedido desculpas devido aos ataques recentes:
“Ficamos aquém da privacidade da comunidade–e da nossa- e expectativas de segurança. Por isso, eu lamento profundamente.”
Disse Eric Yuan num blogpost publicado no dia 1 de abril.
Entrevista a Hugo Barbosa
Hugo Fernando Azevedo Barbosa é professor na Universidade Lusófona do Porto. Licenciado em Engenharia Informática pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto, em 2009, conclui o Mestrado de Engenharia Informática Sistemas Gráficos e Multimédia. Hoje trabalha na área de redes de computadores e multimédia.
Convidei o professor Hugo Barbosa para uma entrevista onde pudesse dar a sua opinião sobre o uso de plataformas de video-chamada, a sua segurança e como prevenir os ataques cibernéticos a plataformas online.
PF: Acha que as faculdades garantem a segurança dos alunos?
PF: Considera que existe um maior perigo com o aumento do uso desta plataforma?
PF: Como é que as plataformas devem encarregar um ataque cibernético?
PF:No seu ponto de vista como Engenheiro Informático, como vê estas plataformas?
PF: Como é que alunos podem proteger-se de um ataque cibernético? Como é que se deve responder caso haja um ataque cibernético?
Aulas presenciais invulgares: “É uma sensação estranha”
Atualmente, a pandemia afetou estudantes de todas áreas e de todos os anos escolares. Desde os mais novos, aos mais velhos. Aqueles que se preparam para os exames e os que tentam licenciar-se. As dificuldades vão surgindo, aos diversos níveis, e as aulas presenciais apresentam-se valiosas, apesar das obrigatoriedades apresentadas por parte da Direção Geral de Saúde.
Por Diana Ferreira
As aulas presenciais, para Inês Serra, decorreram de forma diferente. A escola preparou-se para receber os seus alunos, seguindo as diretrizes da Direção Geral de Saúde. Para a aluna do secundário, isso não constituiu uma barreira para a sua aprendizagem.
“Simplesmente levo ou uma máscara pessoal, ou na escola oferecem-nos, semanalmente, máscaras laváveis. Fora isso, nada de mais, muito simples.”
Atualmente, as medidas são exigentes, porém, os alunos e os professores estão cientes da situação e tentam, de alguma forma, amenizar o impacto que o encerramento das escolas causou.
Desde o surgimento do vírus “Covid-19” em Portugal, até ao encerramento das escolas
Intitulado de “Novo Covid-19”, o vírus que se espalhou pelo mundo de forma rápida e avassaladora, deu lugar ao clima de medo e frustração em que hoje vivemos. Inicialmente, Portugal apercebeu-se do surto e das suas consequências no mês de fevereiro de 2020, sendo que no dia 2 de março, foram reconhecidos os primeiros dois casos de infeção de Covid-19.
No dia seguinte, dia 3 de março, o primeiro ministro de Portugal, António Costa toma a iniciativa de visitar um dos doentes que já estava a ser seguido no centro hospitalar de São João, no Porto.
Três dias após essa mesma visita, no dia 6 de março, a Associação Nacional de Farmácias (ANF) declara que a procura de máscaras e desinfetantes aumentou drasticamente. Nessa altura, o número de casos suspeitos foi apontado nos 181, além dos casos confirmados, que eram já 13.
Nesse mesmo dia, o Governo convocou uma reunião para o dia 13 de março dando especial importância às medidas a ter em conta relativamente ao vírus, uma vez que era já problema de muitos outros países e estava, naquele momento, a invadir Portugal.
Dois dias depois, dia 8 de março, os casos confirmados com Covid-19 eram já 29, sendo que além do Porto ser o principal foco dos infetados, Lisboa já o acompanhava com 6 (dos 29), no Curry Cabral. Nesse mesmo dia, foram declaradas a suspensão de visitas, durante o fim de semana, aos estabelecimentos prisionais a nível nacional.
Além disso, depois de se terem detetado casos de Covid 19 na escola de Idães, em Felgueiras, fecharam o próprio estabelecimento. Da mesma forma, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) e a Universidade do Minho tomaram a iniciativa de fecharem as portas devido ao surto.
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, por ter estado em contacto com os alunos do Município de Felgueiras tomou a iniciativa de permanecer em isolamento profilático durante 15 dias (quarentena), para prevenção.
