Confinamento: Salas de estudos vazias durante 6 meses
[Reportagem de Ana Laura Toledo e André Silva]
Em março de 2020, Portugal precisou aceitar e conter o vírus que estava dissipado pelo mundo desde dezembro de 2019, a intensidade de propagação foi quase instantânea.
Novos hábitos se instalaram diante a sociedade. Situação difícil para as crianças e adolescentes, mas também para os pais e encarregados da educação, que estão em casa, e ainda a tentar organizar a nova rotina familiar e, frequentemente, eles próprios em teletrabalho, e que se vêm confrontados com a necessidade de apoiar as crianças e adolescentes no estudo, garantindo que continuam a aprender da maneira correcta.
De acordo com DGE dois sistemas foram implantados durante a pandemia provocada pelo Sars-Cov2 são elas ensino síncrono: programas virtuais de videoconferência a partir dos quais é possível o contacto direto entre professor, intérprete de linguagem gestual portuguesa – LGP e alunos surdos e ensino assíncronos: plataformas de gestão de ensino e aprendizagem onde se podem armazenar materiais, documentos, vídeos em LGP, avisos, entre outros para o aluno consultar e estudar.
Foi necessária uma adaptação do sistema nacional de educação para todos os alunos para tentarem manter o aprendizado mesmo com as divergências previamente estabelecidas
Assim como diversas escolas e centros de ensino, o Global Coach, um centro de estudos localizado em Vila do Conde, teve que se adaptar à maneira que pôde. O centro existe há 13 anos, conta com 120 alunos e mais de 25 funcionários. Atende o público estudantil do 1º ano até ao 12º ano.
Oferece aulas em grupos, aulas particulares, e apoio ao estudo. As disciplinas mais procuradas são matemática, física, química, biologia e português.
Foram obrigados a encerrar, de março de 2020 e só no dia 15 de junho daquele ano tiveram autorização para abrir presencialmente com as recomendações estabelecidas pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Após as férias da páscoa de 2020 estavam autorizados a começarem as aulas com regime online. Tiveram que readaptar para entrar no universo do Microsoft Teams.
Na primeira fase da pandemia 40% dos alunos continuaram a frequentar as classes em sistema digital, e afirma que correu bem. A vantagem é que a maioria das escolas tradicionais seguiram também o regime online nesse período
No ano letivo 2020-2021, 80% dos alunos adotaram o sistema híbrido para frequentarem as classes.
A diretora reconhece que a quarentena refletiu na não concentração e desânimo de grande parte dos discentes.
Para a parte mental principalmente não foi nada fácil, inclusive com casos de alunos a realizar tratamento psicológico.
Em 1 ano, teve 6 meses encerrada e os outros 6 meses: 3 meses do verão que não teve ninguém, os professores em layoff porque não tinha trabalho e os outros 3 meses trabalharam com toda força para tentar recuperar o que tinham perdido.
Confinados em casa desde março, e só voltaram mesmo em setembro, os docentes notaram muita diferença, de socialização, regras, condutas, conteúdos defasados e com mais dificuldades em voltar ao ritmo de trabalho por parte dos alunos.
“ Agora só com o tempo vamos ver quantos estragos isso fez” – Sónia Maia, diretora e fundadora do centros de estudos Global Coach
As irmãs Cátia de 13 anos e Inês Rodrigues (6) são alunas do ensino fundamental moradoras de Balasar, uma freguesia no distrito da Póvoa de Varzim.
Quando souberam que não poderiam ir para a escola, por conta do surto de coronavirus logo começaram a sentir os impactos negativos pois tinham muitos deveres de casa e os professores exigiam muito mais dos alunos. Já a irmã mais nova entendeu o que era o confinamento pouco tempo depois e percebeu que não ia ver os colegas da escola tão cedo, mas tentou se enquadrar ao novo sistema sem escola e sem as atividades rotineiras.
A mudança do presencial para o virtual no início foi difícil para ambas, mesmo com o dobro da idade uma da outra, tiveram quase o mesmo pensamento. Foi difícil já que tinham uma rotina, estavam habituadas a ter aulas na escola e iam muito bem, principalmente com a matemática que sempre foi uma questão que teve muita dificuldade, quando estava no modo online, foi mais complicado porque sentia que não percebia tão bem desse sistema de ensino e muitas das vezes dispersava mais rápido com outras coisas, como o telemóvel, jogos e outros sites na internet, já Inês afirma que estudar em casa foi fácil e sente falta do recreio e das aulas de educação física.
