Pandemia económica: “É necessário voltar a aliviar a economia e especialmente o povo português”
- Catarina Preda
- 22/01/2021
- Atualidade Portugal Saúde
Em Portugal, “quase metade das empresas reduziram a sua atividade e quase um quinto encerraram ou interromperam totalmente o seu funcionamento”, de acordo com a multinacional portuguesa de consultoria de riscos e seguros MDS. Empresas portuguesas como a Brinquedos Couto Lda, o setor do calçado e as artes gráficas encontram-se pessimistas face ao futuro pós-pandemia.
De frente para a entrada de um negócio familiar em expansão, abre a porta uma das proprietárias: Paula Couto. Trata-se da empresa Brinquedos Coutos, Lda. gerida por Maria José desde a sua fundação em abril de 1993. Iniciou a sua atividade como armazém, a importar e distribuir uma vasta gama de produtos. Inicialmente centrada na área dos brinquedos, atualmente comercializa outros produtos como utilidades para a casa, material escolar, têxtil e material festivo. A partir de 2012, a empresa mudou a sua atividade para as novas e atuais instalações, nas quais se enquadra o espaço de armazém, exposição, escritórios para a venda ao público.
Logo na entrada do armazém é possível reparar nos expositores de álcool em gel espalhados pelo mesmo, e somos recebidos com um sorriso debaixo da máscara social, cumprindo assim todas as normas decretadas pela Direção Geral da Saúde. Já nos escritórios, a sócia-gerente Paula conta como foram os tempos funestos desta pandemia. A empresa viu-se obrigada a candidatar-se aos apoios do estado, do qual os sócio-gerentes não obtiveram nenhuma assistência até ao presente dia, tendo se mantido em período de lay off em abril e maio, até começarem a chegar finalmente algumas encomendas e fora finalmente levantado o estado de confinamento, estando de regresso ao trabalho.
Atarefada, movendo os dedos entre as teclas do computador, Paula dá por conta o decréscimo ao longo do ano na ordem dos 38%:
“Houve menos faturação. Agora a finalizar o ano, ainda não conseguimos contornar. Estamos a tentar criar opções criando a página web que ainda está numa fase embrionária. Vai ser difícil dar a volta.”
A opção de Home Office foi bastante consumida durante a quarentena. Sempre que possível, os funcionários desta empresa usufruíam desta ferramenta, ou acabavam por vir ao escritório quando não estava mais ninguém para não existir ligações e contatos diretos. Quanto a planos futuros para 2021, encontram-se em suspenso. A empresa quer continuar a trabalhar e vai em busca de horizontes mais positivos, mesmo não conseguindo recuperar a perda num espaço de tempo tão curto. A trabalhar no ramo há 27 anos, Paula desabafa:
Sendo uma empresa 100% portuguesa, Paula assegura que irão continuar a promover o desenvolvimento e a criação de novos produtos de forma a trazer um maior valor ao mercado atual, com ou sem pandemia.
Caminhando em direção a outra divisão do estabelecimento, cercada de caixas e etiquetas encontra-se Rosa Leal, funcionária de limpeza há 8 anos. A sua adaptação a esta temporada foi difícil, demonstra-se inquieta relativamente aos tempos que se aproximam, mas tem esperança na melhoria.
Já a 5 quilómetros desta sede, entre cola quente e cadarços encontramos Gonçalo Marinho de 22 anos, funcionário numa das maiores empresas do setor do calçado de Santa Maria da Feira.
Sendo esta uma das empresas com maior prejuízo, viu-se obrigada a reduzir a atividade. Consequentemente houve menos faturação devido à impossibilidade de exportação. Isto trouxe consequências aos trabalhadores: foram despedidos 110 funcionários em cortes pós-pandemia e fecharam o turno noturno. Para viabilizar as quebras de 30% a empresa trabalhou de forma a aumentar o stock para o futuro.
É de notar os grandes cuidados encontrados, como a oferta de material de higienização, a instalação de acrílicos nas mesas do refeitório e o “atraso” de turnos para os mesmos não se encontrarem em horário laboral.
Em contraste com estes estabelecimentos, a fábrica do ramo das artes gráficas com sede em Gaia teve origem em 1893 e é uma das grandes fundadoras da litografia em Portugal e da implementação da técnica de impressão Offset. Carlos Sá, de 52 anos, funcionário, continua a cumprir a sua função ao manusear uma lupa para calibrar as cores do seu trabalho, e diz-se otimista quanto a situação da empresa.
“É-nos proporcionada uma total confiança e segurança relativamente à pandemia, desde o fator de higiene ao controlo de temperatura na entrada e saída. Foram até implementados equipamentos automáticos para controlo”.
Ao contrário das outras empresas, esta não necessitou de recorrer a apoios estatais, pois foi menos afetada pela pandemia. O funcionário reforça que houve alterações, mas a empresa procurou encontrar defesas. Como fornece material gráfico para o setor alimentar conseguiu de certa forma manter-se no ativo. O litógrafo deixa uma mensagem de esperança:
“Esperemos que em 2021 todas as empresas nacionais e respetivos setores de atividade se desenvolvam, e recuperem após este surto. É necessário voltar a aliviar a economia e especialmente o povo português.”
Não só em território nacional, mas em todo o globo já se sente uma economia contagiada, nos mais variados setores. Ainda a serem contabilizados, os efeitos e prejuízos abalaram famílias e empresas. Reportado um impacto negativo na vida dos portugueses e dos seus empreendimentos este veio modificar muitos dos seus hábitos.
Um destes é os métodos de pagamento, pois consumidores ou organismos passam a efetuar mais compras com cartões nos terminais de pagamento, obrigando as empresas a se encontrarem preparadas para os receber. O investimento em tecnologias de informação vieram para ficar, pois houve uma grande aposta em serviços de cloud e meios de colaboração de forma a melhorar o home office, tal como foi usufruído pela primeira empresa referida.
Seja no setor de utilidades como na empresa Brinquedos Coutos Lda, no setor do calçado nacional ou das artes gráficas todos estes tiveram de procurar respostas às suas dificuldades neste árduo ano. Será necessário aproveitar o contexto atual e tentar ao máximo tirar partido do mesmo procurando novos padrões de negócio de forma a combater a pandemia a nível económico, aumentar as receitas perdidas e restabelecer a economia nacional.
Editora e colaboradora do #infomedia. Natural de Santa Maria da Feira, comunicadora desde sempre e (quase) jornalista por opção.