Memória coletiva do 25 de abril: 50 anos, 5 gerações

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50 anos depois, 11 pessoas de 5 gerações contam como viveram, que recordações têm e o que sabem sobre o dia 25 de abril de 1974, em Portugal. São elas Josefina Vaz, 92 anos, Pedro Augusto, 76 anos, Joana Miranda, 67 anos, Laurentina Ferreira, 63 anos, Maria Helena, 59 anos, Benedita Bizarro, 47 anos, Beatriz Pereira, 25 anos, Rui Quental, 26 anos, Mónica Leite, 21 anos, Gustavo Sousa, 20 anos e Valentina Vieira, 8 anos.

[Francisca Pereira e Maria Bizarro]

Josefina Rosa Vaz

Josefina Rosa Vaz, 92 anos, reside no lar de idosos de São Martinho, no Porto, e pertence à geração que foi silenciada pela ditadura. A sua memória do 25 de abril de 1974 oferece uma visão singular do impacto da Revolução dos Cravos na vida quotidiana de uma mulher trabalhadora, empregada de armazém dos supermercados Invictos, na cidade do Porto, destacando tanto as esperanças quanto as incertezas que acompanharam a revolução.

“Eu sei que era um dia da semana, eu estava a trabalhar”, começa Josefina, a recordar-se do início do dia que mudaria Portugal. “Estávamos no armazém, em Justino Teixeira, e já tínhamos feito a parte de manhã, estava tudo calmo.”

Conta que, à medida que a tarde desse dia avançava, algo incomum aconteceu. “Lá para as 15h30, o encarregado disse para irmos para casa descansar. Não explicou muito, mas alguém ouviu as notícias. Havia uma revolta em Lisboa.” Josefina expressou o seu medo e incerteza à medida que as notícias se desenrolaram “Fiquei logo cheia de medo.”

Áudio: como Josefina reagiu aos eventos iniciais do dia do 25 de abril, descrevendo a sensação de incerteza que permeou aqueles dias na cidade do Porto
Fotografia de 1974 de Zacarias Gaspar em Lisboa com os colegas da PSP

Esperança e mudança

A televisão tornou-se uma janela para o que se passava na capital. “Víamos os soldados todos muito contentes”, recorda. Afirma que a revolução foi essencialmente em Lisboa e, apesar de o país ter sabido, “as pessoas fecharam-se em casa por não saberem o que estava a acontecer”.

Josefina relata uma cena emblemática que testemunhou na televisão: “uma senhora com um braçado de cravos que foi abordada por um soldado e que meteu um cravo na sua espingarda”, provocando uma onda de paz e união simbolizada pela música “Grândola, Vila Morena”. “Depois, viu-se aquela gente a ficar mais calma, tudo só… a cantar o Grândola Vila Morena.”

Josefina e Zacarias em 1974

Sobre as mudanças após a revolução, Josefina notou “aumentos significativos nos salários”, que transformaram a sua qualidade de vida e dos padrões de vida de muitos, como a compra de um carro. “Muita mudança. Eu só ganhava 30 escudos por mês, o meu marido ganhava 60. Depois da revolução, os patrões aumentaram logo para 3 contos, depois para 4, foi um aumento muito grande.”

Apesar das melhorias económicas, Josefina diz que a instabilidade no seu trabalho era evidente. Relata a influência transformadora da mobilização coletiva que levaram a mudanças na dinâmica do local de trabalho. “Começaram lá a fazer uma comissão de trabalhadores.” Na altura trabalhavam  mais de 300 pessoas que fizeram o que queriam, como sanear patrões, recorda-se Josefina.

Geração baby boomers

Pedro Augusto

Pedro Augusto, 76 anos, ex-militar, reside no mesmo lar de idosos que Josefina Rosa Vaz. É da geração baby boomers e partilha as suas memórias sobre o 25 de Abril de 1974.

Conta que, na época, morava em Angola, por causa do serviço militar, mas estava de férias em Portugal no dia da Revolução dos Cravos. Estava em Vila Nova de Gaia com um amigo e precisaram de ir ao Porto para que o seu amigo se encontrasse com um comandante.

Apesar do alvoroço em Lisboa, no Porto “a situação era tranquila”. “No dia 25 de Abril, aqui no Porto, não houve nada. Era um sossego. O 25 de Abril foi, digamos… Foi em Lisboa, porque foi o que eles chamam a revolta dos capitães.”

“Pedro explica que a revolta em Lisboa foi “sem derramamento de sangue e que os capitães atacaram a PIDE [Polícia Internacional e de Defesa do Estado], algo que considerou positivo.