As atividades favoritas quando não estava em aulas ou estudando era ver televisão, fazer alguns alongamentos de ginástica e brincar na rua.
Na escola nem todos os colegas tem os aparelhos eletrônicos como computadores ou tablet que pudessem acompanhar as aulas, então assim como elas, também tiveram que utilizar o telemóvel algumas vezes quando a internet falhava e era preciso usar os dados móveis.
O único computador da casa, um pc antigo, não tem atualizações recentes, e a webcam com falhas, foi um impeditivo para que a filha mais velha usasse durante as aulas em regime online. Os pais tiveram que comprar um novo tablet num valor mais acessível para facilitar a demanda das duas filhas. Utilizava o computador apenas quando ia apresentar um trabalho, ou fazer alguma apresentação mais complexa, já que o processo de compartilhar é mais fácil de aderir. Durante todo o ano letivo em regime online que se intensificou a partir de outubro, os pais compraram uma escrivaninha e colocaram no quarto das filhas para a maior ter um espaço próprio de estudo, já que a mesma está no 8º ano e precisa ter mais concentração para realizar os deveres de casa. A caçula realiza as tarefas na mesa da cozinha enquanto a mãe cumpre os trabalhos domésticos.
Para o próximo ano letivo esperam que as aulas continuem em presenciais, porque acham necessário o convívio com outros colegas e fazem um apelo para que a população se vacine assim que possível.
Os irmãos brasileiros, Bruno de 12 anos e Isabel de Matos(6) são alunos da rede pública de educação de Vila do Conde, o mais velho estuda na escola Frei João, e a mais nova na escola Bento de Freitas. No início os pais e filhos não souberam lidar com tanta diferença em deveres de casa, e conteúdos propostos, falhas na internet e no sistema de computação Preferiram ficar em Portugal, já que o contágio era rápido e tinham medo de ficarem muito tempo no Brasil.
De acordo com a mãe Vanina Matos, o primogênito não teve dificuldades para se adaptar ao regime online, já a caçula foi mais resistente a aderir às aulas online.
Sentiam tédio e dores na vista por estarem tanto tempo nos ecrãs.
As crianças sentem falta dos parentes que vivem em terras cariocas, mas arrumavam um jeito para falarem por vídeo chamada mas alegam que não é a mesma coisa.
A psicóloga brasileira Fabiana Toledo (51) com a carteira regional de psicologia (CRP: 05/18830) afirma que as crianças são umas das que mais sofrem com essa questão, porque terão lembranças futuras desse tempo, e durante 1 ano essas crianças ficavam em casa, sem poder sair, e sem ter contato com outros colegas, o que acarretou em uma série de questões e problemas que podem ser prevenidos com apoio psicológico ou com terapia. Alguns dos problemas mais comuns são a compulsão alimentar, o sedentarismo, a ansiedade, depressão, problemas na visão, insônia, oscilações de humor e crises.
“Antes da pandemia eram 25 milhões de pessoas diagnosticadas com ansiedade, durante a pandemia esse número chegou a 82 milhões”
O processo de usar a internet para ter aula online pode ter sido difícil no começo, mas essa geração que foi habituada a crescer com redes sociais e jogos online, conseguem se adaptar facilmente com esses novos recursos
Tudo isso da pandemia, no fim das contas, foi um rompimento do direito daquela criança, de fazer o que gostava, do cotidiano e é muito cruel, mas ninguém esperava por isso. Havia muitas fakes news acerca do assunto.
A profissional compartilha dicas de prevenção de doenças e questões emocionais pelas redes sociais criadas durante o confinamento. Todas as segundas feiras às 20h (horário de Brasília) realiza directos pelo instagram com convidados. Com o perfil ativo conseguiu atrair mais pacientes e parcerias. https://www.instagram.com/fabianatoledopsi/
Acompanhamento que a advogada Aline Nitzsche de 31 anos e mãe do Lucca de 3 anos e 7 meses costumava levar a sério o tratamento psicológico terapêutico para o filho.
O diagnóstico foi apenas fechado quando tinha 3 anos, mas o psiquiatra infantil, já levantou a hipótese quando o bebê tinha 1 ano e 06 meses do Transtorno espectro autista – TEA, solicitando as terapias o quanto antes.
