“Não vale a pena usar todos estes elementos como fogos de artifício”, destaca a jornalista Catarina Santos na conferência Jornalismo Frankenstein
- Raquel Souza
- 04/05/2023
- #jornalismofrankenstein
A oitava edição do evento foi marcada pelas temáticas da Inteligência Artificial, do uso consciente das ferramentas multimédia para o storytelling e do resgate de memórias. Destacou-se também a necessidade da participação ativa das audiências e a forma como estas novas funcionalidades estão a impactar as narrativas tradicionais.
[Texto: Inês Pinheiro e Raquel Souza]
Para a editora e coordenadora da equipa de multimédia do jornal Observador, Catarina Santos, trabalhar as narrativas híbridas, no jornalismo, pressupõe a escolha adequada das linguagens multimédia. “Não vale a pena usar todos estes elementos como fogos de artifício”, afirmou na VIII edição do Jornalismo Frankenstein (JF), no contexto da apresentação da reportagem multimédia Andriivka. Segundo a jornalista do Observador, a qual apresentou o trabalho com a equipa que assina o trabalho, presente por videochamada, há cada vez mais ferramentas digitais disponíveis aos profissionais de comunicação, mas estas ferramentas emergentes têm que ser utilizadas a favor da história para criar um artigo “mais rico”, numa chamada de atenção ao exagero que, por vezes, sobrecarrega os trabalhos digitais

Este ano, a conferência organizada pelos estudantes finalistas da Licenciatura em Ciências da Comunicação, ramo de Jornalismo, no âmbito da unidade curricular de Transmedia e Narrativas Híbridas, lecionada pela Professora Vanessa Rodrigues, dedicou-se ao tema “Jornalismo e storytelling: os lugares da experiência, trazendo à Universidade Lusófona – centro universitário do Porto, vários profissionais e investigadores de narrativas digitais.
Patrícia Nogueira, professora universitária e investigadora na Universidade da Beira Interior (UBI), referiu-se às potencialidades das novas ferramentas multimédia, ao progresso da abordagem dos media às questões sociais, em que se debruça o jornalismo, e à evolução do consumo noticioso.
Ao apresentar o conceito de documentário interativo e as diferenças entre o trabalho documental no jornalismo e no cinema, a também documentarista afirma que “ou os órgãos de comunicação se adaptam [às mudanças no consumo noticioso] ou vão ter um problema”.

Por sua vez, as fundadoras do Estúdio CRUA, Marina Thomé e Márcia Mansur, destacaram como utilizar as narrativas transmedia para contar histórias e gerar participação comunitária. Apresentando o seu primeiro projeto “O Som dos Sinos” e os seus workshops, as cineastas sublinham a necessidade de pensar nos espaços, nas pessoas e nas conexões para além dos mapas e artigos feitos de forma objetiva – criando “cartografias da memória”.
Já na sessão da tarde, o professor universitário e mentor do projeto Museu do Resgate, Daniel Brandão, assinalou a importância da preservação de memórias e do potencial patrimonial dos conteúdos amadores. Isto porque, segundo o professor universitário, “os cidadãos acabam por quase sempre serem excluídos”, já que os telemóveis vieram alterar a forma como se fazem registos documentais. Nessa linha, o investigador integrado do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade e colaborador do Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura, o ID+, destacou que “é muito importante devolver os resultados dos trabalhos à comunidade, mostrando-os”.

Daniel Catalão, jornalista da RTP, apresentou os prós e contras do uso da Inteligência Artificial (I.A) para o jornalismo. O também professor universitário salienta que, com o seu rápido desenvolvimento, “a sobrevivência ou o suicídio do jornalismo reside na capacidade que vai ter a resistir à ânsia de publicar antes de verificar”.
Catalão enfatiza, ainda, que mesmo que a I.A. seja utilizada como inspiração e para auxiliar em trabalhos repetitivos, nunca substituirá a criatividade humana, isso porque “sentir o cheiro da notícia ainda não está ao alcance da inteligência artificial”.
Andreia Peres e Marcelo Bauer, ex-jornalistas e fundadores da agência de comunicação Cross Content, refletiram sobre como conciliar as práticas do jornalismo com o conceito de crossmedia na sua empresa, focando-se numa comunicação que vai além dos propósitos do marketing e pode servir como incentivo à transformação. Eles explicaram como os projetos interativos comunitários que desenvolvem no contexto brasileiro têm servido como instrumento de pressão política e social para a população. “O jornalismo é a arte de se importar com o outro e poder o transformar.”