Áudio: Pedro destaca a repressão exercida pela PIDE, exemplificando com a censura a livros, considerando-os “perigosos”, mas advoga que a maioria dos membros dessa polícia de repressão eram ignorantes.

Pedro confessa que a família tinha ligações a Marcelo Caetano, o político que sucedeu a António Oliveira Salazar, e que ficou surpreendido com os eventos de deposição do então chefe de governo. Defende Caetano como “um advogado de valor”, que foi preso e exilado para o Brasil.  “Foi um choque, porque… a minha família estava toda ligada ao Marcelo Caetano.” “Eles em Lisboa, prenderam-no, meteram-no num avião e mandaram-no para o Brasil.” 

Quanto às mudanças após a revolução, Pedro menciona “a melhoria das condições para os comunistas”, que antes eram enviados para a Ilha do Sal em Cabo Verde, uma situação que ele descreve como desumana: “Aquilo era horrível, era uma situação tremenda.”

“Ficamos sem dinheiro”

Joana Miranda
Joana Miranda em 1974

No dia 25 de abril de 1974, Joana Miranda, 67 anos, acordou com a música “E depois do adeus” de Paulo de Carvalho na rádio. A sua mãe informou-a sobre o golpe de estado que derrubou o governo de Salazar e as suas reações iniciais foram de incredulidade. “Aquilo para mim com 15 anos foi assim uma…, sei lá parecia que estava a ver um filme.” 

A reação da família foi intensa, a sua mãe chorou com a prisão de Marcelo Caetano e o seu pai, Aníbal Miranda, fugiu para o Brasil e depois para Vigo. Esta fuga afetou a vida de Joana, resultando em dificuldades financeiras para a família. “A minha vida só mudou, porque o meu pai foi embora, e ficamos sem dinheiro, ficamos com pouco dinheiro”.

Joana acredita ser crucial preservar a memória do 25 de Abril, comparando-o à importância de conhecer a história dos reis. Defende a comemoração contínua da data como forma de transmissão de conhecimento às gerações futuras e destaca a mudança significativa que trouxe à sociedade portuguesa.

Aúdio: Joana Miranda critica o antigo regime pelo controlo rigoroso sobre a vida dos cidadãos

Para Joana, o 25 de Abril significou uma transformação completa da sociedade portuguesa. Enfatiza a liberdade adquirida pelas mulheres, “que antes viviam sob controlo dos maridos”.

Afirma que a Revolução dos Cravos ainda tem relevância hoje, destacando a transição de uma ditadura para uma democracia e o envolvimento atual dos cidadãos na vida política. No entanto, nota que as gerações mais novas não valorizam tanto o evento, pois não viveram sob o regime autoritário. “Sabem aquilo que estudaram mas não viveram o 25 de abril, por isso não podem valorizar tanto.”

A memória de perguntar “o que são presos políticos”

Laurentina Ferreira, 63 anos, professora de História na Escola Secundária Clara de Resende há 40 anos, destaca as mudanças sociais que trouxe e a importância de recordar e ensinar o 25 de Abril para manter viva a memória nas gerações mais jovens.

Laurentina começa por descrever a revolução como “uma mudança radical que simboliza a liberdade e a libertação da opressão passada”, ilustrando como transformou as normas e liberdades sociais, incluindo o fim da guerra colonial. “É liberdade, é as pessoas muito contentes porque saíram daquela opressão em que se vivia.” “Foi o terminar, foi o dar a independência e a autonomia às colónias na qual a guerra colonial estava.”

Lembra-se vividamente da incerteza e a confusão em torno da revolução, detalha como a sua família navegou pelos acontecimentos inesperados e vivenciou as consequências das mudanças políticas. “Custou-me um bocado a perceber, eu tinha 13 anos na altura, portanto, não estava nada politizada.” 

Naquele dia saiu de casa normalmente sem saber de nada, pois não tinha o hábito de ligar o rádio ou a televisão, quando chegou à escola estava fechada e teve de voltar para casa logo de seguida. “A porta estava fechada e tinha um papel a dizer, atendendo a golpe de Estado, aconselha-se às alunas a dirigirem-se imediatamente para casa. “Não se sabia o que é que podia acontecer.” 

Conta que ficou com receio, visto que nem sabia o que era um golpe de estado e, por isso, não percebeu por que é que tinha de ir para casa imediatamente. Ao chegar a casa perguntou à sua mãe o que se passava e, apesar de lhe ter explicado que o regime tinha caído, continuavam sem perceber ao certo o que se passava. Lembra-se que “não aconteceu nada” e, no dia seguinte, a televisão só passava algumas músicas que nunca tinham ouvido antes. “Música a tocar. E aquilo horas e horas. As músicas de intervenção. Eram as do Fausto, eram as do António Corrêa de Oliveira. Era a Grândola, muita Grândola.” 

