O testemunho de alguém que está na linha da frente
[Texto: Luana Teixeira]
Rita Ferreira tem 34 anos, é enfermeira e técnica especialista de exercício físico. É natural e residente de Olhão (Algarve), terra onde trabalha. Explica o que viveu com o surgimento da Covid-19, demonstrando os grandes desafios de viver na linha da frente como enfermeira.
Rita refere que “todas as diretrizes impostas até agora, eu como enfermeira já as praticava, desde o lavar constantemente as mãos, desinfetar tudo”. Mas agora o reforço é maior.
Em tom reflexivo, expõe o ponto de vista relativamente às condições de trabalho: “ter de usar uma máscara, uma única máscara, em turnos repetidos”. Depois:”para mim tentar compreender e aceitar que me estou a colocar em risco sem necessidade, é sem dúvida o maior desafio”.
Perante a fase difícil que o país atravessa, acabam por surgir pensamentos que põem em causa a profissão que pratica, sendo isso visível através das palavra “qual é o valor que nos é dado? custa-me muito ver a irresponsabilidade social”.
De modo a ocupar o seu tempo e a abstrair-se da negatividade, distrai-se a fazer bolos. Contudo, realiza exercício físico pondo em prática os planos de treino que pretendia fazer no futuro, dizendo entre risos “se os meus vizinhos já se queixavam, agora que é treinos a toda a hora, meu deus”.
Além disso, a enfermeira não concorda com algumas decisões do governo “o governo está a portar-se mal, podia ter agido mais cedo (…) tomando medidas mais drásticas como multas elevadas para quem não cumprisse o isolamento social”, no entanto, salienta “eu sou só enfermeira, não tenho nada a ver com economia”.
Reforça que tem sido mais difícil nesta fase é estar longe da família. “Eu daria o mundo, se pudesse, para ter um abraço da minha mãe, do meu pai, do meu companheiro.” Referindo ainda que, ocorreu a morte de um familiar, o que a deixou emocionada ao falar do assunto “para proteger quem amo, eu não pude dar o carinho que eles mereciam naquele momento (…) por isso, o valor de um abraço é incalculável”.
Finaliza afirmando que tempos ainda mais difíceis se avizinham, afirmando “a vida nunca mais vai ser como ela era e vai demorar muito a voltar a ser”.