Justino Teixeira, um legado deixado em Campanhã
Dá nome a uma das principais ruas de Campanhã, outrora denominada Rua Nova da Estação, foi responsável pela construção do ramal da Alfândega, engenheiro de obras públicas e diretor dos caminhos-de-ferro do Douro e Minho no século XIX. Augusto César Justino Teixeira deixou herança no Porto. O #infomedia foi à procura desse legado, cruzando o passado com o presente em 2023.
[Hugo João Santos e João Sá Ferreira]
Quem caminha pela rua Justino Teixeira, de norte a sul, em direção à estação de Campanhã, vive o ambiente tranquilo desta viela em contraste com a confusão sentida diariamente na cidade do Porto. Quem foi Justino Teixeira? É a pergunta que paira no ar assim que se cruza a calçada da rua com o mesmo nome de um antigo engenheiro e ferroviário português, batizado como Augusto César Justino Teixeira, natural de Alandroal, um pequeno município em Évora. Nasceu em 1885, morreu em 1923.
ÁRVORE GENEALÓGICA De acordo com vários website de Genealogia, como por exemplo Geni, Famílias de Leiria, ou o Geneall, Justino Teixeira, também conhecido como Augusto César Justino Teixeira, terá deixado descendentes. |
Hoje esta rua, com cerca de 850 metros, alberga 102 casas, quatro oficinas, quatro restaurantes, dois hotéis (alojamento local), um salão de beleza, uma empresa de refrigeração comercial, uma gráfica, uma loja, uma igreja, um estabelecimento de vinhos, uma loja de instrumentos musicais, um estabelecimento empresarial, três bairros, dos quais sete são ilhas, com cerca de 91 fogos.
Não é em vão que os apelidos Justino Teixeira tenham ficado como nome de uma pequena viela junto à estação de Campanhã, afinal, este foi responsável, em 1880, pela elaboração do ramal (da alfândega).
“Foi ele quem deu a cara pelo ramal que agora se encontra praticamente esquecido”, recorda o historiador António Miguel dos Santos, a propósito da importância deste engenheiro ferroviário e possível legado público para a cidade do Porto.
Essa pequena linha férrea, que ligava a estação de Campanhã ao Terminal da Alfândega do Porto, foi construído com o intuito de facilitar o transporte de mercadorias. Além disso, possibilitava a canalização da água por todo aquele caminho, de modo a que, quem vivia naquele zona, usufruísse de água na via pública, para conseguir fertilizar os campos. O ramal foi perdendo a sua importância comercial no início do século XX para o Porto de Leixões até que foi oficialmente desativado em 1989, porém, de acordo com informação avançada no website da Câmara Municipal do Porto, admite-se que, num futuro próximo, poderá entrar, novamente, em funcionamento. A reabilitação do Ramal, com base no projeto da Câmara Municipal do Porto, assentará numa de duas hipóteses: a reconversão para modos suaves pedonais e cicláveis e para parques urbanos ou a construção de um transporte rápido elétrico.
“Muita gente passa na Alfândega e nem se lembra que passava lá um comboio de mercadorias”, nota também o historiador. “Esse ramal foi muito utilizado durante a pandemia. Como as pessoas não podiam atravessar concelhos eu observava muitas pessoas a atravessá-lo” afirma o historiador António Miguel dos Santos.
O engenheiro que, em 1888, se encontrava a desempenhar funções como diretor da companhia dos Caminhos de Ferro entre Douro e Minho, onde divulgava avisos acerca de toda esta linha, foi responsável, também, pela construção da Creche de Cedofeita. Com o início das obras em 1879, a creche recebeu, gratuitamente, os projetos de arquitetura e engenharia, sendo que, a Câmara Municipal do Porto cedeu também o terreno sem qualquer custo. Este edifício, inaugurado a 24 de Novembro de 1891, motivou até a presença do rei Dom Carlos e da rainha Dona Amélia na sua inauguração.
Edíficio da Creche “Em Maio de 1879 começa a construção do edifício da Creche, que vai terminar a 30 de Junho de 1891. O terreno é cedido pela Câmara Municipal do Porto. Eis alguns dos custos envolvidos: Custo de edificação ……………………………… 9.954$020 réis Louças e objectos vários ………………………. 500$150 réis Muitas ofertas para mobiliário Arquitecto e Engenheiros ofereceram as plantas e o seu trabalho gratuitamente. Aqui ficam os seus nomes: Arquitecto: António de Fontes Soares Engenheiros: Conselheiro Augusto César Justino Teixeira e João Carlos Almeida Machado. |
“Em 1891 ele [Justino Teixeira] esteve na concessão do espaço da creche e esteve presente na inauguração, juntamente com o Rei Dom Carlos e a Rainha Dona Amélia. Como é que um rei e uma rainha estiveram presentes na inauguração de uma creche?”, questiona o historiador António Miguel dos Santos, dando pistas sobre a importância deste acontecimento.
Em 1910, com a implantação da República, esta obra chegou a ser confiscada aos bens da igreja e acabou nacionalizada sendo, desta forma, alienada da Associação de Beneficiência de Cedofeita. Só mais tarde, em 1969, é que o Estado a devolveu à Paróquia de Cedofeita, integrando-a no Centro Social Paroquial que era sucessor da anterior associação mencionada.
O trabalho do engenheiro viria a ser reconhecido e louvado. No jornal “A Gazeta dos Caminhos de Ferro”, um jornal que segundo António Miguel Santos “não é recordado por ninguém”, lançou um artigo escrito por Busquets de Aguillar, cujo título era “História da “Gazeta dos Caminhos de Ferro”.
Neste artigo, refere-se os nomes das personalidades que compuseram a primeira edição deste periódico, sendo que o primeiro a ser destacado foi Augusto César Justino Teixeira. O seu nome estava em primeiro lugar na lista daqueles que, para o jornal, compunham as melhores figuras de engenharia e atividade ferroviária daquele tempo.
Nome de uma rua como homenagem ao legado do conselheiro Justino Teixeira
Em 18 de junho de 1891, foi aprovado o projeto de alinhamento da rua que conta com cerca de 850 metros de extensão, cuja história remonta ao nome de Justino Teixeira, mas que nem sempre se chamou assim. No documento a seguir, há evidências de uma outra denominação, entre parênteses. No século XIX, a rua era denominada como “Rua Nova da Estação” e só mais tarde é que o nome mudou para aquele que perdura até hoje.
Ainda, a 12 de abril de 1926 foi aprovado o prolongamento da rua o que iria originar a expropriação de diversas habitações. Essas expropriações permitiriam à rua ganhar espaço para que, dessa forma, esta fosse concluída. Só assim poderia ser aproveitada para fluir o trânsito da cidade e para ser utilizada como vertente comercial.
Apesar de ser uma rua um pouco esquecida para, sobretudo, os habitantes da cidade do Porto, está em constante mutação.
Esta, que outrora fora utilizada para facilitar do transporte de mercadorias e, dessa forma, imagine-se muito movimentada. Hoje em dia já são poucos aqueles que por lá andam. A rua está a ser alcatroada e o ambiente da mesma tornou-se calmo ao ponto de não se ouvir o ruído que paira sobre a cidade do Porto.