Revela que no dia seguinte a ver televisão com o seu vizinho ficou a ver os presos políticos a serem libertados.

Áudio: uma das suas maiores confusões daquele momento era a razão pela qual as pessoas estavam presas

Laurentina chegou a ir a algumas manifestações na Praça da República contra o Movimento das Forças Armadas (MFA) e apesar de não gostar de ir, quem não fosse ficava mal visto. “Detestava. Mas se eu não fosse era mal vista.” 

Em relação às mudanças sociais pós-revolução, destaca as mudanças no acesso a bens como leite condensado e iogurtes, melhorias nas condições de habitação e atitudes sociais em relação aos papéis e à educação das mulheres. “A quantidade de pessoas que vivia em casas sem quartos de banho. Havia muitas ilhas na cidade de Porto e sem condições nenhumas”, afirma. “Comia-se muito mal.” 

Além disso, refere a evolução das oportunidades para as mulheres no período pós-revolução, citando a melhoria do acesso ao emprego e à educação, tabus sociais, como a ajuda dos homens nas tarefas domésticas e as mudanças na dinâmica de género.

Áudio: A evolução das oportunidades para as mulheres no período pós-revolução do ponto de vista de Laurentina

Laurentina recorda, ainda, a necessidade de se preservar a memória da revolução para as gerações futuras, expressa preocupação com a diminuição do conhecimento entre os alunos, atribuindo-o a mudanças geracionais e à diminuição das experiências de primeira mão partilhadas pelos pais. “Cada vez se nota mais nos alunos, cada vez sabem menos sobre.”“Aqui há 20 anos, os pais eram fruto do 25 de Abril e, portanto, davam muita informação.”

Áudio: O papel crucial das instituições educacionais na transmissão de conhecimento histórico e na promoção de uma compreensão mais profunda do impacto da revolução

Geração X: “mais acesso a produtos culturais” e “a descoberta da liberdade de expressão

Maria Helena

Sobre o próprio dia 25 de abril, Maria Helena recorda-se com precisão desde o momento em que chegou à escola e foi mandada para casa e a sua interpretação, sendo uma criança na altura, do que estava a acontecer.

Áudio: Memória de Maria Helena do dia 25 de abril de 1974
Família Gaspar
Fotografia de 1974 de Maria Helena com os pais Josefina Rosa Vaz e Zacarias Gaspar

Maria Helena descreve o impacto que a liberdade teve para os portugueses logo após o 25 de abril, realçando a incerteza e insegurança que ainda pairavam sobre a sociedade.

Áudio: o impacto que a liberdade teve na vida dos portugueses do ponto de vista de Maria Helena

Maria Helena recorda-se das transformações culturais e sociais pós-revolução, incluindo melhorias nos padrões de vida, acesso a conteúdos culturais diversos e uma atmosfera de liberdade e expressão recém-descobertas. “Passou a haver Coca-Cola, por exemplo” e “aquela liberdade de se poder sair”. Especifica: “De não haver aquele medo que era isso que realmente durante aqueles anos todos da ditadura era, o medo constante de toda a gente. De estar a ser ouvido por alguém da PIDE. De não se poder dizer aquilo que se pensava. De não se poder escrever aquilo que se pensava.”

Refletindo sobre as mudanças pós-revolução nos meios de comunicação e na cultura, Maria Helena observou a expansão das ofertas culturais, o influxo de conteúdos diversos e a recém-descoberta liberdade de expressão em várias plataformas dos meios de comunicação. “Uma das grandes mudanças foi a nível da televisão”, afirma.

Na altura, os programas que passavam na televisão para além do noticiário era uma oferta muito limitada. “E a grande mudança que aconteceu, eu penso que foi logo no ano a seguir em 1975 que se estreou a primeira telenovela brasileira, que era a Gabriela, Cravo e Canela. E essa telenovela foi assim, tipo choque cultural. Porque toda a gente passou a ver todos os dias a Gabriela.”

Num tom confiante e expressivo Maria Helena concorda que depois do fim da censura  “tudo podia ser visto e ouvido” foi uma mudança muito grande em termos culturais. “No cinema também, os livros, havia imensos livros censurados e que a partir dali, tudo pôde ser editado e lido sem quaisquer restrições.”

