O Entretenimento que Informa ou a Informação que Entretém
- Rita Almeida
- 26/04/2022
- #jornalismofrankenstein Agenda e Lazer
Informação ou entretenimento? Entretenimento ou informação? Vivemos em constante dúvida no que diz respeito a este debate. Será agora o ponto final?
In-fo-te-ni-men-to O infotenimento resulta da junção de entretenimento com informação. É a informação apresentada de forma divertida, bem-humorada e prazerosa, permitindo que determinado conteúdo seja apresentado e assimilado de forma simples, rápida e humana. |
Contextualização Global
Vivemos num mundo globalizado e, como tal, somos cidadãos do mundo. Se antigamente apenas tínhamos acesso a notícias acerca daquilo que nos rodeia, hoje é possível saber, ao minuto, o que se passa em qualquer parte do globo. O aparecimento da internet e, consequentemente, das redes sociais, permitiu encurtar distâncias e globalizar o conhecimento. Isto levou ao surgimento de novos conceitos, entre os quais o infotenimento.
[Texto de Rita Almeida e Mariana Azevedo]
Novos e velhos Jornais
Desde o surgimento da World Wide Web, em 1995, que a internet tem vindo a modificar a forma como o mundo se “move”. Características como a disseminação e distribuição instantânea da informação fizeram com que esta se destacasse dos demais media. Num artigo de 2001 intitulado “Jornalismo online: dos sites noticiosos aos portais locais”, Suzana Barbosa afirma que a rádio precisou de 38 anos para conseguir uma audiência global; a televisão aberta 16 anos; a televisão por cabo, 10. Já a internet, em apenas cinco anos, chegou a milhões de pessoas.
Nesta nova realidade, a procura por informação, tanto ao nível de notícias como de pesquisa, passou a ser a principal razão pela qual as pessoas acedem à rede. Aqui, forma-se uma nova espécie de jornalismo: o jornalismo online ou ciberjornalismo, que vem redefinir aspetos como a produção, redação, edição e publicação de notícias, assim como de circulação, audiências e a relação que estas criam com as plataformas.
O fim dos limites de espaço e tempo provocou mudanças estruturais no jornalismo. Surgem os hipertextos e os links, como elementos inovadores da escrita digital. A relação entre jornalistas e audiências passa a ser possível de forma mais eficaz e imediata.
Este novo formato pressupõe também que novas características sejam adicionadas ao jornalismo: a interatividade, a hipertextualidade, a multimidialidade, a personalização do conteúdo, a possibilidade de formação de comunidades e a contribuição para a criação de uma memória coletiva.
A interatividade relaciona-se com a forma como os próprios conteúdos interagem entre si – a um texto passamos a poder adicionar links que remetem a reportagens anteriores e que ajudam a entender o tema abordado – e também à maior possibilidade de interferência do leitor no conteúdo – e-mail, mensagem direta ao jornalista responsável pela notícia, e até mesmo opções como “comente esta publicação”. O leitor passa a poder participar de forma ativa, interferindo no conteúdo e comentando diretamente na produção da informação.
A multimidialidade é a convergência de formatos de mídias tradicionais, tais como, texto, imagem e áudio. Este torna-se o único media que combina estes três elementos.
A possibilidade de formação de comunidades potenciou o surgimento de muitos jornais e revistas independentes exclusivamente online. Os temas abordados vão desde temas atuais até mexericos e lifestyle. O Watford Observer é um exemplo de jornal online que se preocupa com a constante atualização das notícias globais. O jornal inglês tem uma particularidade que o caracteriza: a tentativa de se assemelhar a um jornal físico, já possui um separador para classificados, assim como outro para jogos.
O Telex é um jornal online húngaro do mesmo género. Purepeople é um site sobre celebridades criado em França. Este trata assuntos relacionados com cinema, música, realeza, moda e beleza tanto nacionais como internacionais. A sua escala mundial potencializou versões em países como a Rússia e o Brasil.
Outra potencialidade deste tipo de jornalismo é a seleção da quantidade de informação que queremos consumir. Enquanto que com um jornal físico o acesso a notícias fica limitada apenas àquelas que se encontram na presente edição, levando a que, para termos acesso a mais comprássemos um outro jornal, com a internet surge a possibilidade de consumir em massa e ao minuto.
