Futuro sustentável: pequenas ideias, grandes projetos
[Por Andreia Oliveira, Daniela Couto e Marta Andrade]
Atualmente somos bombardeados com informação acerca da epidemia pela Covid-19, mas devemos reconhecer que o maior desafio é fazer desta crise uma oportunidade para nos transformamos tanto a nível individual como coletivamente.
Num momento como este percebemos o quão vulneráveis somos como pessoas e a nossa condição enquanto parte integrante de um Planeta, que por sua vez também se encontra comprometido.
Vários são os problemas que se impõem na biodiversidade e na proteção da vida marinha e terrestre. Num mundo cheio de oportunidades, percebemos que o avanço da ciência e da tecnologia, ainda assim não nos levam a fazer as melhores escolhas e, como resultado, observamos não apenas através das imagens, mas sentimos inúmeras consequências prejudiciais àquela que é a nossa casa comum.
Temos a tendência para debater muito as questões problemáticas em torno deste assunto, mas por que não dar ênfase às soluções?
Portugal tem tido um papel proativo no apoio aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Através da criatividade e engenho, várias pessoas e até associações têm apelado à conservação e ao uso sustentável de tudo o que envolva o ambiente marinho e terrestre. E tal como nos diz Helena Freitas:
“Se a vida na Terra tivesse mil páginas, o Homem aparecia no último parágrafo da milésima página”
O ano de 2015 ficou marcado por novos desafios, metas e objetivos. Nunca antes havia sido criado uma agenda política tão forte como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Agenda 2030.
Adotados pelos Estados Membros das Nações Unidas, os ODS reúnem um conjunto de prioridades de forma a mobilizar esforços para um desenvolvimento sustentável a nível global para 2030.
A Agenda 2030 inspira-nos à produção de objetivos que nos conduzem a uma sociedade mais consonante, onde as dinâmicas do desenvolvimento humano se equilibram com a preservação da natureza. E é por esta harmonia que Helena Freitas se move.
O relógio marca as 17h. No dia 17 de abril somos surpreendidas pela pontualidade e a boa disposição da Ecologista Helena Freitas.
Com uma cátedra da Unesco e apaixonada pela Ecologia, Helena Freitas reforça o valor da Europa para inspirar a mudança nos diversos problemas que desafiam a Biodiversidade.
“O papel da Europa nunca foi tão importante nas últimas décadas”, assegura a Catedrática da Universidade de Coimbra.
Vários líderes mundiais juntam-se em torno de uma agenda completamente ambiciosa, com 17 objetivos e 169 metas comuns, com a finalidade de criar um novo modelo global com impacto em vários níveis: terminar com a pobreza e a fome, promover o bem-estar e a prosperidade de todos os cidadãos e proteção do meio ambiente.
Cada vez mais enfrentamos cenários devastadores que comprometem a Natureza e, consequentemente, a vida humana. Nunca foi tão relevante conquistar estes objetivos que integram um plano de ação centrado nas pessoas, no planeta e na paz, prosperidade e parcerias.
“A vida que existe à nossa volta é um legado que tivemos o privilégio de receber”, expõe Helena Freitas.
A ecologista está convicta que a curto prazo a sociedade terá de decidir e olhar de forma integradora pela conservação do planeta, “porque não há nada que nos aproxima mais da nossa condição humana do que esse olhar integrador”.
Realça ainda que a Biodiversidade é uma fonte ampla de bens e serviços que garantem a nossa existência, como por exemplo, as substâncias provenientes dos medicamentos, da nossa alimentação, do ar que respiramos e da água que bebemos.
Para garantir a conservação da biodiversidade, torna-se fundamental proteger quer o ambiente marinho, quer o terrestre que se constituem dois dos grandes objetivos da Agenda 2030.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é importante conservar e utilizar os dois ecossistemas de forma sustentável, evitando a degradação dos mesmos e a perda da sua biodiversidade.
Portugal tem tido uma participação ativa em todo este processo da Agenda 2030. Através da criatividade e engenho, têm-se mobilizado inúmeras pessoas, organizações, empresas do setor público e privado a tomar atitudes para a conservação e ao uso sustentável de tudo o que envolva o ambiente marinho e terrestre. Fomos à procura de algumas soluções que Portugal dispõe para garantir a sustentabilidade da vida marinha e vida terrestre.
Proteção da vida marinha
Os principais problemas que o oceano enfrenta atualmente a nível global são as alterações climáticas, a acidificação e a desoxigenação, que conduzem a processos de desregulação das condições que mantêm os ecossistemas marinhos e podem conduzir à perda de biodiversidade.
