Luísa, Joaquim e Raquel: três histórias empreendedoras entre a Justino Teixeira e a rua de Godim

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Luísa, Joaquim e Raquel: três histórias empreendedoras entre a Justino Teixeira e a rua de Godim

Da Rua Justino Teixeira para as vias adjacentes, a Rua de Godim e a Rua Particular Justino Teixeira revelam outras histórias que se relacionam com o desenvolvimento desta área. Luísa Xavier, sócia-gerente do São Rock Climbing, Joaquim Rodrigues, proprietário da oficina Rauto Clinic e Raquel Pimentel, sócia do espaço oito-80 Functional Fitness, são três exemplos que têm vindo a rejuvenescer estas ruas outrora tão desertas.

[Texto e fotos: Catarina Pinto e Margarida Marques | Vídeo: Ricardo Gárzon]

São Rock Climbing | Fotografia: Ricardo Garzón

Ao entrar-se no São Rock Climbing repara-se que não é uma escalada igual às outras. Por exemplo, as paredes são diferenciadas com marcas coloridas que ajudam a subir, mimetizando as fendas disformes de uma formação geológica. Depois, nota-se que há uma familiaridade informal, porque os utilizadores e as utilizadoras já conhecem os cantos deste espaço.

Um sonho e um armazém apalavrado. Foi assim que Luísa Xavier, de 37 anos, chegou à Rua de Godim número 312, para abrir o único espaço de escalada na zona do Porto. 

Luísa Xavier, licenciada em Gestão e Matemática, no Brasil, completou o seu mestrado em Ciências da Educação na Universidade de Psicologia no Porto. O seu gosto pela escalada surgiu em 2013, há 10 anos, e nunca mais parou.

Em setembro de 2019, a sócia-gerente do São Rock Climbing, natural de Minas Gerais, no Brasil, descobriu o espaço ideal para criar o seu negócio através de um amigo portuense que a aconselhou.

No São Rock Climing efetua-se a escalada artificial, onde recorresse à prática de escalar estruturas artificiais. As paredes são feitas de madeira, onde têm diferentes graus de inclinação, com variedades de presas de diferentes tamanhos e formas para os escaladores se apoiarem. Estas presas estão fixas às paredes nas quais os usuários deste espaço colocam as mãos e os pés para subirem até ao topo. Elas são projetadas para fornecer diferentes desafios e estimular a criatividade e a habilidade dos escaladores.

A escalada artificial é uma forma popular de escalada, especialmente nas áreas urbanas onde a disponibilidade de paredes artificiais facilita a prática do desporto. É uma ótima forma de desenvolver as habilidades técnicas, força física e resistência, além de ser uma opção segura para iniciantes familiarizarem-se com a escalada antes de se aventurarem em ambientes naturais.

O São Rock Climbing conta com parcerias da Câmara do Porto e ginásios de Lisboa e do Porto, criando novas iniciativas e eventos juntos.

Luísa Xavier veio então para Portugal para pôr mãos à obra mas não teve vida fácil. Em 2020, acontece a pandemia por Covid-19, ao mesmo tempo que começam as obras de beneficiação na Rua Justino Teixeira e na Rua de Godim. Apesar destas obras se mostrarem inconvenientes, Luísa acredita que a longo prazo trarão melhorias para o seu negócio. 

Luísa Xavier descreve o prazer que é poder trabalhar rodeada de um leque de clientes e comunidade tão acolhedora e diversificada que vai desde uma bebé de seis meses até aos idosos.

Poder trabalhar com escalada na cidade do Porto e estar num espaço onde existe um ambiente de comunidade muito fixe e onde parece que os vizinhos são vizinhos de longa data.

Luísa Xavier

Uma das melhores surpresas para a empreendedora foi mesmo a amizade com os seus vizinhos que chegaram a levar flores na inauguração do espaço e em especial o mecânico Joaquim Rodrigues, que a acolheu desde a sua chegada. 