Em relação à região Centro, foi no dia 9 de março que se registaram os primeiros casos de Covid-19 e no dia seguinte, dia 10 de março, a Direção Geral de Saúde (DGS) inclui, pela primeira vez nas estatísticas, os casos que aguardam resultados laboratoriais tal como os contactos que permanecem em vigilância por parte das Autoridades de Saúde.
Não tardou muito para que no dia 11 de março fossem registados 59 casos confirmados e, no dia seguinte, 12 de março, o primeiro ministro António Costa, decretou o fecho de todos os estabelecimentos de ensino público e privados, obrigatoriamente, a partir do dia 16 de março (no máximo) até, no mínimo, ao dia 9 de abril.
A Partir do Fecho das Escolas
Após o fecho das escolas, seguiram-se cinco semanas de incertezas, dúvidas e alguns medos. Foram igualmente semanas onde o estado pensou e progrediu relativamente ao ensino à distância, previamente pensado e, posteriormente, posto em prática no dia 20 de abril do presente ano.
A Telescola fez parte das vidas dos portugueses ao longo de 40 anos, sendo que a última emissão em direto aconteceu no ano de 1987. Anteriormente pensada para poder ajudar alunos que residiam em zonas de difícil acesso no país, cuja única escolarização se centrava na primária, ou seja, os primeiros quatro anos de escola, posteriormente a telescola era capaz de promover a escolarização do 5º e 6º ano de escolaridade. Através da televisão e da complementaridade de dois professores adjuntos, um de letras e um de ciências, era possível colocar em prática os conteúdos emitidos.
Atualmente, com a situação pandémica que se instala não só ao nível nacional como ao nível mundial, a Telescola serve os alunos de Portugal, desde os da pré-escolar, através do canal televisivo “RTP2”, até ao nono ano, sendo que o primeiro, segundo e terceiro ciclo estão a ser lecionados no canal televisivo “RTP Memória”.
A par da escolarização obrigatória, estão os alunos do secundário e da universidade que iniciaram as suas aulas via online, apesar de lhes ser necessário readaptarem-se com vista a participarem nas aulas presenciais.
Para entender melhor de que forma os alunos e professores reagiram às mudanças efetuadas nos locais de ensino, procuramos investigar de que forma se preparam para as aulas presenciais, como estão distribuídos e quais os métodos de higienização utilizados para todos se manterem seguros. A par disso, é necessário perceber como se sentem, individualmente, e se concordam com as estratégias optadas por parte das escolas secundárias e universidades, seguindo as diretrizes da DGS.
Ensino Secundário: Como aprender em tempos de pandemia?
Inês Serra é aluna do ensino secundário, estuda Línguas e Humanidades e encontra-se no décimo primeiro ano na Escola Básica e Secundária de Lordelo, freguesia pertencente ao concelho de Paredes.
Atualmente, em tempos pandémicos como os que decorrem, a estudante prepara-se de uma forma diferente, sendo que se faz acompanhar, durante o período de aulas, de uma máscara pessoal lavável, para próprio usufruto, uma vez que o material é obrigatório no interior do recinto escolar.
A questão inicial que se impõe é, de facto, de que forma é que a turma de Inês se encontra distribuída. A aluna faz parte de uma turma considerada grande, cuja lotação dentro de uma sala de aulas seria impensável.
Por essa razão, Inês explica que a escola teve o cuidado de colocar a turma à qual pertence, no pavilhão que prontamente servia os alunos como ginásio. As medidas, foram impostas, para assegurar a distância de segurança estipulada (e obrigatória) pela Direção Geral de Saúde (DGS).
Além disso, Inês enuncia as variadas formas de proteção que a escola oferece e que considera de utilização obrigatória para segurança da própria e da restante comunidade escolar.
Emanuel Moura tem 16 anos e encontra-se, tal como Inês Serra, no décimo primeiro ano de escolaridade. Porém, estuda no liceu de Paços de Ferreira.
Atualmente, o aluno conta que se prepara da mesma forma, isto é, como se fosse ter aulas em época normal. A única exceção, é a utilização de máscara.