A poluição, incluindo a poluição por plásticos e por hidrocarbonetos, tem também consequências negativas nos organismos, nos ecossistemas marinhos e impactos nas atividades económicas, como o turismo e a pesca.
O Governo tem tomado medidas políticas a diferentes níveis. Sem a possibilidade de agendar uma videoconferência, o Ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, respondeu-nos a algumas questões via e-mail e começa por dizer que há uma aposta nas energias renováveis e compromissos com a neutralidade carbónica até 2050, na prevenção da poluição e na redução da utilização de plásticos descartáveis.
O Plano Nacional Energia e Clima 2030 e o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, aposta na redução de 55% de emissões de gases com efeitos de estufa. O Governo está também empenhado na aposta da produção de energia renovável que, na próxima década, deverá duplicar a sua capacidade instalada, atingindo um patamar de 80% de renováveis na produção de eletricidade.
“No que diz respeito à proteção do meio marinho e biodiversidade do oceano, temos cerca de 50 projetos apoiados pelos vários instrumentos e fundos financeiros, num montante global de projetos que ascende cerca de 29 milhões de euros”, esclarece o Ministro.
Relativamente à vida marinha, Portugal tem trabalhado segundo a Diretiva-Quadro da Estratégia Marinha, “cujo o objetivo é que as águas marinhas nacionais atinjam o patamar do Bom Estado Ambiental” e a Diretiva do Ordenamento do Espaço Marítimo.
Portugal é um dos primeiros países Europeus a finalizar o seu plano de ordenamento, que visa gerir os usos e atividades do mar de forma sustentável e, se diminuam os conflitos, procurando atingir 30% de áreas marinhas protegidas até 2030, com um compromisso intermédio de 14% em 2020.
“A cidadania ativa é importante no que toca à conservação”, reflete Ricardo Serrão Santos.
Para o Ministro do Mar, é necessário o envolvimento de cidadãos bem informados e, atualmente, também a identificação e segregação da pós-verdade (e das concomitantes falsas informações), como “evidências” científicas. Neste contexto, o investimento na Literacia é crucial, não só para formar crianças e jovens para criar futuros adultos mais conscientes, mas também formar adultos, incluindo políticos.
O Ministério do Mar tem em curso um programa educativo denominado “Escola Azul”, que tem como missão “promover a Literacia do Oceano em Portugal”. Este programa nacional distingue e orienta as escolas que trabalham em temas ligados ao mar, criando uma comunidade de Literacia do Oceano que “aproxime as escolas, setor do mar, municípios, universidades e outras entidades com papel ativo na educação marinha”.
Para além disso, as Organizações Não-Governamentais e as Fundações dedicadas às questões ambientais, têm um papel fundamental e devem ser considerados motivadores e parceiros nas políticas de governação e de gestão: “não é só o diálogo que é imprescindível, é também a cooperação que é fundamental”.
Neste sentido, tornou-se essencial conhecer algumas das organizações que têm como prioridade a proteção da vida marinha.
Xico Gaivota, o artivista
No dia 20 de abril, por volta das 16h estivemos à conversa com Ricardo Ramos, 41 anos, natural de Sintra. Conhecemos a história do Homem que sempre esteve envolvido no Mar, mas que trocou a apanha de percebes pela recolha de lixo na praia. Mas, quem é o Xico Gaivota? De onde surgiu este nome?
“Eu não tinha interesse nenhum que soubesse que era eu o maluquinho que andava sozinho a apanhar lixo das praias”, confessa o artista.
Ricardo Ramos sempre valorizou muito o seu tempo livre. É a apanhar lixo da praia que se sente realizado. À medida que foi apanhando compulsivamente todo o lixo encontrado, percebeu que podia transformá-lo em arte, embora nunca tivesse “grandes intenções de ser considerado artista ou que as peças tivessem um valor”, mas a verdade é que o projeto acabara por começar em 2018.
“É «one man show» em todos os aspetos”, revela Xico Gaivota.
O artista multifacetado e sem equipa por escolha própria, procura no lixo fazer arte sem alterar a essência e a identidade das peças, pois acredita que o mar traz os materiais necessários. Admite ainda que o “Xico Gaivota” fez de Ricardo Ramos uma pessoa melhor.
Já viajou por vários países, nomeadamente Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Neste último, conta que foi convidado a fazer uma exposição onde leiloava as suas obras, para angariar dinheiro para uma equipa de limpeza de praia, que acabara de nascer e tinha pouca força. Esta experiência enriqueceu-o enquanto pessoa e artista, fazendo-o perceber que “se tem a capacidade de modificar o pensamento das pessoas e fazer coisas incríveis, acaba por ser esse o meu dever e o meu objetivo”.
