“Um produto biológico é natural, mas um produto natural pode não ser biológico”, a explicação de Mónica Mata
- Marta Bacelar
- 14/06/2021
- Inovação Saúde Sem categoria
[Maria João Leal Pereira e Marta Bacelar]
Mónica Mata é a fundadora do Quintal Bioshop, que existe desde 2006. Uma mercearia especializada em produtos orgânicos e biológicos, desde bens alimentares a produtos de uso doméstico ou pessoal.
Por influência da mãe, vegetariana desde os anos 80, Mónica e Carlos Mata, irmãos, decidiram abrir o próprio negócio nesta área. A sustentabilidade do mundo e a saúde da população são prioridades.
Como surgiu a ideia da abertura do estabelecimento?
Na verdade, não partiu só de mim. Foi uma ideia minha e do meu irmão. Sempre nos interessamos pelo mundo biológico e a grande “culpada” disto mesmo foi sem dúvida a minha mãe que nos educou tendo em vista sempre a sustentabilidade e a saúde. Curiosamente, a minha mãe nos anos 80 já era vegetariana. Pioneira nesta temática, numa altura em que existia pouca oferta de produtos.
Para além disto, eu e o meu irmão estamos ligados à área da saúde. Eu sou formada em Farmácia e o meu irmão em Desporto. Isto foi sem dúvida uma motivação extra para aquela que foi sempre a nossa vontade em abrir um negócio próprio nesta área do mundo biológico. Portanto, depois de alguma procura, encontramos, finalmente, esta loja numa zona que gostamos muito, Miguel Bombarda, e aventuramo-nos.
Tendo em conta os produtos cosméticos, a poluição dos oceanos foi um fator que tiveram em conta?
Também. Na altura não se falava muito dessas coisas. Claro que a parte dos cosméticos era muito importante porque não é só a alimentação, aliás, a maior parte dos químicos entram pela pele. Portanto é um cocktail que pomos todos os dias no nosso corpo e que é nocivo. Aliás a loja não é só cosmética e comida, temos também a parte dos produtos de higiene pessoal, dos detergentes.
Contudo, na altura em que abrimos o nosso estabelecimento, não existia muitas opções de produtos embalados sem plásticos. Isto é uma coisa mais ou menos recente. Estamos a falar de uma evolução muito rápida em várias questões que anteriormente não se colocavam. Claro que a questão ambiental era, obviamente, tida em conta, mas o número de marcas preocupadas com a eliminação do plástico era muito reduzido.
Em relação aos componentes dos cosméticos, qual é o critério pelo qual se regem na seleção de marcas?
Os cosméticos que vendemos são todos certificados. Alguns com certificação biológica, outros não, mas todos são naturais, ou seja, não têm químicos. Este é, sem dúvida, o nosso principal critério. Depois, obviamente, o preço. No mercado existem inúmeros preços e, por isso, tentamos não obter as gamas mais dispendiosas e, desta forma, não praticar preços muito elevados. Claro que temos produtos mais caros, mas temos como princípio que sejam acessíveis a toda a gente.
Qual é o produto mais vendido?
Neste momento são os shampoos sólidos. Tem sido um sucesso tendo em conta também as marcas portugueses que existem nestes produtos.
Enquanto frequentamos o espaço, percebemos que a visita de clientes estrangeiros é notória. Há maior afluência do que clientes portugueses?
Há 4/ 5 anos muitos estrangeiros começaram a fixar-se no Porto. Claro que com o início da pandemia, o número de estrangeiros diminuiu, mas antes deste marco tínhamos muito turistas. Contudo, há uma questão importante a salientar: os estrangeiros residentes.
Nos países de origem destes clientes, esta temática é muito comum. Há muitas lojas e, inclusive, marcas biológicas. Por isso, não é uma coisa tão estranha como para nós, aqui em Portugal, infelizmente é.
A propósito da pandemia, sentiram que houve maior procura nestes produtos uma vez que as pessoas começaram a ter mais cuidados com a saúde e, até mesmo, com o mundo?
Sentimos muito isso. Contrariamente a muitas áreas, o ano de 2020 foi o melhor ano de vendas da mercearia, exatamente por isso. Começaram a cozinhar mais em casa e a terem mais cuidado com a alimentação e com a saúde. Aponto, sem dúvida, uma mudança e, consequentemente, uma melhoria na mentalidade das pessoas… o que é muito benéfico!
No que diz respeito ao preço dos produtos, há uma ideia definida de que são muito caros e, por isso, as pessoas acabam por não comprar. Constata este facto?
Sim, tal e qual. Contudo, esta ideia está errada. Os produtos de perfumaria e farmácia são bastante mais caros tendo em conta o que temos aqui em loja.
Por exemplo, um shampoo sólido custa 9€. Mas equivale a 600 mililitros de um shampoo normal, ou seja, dura muito tempo. Por isso, acaba por não ficar tão caro como as pessoas podem pensar.
No nosso estabelecimento temos cremes de diversos preços. Variam entre os 10 e 40€, mas não é estranho nem chocante tendo em conta uma perfumaria ou uma farmácia. São preços absolutamente normais.
Qual é a diferença entre um produto biológico e natural?
Um produto biológico é natural, mas um produto natural pode não ser biológico. A grande diferença recai sobre a percentagem, ou seja, um produto para adquirir o selo bio, tem que conter pelo menos 70% de produtos biológicos.
As plantas utilizadas em determinado produto são de agricultura biológica, agora podem não ser todas. Então, é isto que vai ditar a existência de certificação no produto.