Importância da Preservação da Memória da Revolução

Maria Helena expressa preocupação com a falta de compreensão abrangente entre as gerações mais jovens sobre o significado e os sacrifícios feitos durante a revolução e apela a um maior diálogo intergeracional e educação. “Os valores da Revolução dos Cravos são já um dado adquirido para quem nasceu depois do 25 de Abril, como é evidente. Portanto não sei se esta nova geração tem realmente compreensão do que é que era, do que é que significou o 25 de Abril e como é que era a vida antes.”

A sua análise é clara: “Acho que as gerações mais velhas não têm feito tudo o que podiam para transmitir os ideais da Revolução às gerações mais jovens.”

Por isso, Maria Helena ressalta a importância de preservar a memória da Revolução de 25 de Abril para as gerações futuras, enfatizando o papel das histórias pessoais e das experiências partilhadas na construção de uma narrativa histórica coletiva. “O importante é que as pessoas partilhem e contem estas coisas, porque a história é feita disso mesmo. Das memórias. Daquilo que cada pessoa passa.”

A importância de preservar a memória

Benedita Bizarro

Benedita Bizarro, de 47 anos, filha de Joana Miranda, conhece a revolução através das histórias dos pais, apesar destes serem novos durante o evento, destaca a transmissão intergeracional do conhecimento histórico. Reconhece a importância duradoura da revolução, mas nota um desvanecimento gradual do seu impacto histórico ao longo do tempo.

Áudio: O impacto e a relevância dos acontecimentos do 25 de abril nos dias de hoje para Benedita e a valorização dada pela geração X a este acontecimento histórico

Também manifesta preocupação pelo facto das gerações mais jovens poderem não apreciar o significado do 25 de Abril, contrastando-a com as contínuas celebrações observadas pela sua geração. Benedita destaca a importância de preservar a memória da revolução através de eventos culturais, cobertura mediática e educação escolar.

Para ela, o significado do 25 de abril resume-se a uma única palavra: “liberdade”. Lembra-se que o seu avô, Aníbal Miranda, pai de Joana Miranda, teve de fugir. “Lembro-me de ouvir falar que o meu avô teve que fugir para Espanha depois do 25 de abril.” Benedita sabe vagamente sobre essa história, pois foi contada pela sua mãe, Joana Miranda, que pouco acrescentou.

Geração Z: O diálogo intergeracional

Beatriz Pereira e Rui Quental

Beatriz Pereira, 25 anos, e Rui Quental, 26 anos, partilham as suas perspetivas como jovens adultos da geração Z sobre o 25 de abril de 1974.

Sobre o significado da Revolução Beatriz e Rui enfatizam o impacto revolucionário que marcou a transição da ditadura para a democracia e o alvorecer da liberdade em Portugal.

Ambos aprenderam sobre a revolução através de conversas familiares e aprendizagens escolares e destacam a importância do diálogo intergeracional e da educação na preservação da memória histórica.

Beatriz assinala a relevância contínua do impacto da revolução nas esferas política, económica e cultural que moldaram socialmente Portugal até aos dias de hoje.

Áudio: Beatriz aponta o impacto e a relevância dos acontecimentos do 25 de abril nos dias de hoje

Beatriz identifica os baby boomers e os millennials como grupos demográficos chave que valorizam o 25 de Abril pelas mudanças profundas que trouxeram às suas vidas. “O perfil demográfico que mais valoriza o 25 de abril é o que presenciou diretamente esse período”, concorda Rui.

Ao definir a sua geração em relação ao 25 de Abril, Beatriz afirma: “Acho que a minha geração valoriza o 25 de abril apesar de não ter presenciado diretamente.” 

Discutindo como a geração mais jovem pode contribuir para preservar a memória da revolução, Beatriz enfatiza a importância de divulgar informações sobre a era pré e pós-revolução para compreender e apreciar o significado dos acontecimentos de 25 de Abril.

Áudio: perspetiva de Rui sobre a contribuição da geração mais jovem para preservar a memória da revolução, reconhecendo a importância do papel dos media e da educação

Beatriz salienta também a importância do conteúdo personalizado nos media e nos sistemas educativos para transmitir eficazmente a importância histórica da Revolução às gerações mais jovens.

Mónica Leite

Também Mónica Leite, 21 anos, estudante de História, vê a revolução como um momento crucial que remodelou a trajetória de Portugal, melhorando o estatuto e os direitos dos seus cidadãos numa nova era de democracia e liberdade. “O 25 de Abril foi um movimento que mudou a trajetória do nosso país que mudou o nosso estatuto enquanto cidadãos e cidadãs”.