Desde que arrancou com este projeto já fez duas exposições em Portugal e presenças em workshops em empresas, festivais de verão e até palestras e demonstração de peças em diversas escolas pelo país, com a ideia de consciencializar para o aumento da pegada ecológica.
No decorrer da conversa tentamos perceber a verdadeira mensagem do Xico Gaivota e a preocupação que demonstra pelos problemas existentes na vida marinha, tais como a necessidade de um maior controlo marítimo e salvaguardar certas espécies que estão a desaparecer (como o caso dos cavalos marinhos em Ria Formosa).
“Há muitos problemas e estão em comunhão. Todos têm o Homem no centro como o grande problema”, termina Ricardo Ramos.
Sea Shepherd, o pastor do Mar
Na sexta-feira de 24 de abril, o relógio apontava as 15 horas quando conhecemos Tiago Garcia um dos colaboradores da Sea Shepherd em Portugal, um projeto com 1 ano de existência no país.
Desde sempre trabalhou na área das Ciências do Mar e Comunicação de Ciências. Há um ano começou a colaborar como voluntário nesta organização em algumas discussões sobre como intervir em questões ambientais ligadas ao mar em Portugal, no momento em que a mesma começava as suas atividades no país e, agora com 42 anos, intitula-se como Relações Públicas da Sea Shepherd. Com um ar de entusiasmo, referiu que a sua nova tarefa iniciava há 5 minutos, ou seja, somos o seu primeiro contacto.
Começa por nos falar do projeto Sea Shepherd que arrancou no ano de 1977, pelo Capitão Paul Watson, que a dada altura entendeu a necessidade de uma intervenção direta para se conseguir ultrapassar certos problemas e ações prejudiciais no ambiente marinho. Este projeto torna-se diferenciador por entrarem em contacto direto em alto mar com embarcações que praticam pesca ilegal e que contribuem para a extinção das espécies protegidas.
“Hoje em dia costuma-se dizer que a Sea Shepherd tem a maior armada naval privada do mundo”, menciona Tiago Garcia.
A maior preocupação da Sea Shepherd centra-se na importância de existir legislações que protejam a biodiversidade do ambiente marinho, mas que “não existam só no papel e sejam verdadeiramente implementadas para que os resultados que se pretendam obter realmente aconteçam”, realça o colaborador do projeto.
Várias espécies marinhas têm sido protegidas ao longo das décadas por este projeto. Tiago Garcia destaca o caso da caça às baleias, aos tubarões e a pesca ilegal.
“O nosso planeta e o nosso oceano é um local melhor porque organizações como a Sea Shepherd que tentam erradicar algumas atividades prejudiciais”, expõe Tiago.
Para além da ação direta, Tiago Garcia afirma que a consciencialização da sociedade para este tipo de situações é importante, pelo que a equipa da Sea Shepherd aposta numa comunicação forte e até produz filmes e documentários “para que as pessoas percebam a realidade e para decidirem se querem fazer pressão pública sobre os governos para que haja melhores leis”.
A Sea Shepherd depende das doações por parte de entidades que seguem os mesmos princípios da mesma. Para além disso, funciona à base do voluntariado a nível global, de pessoas que se identifiquem com a causa e “pensem que têm algum tipo de competência ou valência que possa ser útil para proteger a vida marinha”.
Associação Portuguesa do Lixo Marinho (APLM), por um mar sem lixo
No dia 28 de abril, pelas 16:35h estivemos à conversa com a professora da Universidade Nova de Lisboa e Presidente da Associação Portuguesa do Lixo Marinho (APLM), Paula Sobral.
A APLM nasceu em 2013 como um projeto académico, de “defesa e conservação do meio marinho, principalmente face ao impacto do lixo”. Entre os diversos problemas de que a Presidente poderia enunciar, destacada os que considera serem os piores: a exaustão de suportes de pesca, a acidificação dos oceanos, as poucas áreas de proteção marinha e a poluição.
Com vários parceiros europeus envolvidos e várias atividades de proteção e sensibilização, o lema da associação conseguiu chegar a todo o país.
No âmbito desta associação já foram realizadas duas conferências nacionais de lixo marinho, em 2016 e 2019, onde se destacam os workshops e as atividades formativas científicas, mais concretamente, relacionadas com os microplásticos e plásticos em geral. Para além disso, são convidados o Ministério do Ambiente e o Ministério do Mar para a consciencialização da legislação que existe e os projetos que estão a ser desenvolvidos, não só em Portugal, mas também na Europa.
