Fernanda Ribeiro: mentora da academia de atletismo que faz sonhar os mais novos

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Fernanda Ribeiro: mentora da academia de atletismo que faz sonhar os mais novos

A academia de atletismo, criada pela atleta Fernanda Ribeiro, tem como objetivo mostrar a modalidade às crianças e jovens e pô-las a correr, inspiradas pelo percurso da campeã olímpica em 1996. 

[Texto de Gonçalo Azevedo]

O nome Fernanda Ribeiro é sinónimo de superação e competição de alto nível. A antiga atleta, vinda de uma infância humilde numa pequena aldeia de Penafiel, sagrou-se campeã olímpica em atletismo e hoje tem uma academia da modalidade para crianças, com o seu nome. 

Ainda em atividade, – iniciada em 1980 —, nunca pensava em ser treinadora de atletismo, “porque ser um atleta de alta competição não é fácil”, afirma “Tive bastantes lesões e sofri bastante e acho que era incapaz de pôr um atleta a fazer o que eu fiz”, confidencia.

Nunca se arrependeu da sua decisão e sempre soube que, de alguma maneira, queria ficar ligada às crianças. Quando pensava em trabalhar com crianças, “queria ter atletas, crianças a correr, crianças a fazer atletismo. Quando eu digo correr é fazer tudo um pouco”. No fundo, a atleta penafidelense queria manter-se ligada à modalidade onde construiu carreira. 

Fernanda Ribeiro foi, de certo modo, obrigada a abandonar o atletismo, em 2011. Aos poucos, também devido ao acumular de lesões, nomeadamente uma lesão grave no pé, que a foi afastando da atividade atlética. Nessa altura, os seus médicos diziam-lhe que “nem pelo prazer ia correr”, recorda, confessando que esse diagnóstico a desiludiu. 

Durante algum tempo, devido à gravidade da lesão nos tendões, ela “não podia caminhar, nem correr, nem fazer nada”. Apesar de sentir falta da pressão e do “bichinho da competição”, conseguiu adaptar-se bem ao facto de estar reformada, sendo que hoje aos 52 anos, pratica com amigos e com os colegas um atletismo “mais a brincar”.

A incerteza se seria justo a criação do seu projeto esteve muito na sua génese. Em diversas ocasiões, ao visitar escolas, afirmava que gostaria de desenvolver algo para crianças. Não só em escolas, mas também em conferências e colóquios, eram-lhe colocadas questões sobre a criação de um clube de atletismo. Mas a ex-atleta sempre ficou de pé atrás, pois na Maia, onde mora, “já existia um clube de atletismo e achava que não devia abrir um clube”. Apesar disso, foi sendo incentivada por várias pessoas, sob o argumento que os dois clubes poderiam coexistir perfeitamente.

Certo dia, em mais um colóquio como outros tantos, Fernanda afastou-se novamente dessa ideia, e nesse contexto, afirmou, convicta que, “na Maia já existia um clube e eu não queria estar a abrir um clube no mesmo sítio”.  Foi confrontada e disseram-lhe que “estava a ser injusta porque estava a perder [a oportunidade] de mostrar às crianças” a sua história”, e “ser uma inspiração para todas elas”. “Vamos começar, vamos tratar disso!”, desafiou o impulsionador do projeto. Assim, passados uns meses, Fernanda e mais uns treinadores seus conhecidos estavam a fazer o registo da academia, e desse modo em 2014, nasceu a Academia Fernanda Ribeiro.

Presidente, mas não treinadora

Apesar de ser a presidente da academia, porque “é quase uma obrigação”, Fernanda deixa essas funções para outros membros da direção, focando-se naquilo que mais gosta: as crianças, nas amizades e na pista. Também não é treinadora, pois acredita que os atletas devem ter professores formados. 

No dia a dia da academia define-se como uma “colega”, que vai correr quase todos os dias com os mais velhos, e que está na academia “para aquilo que é preciso”, sendo o seu foco principal os “seus” meninos, como carinhosamente os chama.

Treinos realizados no Estádio Municipal Dr. José Vieira de Carvalho, na Maia. Fotografia via Instagram @academiafernandaribeiro

Atualmente com 152 atletas na academia, Fernanda solta um riso envergonhado quando diz que não têm apostado muito no fundo e meio-fundo, provas que lhe deixaram na história do desporto português. Na academia, as crianças fazem de “tudo um pouco, fazem lançamentos, fazem saltos”, e confessa que “até temos estado um bocadinho fora do atletismo de meio-fundo”. De momento, a academia espera pela chegada de um treinador que se encontra a tirar o curso, cumprindo com as regras da Federação Portuguesa de Atletismo, de modo a fortalecer a formação, ficando a promessa de que irão “começar a postar mais um bocadinho no meio-fundo”.

A antiga atleta confessou ainda que quer levar a academia pelo país afora, especialmente a Penafiel, sua terra natal, onde já existe um pavilhão com o seu nome e uma nova pista de atletismo, a qual apadrinhou e onde foi homenageada.

Ao confessar os seus planos para o futuro, Fernanda Ribeiro recorda os tempos áureos, numa altura em que representou o Futebol Clube do Porto, entre 1983 e 1992 e mais tarde entre 1995 e 2004. Lamenta a falta de existência da modalidade no clube, salientado que “mesmo para os atletas era bom termos atletismo, e ter um grande clube no Norte, o clube que já tivemos”. Além disso, brinca com a ideia de ter disponibilidade para fazer uma parceria com o clube que a viu ganhar duas medalhas olímpicas, quatro medalhas mundiais e duas medalhas europeias, que a eternizou numa estátua no museu do clube.

Passados exatamente 25 anos do seu ouro Olímpico nos 10 mil metros em Atlanta, a penafidelense foi também a última atleta portuguesa a ser medalhada e a atingir o pico da montanha do desporto, em provas de fundo e meio-fundo, com a medalha de bronze em Sidney no ano de 2000. Ela atribui essa falta de medalhas à facilidade de hoje em dia. “Eu vinha de Penafiel, falo de mim, mas vínhamos de longe de comboio para o treino, agora os pais vêm trazê-los, há outras condições”. Relembrou que “Venho do nada! Venho de uma aldeia que os meus pais não tinham nada para me dar”, realçando as dificuldades que teve até conseguir ser patrocinada por uma marca, ao contrário de hoje em dia.

Fernanda Ribeiro veio de um longo caminho. De “treinar manhã e tarde, à chuva e ao vento” com “sapatos de 200 escudos”, e ter que “gostar para sofrer aquilo que nós sofremos, para conseguir resultados”, a ex-atleta está onde está graças ao atletismo. Espera continuar a ir às escolas, às provas, continuar na sua academia e cumprir com a sua “obrigação”: promover a modalidade e inspirar os mais novos. 

Gonçalo Azevedo

Sou o Gonçalo Azevedo, tenho 23 anos e sou apaixonado pelo desporto e pelo mundo do jornalismo. Sou colaborador na editoria de Desporto na plataforma #infomedia.