A Escola Eb2,3 Ramalho Ortigão é casa para muitos alunos e professores, desde 1957, primeiro como escola industrial. Nos anos 1980, abre-se à comunidade. Apesar de já não frequentarem a escola, os alunos mantêm boas recordações dos tempos que lá passaram. É o caso de Rui João de Castro, morador da Rua Monte da Estação, vaso comunicante com a Rua Justino Teixeira.

[Reportagem de Beatriz Pacheco e Catarina Barros]

Sentado na Casa Fonseca, no dia 18 de abril de 2023, Rui Castro, nascido em 1953, recorda o tempo em que estudou na Escola Eb 2,3 Ramalho Ortigão, localizada a 350 metros dali, na Rua Doutor Sousa Ávides. Sorridente e solícito, o ex-aluno fala com reconhecimento e alegria dos tempos que passou a brincar, no recreio da escola.

Apenas frequentou esta instituição durante o primeiro e segundo ano da sua escolaridade, mas foi o suficiente para criar recordações e ligações memoráveis.

Rui Castro mostra-se uma pessoa bastante afetuosa e ao falar dos seus netos, os seus olhos enchem-se de alegria. Um homem simples, pacato e que viveu a vida da melhor forma, dando valor às pequenas coisas. “Vou-lhe dizer, há um dia por mês, de longe a longe, que dou uma volta com os meus netos, à escola toda”, confidencia.

“Vou-lhe dizer, há um dia por mês, de longe a longe, que dou uma volta com os meus netos, à escola toda”, confidencia.

rui joão de castro

“São memórias boas depois da gente chegar a casa”, afirma Rui João de Castro, admitindo que mantém contacto com os seus colegas de infância, reunindo-se anualmente com alguns deles. Aproveitam este convívio para comer, beber e dar umas boas gargalhadas enquanto partilham recordações e boas memórias, dos tempos que estudavam na Escola Eb 2,3 Ramalho Ortigão.

Atualmente, vive na Rua Monte da Estação e, desde há dois anos, frequenta diariamente o restaurante Casa Fonseca, localizada na Rua Justino Teixeira. Onde almoça, convive e passa umas boas horas. “Gosto da comida e gosto das pessoas.” – _{Uma Rua dotada para o comércio e caridade: Estabelecimentos comerciais e associações da Rua Justino Teixeira}

Ao longo do seu discurso, ainda, confessou as transformações que a Rua de Justino Teixeira sofreu e consegue-se perceber que existem diferenças entre as pessoas, as habitações e a movimentação da rua.

Relembra-se das pessoas, antigamente, saírem das fábricas e correrem para apanharem o comboio. Toda aquela correria tornava a rua mais bonita e alegre. Atualmente, repara e confessa que não há quase movimentação na Rua Justino Teixeira e que já não existe o convívio de antigamente. A maior parte da população é envelhecida e os jovens que aqui residem, apenas vêm a casa para dormir. Atualmente, repara e confessa que não há quase movimentação na Rua Justino Teixeira e que já não existe o convívio de antigamente. “Gostava muito de ver a confusão.”

A maior parte da população é envelhecida e os jovens que aqui residem, apenas vêm a casa para dormir.

rui joão de castro

Miguel Almeida e as transformações da Escola Eb2,3 Ramalho Ortigão

Miguel Almeida assume funções como coordenador em outubro de 2022, no entanto, já pertencia ao agrupamento de Escolas Alexandre Herculano e, antigamente, agrupamento de Escolas Ramalho Ortigão, desde 2007.

A escola foi inaugurada em 1957. A escola Eb 2,3 Ramalho Ortigão está situada na zona oriental do Porto. “Isto era uma escola industrial, na altura chamava-se uma escola industrial que depois a partir da década de 70, com a reforma do ministro Veiga Simão, passou a ser já, pronto, uma escola aquilo que se chamava o ciclo preparatório, e, depois na década de 80, do século XX, passou aberta a todos os cidadãos, sem qualquer tipo de exclusão, quer qualquer tipo deficiência ou extrato social. Passou a ser uma escola, que conhecemos hoje, como ensino público.”

Ramalho Ortigão

José Duarte Ramalho Ortigão é natural do Porto da freguesia de Santo Ildefonso. Foi escritor, jornalista e ainda professor de francês. Com Eça de Queiroz, com quem trocava ideias culturais e formas de mudar a literatura portuguesa, editou a revista de crônicas “As Farpas”, a primeira publicação do gênero em Portugal, onde publicavam críticas ferinas com humor, sobre a realidade portuguesa de seu tempo, como os seus costumes, instituições, partidos políticos e problemas.

Ramalho Ortigão escreveu ainda várias obras como, o “O Culto de Arte em Portugal” em 1896, “Pela Terra Alheia” em 1878-1880, 2 vol, e “Notas de Viagem” em 1878.

