Fake News: “ A informação que consumimos molda a forma como vemos o mundo”

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Fake News: “ A informação que consumimos molda a forma como vemos o mundo”

[Texto de Ana Catarina Ferreira e Juliana Silva]

Ao longo da sexta edição do Jornalismo Frankenstein, organizada pelos finalistas de Ciências da Comunicação da Universidade Lusófona do Porto, foram debatidas ideias e reflexões sobre o estado da arte da desinformação e das fake news. Tal como nas edições anteriores, esta conferência foi realizada no âmbito da unidade curricular de Ciberjornalismo.

O evento decorreu no dia 11 de maio de 2021, teve início pelas 11h00 e foi transmitido em direto no Facebook do ULP #infomedia. A jornalista e professora universitária Vanessa Rodrigues abriu as portas da conferência, agradecendo a participação dos oradores e dos restantes intervenientes. Explicou, ainda, de forma sucinta, a origem do Jornalismo Frankenstein.  Antes de dar início à intervenção dos oradores, Sara Silva, estudante do 3ºano de Ciências da Comunicação, informou que o diretor do curso, Luís Miguel Loureiro, não poderia estar presente e, por isso, gravou um vídeo a agradecer o convite. De seguida, Lourenço Hecker, também estudante do curso, e Sara assumiram o comando do evento até à “paragem: Fake News ou Cidadania Digital”.

A plataforma

O #infomedia surgiu em 2016 e é a grande ferramenta de trabalho destes estudantes de jornalismo. Não podia deixar de ser referido nesta conferência, uma vez que é um elemento fundamental na caminhada dos estudantes de jornalismo. Na plataforma encontramos inúmeros projetos, entre eles reportagens como por exemplo “Profissionais do INEM: a primeira de todas as linhas de combate à pandemia”, “Transformismo: Quando o Marco se converte em Kim Fox”  e “Dragos e Pedro: para ficar em casa é preciso ter uma casa”.

Próxima Paragem: Fake News ou Cidadania Digital?

Na contemporaneidade – a chamada era digital -, podemos dizer que as fake news são um assunto que dá alguma dor de cabeça. Retratam uma preocupação cada vez maior, por isso foi sobre esse ponto que recaiu o foco da conferência. Aliada a esta questão, referiram-se e analisaram-se conceitos como literacia digital, educação para os media, contextos digitais, fact-checking e desinformação pandémica. A professora universitária Maria José Brites, o jornalista Paulo Pena, o diretor-adjunto do “Polígrafo” Gustavo Sampaio e a fundadora da agência Lupa Cristina Tardáguila apresentaram diferentes perspetivas sobre os aspetos acima mencionados.

Maria José Brites é doutorada na Universidade Nova de Lisboa e, atualmente, professora na Universidade Lusófona do Porto. Foi a primeira oradora da sexta edição do Jornalismo Frankenstein e deu início à sua intervenção com uma frase que deu que pensar – “o que é realmente difícil é pensar sobre aquilo que está à nossa frente e sobre o que partilhamos nas redes sociais”. Relacionou esta ideia com a de se apresentar capacidades para lidar com o contexto digital e competências para produzir conteúdos. Remeteu, portanto, os ouvintes da palestra para o relevante conceito de literacia mediática. Apresentou, com o maior orgulho, os projetos RadioActive Europe, DiCi-Educa e SMaRT-EU, e acabou por confessar que prefere referir-se a desinformação com o termo “desordens informativas”.

“É essencial pensarmos como é que isto se reflete no nosso dia a dia”

Paulo Pena é jornalista há 23 anos. Entre tantos projetos em que colaborou, destacamos a fundação do primeiro grupo permanente de investigação europeu – “Investigate Europe” -, em 2016. Foi o segundo palestrante e inaugurou o seu discurso referindo-se à desinformação como sendo “um problema que temos como resolver”. “Como?” – perguntam vocês. Através de duas qualidades inerentes ao Homem – a curiosidade e o ceticismo. Já dizia Paulo Pena, “se a desinformação é nosso problema, somos nós que temos de a combater”, por exemplo sendo curiosos, céticos, desconfiando e procurando a verdade. O orador mencionou, ainda, que olhamos para o desafio que é a ciência sem reconhecer a dimensão ética que ela acarreta – e tal ideia é, facilmente, associada à temática das fake news. E por falar em notícias, é paradoxal, mas existe cada vez mais informação, e isso não significa que estejamos mais informados.

“Saber o que é verdade ou mentira tornou-se um problema no nosso dia a dia”

Ao longo de uma década, o jornalista Gustavo Sampaio publicou artigos em inúmeros órgãos de comunicação social, mas desta vez o seu contributo foi no Jornalismo Frankenstein, enquanto orador. Introduziu o seu discurso com uma ideia que espelha, na perfeição, a atualidade – “a dinâmica de irmos atrás do que dá cliques mostra aquilo que é premiado pelo público”. Reforçou este raciocínio salientando que é importante termos consciência de que incentivos errados, por parte do público, refletem também decisões erradas, em termos editoriais.

E quando a questão se direcionou para o fact-checking, o diretor-adjunto do “Polígrafo” acabou por confessar que todas as questões relativas à pandemia se tornaram o caso mais difícil de averiguar – “por não termos experiência e por ser um agente biológico novo”.

“A forma como difundem informação nas redes sociais contraia algumas regras do jornalismo convencional e até regras ao nível deontológico”

Por último, mas não menos importante, o Jornalismo Frankenstein contou com a intervenção de Cristina Tardáguila, fundadora da agência Lupa – a maior plataforma de combate à desinformação no Brasil. Ofereceu-nos uma visão muito pertinente sobre a luta contra as fake news, evidenciando que “é muito melhor trabalhar em conjunto, de forma colaborativa”, e não competir, como alguns órgãos de comunicação social têm feito ao longo dos anos.

Explicou o termo “desinformação pandémica”, através das nove fases de mentiras associadas à covid-19, e frisou, ainda, a importância dos dados. Estes podem ser vistos como a matéria prima do fact-checking e da comunicação em geral, visto que sem eles é impossível fazer a verificação das informações.

“O assunto que eu mais adoro no planeta é a luta pelas notícias falsas”

Chegada ao destino…

A sexta edição do Jornalismo Frankenstein presenteou os internautas com um debate muito enriquecedor sobre as fake news – temática à qual devemos dar especial atenção.

Terminada a conferência, ficaram na nossa cabeça muitas ideias que devemos reter – e sobre as quais devemos refletir daqui para a frente -, entre elas a expressão “somos nós que alimentamos a rede de desinformação”, dita por Paulo Pena. Assim se destacou, novamente, a necessidade de se aprender a gerir a qualidade da informação que consumimos. Foi segundo esta linha de ideias que Lourenço Hecker terminou a apresentação do grande evento – “não se esqueçam de verificar a informação antes de a partilhar e aproveitem para divulgar este evento… Garantimos que é fidedigno”.