Pressão estética: como os comentários afetam as vítimas

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Pressão estética: como os comentários afetam as vítimas

[Fotoreportagem de Ana Cláudia Fernandes, Mariana Oliveira, Raquel Valente e Vanessa Sousa]

São cada vez mais as pessoas que se sentem inseguras na sua própria pele, devido a olhares ou comentários ofensivos e inapropriados. Por via de quatro histórias verídicas, mas com nomes fictícios, mostramos a capacidade de ultrapassar este desafio e ganhar uma maior autoestima.

Body shaming é o termo que reflete a ridicularização do corpo, causada pelo outro.

Inês Gomes: “És tão bonita, só precisas de perder um bocado de peso”

Ao entrar no ensino básico, com 10/11 anos, Inês começou a perceber que nem todas as pessoas tinham boas intenções. Natural do Porto e com 26 anos, Inês Gomes conta que foi na infância que recebeu o diagnóstico de hipotiroidismo.

As estrias nos braços foram sempre alvo de críticas maliciosas, “chegavam a perguntar se era queimado”.

“És tão bonita, só precisas de perder um bocado de peso”, “precisas de andar com amigas mais feias do que tu, assim os rapazes reparam em ti”, “gorda de merda”, são alguns dos comentários que a portuense ouvia diariamente. Consequentemente, proveio uma alimentação inconstante, “a minha vida sempre foi baseada em entrar e sair de dietas, a maior parte delas de forma errada”.

Inês Gomes (nome fictício) 

Inês acredita que muitas ofensas surgem devido à necessidade de inclusão na sociedade, perante grupos de amigos, “deviam achar que estar em grupo e gozar com a aparência de alguém os fazia/faz mais fixes, sim porque isto infelizmente ainda acontece”.

“Mostrar que tens autoestima e teres, é diferente”. Todos os dias pensa no que vai vestir, pois sente que está sujeita a todo o tipo de ofensas. Porém, nos dias de hoje já se sente mais tranquila, pois passou a valorizar-se mais: “eu não vou mudar o mundo com o que digo sobre o assunto, mas se uma ou duas pessoas refletirem sobre a temática e três ou quatro realmente começarem a agir de forma diferente já fico satisfeita”, declara com um sorriso no rosto.

Ricardo Silva: “Porque é que tens essas cicatrizes?

Apesar de ter apenas 22 anos, Ricardo Silva já fez múltiplas intervenções nas duas rótulas. Com 13 anos ocorreu a primeira operação devido a um “tendão que estava deslocado dois milímetros”, o que fazia com que a rótula saísse do lugar facilmente.

Devido às cirurgias ficou com duas cicatrizes nos dois joelhos e para si nunca foram um problema, “nunca me incomodaram”. Aos 16 anos, quando realizou a última intervenção e as marcas ficaram ainda mais visíveis, iniciaram-se os primeiros sinais de body shaming,  “começaram a olhar, a falar e eu comecei a reparar mais nos meus joelhos”.

 Recorda que, no início, foi difícil entender as pessoas e começou a questionar-se do que estaria errado nele, “não entendia porque é que aquilo era motivo de gozo ou de comentários”.

“Porque é que tens essas cicatrizes?”, “Isso não te incomoda?”, “Tens uma grande medalha”, “Caíste de bicicleta?”, foram alguns dos comentários impertinentes que o jovem ouviu.

Maria Manuel : “Mais uma perna fazes um garfo”

Maria Manuel é natural de Vila do Conde, no distrito do Porto. Tem 20 anos e confessa que já sofreu de bullying durante a escolaridade. Conta ao #infomedia como ultrapassou as represálias deste tratamento.

Maria Manuel (nome fictício) 

Cresceu a ouvir comentários sobre o seu corpo, “não achas que estás demasiado gorda para a tua idade?”, “bolinha”, “até és bonita, mas és demasiado gordinha”, “qualquer dia nada te serve”. Estas expressões originaram uma falta de autoestima na Maria, que durante toda a sua infância cresceu com a sensação de inferioridade.

Quando acreditava que seria só uma fase, foi diagnosticada com um problema de saúde, “passei dos quase 70 kg para os 45 kg com 15 anos”. Porém, o emagrecimento não parou o bullying na escola, “mais uma perna fazes um garfo”, “até se veem os ossos, que feio”, “estás tão magra, não comes?”.

As críticas vinham maioritariamente do sexo feminino, como se de uma competição se tratasse. Apesar de ter conseguido ultrapassar esta fase, acredita que ninguém fica 100% cicatrizado, “é um longo processo, pode ser impossível alcançar para quem sofreu de bullying”. 

Desde que se aceitou por completo passou a ter amor próprio e uma boa autoestima. Contudo, alerta que atitudes mal medidas podem destruir vidas.

Rita Nogueira:  “Vais comer isso tudo?”

A queda de cabelo foi o maior causador de inseguranças na Rita. Quando lhe foi diagnosticado, por volta dos seus 18 anos, tentou fazer alguns tratamentos, mas sem grandes resultados. Além disso, a jovem, natural de Amarante, gastou uma grande quantidade de dinheiro em medicação, consultas e shampoos.

Rita Nogueira (nome fictício) 

Os comentários de ódio faziam com que a vítima reparasse em aspetos do seu corpo que nem ela própria se apercebia. Questões como “vais comer isso tudo?” ou “vais usar as calças assim?” são alguns exemplos de frases que ouvia diariamente, tentando sempre ignorar. No entanto, em determinadas alturas, tornava-se mais complicado, “quando se ouve um comentário destes num dia menos bom, é óbvio que levamos isso para casa e ficamos a pensar”.

Rita Nogueira (nome fictício)