Ainda nestas conferências, são reunidas várias ONG´s que trabalham estes temas e estão próximas da comunidade, para se poder partilhar “experiências dos diferentes setores”. Relativamente à ciência e à inovação são convidadas indústrias do plástico, que tenham trabalhos de investigação a decorrer para entender as novas formas que estão a ser desenvolvidas para melhorar os seus produtos e torná-los mais recicláveis “desde a aposta em encontrar novas moléculas ou novos plásticos mais biodegradáveis”, refere a Presidente da APLM.
“Temos de ter em conta as opiniões dos diferentes setores, porque este problema não se resolve individualmente. Isto tem de ser concertado entre as várias partes e para isso temos de saber o que cada uma pensa”, realça Paula Sobral.
A Presidente da APLM destaca a importância da partilha dos conhecimentos da associação à comunidade e apela à participação das pessoas em algumas ações que desenvolvem, não só de limpeza das praias, mas também em conversas com pescadores para preencherem inquéritos, a sensibilização de bares, cafés e restaurantes de praia, entre muitas outras.
“Apostamos mais na sensibilização para as pessoas mudarem os seus comportamentos”, confere Paula.
Mas, em que medida esta associação se torna diferenciadora?
“Em 100 anos nós passamos de uma população global de dois mil milhões para quase oito mil milhões, portanto, a nossa tendência tem sido a apropriação crescente da Biodiversidade”, constata Helena Freitas.
A ecologista realça alguns problemas da vida marinha, nomeadamente, a contaminação dos oceanos, sobretudo, pelos plásticos que causam destruição de algumas cadeiras alimentares oceânicas, assim como o consumismo que nos leva à sobreexploração e desperdício dos recursos pesqueiros: “a forma como extraímos os recursos e a maneira como poluímos, tem sido destruidora da vida marinha”.
E, por falar em problemas, nem só no mar estes se avistam.
Proteção da vida terrestre
“Se conseguirmos ajustar a forma como produzimos e como consumimos, também respeitaremos todos os contextos e comunidades que têm uma relação muito próxima e dependente dos ecossistemas”, destaca Helena Freitas.
Ao longo da conversa com a ecologista, vão surgindo outras formas de pensar os problemas que se impõe no planeta. O olhar de Helena Freitas, primeiramente, é pelas comunidades indígenas e tradicionais espalhadas pelo mundo que têm uma relação muito próxima e dependente dos ecossistemas.
Para garantir o “direito inequívoco à saúde pública, bem-estar e à vida tal como todos nós” e respeitar todos esses contextos e comunidades, Helena partilha da ideia de que temos de ajustar a forma como produzimos e como consumimos, apostando nas energias renováveis, na produção local, numa agricultura que não responda a uma lógica insustentável.
“Nas últimas décadas vivemos numa lógica produtiva que é completamente insustentável e irracional”, refere a ecologista.
Deste modo, a proteção da vida terrestre é também um objetivo comum de várias organizações.
Lixo.lx, a transformação do lixo de rua
No dia 30 de abril, pelas 15:30h, reunimos com a italiana Metella Senni, de 26 anos. Frequentou o mestrado de Antropologia Ambiental na Universidade Nova de Lisboa e criou o projeto “Lixo.lx” há cerca de um ano.
A ideia deste projeto surgiu durante a mudança para uma nova residência em Lisboa que se encontrava sem móveis. A antropóloga sempre teve o hábito de apanhar objetos abandonados em locais públicos, mas mais tarde decidiu transformar o lixo das ruas em objetos artísticos.
“Tentei ser mais criativa e comprei as primeiras ferramentas para móveis e comecei a aprender. Depois dei conta que vários amigos tinham também uma vontade de ter esses móveis nas casas deles”, relata a italiana.
Com entusiasmo, Metella relembra os primórdios do seu projeto, quando os seus amigos a incentivavam e enviavam fotografias dos móveis e lixo que encontravam pelas ruas. Apesar de a produção das peças de arte serem realizadas pela própria, as ideias vão surgindo coletivamente. Considera ainda que o ambiente de Lisboa foi uma fonte de inspiração para o seu trabalho como artista.
Em Lisboa vendia através de feiras nas ruas ou das redes sociais e, ao mesmo tempo, aceitava pedidos de pessoas para renovar os móveis. Os seus trabalhos também já foram destacados na França, Itália e Espanha.
“É um projeto importante que permitiu criar a minha identidade e mostrar o que eu quero ver no mundo”, afirma Metella.
Com este projeto pretende transmitir um alerta para o excesso de consumismo na sociedade, incentivando à sustentabilidade. Para além disso, atende às questões do feminismo em trabalhos considerados masculinos, como neste caso, a carpintaria.
Após o término do mestrado em dezembro, rumou para Amesterdão com o intuito de realizar um estágio. Ainda a conhecer o local, Metella tem como objetivo continuar o projeto, no entanto, explica que existem regras de recolha do lixo, pelo que não encontra tão facilmente móveis nas ruas.