“O homem sem educação, por mais alto que o coloquem, fica sempre um subalterno.”

José Duarte Ramalho Ortigão

O coordenador realça o fácil acesso que existe a transportes públicos e acredita que é uma mais-valia para a escola. Cada vez mais alunos de diferentes zonas do Porto estudam neste estabelecimento. A estação ferroviária de Campanhã e do Campo 24 de agosto encontram-se perto. Os autocarros da STCP, também, passam frequentemente nesta zona. Os estudantes têm a possibilidade de escolher o meio de transporte mais conveniente e deslocar-se para as respetivas casas. 

O ex-aluno Rui Castro falou-nos sobre as diferenças dos habitantes e como era a movimentação da rua Justino Teixeira antigamente comparativamente aos dias de hoje, e Miguel Almeida, comprovou que tem existido um acréscimo de estudantes estrangeiros na Escola Eb2,3 Ramalho Ortigão. São várias as nacionalidades presentes nos corredores desta instituição, no entanto há uma maioria de alunos de nacionalidade brasileira, informa.

Esta escola disponibiliza dois tipos de ensino, o ensino regular e o ensino recorrente. O ensino recorrente é destinado aos adultos, a partir das 19:00. O coordenador explica como funciona estes dois ensinos, embora, não consiga esclarecer concretamente como é o método de ensino no ensino recorrente, sendo que já não é da sua total responsabilidade.

Luís Macieira, um dos professores mais antigos da instituição

Luís Filipe Macieira é professor de educação física na Escola Eb 2,3 Ramalho Ortigão, desde 1984-1985. É um dos professores mais antigos desta escola. Tem 66 anos e está prestes a reformar-se. Durante estes anos vivenciou bastantes momentos e passou por todas as fases, nomeadamente, mudanças de ensino, atividades, evoluções e, até mesmo, o comportamentos dos alunos.

Esta instituição confirma ter um ambiente familiar e uma relação intemporal com os seus alunos. O professor diz que há um aluno que até aos dias de hoje mantêm contacto. O gosto por um jogo desportivo uniu-os.

Bons momentos resumiram os seus anos na Escola Eb2,3 Ramalho Ortigão e não foram só os alunos que fizeram isto acontecer. Os seus colegas de trabalho também colaboraram para que existisse sempre um bom ambiente entre os professores.

“Tivemos vários grupos e até havia um grupo que costumava no final de cada ano letivo ter um almoço, portanto, houve realmente vários grupos. Gostava muito mais quando era só Escola Básica Ramalho Ortigão…”

Luís Macieira, morador da rua Duque da Terceira, por vezes, decide vir a pé para a escola e também repara no aumento do envelhecimento da população nestas ruas. Diz que onde reside há bastantes alojamentos locais e turistas. Verifica, também, algumas mudanças na própria instituição. Existe um relacionamento menos pessoal com os profissionais e os alunos em relação aos anos anteriores. Quando começou a lecionar, admite que os estudantes eram mais da zona e tornava-se um ambiente mais familiar.

Apesar da preferência desses tempos, Luís Macieira, não deixa de recordar as suas quase quatro décadas como professor, nesta instituição, com carinho.

Para que não se perca o elo emocional dos alunos com os professores é habitual ocorrerem atividades na escola, para que os alunos se possam divertir e conviver.

O elo emocional que permanece entre os alunos e professores

Rui Castro não é o único ex-aluno que mantém recordações boas dos seus tempos na Escola Eb2,3 Ramalho Ortigão. Existe um grupo na rede social Facebook, onde professores e ex-alunos partilham fotografias, vídeos, poemas e histórias para manterem essas memórias vivas.

O grupo conta com 3,2 mil membros e é frequentemente partilhado por ex-alunos e professores um acontecimento do seu tempo naquela escola. Colegas são reencontrados e passam-se bons tempos à frente do ecrã, a reviver momentos felizes e genuínos.

Em 2014, 2019 e 2020 realizaram-se três eventos com os membros que fazem parte do grupo “Antigos Alunos Escola Preparatória Ramalho Ortigão – Porto”, na rede social Facebook. Neste grupo temos acesso às valiosas memórias dos ex-alunos e o quanto gostaram de frequentar esta escola. Em cada publicação, através dos comentários, é possível perceber que o ambiente familiar ainda perdura e a Escola Eb2,3 Ramalho Ortigão acaba por ser muito mais do que uma escola, é um lar.

Como enaltece o site do Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, a Escola Eb2,3 Ramalho Ortigão é o que é graças à relação que formou ao longo dos anos com os seus alunos.

“A ligação dos nossos alunos à Ramalho é, porém, geralmente forte e a sua marca chega-nos, refrescada e buliçosa nos filhos e filhas dos antigos alunos e alunas que por aqui passaram. Sem medo das palavras, e parafraseando o poeta, há que dizer que o melhor que temos são os nossos alunos.”