Desde o espaço com cores vivas e alegres, aos funcionários simpáticos e disponíveis, o São Rock Climbing promete diversão e um meio envolvente de bem-estar.

Joaquim Rodrigues, mecânico, desde 2003 a reparar viaturas na rua de Godim

Rauto Clinic| Fotografia: Catarina Seemann

No armazém ao lado do São Rock Climbing fica a oficina Rauto Clinic de Joaquim Rodrigues, 60 anos. Lá dentro, paredes azuis e brancas, carros erguidos ao alto, pneus novos e usados e o material automóvel no chão. As mãos de Joaquim dizem o que faz: concerta peças, troca pneus, substitui óleos, entre outras atividades mecânicas.

Apesar de não viver na zona, Joaquim Rodrigues, já faz parte da mobília na freguesia de Campanhã. A sua oficina já está na Rua de Godim desde 2003 e tem acompanhado o movimento e as melhorias a nível da habitação das redondezas.

O mecânico confessa que não tem qualquer relação com a Justino Teixeira, porém sabe que tem vindo a desenvolver uma melhoria.

É uma rua de passagem, tem vindo a ter algum desenvolvimento a nível de habitação, acho que está a melhorar.

Joaquim Rodrigues

O mecânico admite que, apesar de ter alguns clientes que vivem nas proximidades, levou para Campanhã muitos clientes que acompanham e confiam no seu trabalho para onde quer que vá. 

Quando questionado qual a sua relação com os colegas de profissão das redondezas, admitiu saber da existência de pelo menos duas ou três oficinas nas proximidades. Contudo só mantém uma boa relação com os colegas de uma delas. Não por intrigas mas pelo simples facto de, como nos mostrou ao longo da conversa, ser uma pessoa pacata e que não se intromete em negócios ou vidas alheias.

Joaquim Rodrigues e os seus colegas que operem na mesma área trabalham com máquinas, motores e equipamentos, efetua reparos, manutenções e diagnósticos de problemas. Nos reparos e nas manutenções são responsáveis por identificar e corrigir problemas em carros e motociclos. Estes mesmos realizam substituições de peças desgastadas, reparos em sistemas mecânicos, elétricos e ajustes que sejam necessários. Nos diagnósticos de problemas um mecânico é encarregue de realizar testes, inspeções e utilizar ferramentas diagnósticas para identificar a causa do problema. Realizam também trocas de peças quando estas estão danificadas ou desgastadas, fazem ajustes na embraiagem, alinhamento das rodas e calibrarão nos motores. Após a realização dos reparos necessários ou nas substituições das peças, os mecânicos fazem testes pra garantir que os veículos estão a funcionar corretamente.

Rauto Clinic| Fotografia: Catarina Seemann

Joaquim também exprimiu a sua amizade com a sua vizinha Luísa e reconhece que, quando a jovem brasileira chegou a Portugal, assumiu um papel de seu orientador e ombro amigo na sua nova jornada. 

A minha maneira de estar é receber bem os outros, ela é uma das que vem e eu só tenho que a receber bem e foi assim que aconteceu. Não sou o pai, nem o irmão, mas assumi um bocado esse papel quando ela precisou.

Joaquim Rodrigues

Raquel Pimentel, fisioterapeuta, de 8 a 80: um ginásio para manter

oito-80 Functional Fitness | Fotografia: Ricardo Garzón

Ao entrar na Rua Particular Justino Teixeira, uma rua pacata e preenchida por armazéns e uma vasta zona industrial, avista-se, ao fundo, um armazém com duas empresas lá situadas. O Oito-80 Funcional Fitness e uma empresa que presta serviços de transporte urgentes e personalizados, a Central Mensageiro.