Sofreram o luto do filho idealizado. Ou seja, ela e o marido ficaram muito abalados, tristes e até tentaram negar o diagnóstico. Mas ao mesmo tempo, perceberam que não tinham tempo a perder. Iniciaram o tratamento o quanto antes.
“Como pais, não queremos o nosso filho sofra, mas sabemos que o mundo não está preparado para lidar com pessoas com deficiência.”
A pandemia foi algo inédito para todos. Em especial para os pais de crianças com espectro autista. Ficaram muito preocupados por 2 fatores: quanto isso impactaria na não evolução do filho, já que ele ficaria sem as terapias presenciais, e também no medo de se infectar e faltar na vida dele.
“Ainda há muito preconceito, desinformação e falta de políticas públicas na inclusão das pessoas com deficiência na sociedade e no mercado de trabalho.”
No início de 2020, Lucca estava frequentando as terapias e tinha iniciado a adaptação na creche. Com o advento da pandemia, do dia para noite, tudo foi suspenso. A regressão foi clarividente, pois todos os ganhos psicossociais estagnaram ou regrediram. Paralelamente a isso, os pais fizeram um curso de coaching parental de uma especialista de renome.
Neste método procuraram estimulá-lo de diversas maneiras. Mas foi justamente no meio dessa incerteza que as crises foram aumentando de intensidade, motivo pelo qual tiveram que realizar intervenção medicamentosa, o qual ele faz uso até hoje.
“A falta das terapias e do contato com outras crianças foram muito significativos”
A criança desenvolveu uma pequena insônia durante o período, os pais iniciaram higiene do sono para o filho. Limitaram o uso do tablet para até as 18 horas, pois o uso demasiado a noite causava uma agitação no sono.
Introduziram com o Lucca a metodologia Baby lead weaning – BLW, que é uma técnica de introdução alimentar e consiste no ato de o bebê conduzir sua própria alimentação com as próprias mãos com alimentos inteiros, sem ser pastoso. Ele teve alimentação regrada no início e preferência por comida “de verdade”, raramente lanchava. A medicação que ele passou a usar faz abrir o apetite, o que foi muito positivo, pois ele tem se alimentado em maior quantidade, lancha, come fruta, biscoito e várias outras coisas não tinha o hábito. Na pandemia, conseguiram aumentar a ingestão de alimentos diferentes do que ele estava acostumado, mas até hoje ele gosta de comer comida natural.
É como a nutricionista Érica Gomes de Mattos, com a carteira regional de nutrição – CRN/4 -14100895 sugere que seus pacientes utilizem de uma alimentação mais natural possível. A jovem trabalha na área há 7 anos, mas últimos 3 anos só atua na área materno infantil.
No município do Rio de Janeiro, existem nutricionistas que fazem toda a preparação e elaboração dos cardápios semanais para as crianças. E essa responsabilidade ficou para os pais, e muitos não sabiam como fazer. Muitos optaram por alimentos industrializados. A falta de horários e rotinas procuraram ajuda da profissional
Foi uma consultoria que se aplica aos pais sobre alimentação da família em geral, de maneira equilibrada.
Alerta as pessoas para que busquem equilíbrio de forma geral principalmente na alimentação, procure fazer uma alimentação equilibrada, buscar nas principais refeições os 5 grupos carboidratos, proteína, leguminosa, verduras e legumes. 2 frutas diferentes por dia e restringir os industrializados e ultraprocessados.
“Quem tinha compulsão alimentar só se intensificou, ansiedade, privação dos direitos, e isso atrapalhou as crianças começaram a comer de forma menos inteligente e mais desequilibrada, e na maior parte, um ganho de peso excessivo”
O confinamento não só alterou a alimentação dos pacientes, mas também percebeu uma mudança comportamental por parte do filho Miguel de 2 anos. Tinham o costume de descer para a área de lazer, andar de bicicleta no bairro, e desde o início da pandemia, diminuíram as saídas drasticamente as oportunidades de ficar passeando.
E uma só criança em um apartamento sentiu que o filho ficou mais agitado precisando gastar energia, então arrumou atividades em casa que conseguisse gastar as energias, ficou uma criança mais irritada. Na alimentação não, pois ele ainda estava em fase de iniciação alimentar então deu para guiar de uma maneira melhor.
Mesmo com restrições, em junho de 2021 já sente-se mais segura para levá-lo para a área de jogos para brincar.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, são objetivos implementados para contribuir com um futuro mais sustentável e com mais equidade.
Correlacionamos os tópicos 3 e 4 dos ODS.