No fim da nossa conversa, aponta para o facto de se “olhar muitas vezes para a natureza como sendo um meio económico e não social ou ecológico”.
Ready Mind, a mente pronta para a mudança
Pelas 11 horas do dia 6 de maio, o encontro estava marcado com a associação Ready Mind. Somos desafiadas pela boa disposição de Pedro Guimarães, o fundador da associação e designer industrial e de equipamentos.
Em 2006 nasce a Associação Ready Mind com a colaboração de pessoas que sempre tiveram alguma preocupação relacionada com a sustentabilidade. O objetivo passa por reciclar e reutilizar todos os objetos que se tornaram inúteis em novos produtos que possam voltar a ser adquiridos, através do artesanato, das artes e do design.
A Ready Mind também procuram promover e expor trabalhos de diferentes artistas que estão interligados à reutilização de diversos objetos do quotidiano, e desafiar o público em geral a repensar os objetos, estimulando a participação e a construção de um ambiente mais sustentável, baseado numa economia circular.
Todos os anos são desenvolvidas atividades nas escolas, “onde ajudamos os alunos a concretizar ideias e a colocá-las em prática”. Este projeto escolar inicia em setembro e está organizado por diversas fases até ao dia 5 de julho, data de comemoração do Dia Mundial do Ambiente, quando seria apresentado o trabalho executado em cada escola. Também vários projetos são realizados em parcerias com municípios, nomeadamente, a Câmara Municipal de Vila do Conde.
A nossa mensagem não se foca apenas na palavra, mas na realização de objetos concretos que as pessoas possam ver, tocar e perceber”, diz Pedro Guimarães.
O desafio atual da Ready Mind é o crescimento em número de associados e participantes, porque “quanto mais gente tivermos a participar na associação, mais ideias surgem”, para responder a um dos principais problemas que põe em causa o ambiente terrestre, mas também marinho: como a questão dos plásticos, uma problemática que estão a desenvolver no presente ano.
Palhinha de massa comestível, um duplo sentido
O dia 12 de maio, pelas 15h, fica marcado pela boa disposição e entusiasmo de Luís Monteiro, 42 anos, gestor de empresas e fundador do projeto “Palhinha de massa comestível”. Durante cerca de uma hora, ficamos a perceber a dedicação de Luís a este projeto que tem um ano de existência e como grande objetivo a redução do plástico, um dos maiores problemas atualmente.
Trata-se de um projeto com um duplo sentido: em primeiro porque “alerta e desperta a consciência das pessoas para a existência de alternativas ecológicas” nomeadamente, aos produtos feitos à base de plástico; em segundo, está inteiramente ligada ao negócio, “uma vez que este tipo de iniciativas relacionadas com o ambiente, têm de ter por trás um modelo de negócio para sobreviver”, seja de apoios relativos a incentivos, quer de apoios estatais.
O projeto, tal como o nome indica, substitui as palhinhas de plásticos por palhinhas de massa comestível e está a ter uma adesão muito grande no mercado, desde cafés, restaurantes e hotéis por todo o país e ilhas, até aos parceiros em França, Suíça, Espanha, Bélgica, Holanda e Estados Unidos. O custo do produto ronda entre os quatro e os dez cêntimos, dependendo da quantidade que o cliente pedir.
“Nós temos muita felicidade, sorte e engenho no início do projeto, porque chegou a muitos lugares quando aparecemos nos meios de comunicação social”, refere o fundador do projeto.
Luís Monteiro, juntamente com os freelancers Miguel Estrovinho e Bruno Soares apostaram nas vendas online para chegar a mais pessoas. Mas não só. Também a participação em feiras e eventos neste setor, os apoios de patrocínios das escolas e universidades, levam o projeto mais longe.
Neste momento, face à situação de pandemia que vivemos, o ritmo de vendas abrandou e limitou o crescimento do negócio, uma vez que todos os clientes para quem o projeto desenvolve as palhinhas estiveram encerrados durante cerca de dois meses.
Para além disso, Luís Monteiro refere que as palhinhas são feitas com sêmea de trigo com glúten, e como existe muitas pessoas intolerantes ao glúten, já estão a ser repensadas formas de alterar a sua elaboração.
Ao longo da nossa conversa, o fundador desta iniciativa acaba por referir que já tem outro projeto com impacto social em mente “ligado à educação e reciclagem”, denominado de “Tu decides”, porque “cada um de nós tem o poder de escolher o caminho que queremos fazer para ajudar o meio ambiente”.
