“Nós aprendemos a escrever e a ler com palavras, mas nunca aprendemos a escrever nem a ler com imagens” Patrícia Nogueira
[Catarina Almeida e Inês Diana Silva]
Patrícia Nogueira é Professora Auxiliar de Cinema na Universidade da Beira Interior e investigadora integrada no LabCom. Esteve na Universidade Lusófona para nos falar de cinema, de narrativas contadas através do grande ecrã, mas, acima de tudo, como é que se chega a elas. Afirma que o jornalismo e o cinema partilham coisas em comum e destaca a importância de narrativas visuais na comunicação.
#infomedia: Qual é a importância de perceber e interpretar conteúdos cinematográficos na atualidade?
Resposta: Essa pergunta é muito pertinente, eu acho super importante porque cada vez mais nós comunicamos através de imagens e sobretudo imagens em movimento. A vossa geração e as gerações futuras já quase não escrevem mensagens de texto sequer, enviam mensagens de voz ou enviam imagens em movimento e fazem vídeos do TikTok, etc. Portanto, eu acho que é fundamental nós fazermos uma educação para as imagens e as próximas gerações compreenderem como é que as imagens comunicam para poderem ter uma informação e uma formação completa. Nós aprendemos a escrever e a ler com palavras, mas nunca aprendemos a escrever nem a ler com imagens. Eu acho que esse é o próximo passo.
#infomedia: Quais as skills são mais valorizados atualmente na produção de cinema?
Resposta: O cinema é uma área muito vasta, nós não podemos pensar nela só como tendo apenas uma competência única, porque vai desde o documental à ficção e existe toda uma panóplia de formatos intermédios e híbridos, nomeadamente hoje em dia é muito mais comum até fazermos uma combinação e trabalharmos na fronteira entre estas duas abordagens, do real e do imaginário e da ficção.
Não existe uma competência única, acho que existem diversas competências, mas para além da competência técnica existem competências artísticas, de imaginação e de tentar pensar como é que o espectador vai interpretar, mas também deixar-lhe algum espaço para essa interpretação.
Mas eu penso que é sobretudo também, e também porque eu sou da área do documentário, portanto para mim é muito importante, eu acho que têm de existir competências éticas, eu acho que a ética deve estar muito associada à forma como nós comunicamos, não só no cinema, mas em todas as áreas e também na vida, obviamente.
#infomedia: Vagas de Cinema, como uma Nouvelle Vague, nos anos 60, trazem uma nova perspetiva na caracterização da mulher, como é que ela é exibida atualmente nos grandes ecrãs?
Resposta: Bom, eu acho que nós fizemos um percurso interessante nas questões da representação da mulher e não só, nós hoje em dia pensamos até muito mais em termos de interseccionalidade, da representação de diversas minorias ou da forma como cada um de nós tem a sua individualidade para além de ser mulher: sou também europeia, tenho também um contexto económico-social.
Portanto tudo isso faz parte de quem eu sou, e acho que nós evoluímos muito desde os anos 60 e depois os anos 70 na forma como pensamos, mas acho que é uma discussão que ainda está a começar a ser feita, acho que ainda temos um longo caminho a percorrer.
Se por um lado cada vez mais existe uma preocupação com a forma como a mulher é representada… e estava a falar há pouco das questões éticas e eu acho que isso não se aplica só ao documentário, aplica-se também à ficção, e existem hoje em dia festivais de cinema, espaço para… e fala-se sobre o papel da mulher tanto à frente como atrás da câmara, mas por outro lado continua a existir um longo caminho a percorrer, porque acho que nós estamos a começar a identificar o problema, agora falta tomar medidas para mudar e começarmos a ter representações diferentes e alternativas daquelas que temos tido até agora.