Atualmente todos os jornais com maior destaque migraram para a rede. Inicialmente, utilizavam os textos redigidos nas edições impressas para serem publicados numa versão online, mas este novo meio necessitava que fossem adotados novos processos para que os sites fossem visualizados. Assim, precisavam de oferecer outro tipo de conteúdos e novas formas de chamar a atenção do público, como a atualização ao minuto das notícias e também de títulos clickbait. O design da plataforma, a atribuição por secções o layout do site influenciaram os hábitos de leitura e a forma como as notícias são consumidas. Esta realidade conjugada com a popularidade das redes sociais modificou os padrões de design gráfico, ilustrações, tipografia, posicionamento e as possibilidades do público aceder, compartilhar e recomendar as notícias. O investimento em redes sociais significou um crescimento da audiência para o jornalismo de mesa.
Jornais como o The New York Times, ESPN e Sports Illustrated começaram a recorrer a atributos visuais, recursos de multimídia e a layouts inovadores, o que contribuiu para um reconhecimento da marca num mercado cada vez mais competitivo. Essas histórias incentivam o leitor a partilhá-las nas suas redes.
Na internet podemos encontrar o Süddeutsche Zeitungo, o maior jornal diário da Alemanha, o Nemzeti Sport, um jornal desportivo húngaro e o Timor Post, um jornal de Timor Leste.
Broadsheet vs. Tabloides
BroadSheet Jornal padrão que analisa seriamente as principais notícias. Usa mais factos que emoções, frases mais longas e com linguagem simples e clara para descrever grandes acontecimentos nacionais e internacionais. Focam a sua ação em hard news, verificando os factos e fazendo uma pesquisa baseada na forma como a história se desenrola. Atrai um público mais interessado por temas globais. Tabloides Um jornal mais pequeno que se concentra em conteúdos menos sérios, especialmente celebridades, desporto e histórias sensacionalistas. Mistura factos com emoções, utiliza frases curtas com linguagem tendenciosa e emocional. Combina histórias enquanto se foca em pessoas famosas, vidas privadas e escândalos. Apresentam em média artigos menos detalhados e muitas vezes influenciados pelo apelo demográfico e participação do público. Os leitores deste tipo de conteúdos são em média mais jovens e menos instruídos. |
Os primeiros registos do género tabloide datam do século XIX, com publicações experimentais, que tinham como objetivo apelar aos gostos da população. Deste modo, tornou-se necessária a distinção entre imprensa de qualidade e imprensa popular, em que a primeira se associou ao termo broadsheet e a segunda ao termo tabloide.
No século XX, o termo tabloide começou a ganhar destaque e passou a abranger os media comerciais no geral. A imprensa tabloide tornou-se cada vez mais especializada em conectar reportagens sobre produtos de consumo à economia e mexericos de celebridades à cultura popular.
Já no século XXI, os jornais sofreram mudanças. As folhas largas passaram a edições compactas e mais atraentes visualmente, apresentando menos histórias com menos palavras, e, por conseguinte, mais fotografias. O entretenimento ganhou destaque, superando até mesmo a prestação de informação – as relações íntimas das celebridades, do mundo do desporto ou da família real têm mais valor noticioso do que uma reportagem que aborda questões significativas e eventos de repercussão internacional.
De acordo com David Rowe, na obra “Obituary for the newspaper? Tracking the tabloid”, de 2011, a popularização do “infotenimento” nos meios de comunicação e a crescente simplificação e espetacularização das notícias levaram estudiosos a diagnosticar uma tabloidização generalizada dos jornais contemporâneos. Nos tabloides o entretenimento tem uma preponderância maior, mas esta constatação não precisa ser negativa. A inclusão do entretenimento na informação potenciou que as preocupações quotidianas dos leitores fossem incluídas.
O aumento do interesse pela vida das celebridades e por notícias sociais ligadas à cultura popular contribuíram para quebrar fronteiras de credibilidade entre meios de comunicação tradicionais e medias digitais. Este facto conjugado com a diminuição da compra de jornais, criou a expectativa de que os jornais online e gratuitos preencheriam esse “buraco”.
A Intervenção das Redes Sociais
Existem várias formas de utilizar o infotenimento na internet, conjugando conteúdo que informe e que entretenha.
As redes sociais são marcadas por este tipo de conteúdo, sendo que um dos formatos que potencializa o entretenimento é o seu fator audiovisual. Existem várias plataformas onde o infotenimento pode ter o seu espaço, como é o caso do Youtube, Facebook, Instagram, Tik Tok e até mesmo o Twitter.