Ao contrário da turma de Inês, a turma de Emanuel é distribuída por duas salas, sendo que, no interior, as mesas estão separadas de forma a assegurar a distância de segurança. Para que não existam confusões, foi colocada a devida sinalização nas várias mesas, de forma a conduzir os alunos para os lugares existentes, de acordo com as diretrizes da DGS.
Emanuel refere que a escola aumentou o número de desinfetantes, não só ao nível das salas de aula, como também nas casas de banho e nos corredores da escola. Além disso, os costumes que costumava ter – como pedir materiais emprestados – foram proibidos, para evitar a propagação do vírus.
Contrariamente à escola de Inês, no liceu de Paços de Ferreira os intervalos são proibidos, assim como permanecer dentro do recinto escolar. A par dessa proibição, os alunos não devem igualmente circular no interior do recinto escolar fora do período de aulas estipulado.
Além disso, é determinada uma sala para cada turma e nenhum outro aluno, de uma turma diferente, deve entrar nessa mesma sala. Os únicos a poderem circular entre salas, são os próprios professores, de forma a realizar a aula em questão.
Ensino Universitário: Como aprender em tempos de pandemia?
Carolina Correia tem 24 anos, reside em Guimarães e é aluna na Universidade Lusófona do Porto na área de Comunicação Audiovisual e Multimédia. A aluna não sofreu o regresso às aulas de forma tão profunda como os alunos do secundário, sendo que a turma teve apenas a experiência de ir a uma aula programada a acontecer de forma presencial e uma frequência realizada da mesma forma.
Para que a própria pudesse atender à chamada dos professores à frequência, tinha a opção de utilizar os transportes públicos, a qual recusou, usufruindo do seu transporte próprio, uma vez que se sentia mais segura.
Por outro lado, Carolina refere todas as mudanças efetuadas dentro do recinto da faculdade, desde a medição da temperatura à entrada, como a divisão entre “entrada” e “saída”, de forma a obrigar os alunos a formarem filas para entrar e sair do recinto.
Acrescenta ainda a obrigatoriedade da utilização de máscara e usufruto de álcool gel, distribuído de forma equitativa pelos vários espaços no interior da Universidade.
Não obstante, conversa um pouco sobre a sua experiência própria aquando a realização da frequência e o ambiente que se encontrava no interior da sala, verificando todos os métodos de segurança que foram tidos em atenção.
Mariana Pinho Costa tem 27 anos, é licenciada em Educação Social Gerontológica e encontra-se, atualmente, no primeiro ano de Enfermagem. É natural do Vale de Cambra, no distrito de Aveiro.
A aluna conta que, em época de pandemia e frequentando as aulas presenciais, preparar-se para a faculdade não exige muitas mudanças, uma vez que utiliza a viatura própria para se deslocar até à mesma, colocando a máscara ainda dentro do veículo, antes de se dirigir à faculdade.
Posteriormente, explica que a turma é dividida em cinco grupos diferentes e que se voltam a dividir já na faculdade, de forma a dirigir-se o mínimo de alunos para cada sala.
Além disso, existem ainda diversas medidas postas em prática de forma a garantir a segurança de todos. Desde as marcações, que asseguram as distâncias de segurança, aos desinfetantes distribuídos pelas várias zonas da faculdade e a oferta de máscaras para utilização obrigatória.
Ensino Secundário: Como lecionar em tempos de pandemia?
Inês Rodrigues é professora de História no curso de Línguas e Humanidades na Escola Básica e Secundária de Lordelo, lecionando, atualmente, aulas presenciais de preparação para exame.
A professora refere que as aulas online e as aulas presenciais têm, cada uma, a sua devida importância, sendo que acabam por se complementar. No âmbito da videochamada, a professora refere que apresenta os vários conteúdos preparados previamente para lecionar, cria tarefas e vai acompanhando os seus alunos na resolução das mesmas. Ao mesmo tempo, trabalha nos tópicos para correção e usa-os como critérios de retificação das respostas propostas pelos alunos.
A par de todo o processo de preparação para as aulas, Rodrigues utiliza métodos como powerpoints e documentos para análise durante as aulas presenciais para que o processo de aprendizagem seja mais fácil para que não existam lapsos no desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.
A professora refere que a escola segue as diretrizes da Direção Geral de Saúde (DGS), sendo que a utilização da máscara no caminho para a escola e durante o tempo de permanência na mesma, obrigatório. Por outro lado, à entrada da escola é igualmente exigido que se desinfete as mãos com álcool gel.
