O quotidiano de um fisiologista cardíaco a viver em Londres, em tempos de pandemia
[Texto: Bárbara Dias]
“A ação do governo daqui foi muito má, foi tardia”
Achávamos nós que o que estava a acontecer na China fosse somente ficar lá. Num abrir e fechar de olhos a nossa vida foi-nos roubada por um vírus que se apresenta como indestrutível nas nossas vidas.
Aos poucos foi levando vidas consigo, almas inocentes, foi colocando em risco pessoas que jamais pensaram em passar dias num hospital em estado crítico de desespero.
Acumulamos histórias. Histórias essas que abraçam a nossa rotina que passou a ser diferente, mais cautelosa, em que passamos a olhar para os outros de uma forma mais esquiva.
José Moutinho tem 30 anos, natural de Lavra, Matosinhos. Reside em Londres com a sua esposa e o seu bebé de apenas um ano de idade.
Trabalha num hospital privado, – “O Bupa Cromwell Hospital”, como fisiologista cardíaco.
Não se encontra na linha da frente face ao combate a esta situação, mas ao longo do seu testemunho vai-nos transportando um pouco para a sua vida que neste momento é completamente diferente do que vivera outrora.
Ao longo do seu breve testemunho apercebemo-nos que se encontra no seu consultório, pelo tom mais breve, pausado e calmo, e pelo som ambiente em que conseguimos obter essa perceção.
Mais adiante, ouvimos o som de uma porta a abrir e a fechar-se- dá a sensação de que provavelmente algum colega entrou e saiu da sala. Temos várias referências ao local onde José se encontrava quando gravou o seu testemunho.
A nível de emoções, José mantém-se com a sua postura tranquila.
Afirma que tenta sempre manter um pensamento positivo e que isto é só uma fase, que devemos todos seguir o que nos recomendam. A nível da saúde, a sua opinião é que tudo mudará no geral, em que a telemedicina será bastante utilizada, como o uso de telefonemas ao invés de consultas presenciais quando não requer examinações, de forma a prevenir uma outra propagação de vírus ou doença.
Confidencia-nos que o seu maior desafio é manter-se seguro, pelo facto de se deslocar para o trabalho e estar em constante contacto com indivíduos e superfícies, aumentando os seus cuidados de higiene.
Para além disso, refere com desagrado a falta de resposta e tomada de medidas que o Primeiro Ministro Boris Johnson descorou face a toda esta situação pandémica, que em dada altura deveriam ter sido impostas.
Conta-nos a ação que a instituição hospitalar onde exerce a sua profissão reduziu as cargas horárias dos funcionários. Embora o seu trabalho envolva estar em contacto com várias pessoas, o seu hospital não recebe doentes com covid-19, mas paralelamente a isso, passará a receber pacientes de hospitais públicos que não tenham o vírus de forma a retirar um pouco a sobrecarga.
Futuramente, anseia poder sair de casa, andar livremente sem ter medo de poder tocar em algo e voltar a uma liberdade que antes tinha e que agora lhe foi tirada.
Deixa-nos com quatro palavras que descrevem todo o momento que estamos a viver como, união, coragem, luta e respeito. Referindo ser o respeito o valor primordial, para que todos possamos respeitar as ordens que nos são dadas, para que tudo se possa organizar da melhor forma possível.
Pode ouvir a história completa aqui.