O Youtube é uma plataforma que permite inovar de diversas formas. Ao se criar um canal, é possível publicar conteúdos regulares, onde a edição de imagem se alia à comunicação. Muitos canais de televisão, como é o caso do National Broadcasting Company (NBC), uma rede de televisão e rádio comercial americana, publicam os conteúdos já transmitidos nesta plataforma. Os Talk Shows são frequentemente partilhados, permitindo ao espectador rever e analisar o conteúdo do programa as vezes que quiser. Esta estratégia ajuda a aumentar o alcance do canal a outros tipos de públicos.
A rede social Instagram, contribui para a permanência do infotenimento nas redes. Os storys e os IGTVs permitem apresentar conteúdos mais informais e imediatos, como por exemplo do Canal 5 Notícias (C5N), um canal de televisão argentino, ou o Good Television (GVTV), um canal filipino, que utilizam esta ferramenta para direcionar os espectadores para assuntos abordados anteriormente, ou até mesmo para introduzir novos mais dinâmicos e engraçados.
A recente popularidade do Tik Tok, uma plataforma voltada para vídeos curtos e descontraídos, fez com que canais como a CNN e a Record News aderissem ao movimento e começassem a partilhar vídeos curtos e informativos.
Contextualização Nacional
Em Portugal, ainda há uma linha ténue entre jornalismo e entretenimento que muitas vezes é transposta. Com o crescimento do ciberjornalismo e da utilização das redes sociais, a ética e os valores jornalísticos têm sido postos em causa porque as fronteiras estão ainda mais esbatidas.
[Texto de Inês Santos e Gonçalo Azevedo]
A principal missão do jornalismo é informar e promover opinião pública sobre os diversos acontecimentos de forma factual e sob o princípio da verdade. Já o entretenimento tem como objetivo estimular a imaginação, explorar a ficção e divertir os espetadores.
A transformação de conteúdos mediáticos em formas diversificadas de apresentar a notícia permitiu a combinação entre informação e entretenimento, apelidada de “infotainment”. Este conceito veio colocar em causa a ideologia de que a prática jornalística é objetiva e deve ser caracterizada pela razão e emoção, tal como.
Embora tenda a existir a ideia que, nos talk-shows nacionais, não existe qualquer barreira entre informação e entretenimento, a questão é que nem sempre esta fusão está presente, pois há momentos exclusivos para diversão e outros destinados à informação como notícias sobre crimes, denúncias de violência, entre outros.
Por vezes, os assuntos mais sérios que são tratados em programas de entretenimento são também abordados por programas de natureza informativa como os telejornais. Um exemplo disso foi a notícia de um assalto a uma relojoaria no Centro Comercial das Amoreiras, em 2017. Conforme podemos ler no relatório de estágio “O crime na informação e no entretenimento da TVI: Estudo de caso da “Crónica Criminal” do Você na TV” da autoria Joana Pacheco,tanto a crónica criminal, segmento do programa Você na TV, como o Jornal da Uma, iniciaram a sua programação com esta notícia. Embora pertençam a panoramas televisivos distintos, a notícia foi dada de forma quase idêntica pelos jornalistas dos dois programas. O discurso foi semelhante e ambos fizeram cobertura do acontecimento com um direto no local.
Ao longo dos anos, os programas de entretenimento foram ganhando mais espaço nas programações dos canais televisivos, desde reality shows a talk shows, alcançando grande fatia das audiências. O período de pandemia por Covid-19 alterou a perspetiva que os espetadores tinham sobre os programas informativos, tendo informação alcançado mais peso do que os programas de entretenimento. De acordo com o relatório “Reuters Digital News Report 2020 Portugal”, durante a pandemia as audiências televisivas portuguesas focaram-se exclusivamente na informação e em programas como a telescola. Por sua vez, o entretenimento ficou condicionado e, com a impossibilidade de ser produzido durante este período, ficou estagnado.