Green Cork: a Floresta, a Cortiça e a Rolha
No dia 20 de maio, pelas 17:30 horas, estivemos à conversa com Pedro Sousa de 46 anos. Há cerca de dez anos decidiu mudar de vida profissional e, tornou-se voluntário da Quercus. Desde do início começou a colaborar com o projeto de reciclagem das rolhas de cortiça que estava integrado num outro projeto, que era o “Condomínio da Terra” e que agora evoluiu para um âmbito mais geral e focado em determinados objetivos.
A pensar nos problemas que a indústria corticeira portuguesa estava a enfrentar, a corticeira Amorim e a Sonae criaram um canal de recolha de rolhas a nível nacional onde todas as verbas da reciclagem fossem direcionadas para a plantação de novas árvores de espécies autóctones nativas.
“Uma atividade económica, explorada de forma sustentável consegue criar ainda mais valor no nosso capital natural” , refere Pedro Sousa.
A cortiça é um produto biodegradável, mas se decompuser ou for queimado vai libertar Co2 para a atmosfera e é uma forma de combater as alterações climáticas, retendo esse Co2 nessa mesma cortiça. Ao reciclarmos as rolhas de cortiça estamos a proteger a atividade económica mais sustentável de Portugal, a exploração do recurso natural sem o danificar.
“A cortiça é retirada da árvore, mas a árvore continua viva e a produzir normalmente. A própria indústria da cortiça reinventou-se e a forma como eles trabalham, aproveitam tudo o que é da matéria prima de cortiça”, explica o colaborador da Green Cork.
Por todo Portugal Continental, a Green Cork recolheu este ano cerca de 12 toneladas de rolhas e, já foram plantadas cerca de 150 mil árvores. A recolha é feita em algumas escolas e IPSS, em todas as lojas do continente a nível nacional e também alguns shoppings, nomeadamente o Gaia Shopping e o Arrábida Shopping. Além destas, contam também com municípios que criaram redes locais de recolha, por exemplo, Amadora, Tábua, Lagoa, Ponte de Lima, entre outros.
“Esta situação da reciclagem de resíduos está há muito concentrada em determinadas empresas e, portanto, as empresas muitas vezes só o fazem se houver realmente uma contribuição nos cursos significativa e por isso nós não estamos nessas empresas”, afirma Pedro.
A atividade da cortiça, é um exemplo a seguir, mas uma parte da sociedade ainda não criou o hábito de fazer a separação em casa. O projeto Green Cork conta com um alargado número de voluntários. As pessoas podem contribuir para esta causa recolhendo rolhas em casa, participando em ações de voluntariado que visam a proteção das espécies florestais autóctones, nomeadamente na recolha de sementes florestais e nas ações de plantações que são organizadas por todo o país.
“Um dos objetivos do projeto é realmente sensibilizar para a importância destas espécies”, expõe Pedro Sousa.
ZERO, a Associação Sistema Terrestre Sustentável
Juntámo-nos à conversa com Nuno Forner, de 44 anos e natural de Fátima, no dia 22 de maio pelas 14h30. Já foi professor do terceiro ciclo e secundário, atualmente, trabalha com políticas do ambiente na associação ZERO, mais concretamente com as questões da conservação da natureza, biodiversidade e bioenergia. Acompanha ainda as políticas ao nível dos biocombustíveis e da biomassa.
De forma simples, mas direta, afirma que a ZERO nasceu no final do ano de 2015 com o apoio de mais de 100 pessoas com experiência no ambiente. E como o próprio nome indica, o interesse comum foca-se na intervenção na sociedade portuguesa através de objetivos centrados na sustentabilidade, tendo como metas: zero combustíveis fósseis, zero poluição, zero desperdício de recursos, zero desperdício de água, zero perda de biodiversidade, entre outros, sendo que atualmente os grandes problemas são a pesca excessiva de algumas espécies, a acidificação da água e o uso do plástico.
“Muitas vezes fala-se das questões ambientais ou dos problemas ambientais, mas nós quando queremos resolver um problema temos sempre um problema social e económico associado”, reflete Nuno Forner.
A intervenção da ZERO assenta em ideias sólidas e ainda num diálogo constante com a sociedade com o objetivo de alcançar as metas estipuladas. A associação foi criada com a oportunidade de agir de forma diferente do que existia na altura e que surgisse como complemento do trabalho que estava a ser feito por outras associações.
“Qual vai ser o planeta que vamos deixar para as gerações futuras?”, questiona Nuno.
Nuno Forner aponta como maior problema para o ambiente a forma como as sociedades atuam no mesmo. Elucida que “nós temos de ter a noção que estamos de passagem, e que temos um conjunto de recursos disponíveis para serem utilizados, mas temos que os utilizar de forma parcimónia”, de forma a não contribuir para um uso excessivo desses, colocando em causa a sobrevivência das gerações futuras e da própria humanidade.