Também expressa preocupação com a falta de compreensão entre a geração mais jovem em relação aos valores e significado histórico da revolução. Aponta que tem observado uma tendência para ideologias de direita e destaca a importância de preservar as lições aprendidas nas lutas passadas pelos direitos fundamentais.

Mónica adquiriu conhecimento sobre a revolução através da escola e enfatiza o papel fundamental das instituições educacionais na formação da consciência histórica e dos valores sociais.

Destaca a importância de defender a democracia, melhorar os currículos educativos para aprofundar a compreensão e promover diálogos intergeracionais para transmitir as lições da revolução do 25 de Abril.

Vídeo: Mónica Leite de 21 anos, geração Z, explica de que forma se pode e deve preservar a memória da Revolução dos Cravos

Mónica defende que as reformas educativas apresentam uma narrativa histórica mais matizada, afastando-se de perspetivas ultrapassadas. “A escola forma crianças e formar futuros cidadãos.” Enfatizou a necessidade de os media promoverem o diálogo crítico e a reflexão sobre acontecimentos históricos à luz das mudanças políticas contemporâneas.“Acho que é importante começarmos por aí e começarmos a reavivar esta memória e não a trazer valores antigos que já não se colocam em cima da mesa.”

Gustavo Sousa

Gustavo Sousa, estudante de medicina, 20 anos, discute a importância do 25 de abril para a sua geração.

Gustavo começa a partilhar o que significa para si este dia:

Vídeo: Significado do 25 de abril para Gustavo

Gustavo reconhece a influência da sua família na aprendizagem sobre a revolução. “Foi principalmente através dos meus familiares. Sempre foi uma tradição bastante forte celebrarmos o 25 de Abril como o principal feriado lá em casa.” No entanto, nota a inadequação da educação escolar neste tema crucial.

Sobre a relevância contínua do 25 de Abril Gustavo salienta: “Acredito que sim, é bastante importante celebrarmos o 25 de Abril e as suas conquistas, principalmente numa sociedade que ainda é bastante desigual e que ainda vemos muitas tentativas de não cumprir com as promessas de abril”

Ao falar sobre a ligação entre os valores da revolução e as questões atuais, Gustavo destaca as disparidades na habitação, na saúde e  na representação legal, enfatizando que os direitos prometidos pela revolução ainda não foram plenamente concretizados.

Gustavo expressa preocupação quanto à falta de importância dada pelos jovens ao significado do 25 de Abril, particularmente à luz das tendências políticas recentes.

Sobre a preservação da memória da revolução, exorta a geração mais jovem a reconhecer as conquistas históricas, identificar os desafios existentes e educar as gerações futuras sobre a importância da revolução na formação da nossa história:

Vídeo: Gustavo Sousa sobre a preservação da memória da revolução

Também realça o papel crucial dos media e do sistema educacional na geração mais jovem, aponta lacunas na educação sobre a revolução, defende um estudo mais aprofundado dos acontecimentos do 25 de abril nas escolas e a amplificação das vozes através dos media “E também dar mais tempo de antena, se calhar, a programas educacionais sobre realmente o que é que aconteceu no 25 de Abril, testemunhos do 25 de Abril e etc.”

Geração Alfa: desenhar a revolução

Valentina Vieira, 8 anos, da geração alfa, explica a sua compreensão do 25 de Abril e fala sobre o desenho que fez especialmente para esta reportagem.

Valentina associa a revolução do 25 de abril a uma transmissão de rádio de uma música e guardas a marchar pela liberdade, refletindo a sua interpretação inocente do acontecimento histórico. “Sei que nesse dia deu uma música na rádio e os guardas começaram a marchar a terem a sua liberdade.”

Ao olhar para o desenho que fez, explica-o claramente orgulhosa do seu trabalho artístico.

Áudio: Valentina reconhece o significado do 25 de abril através do desenho

E recorda com entusiasmo a criação de um cartaz sobre a revolução do 25 de Abril na escola, que mostra o impacto das atividades educativas na sua perceção dos acontecimentos históricos.

Memórias partilhadas por pessoas de diferentes idades, sobre como esta data continua a influenciar as gerações de portugueses. Cada entrevistado, com a sua perspetiva única, reforça a importância de continuar a lembrar e celebrar o 25 de abril. Desde as memórias vividas de uma mulher de 92 anos, até à inocente interpretação de Valentina sobre liberdade e amor, vemos um fio condutor que atravessa todas as gerações: a valorização da liberdade, da democracia e dos direitos humanos. O 25 de abril é um legado que cada geração tem a responsabilidade de preservar e transmitir.

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