Atualmente, programas que seriam única e exclusivamente informativos começaram a adquirir elementos de cariz mais didático. Um exemplo disso é o programa “Esta Manhã” da TVI, onde há uma maior inovação na transmissão da informação e onde a linguagem é mais corrente do que aquela que é utilizada pelos telejornais. Este programa da manhã divulga os assuntos mais importantes do dia, de forma a transmitir essa informação ao público. Tem uma função muito semelhante à do Jornal da Uma, dado que elege os assuntos com mais destaque e os dá a conhecer ao espectador. Os programas “Eixo do Mal” e “Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer” da SIC Notícias, abordam exclusivamente temas relacionados com política e, através de uma linguagem menos coloquial e da sátira, chamam a atenção do espectador e, ao mesmo tempo, informam-no dessa mesma atualidade. Os canais televisivos recorrem também ao humor para informar os telespectadores, onde através de um caráter mais humorístico são abordados os principais temas da atualidade mundial. O programa “Isto é Gozar com Quem Trabalha” da SIC, é um exemplo deste panorama de infotainment, pois o apresentador através de uma linguagem menos formal e com um tom satírico capta a atenção do espectador e faz com que este se sinta atraído por conteúdos habitualmente ignorados, nomeadamente a política. |
Ciberjornalismo
Com o aparecimento dos computadores e da world wide web nas redações, o ciberjornalismo nasceu e começou a ganhar espaço, ainda que timidamente, nos anos 90 do século XX. Desde então, e com a cultura da convergência, surgiram também campos híbridos como os conteúdos patrocinados, como o Observador Lab, Estúdio P, Visão Brand Studio, entre outros. Tais conteúdos colocam em causa a ética dos jornalistas, visto que o formato se confunde com os géneros jornalísticos, embora sejam para promover marcas e utilizados como estratégia de publicidade..
Plataformas digitais como o Twitter e o Facebook originaram várias alterações nas práticas tradicionais dos jornalistas, como também na divulgação de informação. Estas trouxeram novos modelos de consumo informativo a pessoas que não têm a necessidade e a possibilidade de esperar pela hora dos telejornais para ter acesso à informação, o que causou um abandono deste meio de disseminação.
Nos websites dos jornais a ética jornalística volta a ser posta em causa. Quando o leitor abre a página online de um jornal, muitas vezes é bombardeado com pop-ups publicitários. Exemplos disso são o site do Jornal de Notícias, que quando aberto surge uma publicidade às Noites da Queima das Fitas do Porto e o site do Correio da Manhã em que toda a página desaparece para dar lugar a um anúncio de comida.
Ao longo dos artigos de diversos websites nacionais, durante o scroll down é visível uma constante publicidade de marcas não relacionadas com o jornal ou com a notícia em si. O mesmo acontece com os hiperlinks existentes no corpo de texto das notícias. Quando o internauta faz clique sobre os mesmos, é redirecionado para uma outra página muitas vezes repleta de publicidade na zona envolvente.
Em 2020 deu entrada na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) uma participação relativamente a um artigo do jornal Público, onde alegadamente estaria a ser feita publicidade a um banco. A notícia intitulada “Saldos de taxas de juro? O Santander está a fazer” foi, após deliberação, considerada uma publi-reportagem por conter diversos elementos que ponham em causa a separação entre publicidade e informação. Foi decretado ao jornal o pagamento de uma coima, devido à violação da Lei de Imprensa, que proíbe a divulgação de publicidade sem indicação da mesma.
Para o investigador e ex-jornalista Hélder Bastos, os ciberjornalistas portugueses não estão totalmente comprometidos com o papel tradicional do jornalista, dado que a seu cargo estão funções que limitam o seu papel enquanto jornalistas, tais como o reforço da credibilidade da informação que foi produzida e a organização de informação.
Uma das características do ciberjornalismo assenta no imediatismo da informação, isto é, há uma urgência para que a informação seja veiculada 24 horas durante 7 dias por semana. Após a publicação no website do jornal ela é veiculada para os outros meios mais tradicionais, como os jornais impressos. Esta constante velocidade com que os jornais partilham uma notícia, para serem os primeiros, resulta, por vezes, numa fraca busca pela verificação das fontes, assim como numa fraca pesquisa sobre exato acontecimento. Esta mesma necessidade de informação faz com que muitas vezes os jornalistas recorram a redes sociais, o que potencia a divulgação de notícias não verificadas. Este tipo de casos é recorrente no jornalismo desportivo online, dado que o tipo de temáticas abordadas, especialmente o futebol, é muito baseado em rumores e de informações não confirmadas oficialmente.
Francisco Amaral Santos no seu relatório de estágio “Jornalismo e Redes Sociais – O caso do jornal Record”, constata diversas situações onde os jornalistas se basearam em determinadas ações dos jogadores em redes sociais para criarem uma notícia. Um exemplo disso remonta a julho de 2015, onde o jornal noticiou o facto do jogador Alexandre Lacazette, atleta do Lyon à data, ter seguido a conta de Twitter do Barcelona, criando assim o rumor que este estaria na iminência de rumar ao clube espanhol. Perante a análise de Francisco Amaral Santos, este caso não é exclusivo e as redes sociais dos futebolistas são constantemente vigiadas, na tentativa de que novos factos sejam encontrados para que uma nova especulação seja criada, mesmo não sendo verdadeira.