Cada sala é apenas utilizada por uma turma, sem que outras turmas possam ter aulas nessa mesma sala; além disso, cada aluno tem a sua mesa e nenhum pode mudar de lugar. Não esquecendo, o afastamento entre mesas para manter o distanciamento social é igualmente relevante, assim como o professor junto ao quadro, sem que possa circular pela sala.
Inês Rodrigues expõe que, outros serviços da escola, nomeadamente o serviço take away, é realizado pela cantina da escola, de forma a dar opção aos alunos que optarem por levar o almoço da cantina. Por outro lado, a professora afirma que os alunos têm direito ao intervalo e que respeitam a distância de segurança.
Susana Martins é professora de Português do curso de Línguas e Humanidades na Escola Básica e Secundária de Lordelo, lecionando, atualmente, aulas presenciais de preparação para exame.
A professora de português considera que as aulas em época de pandemia são igualmente preparadas, isto é, os conteúdos lecionados são os mesmos, sendo que a única diferença é a carga de trabalhos pedidos.
As aulas são lecionadas à distância e os dois dias que se apresenta na escola para lecionar aulas presenciais, sendo 30 minutos de aulas em cada um dos dias, não conseguem corresponder à mesma quantidade conteúdos lecionada em cinco horas de aula semanais, em época normal.
Ao mesmo tempo, a proximidade física passa a ser inexistente e as medidas de higiene e segurança são impostas, de forma rigorosa, assegurando a saúde de todos os participantes nas aulas presenciais.
Ensino Universitário: Como lecionar em tempos de pandemia?
Ana Pereira é professora na Universidade Lusófona do Porto, lecionando aulas de Comunicação Audiovisual e Multimédia.
Com o regresso às aulas presenciais, torna-se um desafio poder contar com grupos de alunos, todos focados a trabalharem na unidade curricular em questão e movimentando-se entre os materiais necessários para realização das propostas de trabalho e com os demais membros pertencentes ao seu grupo.
A professora refere que os exercícios a serem realizados não saem fora dos limites da sala de aula, sendo que os colegas têm de se distribuir entre quem utiliza a câmara e quem se voluntaria como ator.
Ana Pereira explica que a Universidade se adaptou rapidamente e bem às condições existentes, sendo que se preparou com desinfetantes, divisões de passagem, marcações de circuitos e oferta de máscaras. A par disso, o sentimento é de responsabilidade e cumprimento das normas auferidas por parte das diretrizes da Direção Geral de Saúde (DGS).
António Morais é professor universitário na ESMAD-IPP na Licenciatura de Tecnologias da Comunicação e Audiovisual, assim como leciona o mestrado em Comunicação Audiovisual. É igualmente diretor de fotografia e fotógrafo, assim como sócio-fundador da produtora Golpe Filmes. Atualmente, está a lecionar aulas presenciais para alunos da universidade.
Na visão do professor, a adaptação a uma aula presencial passa por adaptar “o ponto em causa, tendo em conta as limitações atuais de lecionação, visto que as cadeiras que dou têm acima de tudo uma componente prática que durante este período fica muito debilitada devido às limitações importas”, conclui.
Após identificar o ponto do currículo da unidade curricular a lecionar, António analisa de que forma pode colocar em prática a técnica pretendida, explicando que é necessário analisar o “local onde me encontro com o equipamento de iluminação e câmara ao qual tenho acesso.” E, posteriormente, refere “Listo qual o equipamento disponível, quais as técnicas a salientar e quais as limitações.”
A par do modo de lecionar as suas aulas, especifica que envia um email com várias indicações, complementando a matéria mencionada em aula. Além disso, refere ainda que limita o máximo de proximidade entre os alunos e leva em conta a distância mínima de segurança, dois metros.
No que toca à distribuição da turma, António relata que “Tenho apenas seis alunos por cada turno, mas tal só acontece pois temos à disposição um espaço amplo, o estudo de TV da ESMAD que tem uma área de quase 200 metros quadrados”, alegando que permite a prática de distâncias de segurança enquanto leciona as suas aulas. Ao mesmo tempo, a própria universidade disponibiliza “máscaras, viseiras, álcool, álcool gel, desinfetantes para equipamentos e luvas.”, conclui.