Assim que lá se entra a luz do espaço, a sensação de estar ao ar livre (ainda que num armazém) e a ideia de poder trabalhar “nas entradas do coração da cidade” foi o que motivou Raquel Pimentel, de 31 anos, e o seu sócio a criarem o Oito-80 Funcional Fitness na Rua privada Justino Teixeira. 

Raquel licenciou-se em fisioterapia com uma pós-graduação em Cross Training na Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Porto, que agora é a Escola Superior de Saúde do Porto. A decisão de ingressar nesta área não foi difícil visto que sempre teve uma tendência para tudo que envolvesse o desporto e a forma física.

Souberam da disponibilidade do armazém com uma renda que rondava entre os 900€ e os 1200€ e decidiram arriscar. O espaço anteriormente situava-se na Rua do Falcão, também em Campanhã, mas a mudança este ano veio mostrar-se como um “feliz acaso”. 

Levaram consigo os seus clientes, que já são considerados família devido ao clima intimista e afável do espaço e dos que o frequentam. Havia a necessidade de mais ginásios de Cross Fit na zona de Campanhã e, por isso, recebem muitos agradecimentos de novos clientes pela iniciativa e aposta na zona. Neste momento contam com, aproximadamente, 60 clientes fixos. Sendo o mais novo um jovem de 15 anos e a mais velha uma senhora com 82 anos.

O principal objetivo do CrossFit é promover uma forma física geral e abrangente, que pretende a melhoria da resistência cardiovascular e respiratória, da força, da flexibilidade, da potência, da velocidade, da coordenação, da agilidade, do equilíbrio e da precisão. No CrossFit há treinos de alta intensidade, onde o objetivo é elevar a frequência cardíaca e promover adaptações físicas positivas, baseiam-se em circuitos e séries de exercícios num determinado tempo ou número de repetições. Variedade de exercícios como levantar peso, agastamento, flexões, saltos, corda, entre outros. Existe, também, treinos em grupo onde se enfatiza a importância em grupo e da construção de uma comunidade, os participantes treinam juntos e compartilham experiências, apoiam-se uns aos outros e festejam conquistas pessoas e coletivas. É importante destacar que o CrossFit é um treino intenso e desafiador.

oito-80 Functional Fitness | Fotografia: Ricardo Garzón

A Oito-80 Funcional Fitness tem apenas dois professores, um deles a Raquel, mas estes não deixam que o ginásio de Cross Fit fique aquém dos grandes ginásios industriais da cidade. O espaço conta com aulas privadas, treinos personalizados, pilates clínico, crosstraining e fisioterapia.

Quer seja para treinar ou para visitar, quem for a este espaço vai automaticamente criar uma grande empatia com o companheiro de quatro patas, o labrador de cor chocolate, Snatch. O cão com apenas dois meses mora no ginásio e tem, diariamente, o carinho dos clientes que chegam a ir meia hora mais cedo para poder dedicar tempo a brincar com Snatch e oferecer brinquedos e guloseimas, confidencia Raquel Pimentel.

Snatch | Fotografia: Margarida Marques

Raquel acredita que “Campanhã é o futuro” e tem havido muitas startups e alojamentos locais a instalaram-se por todo o local e a levar consigo as camadas mais novas que trazem vida à zona histórica

As obras não atrapalham o negócio e Raquel até espera que continuem a fazer melhorias por toda a zona para valorizar o local a nível de ambiente e a zona industrial de Campanhã. 

Os armazéns estão a ser reabilitados, o que é ótimo, vai-nos trazer outro ambiente para nós e oxalá que a rua fique da mesma forma, porque é uma zona industrial do coração do Porto que não há igual.

Raquel Pimentel

A partir daí as dúvidas ficaram esclarecidas. Para além da localização de sonho e do imenso espaço do armazém, fatores como a luz, os clientes que são família, o fiel companheiro Snatch e a paixão pela profissão são que tem tornado memorável o número 116 na Rua privada Justino Teixeira. Não só para Raquel mas para todos que ali passam.