Fazer Erasmus em Madrid em tempos de Pandemia
- Joao Pinto
- 06/01/2021
- Atualidade Geração Z Saúde Viagens
A pandemia por Covid -19, a doença provocada pelo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, alterou os planos de muitos estudantes de Erasmus, de um ano para o outro. Segundo o DN, o número de alunos que partiu de Portugal baixou drasticamente: passou de 5192 para apenas 1509.
Patrícia Almeida tem 23 anos e é natural de Santo Tirso, é uma dessas estudantes que desafiou a estatística e rumou a Espanha. É finalista na Licenciatura em Turismo no Instituto Politécnico do Cávado do Ave.
Quando a pandemia atingiu o seu pico na primeira metade do ano, ela encontrava-se precisamente em Madrid. Apesar do “enorme medo” que sentia, a estudante decidiu completar a sua jornada académica fora do país de origem. “Talvez tenha sido uma experiência menos vivida devido ao surto, mas ainda assim foi incrível”, destaca.
Desde que começou a estudar, Patrícia sempre teve vontade de o fazer fora de Portugal e acabou por concretizar esse sonho, embora não tenha sido o seu destino predileto. “O país de eleição seria Polónia, mas dada toda esta situação preferi escolher, assim como os meus colegas, Espanha, por estar mais perto de Portugal, dada toda esta situação.
Segundo a estudante, quem pensa em realizar o programa Erasmus passa por um “processo longo”, “desde a pesquisa de países, a instituições, ver claro como será o desempenho a nível linguístico, cadeiras que vamos ter”, explica. Essa dedicação é essencial, nota, para que a experiência seja de sucesso. No contexto da pandemia, uma das grandes preocupações é o contacto com outras pessoas, nomeadamente a partilha do espaço onde se reside. Isso era uma fonte de preocupação para a estudante, pois “no início não se conhecia tão bem o vírus como no momento atual”.
Uma grande preocupação dos jovens que embarcam nesta viagem é a falta de apoio que podem vir a sentir. No entanto, Patrícia desde cedo referiu que existe um suporte grande por parte das instituições: quer a de origem, quer a acolhedora. “A nossa instituição ajuda-nos em tudo e temos um professor do departamento Erasmus que é responsável por nós e que tem uma outra função:levar-nos até à cidade que vamos frequentar”.
A situação vivida em todo o mundo estava bastante agravada quando os contágios começaram a escalar. Tornava-se necessário criar medidas, de forma a controlar a pandemia. Para a jovem estudante, que um dia sonha trabalhar em Turismo, foi um processo muito “difícil”, admite, a “liberdade foi retirada aos poucos.”
Segundo Patrícia, nos primeiros dias, a vontade de voltar para casa foi enorme pois, indica, ” a realidade é outra e é angustiante porque não temos a nossa família, a nossa casa, a nossa cama, o nosso animal de estimação.”, a entrevistada diz ainda que se ganha uma outra maturidade e independência,” não temos os pais para nos fazerem algumas tarefas” .
“Nos inícios, estava bastante reticente, assim como a minha família e alguns colegas, porque sair de Portugal em plena Pandemia é algo bastante preocupante”, reflete. “Porém”, continua, “decidimos embarcar e seguir com o plano, mas com mais regras, obviamente. Tivemos que ficar de quarentena durante 14 dias, assim como realizar dois testes à Covid antes de partirmos e assim que chegamos.”
A situação vivida já era desconfortável, e ainda se veio a agravar. Patrícia refere ainda que sentia “muito receio de ser contagiada por falta de cuidados das outras pessoas”. A jovem estudante testemunha que Portugal aceitou muito melhor as instruções dadas pelas autoridades. Quanto às aulas “eram muito semelhantes às lecionadas em Portugal”. No entanto, salienta que foi um desafio “cansativo”, devido ao “estudo redobrado” A estudante refere, também, que a adaptação “custou no início”, mas que, com o tempo, foi-se tornando “mais fácil”, pois foi bem recebida. Sobre este assunto, ela recorda um episódio em que os colegas tentam cumprimentá-la, o que em tempos pré-pandemia seria banal, mas que no cenário atual se evidencia algo não aconselhável por razões de saúde pública.
Com a chegada do Covid-19, vieram também problemas de saúde como ansiedade e depressão. A incerteza do futuro , a retirada da liberdade e a falta de contacto social, foram fatores que agravaram a experiência de solidão e a distância.
“ Foi algo inesperado”, recorda, “nunca fui uma pessoa ansiosa e de um momento para o outro as mãos começam a transpirar, o coração a bater mais forte, é uma sensação muito incómoda ainda para mais quando não se temos entes queridos por perto”. Relembra, ainda, que“houve alturas que me senti sozinha mas vários colegas sentiam o mesmo e acabamos por nos ajudar uns aos outros”.
Apesar do “medo”, a estudante afirma, ainda, que foi uma experiência diferente da que esperava, pois, foi das primeiras pessoas a realizar o programa Erasmus no meio de uma pandemia. Quando regressou e conversou com outros colegas percebeu que havia mais que podia ter feito, mas, ao mesmo tempo, não era permitido.