A discussão sobre as políticas do ambiente, levam esta associação a atuar na sociedade através da consciencialização e sensibilização para os vários problemas atuais no meio ambiente e como se torna importante discutir soluções para que no futuro o mundo seja mais sustentável.
Realizam projetos aliados a vários municípios, por exemplo a avaliação da pegada ecológica do município. Ao nível da educação ambiental, são muitas vezes convidados a participar em atividades nas escolas, onde o objetivo é sensibilizar os mais jovens sobre variados temas, que vão “desde a conservação da água e dos resíduos às alterações climáticas ou a floresta”. A sociedade pode tornar-se associado da ZERO, e ter um papel ativo nas discussões debatidas pela mesma sobre o ambiente.
Uma vez que se torna importante a disseminação da informação que abordam, em termos europeus, fazem parte de um conjunto de federações europeias de ambiente, onde é fundamental a discussão das políticas europeias.
Durante a conversa, é realçada a importância da promoção de ações que possam contribuir para travar ou reverter a degradação do meio ambiente e a insustentabilidade do uso dos recursos naturais.
A ZERO procura constantemente passar a mensagem que é essencial a valorização da biodiversidade, bem como a defesa dos serviços prestados aos ecossistemas ou o apelo a uma sociedade mais sustentável. Nuno refere que a participação pública para uma cidadania ambiental é importante para um futuro melhor.
LIPOR, uma organização com história
A trabalhar na LIPOR há 16 anos, Diana Nicolau, com percurso profissional na área da Educação Ambiental, e a colaborar no momento em áreas relacionadas com a sustentabilidade, a naturalidade, a economia circular e a biodiversidade, fala-nos dos ideais e metas desta associação. O encontro estava marcado no dia 27 de maio, pelas 11:30h.
A LIPOR surgiu em 1982 como um serviço intermunicipalizado de gestão de resíduos do Grande Porto e é responsável por fazer o tratamento e valorização dos resíduos urbanos que são produzidos nas habitações ou similares.
Numa fase inicial da sua criação, a maior preocupação foi a construção de fábricas e unidades operacionais que tratam e valorizam os resíduos, através da construção de um Sistema Integrado de Gestão de Resíduos, sobretudo a partir dos anos de 2000 a 2005. Neste último ano referido, a incorporação da sustentabilidade de negócio tem ganho mais força até aos dias de hoje.
Os objetivos são claros. Visam a proteção do ambiente, prevenindo qualquer forma de poluição, combatendo as alterações climáticas e promovendo o bem-estar e saúde da sociedade, através de uma economia sustentável.
“Educar, formar, informar e partilhar conhecimentos são a chave para construir um mundo sustentável”, garante Diana Nicolau.
Esta associação para além da sustentabilidade ambiental, também valoriza a sustentabilidade económica, que permite ter sempre um saldo financeiro positivo, possibilitando grandes investimentos na comunidade, iniciativas de educação ambiental e projetos como “Operação Tampinhas” e o “Parque Aventura” (um antigo aterro que está localizado na LIPOR).
“O nosso propósito é criar valor que seja partilhado”, refere Diana.
Novo Verde, uma sociedade anónima
Sem disponibilidade para agendar uma entrevista por videoconferência, o doutor Ricardo Neto, presidente da Novo Verde, no dia 28 de maio às 16h responde-nos via email às questões que nos permite conhecer esta associação.
Após 10 anos de trabalho incessante para conseguir a licença para operar, a Novo Verde nasceu oficialmente em setembro de 2014 para quebrar o monopólio comandado pela Sociedade Ponto Verde. Ainda com um longo e árduo percurso pela frente, a operação da Novo Verde no mercado avizinhava-se necessária para responder às metas de recolha e reciclagem de embalagens, bastante ambiciosas.
A Novo Verde entrou no mercado para implementar a concorrência entre Entidades Gestoras, tendo atingido este seu desígnio uma vez que lhe foi conferida, pelos Gabinetes dos Secretários de Estado Adjunto e do Comércio e do Ambiente, a licença para a gestão de resíduos.
Aproveitando a experiência adquirida noutros países do grupo e no contexto nacional, através da gestão de outros fluxos específicos de resíduos, a Novo Verde reunia as condições para vingar e introduzir o fator de concorrência no setor, com um posicionamento diferente e competitivo, trazendo vantagens ambientais, como o aumento da quantidade e qualidade dos materiais reciclado, e a nível económico, pela redução do eco-valor pago pelos consumidores.
