O lado mais obscuro da Igreja Católica: abusos sexuais e pedofilia afetam na crença da religião.

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O lado mais obscuro da Igreja Católica: abusos sexuais e pedofilia afetam na crença da religião.

O silêncio começa a ser mistificado.

         Inquietante. Intimidante. Alarmante. Incómodo.

            São estas como podiam ser outras palavras mais que podemos usar para descrever a situação que está a acontecer no seio da Igreja Católica.

            Após várias décadas passadas, as vítimas de abusos sexuais por parte de elementos da Igreja Católica que não se fizeram ouvir, ganharam coragem para revelar os episódios de violência que sentiram na pele. O surgimento dos mesmos ocorreu em maior escala nas últimas décadas muito por culpa da pressão que se fazia sentir por parte dos media. O Clero é um dos fatores que se veio a confirmar, pois recorrem ao poder para ter um maior controlo sobre a Igreja Católica. Muitos dos casos ocultos, mas nunca esquecidos, deixam várias marcas no quotidiano das vítimas.

Os principais casos que atormentaram o Mundo

  • Foi no ano de 2002 que as denúncias dos casos surgiram em maior número, principalmente nos Estados Unidos da América. De acordo com o jornal The Boston Globe este divulgou uma série de artigos, revelando que o cardeal Bernard Law não teve o comportamento mais adequado perante os sacerdotes que tinham praticado e consequentemente denunciados por abusos sexuais, limitando-se a transferi-los de eucaristias durante anos, sem o consentimento das autoridades. O cardeal apresentou demissão ao Papa João Paulo II a 13 de  dezembro de 2002.
  • Na Europa mais concretamente na Irlanda no ano de 2009, um relatório com aproximadamente 2500 páginas revelou que quase 2000 crianças sofreram abusos sexuais entre os anos de 1975 e 2004 e que vários membros da Igreja Católica não expuseram os casos. Recorrendo à BBC, para os autores desta investigação, os líderes destas dioceses estavam mais preocupados em encobrir os casos para evitar que estes se tornassem públicos do que em impedir os responsáveis pelos crimes cometessem novas práticas abusivas e fosse levado para a justiça.
  • Na Polónia, foi em 2013 que se desencadeou uma onda de suspeitas e denúncias de abusos sexuais dentro a Igreja Católica do país, tendo alguns casos chegado aos tribunais. A Igreja não estava disposta a colaborar com as autoridades.
  • Na América do Sul mais especificamente no Chile, existem investigações contra 167 pessoas, entre eles 7 bispos, 96 sacerdotes e outros membros da Igreja Católica, por abusarem sexualmente menores e adultos, sendo que o número de vítimas destes casos chega a 178. Os casos de abusos no Chile por parte do clero giram em torno do nome do bispo Juan Barros, que é acusado de ocultar os abusos do ex-padre Fernando Karadima. O Vaticano tomou medidas e enviou ao Chile o arcebispo de Malta, para apurar e investigar todos os casos em profundidade. Em janeiro de 2018, o Papa Francisco viajou até ao Chile, defendendo até Juan Barros, mas em maio desse mesmo ano terá voltado atrás, pois após ter convidado algumas vítimas para viajarem até Roma, também convocou todos os bispos chilenos, que apresentaram a sua resignação após uma reunião com o Papa.
  • Em 2018, o cardeal norte-americano Theodore McCarrick despediu-se do Colégio de Cardeais, acusado de abusar brutalmente adultos e menores de idade ao longo de vários anos. O cardeal americano foi julgado e culpado pela Igreja.
  • Um mês depois do  escândalo que envolvia o cardeal Theodore McCarrick, surge um relatório com cerca de 900 páginas, com base em depoimentos de várias testemunhas e mais de meio milhão de páginas de documentos da Igreja, constatando que mais de mil crianças foram vítimas de abusos sexuais por cerca de 300 padres da Igreja Católica no Estado da Pensilvânia nos Estados Unidos, tendo altos membros da Igreja Católica do país.
  • Na Alemanha, a Igreja Católica publicou um relatório, em setembro de 2018, que registou mais de 3677 crianças como vítimas de abusos sexuais entre os anos de 1946 e 2014. Recorrendo ao jornal Público, este relatório apresentado era apenas uma pequena parte dos abusos sexuais praticados por membros da Igreja Católica alemã.
  • A 13 de dezembro de 2018, o cardeal australiano George Pell antigo “número 3” do Vaticano, foi considerado culpado por cinco crimes de abuso sexual de menores. O antigo arcebispo de Sydney e de Melbourne foi condenado pela primeira vez no ano de 2002, mas as acusações voltaram em 2016, numa investigação feita pelo canal ABC.

No nosso País…

         De acordo com o Observador, enquanto vinham a públicos casos de abusos sexuais por todo o mundo, a Igreja Católica portuguesa permaneceu no sigilo. Os bispos portugueses recusam uma possível investigação para resolver a verdadeira dimensão do que se fazia sentir no país, apontando que não é necessário devido aos poucos casos que havia.

         Durante uma conferência de imprensa, o secretário e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), o padre Manuel Barbosa, afirmou que os casos presumíveis ou já decididos pela justiça, já com sentença penal, são mesmo muito reduzidos.

         Apesar de reconhecer alguns casos, Manuel Barbosa tem sido alvo de uma investigação, este afirma que o objetivo é “acabar com este drama da Igreja e da sociedade”.

Detalhes da Igreja. Fotografia de André Silva.

Início de janeiro de 2021

         Após várias chamadas perdidas, todas a acabar da mesma forma… sem uma resposta.

Toda a gente não queria falar sobre este assunto, ou não estavam preparados.

         Encontrava-se um dia muito ventoso. Fui a pé de casa à paróquia de Paços de Brandão, tentar que me disponibilizassem uma entrevista com o pároco. Contra as minhas expectativas consegui. Ao expor o assunto que queria retratar na entrevista, o padre diz me que “sim”, seguindo “estou disposto a dar o meu contributo”.

         Até que enfim.

Detalhes da Igreja.
Fotografia de André Silva.

16 de janeiro de 2021

         Estava a chuviscar. Estava com os nervos à flor da pele, depois de muitas chamadas perdidas e outras desligadas na cara, finalmente ia entrevistar alguém sem preconceitos e destemido, sem medo de abordar os assuntos que eram propostos.

         Fui preparado com um pequeno caderno, o gravador de voz do meu telemóvel e com muitos receios e emoções que se faziam sentir, caminhava em direção à Igreja de Paços de Brandão. O sino começava a tocar, apontava para as 19:00h. Estava para acabar a missa e eu caminhava meio desnorteado pelo recinto em volta da igreja. Não sabia o que esperar.

Não sabia quando desse inicio à entrevista, com todas  aquelas questões que para mim eram pertinentes e sem qualquer receio , o entrevistado ficaria incomodado ou me mandava simplesmente “ dar uma volta”.

         Lembro-me muito bem desse dia, avistava só as luzes amarelas das janelas daquela igreja, a minha cabeça não tinha um minuto de descanso, o meu subconsciente levava-me para não desistir.

         E assim aconteceu.

         Padre António Benjamin, tem 46 anos, foi ordenado a junho de 1997 e pertence à diocese de Aveiro.

         Orlando Cardoso é atualmente pároco de Paços de Brandão e Rio Meão, sendo também assistente Eclesiástico dos Missionários, em Santa Maria da Feira.