Relativamente às mudanças na universidade, o professor refere que tudo mudou, e que “Nada é igual. É natural, pois a pandemia afetou todos os setores da sociedade, e por mais que a queiramos ignorar, temos que a ter sempre em mente, de forma a cumprir com as diretrizes da DGS para todos estarmos em segurança durante o decorrer da aula.”, acrescido a este facto, António procura expor que o lado psicológico dos alunos foi, de alguma forma, afetado, e sente falta de energia e motivação. O problema acresce nas “cadeiras que leciono apenas online”.
Pessoalmente, António Morais evidencia que, ao nível dos cuidados que mantém enquanto permanece dentro do Campus Universitário, são “Mantenho a máscara colocada sempre que estou em aula, desinfeto as mãos antes e depois de tocar nas superfícies em meu redor e, se necessário, utilizo luvas descartáveis para evitar a desinfeção continua e repetida dos equipamento audiovisuais que utilizo em aula, de forma a evitar a deterioração dos mesmos.”, finaliza.
Ensino Secundário: O sentimento de quem aprende em tempos pandémicos
Raquel Pacheco é aluna finalista do secundário e frequenta as aulas presenciais no liceu de Paços de Ferreira.
A aluna conta-nos quais os cuidados que tem, desde o momento de entrada na escola, cuidados a ter durante o período escolar, além de se recordar de pequenos gestos que costumava ter durante as aulas, os quais lhe pareciam vulgares e que agora, são um verdadeiro desafio.
Raquel não se sente desconfortável, pelo contrário, sente-se mais à vontade uma vez que observa que todos cumprem com as diretrizes estipuladas pela Direção Geral de Saúde (DGS); adotadas não só pela escola, como também pelos alunos. A partir desta linha de pensamento, a aluna expõe, igualmente, através do seu ponto de vista, o ambiente que vivência no interior de uma sala de aulas, onde todos estão mascarados e a cumprir com as regras existentes.
Não obstante, acrescenta ainda que, apesar de todas as regras, pensa que ninguém se deve sentir totalmente seguro, uma vez que a vacina ainda não foi criada e que ainda existe a necessidade de todos estarmos a cumprir com todas as regras estipuladas, não só para própria proteção como para proteção do próximo.
Ana Rita Teixeira conta-nos um pouco sobre o seu dia a dia e os cuidados que tem para se sentir segura, confirmando que a escola está a agir bem tendo em conta a situação.
Por outro lado, confessa ter medo de chegar às aulas e perceber que todos estão de máscara e, mesmo sabendo que estão a cumprir com todas as diretrizes, o receio permanece.
Além disso, procura ainda afirmar que a normalidade está longe de designar a realidade. Afirma que nenhuma pessoa se deve sentir normal relativamente aos tempos que decorrem e aos cuidados obrigatórios.
Ensino Universitário: O sentimento de quem aprende em tempos pandémicos
Carolina Correia, confirma que não sentiu medo de ser contaminada durante a frequência que teve de realizar, sendo que todos os que estavam presentes, seguiam as normas estabelecidas pela Universidade em concordância com a DGS. Porém, acredita que pode existir sempre um risco, mesmo cumprindo com as normas estabelecidas.
Ao mesmo tempo, a aluna afirma que os estudos estão a ser afetados, não só os seus, como os de toda a gente. O curso onde se insere é muito mais prático, existindo sempre alguma coisa que vai faltando aos alunos, não só ao nível de aprendizagem, como também ao nível de trabalho em equipa, o qual é fulcral para o trabalho futuro.
Apesar disso, Correia considera que a sua universidade se adaptou bem aos novos métodos e que Portugal, no seu geral, se foi adaptando da melhor maneira, através da Telescola e das aulas via online.
Ao nível das avaliações, Carolina confere que as formas de avaliar se mantiveram e que não houve injustiças nesse âmbito, sendo que as adaptações necessárias não contribuíram de modo algum para as afetar.
Além disso, a aluna considera que a Universidade não se encontra preparada para enfrentar a pandemia quando as aulas, efetivamente, voltarem de uma forma geral e explica os porquês: desde os corredores serem apertados, algumas janelas não abrirem e o facto da própria universidade estar em obras.