Desde o ano 2017, a entidade gestora tem vindo a conquistar a maior quota de mercado e a desenvolver iniciativas diversas nas áreas de prevenção e sensibilização, na comunicação e educação e, ainda na investigação e desenvolvimento. No final de 2018, o ano era fechado com 111 embaladores aderentes ao sistema integrado e mais de 28 500 toneladas de resíduos de embalagens encaminhadas para reciclagem.
“O nome surgiu para permitir uma identificação direta com a atividade e o contexto em que se movimenta”, declara o Presidente.
O principal objetivo da criação da Novo Verde passa por dinamizar o setor da gestão de resíduos de embalagens, através de uma oferta mais competitiva, alargando o leque de opções a considerar pelos embaladores e/ou importadores de embalagens no momento da seleção da entidade gestora a quem transferir a responsabilidade pela gestão das mesmas quando chegam ao final do seu ciclo de vida.
“Com a entrada da Novo Verde no mercado, espera-se continuar a motivar a procura de novas soluções na gestão de resíduos de forma a garantir o aumento dos índices de embalagens recolhidas de forma adequada”, aponta Ricardo Neto.
A meta de valorização e reciclagem está organizada por materiais, segundo os indicadores globais:
Ainda foi criado o Barómetro Novo Verde em parceria com a Marktest e a Rádio TSF com o objetivo de analisar a opinião dos portugueses sobre assuntos relacionados com o tema da reciclagem de embalagens, por exemplo, as preferências na compra de embalagens, a existência e a manutenção de ecopontos, assim como conhecer os comportamentos e as tendências de adesão a esta causa.
A informação foi recolhida e tratada pela empresa Marktest, através de inquéritos online. Neste observatório foi analisado o perfil ecológico de 850 inquiridos (indivíduos entre os 15 e os 64 anos), segmentados por gerações (Baby Boomers, X, Y e Z).
A Novo Verde assume o compromisso a vários níveis, conduzindo a atividade em prol da sustentabilidade, nomeadamente em projetos e iniciativas de sensibilização, investigação e desenvolvimento, como motores de melhoria e eficiência do sistema e participação ativa dos diversos intervenientes. Por exemplo, as oportunidades de sensibilização tornam-se mais frequentes e incisivas, incrementando os índices de adesão à causa, logo o aumento da quantidade e qualidade dos materiais recolhidos e encaminhados para reciclagem.
A atividade da Novo Verde no que a comunicação e sensibilização diz respeito, tem sido marcada por diversas atividades no terreno, promotoras do contacto direto com os grupos-alvo com vista a informar/alertar e mobilizar para o comportamento pretendido: separar para reciclar.
São, igualmente, desenvolvidos outros projetos de investigação e desenvolvimento para conduzir ao encontro de soluções e metodologias de gestão de resíduos inovadoras e eficientes, melhorando o funcionamento do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE).
“A adesão dos cidadãos tem sido crescente, fator que se verifica no aumento dos quantitativos de recolha seletiva conseguidos a nível nacional. Os números mais recentes indicam um crescimento superior a 15% no reflexo do comportamento dos Portugueses”, constata o Presidente.
A mensagem que a Novo Verde pretende transmitir tem como base a importância da participação ativa de todos os intervenientes na cadeia de gestão dos resíduos de embalagens. É por esse motivo que se referem muitas vezes ao “Sistema Integrado”, que abrange desde o embalador/fabricante até ao consumidor, passando pelo distribuidor, transportador e reciclador.
“Terminaria sublinhando que o nosso trabalho implica o esforço de todos. Cada um é uma peça fundamental deste puzzle orgânico”, conclui o Presidente Ricardo Neto.
E a necessidade de educar os cidadãos…
Atualmente a informação é fundamental para fazermos as melhores escolhas e para conseguirmos impulsionar a própria mudança.
“Precisamos de uma sociedade esclarecida, empenhadas e de perceber que têm esse espaço de liberdade”, esclarece Helena Freitas.
A Ecologista Helena Freitas refere que existem muitos níveis e formas de atuar pela proteção da vida marinha e terrestre, nomeadamente, com empenho cívico, para lutar pela democracia e denunciando as situações contrárias a isso, tal como o populismo e as políticas que vão no sentido do individualismo, do estigma e de tudo aquilo que é contrário a uma sociedade livre e solidária.
“Os jovens para mim são uma inspiração e a maior certeza do sucesso desta causa”, confessa a ecologista.
Fomos ao encontro das vozes mais jovens, para entender de que forma estes contribuem para a preservação do meio ambiente, quais os maiores problemas que encontram na vida marinha e terrestre, o grau de conhecimento sobre a valorização do meio ambiente, entre muitas outras questões.
“Acho que quem perceber a importância da conservação da borboleta tem muito mais inteligência para olhar para a humanidade”, conclui Helena Freitas.