Fake News: “Somos vítimas de um excesso de consumo de informação”
- Inês Conde
- 11/06/2021
- #jornalismofrankenstein Atualidade Geração Z
[Por Catarina Preda e Inês Conde]
Com o excesso de informação, proveniente das redes sociais como o Twitter, Facebook e Instagram, torna-se difícil, para os usuários, filtrar a informação e assimilar o que é desinformação.
Paulo Pena é jornalista há 23 anos e vencedor do Prémio Gazeta de Imprensa, em 2013. Estudou em Lisboa e em Washington D.C, país?. Em 2016, fundou o primeiro grupo permanente de investigação Europeu – Investigate Europe ,que atualmente junta nove jornalistas de 8 países europeus.
No livro “Fábrica de Mentiras: Viagem ao mundo das fake news” ( 2019) reflete sobre o jornalismo e a sua função mediadora factual e verificada na sociedade, assim como a luta contra o ódio, a mentira e a manipulação. Na sinopse, escreve que “as infames fake news têm-se revelado um verdadeiro entrave à democracia e uma incubadora de ódio social.”
Realizado em 11 de maio de 2021, o evento contou com a presença, via zoom, do jornalista. Este inicia a sua intervenção por referir que “é verdade que saber o que é verdade e mentira se tornou um problema no nosso tempo. Que afeta as nossas democracias, a nossa qualidade de vida (…) e também a forma como pensamos. Mas isto é um problema que nós temos como resolver”.
Operação Marquês: “Tudo aquilo que nós tínhamos como a história do caso é tudo questionável.”
Paulo Pena refere alguns dos problemas que ocorreram durante a Operação Marquês. Começa por referir a função de um jornalista, que “é o de fazer a verificação da informação” que fornecemos aos leitores.
Por norma, os jornalistas consideram que a matéria “oficial que recebem e, sobretudo, a informação judicial, as acusações que o ministério faz, como informação que está confirmada, por natureza, e que eles apenas precisam de difundir”, enfatiza Pena.
No entanto, este tipo de informação necessita de um processo de fact checking, isto é, verificar se está de acordo com a realidade, ou se a informação é” incompleta, enviesada, errada” explica Pena.
A sua afirmação, quanto ao facto de nem todos os portugueses saberem o que se consegue retirar do caso da Operação Marquês, surgiu no momento em que o jornalista entendeu que “Tudo aquilo que nós tínhamos como a história do caso é tudo questionável.”
Paulo Pena explica que “no processo está escrito que o anterior Primeiro Ministro foi corrompido de várias maneiras”, desta forma “ele terá recebido dinheiro para fazer determinadas coisas”. Neste momento, o trabalho jornalístico intervém, de forma a recolher informações sobre “o trânsito do dinheiro, se conseguirmos e precisamos de verificar se aquelas coisas têm testemunhas diretas e neste caso até era fácil, porque a maior parte destas coisas, teriam testemunhas diretas.”
Desinformação
Segundo o jornalista, a desinformação pode surgir pelo: “segredo comercial” que as plataformas de redes sociais desenvolveram “que têm a chave em cada uma das nossas cabeças e na nossa intimidade; assim como o facto de termos “estados que são cada vez mais fracos, com políticas cada vez mais erráticas e muita falta de regulação de algoritmos ou a nossa intimidade”.
Contudo estes exemplos, de acordo com Paulo Pena, apesar de serem contabilizados, a sua longa experiência em Fake News, deu-lhe conhecimento de vários sites investidos em propagar desinformação. São sites escritos em português “e que, só por isso, em publicidade faturam mais de 10 mil euros mensais”.
Para agravar, o jornalista aponta ainda a existência de “redes europeias, organizadas de discurso de ódio, que são criadas para influenciar resultados eleitorais, dar voz a este populismo racista, anti refugiados, anti diferenças de género, anti políticas de integração”. Estas redes, para além de possuírem sites de desinformação, criam ainda contas falsas para ajudar na propagação, nas redes sociais.
Esta desinformação resulta da intervenção de cada internauta nas diversas plataformas e acabamos por sermos “vítimas de um excesso de consumo de informação”.Como resultado da propagação de informação não verificada, temos o caso das enchentes nos supermercados, nas primeiras fases da pandemia, ou então os diversos resultados eleitorais que obtivemos nos últimos anos.
Como combater as Fake News?
“Desconfiar sendo cético e sabendo informar-nos”, refere Paulo Pena. Isto é, não há opinião sem existirem factos, por isso é essencial reforçar as evidências, conforme sublinha o jornalista, para gerir a nossa privacidade.
Outro aspeto salientado por Pena é a vigilância em relação aos links que nos chegam através das redes sociais com títulos de clickbait que, uma vez acedidos, já estarão diretamente a financiar um website não verificado e não fidedigno. “Se o fizermos estamos a financiar esses sites com dinheiro real, que é dinheiro de publicidade”, reforça o jornalista.