Por fim, ser finalista foi um dos motivos que a levaram a considerar que o ano não foi propicio às celebrações que esperava e refere que sente incertezas quanto à entrada no mundo do trabalho enquanto a pandemia existir.
Mariana Costa confessa que se sente confortável durante as aulas pois, para si, é como se estivesse numa enfermaria. A par disso, considera que se sente segura e sem medo de ser contaminada, referindo que se todos fizerem o que lhes compete, o risco de contaminação será mais baixo.
Quanto aos estudos, sentir-se um pouco afetada, não sendo capaz de gerir o tempo da melhor maneira. Não saindo de casa, tem noção que tem tempo de sobra e, quando se apercebe, afinal o tempo não era tanto quanto aquele que pensava ter.
Considera ainda estar de acordo com todos os métodos implementados pela faculdade, sendo que tudo está pensado e elaborado de forma a manter a segurança de todos.
Por fim, confidencia que se apresenta ainda um pouco ansiosa por não saber qual o rumo da situação atual e de que forma se desenvolverá o próximo ano letivo. Acrescenta que não se sente na posição de pensar em grandes planos, uma vez que não sabe como as coisas vão decorrer daqui em diante.
Ensino Secundário: O sentimento de quem leciona em tempos pandémicos
Na opinião de Inês Rodrigues, o sentido de conforto existe na medida em que a própria declara que tem os devidos cuidados consigo e com os alunos. O único constrangimento que acredita existir é o facto de não poder acompanhar os alunos nos vários aspetos da realização de trabalhos e correção dos mesmos, optando por um ensino mais geral e menos individualizados durante as aulas presenciais.
Para que a perda de contacto não seja sentida de forma tão abrupta, a professora de história entende, por bem, que os alunos lhe enviem um feedback dos trabalhos que realizam de forma autónoma, para que consiga ajudar o máximo possível; evitando quebras na absorção de matéria lecionada. A par do feedback, a própria refere que, em caso de existência de dúvidas, está sempre disponível através do seu email institucional.
Inês Rodrigues considera sentir-se devidamente protegida, sendo que segue todas as diretrizes estipuladas pela escola e pela própria DGS, porém, acrescenta que todos estão sujeitos ao vírus e que qualquer um pode ser contaminado.
Por fim, conversa um pouco sobre o que é ser professora em plena pandemia, os medos que tem e de que forma tenta lidar com a situação em que se encontra.
A professora Susana Martins, explica que o único desconforto que sente é ao nível físico, causado pela máscara, uma vez que tem de falar. Confessa que a situação que ultrapassa é estranha do ponto de vista físico, e considera que os alunos se sentem igualmente desconfortáveis ao seguir as diretrizes estipuladas para própria segurança.
É com base nas observações que faz, que nota que todos estão de acordo e a cumprir com as regras, apesar de se sentirem apreensivos.
Em termos presenciais, a professora considera que a aprendizagem não difere muito. Aliás, pelo facto de lhes ser imposto a utilização de máscara mantém-nos mais atentos, beneficiando-os no ponto de vista da aprendizagem.
Susana Martins refere que os métodos de segurança são os adequados, além de que, os funcionários, tiveram formação para preparar a desinfeção dos espaços, para as aulas presenciais.
Explica ainda que, para fazer algum movimento, isto é, mexer nos estores ou portas, é necessário chamar a funcionária para que possa intervir nesse local, tendo em conta que apenas a pessoa que toca nesses locais, deve ser sempre a mesma a fazê-lo – para evitar a propagação do vírus.
Martins relata que, como professora, lhe preocupa a aprendizagem dos seus alunos e a sua segurança, sendo que refere que confia nas famílias dos mesmos, assim como nas diretrizes e medidas de segurança estipuladas.
Ensino Universitário: O sentimento de quem leciona em tempos pandémicos
A professora Ana Pereira considera sentir-se confortável durante as aulas presenciais e que através da máscara, viseira e gel, se sente a cumprir com as normas para estar protegida. Porém, ao lecionar 20 estudantes, existe sempre o sentimento de responsabilidade, nomeadamente ao nível da saúde, e procura sempre que nenhum cometa algum tempo de erro que ponha em causa a saúde do próprio.