Por vezes, as plataformas digitais são utilizadas pelos jornais online como fontes para o início de uma investigação sobre o assunto. Um exemplo deste tipo de cenário é o Jornal de Notícias. Na Dissertação de Mestrado “A ética no jornalismo online”, Daniel Lima indica que compreendemos que o jornal recorreu a este tipo de fontes. Remontando ao tempo de estágio que fez no jornal, Daniel revela que o jornal utilizava blogues e redes sociais para se informarem sobre a atualidade. Estes meios, porém, não eram citados como fontes e eram utilizados apenas como fonte de informação para o início de uma pesquisa, o que assegura que não incorrem no erro de transmitir informação falsa aos leitores.
Jornalistas e as Redes Sociais
Os avanços tecnológicos, especialmente as redes sociais, permitiram que houvesse uma maior aproximação entre jornalistas e espetadores. A exposição a que os profissionais estão sujeitos, durante a utilização destas plataformas, nem sempre delimita a fronteira que existe entre o profissional de jornalismo e o cidadão comum.
Esta oposição existente entre a vida pessoal e profissional pode colocar em causa o cumprimento da ética e valores que pertencem à profissão, devido à partilha de opiniões sobre determinados assuntos e também à partilha de conteúdos que se revelem mais de foro pessoal ou publicitário.
Num inquérito realizado em 2015, pela investigadora Cátia Mateus, a um universo de 300 jornalistas espalhados por 76 órgãos de comunicação social nacionais, concluiu que 91,3% dos jornalistas inquiridos eram utilizadores das redes sociais. Dessa mesma amostra, a maioria (81%) utiliza as plataformas com um cariz tanto pessoal, como profissional; 82,4% faz uso das redes sociais tendo como principal propósito aceder a informação; 52,5% para entrar em contacto com as fontes; 48,5% para partilhar e 43,4% para visualizar conteúdos. Concluiu ainda que 56,9% dos inquiridos apoiam – através de like ou partilha – movimentos sociais, religiosos, políticos ou culturais. Nessa mesma diretriz, 43,4% afirma ter o hábito de partilhar conteúdos e/ou comentários opinativos de cariz político, pondo em causa a responsabilidade ética de imparcialidade.
Os pivôs dos canais televisivos são, na maioria, aqueles que possuem um maior destaque perante o público, dada a sua relação de proximidade com o mesmo. Esta relação é, muitas vezes, transposta do ecrã para a vida real o que leva os jornalistas a fazer uma partilha ativa da sua vida nas redes sociais. Após uma pesquisa na rede social Instagram dos vários pivôs nacionais, constata-se que dois jornalistas do canal SIC possuem um grande número de seguidores e ambos têm a conta verificada na aplicação.
A jornalista Clara de Sousa, pivô do Jornal da Noite, utiliza a sua conta para fazer a partilha de momentos pessoais, tais como a ida à praia com os animais de estimação ou várias imagens de férias, e profissionais, como fotografias no estúdio de gravação. Nesta conta a jornalista tem mais de 200 mil seguidores. Para além desta, a pivô possui outra conta de receitas e bricolage, onde conta com mais de 121 mil seguidores. O jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho conta com mais de 350 mil seguidores, onde partilha diversos momentos da sua vida profissional, bem como da sua vida pessoal, tais como fotografias dos seus animais de estimação e da sua companheira. Esta relação que existe entre os espetadores e os jornalistas fora dos ecrãs, através da partilha de momentos pessoais, também põe em causa a ética e distanciamento a que o jornalista está sujeito na sua profissão, uma vez que a opinião e a subjetividade estão, muitas vezes, à distância de um clique.
Em 2019, o jornal Expresso divulgou uma nova atualização ao Código de Conduta dos seus jornalistas, tendo em voga a utilização que estes fazem das redes sociais. Esta atualização teve como principal objetivo esclarecer qual o tipo de papel e de discurso que os jornalistas desse jornal devem ter perante estas plataformas. Alguns dos novos ajustes são a não separação de um perfil pessoal de um profissional, tendo sempre em conta a ética e valores da profissão; refletir antes de partilhar uma publicação, pois pode apresentar um cariz opinativo; o apoio do Expresso ao jornalista na ação de bloquear quem o ofenda ou ameace.
Rita Almeida, 21 anos, natural de Vale de Cambra. O gosto por comunicar e querer sempre saber mais surgiu muito cedo, definindo CC como carreira a seguir. Atualmente no terceiro ano do curso, na Universidade Lusófona do Porto, sou, também, colaboradora na editoria “Geração Z” na plataforma #infomedia.