Ana considera que partilhar uma sala com pessoas a usarem máscara é uma sensação nova, explicando que nunca passou por uma situação em que a obrigatoriedade da máscara existisse. Apesar disso, todos têm a consciência que é necessária a sua utilização durante o tempo de aulas.
A própria, considera-se protegida, uma vez que por parte da universidade são cedidos todos os materiais para que Ana possa trabalhar em segurança. O único lugar onde se considera desprotegida é apenas nos transportes públicos, uma vez que, nem todas as pessoas sabem utilizar a máscara e acabam por não dar a devida importância ao álcool gel.
O medo de ser contaminada existe, uma vez que tem responsabilidade de lecionar aulas a 40 estudantes, de forma separada, ou de poder vir a contaminar algum dos 20 colegas com quem interage. Além disso, considera que dentro de casa convive com dois doentes de risco e que, depois de vir a ser infetada, caso isso aconteça, todo o cuidado é pouco.
Por fim, Ana Pereira reflete sobre a pandemia e sobre os problemas que com ela se arrastaram, nomeadamente ao nível do desemprego por parte dos estudantes, das desistências por falta de meios e o sentimento de impotência por parte de si própria para parar este desencadear de acontecimentos.
Finaliza considerando que muitos tiveram de desistir dos próprios sonhos pela propagação da pandemia ser uma realidade e pelos impactos sócio-económicos que a acompanharam.
António Morais refere, inicialmente, que lhe causou “alguma confusão, acima de tudo toda a logística da desinfeção contínua e a utilização de máscara.”, acrescentando que “A máscara é sem dúvida algo que dificulta a comunicação.”
A par desse sentimento, a questão que se impõe é precisamente a sensação de estar numa sala com alunos, individualmente, mascarados, ao que o professor refere “É estranho, mas de alguma forma tento-me focar no lado positivo que é a possibilidade de dar aulas a estes alunos que tanto precisam e que de outra forma, no ensino à distância, teriam uma aprendizagem e apreensão de conhecimentos técnicos muito débil.”
O sentimento de proteção, por si próprio, é de segurança, não sendo essa a sua principal preocupação, referindo que a “preocupação cai mais sobre a proteção de terceiros, pois afinal de contas nenhum de nós sabe sem exames se é portador do vírus, ou não.”
No que toca à situação em termos de afetar as aulas lecionadas por António Morais, o próprio considera que “As minhas aulas são práticas e, por mais voltas que dê na adaptação das mesmas, na situação atual, é difícil garantir a aprendizagem total dos conceitos práticos.”, além disso, o professor narra que “Este semestre tinha cinco cadeiras práticas, e estou a lecionar presencialmente apenas uma cadeira de Mestrado.”
Ao nível da injustiça nas avaliações, apesar dos métodos implementados pelo professor para apaziguar as diferenças entre a teórica e a prática, António considera que “ Contudo devido às circunstâncias e às limitações que daí advêm o aluno acaba por ser bastante penalizado pois as cadeiras práticas que deveria lecionar ao longo deste semestre passaram a ser apenas teóricas e isso não me parece de todo justo pois o currículo das cadeiras e do curso sofreu alterações de fundo que vão afetar a normal formação do aluno e o seu futuro profissional.”, adianta.
Relativamente aos métodos implementados para segurança geral dos docentes e discentes, António considera que a implementação poderia ter sido “mais bem feita”, uma vez que ocorreram várias falhas de comunicação durante esse processo. Na opinião do próprio “Deveria ter havido um documento que reunisse os vários despachos com as diversas medidas a ter em conta ao nível do protocolo de higiene e segurança no trabalho. Mas sendo justo, ninguém estava preparado para um evento desta magnitude por isso naturalmente se voltar a acontecer algo do género no futuro acho que a preparação será outra.”
Enquanto professor, Morais confessa que “Por um lado sinto que está a ser feito tudo o que é possível ser feito, tendo em conta todas as limitações inerentes à situação, mas por outro, acho que há uma série de coisas que precisam de ser melhoradas.”, acrescentando ainda que “Acho que o ensino e as entidades reguladoras devem ter em atenção que o ensino virtual deve ser evitado sempre que possível, visto que tal pode colocar em causa a compreensão das matérias dadas, numa cadeira prática.”, conclui.