Rui Vilhena, músico: “Nada substitui um concerto presencial”
- Ana Pascoal
- 11/12/2020
- Atualidade Música
Aos 58 anos, Rui Vilhena vive um dos períodos mais estranhos da sua carreira como músico, arte que o cativou desde muito cedo.
Os dias eram passados a cantar na companhia da rádio, a varanda de Luanda, onde nasceu e viveu até aos doze anos servia de palco, e o espetáculo começava.
Foi depois do 25 de Abril que Rui Vilhena veio para Portugal. Na primeira viagem pela capital deparou-se logo com uma loja de música, e decidiu pedir à mãe uma guitarra.
“Mal ela sabia que naquele momento tinha acabado de assinar o meu futuro, foi rigorosamente isso que se passou, porque eu agarrei-me à guitarra e nunca mais parei”.
Para além do grande incentivo por parte da mãe, o colégio de padres Salesianos que frequentou desde o oitavo até ao décimo primeiro ano foi uma grande influência para traçar o futuro de músico. O colégio era extremamente rico culturalmente e oferecia várias atividades como música, teatro, cinema ou desporto. Naquela altura o “Padre Rocha” foi um grande estímulo para o músico. “Foi muito fácil agarrar o lugar, ainda por cima eu tinha à minha exposição os melhores instrumentos”, conta.
O colégio “foi o 1º prémio do Euromilhões” e hoje, “passados estes anos todos consigo ter a certeza que se não fosse o facto de a minha mãe me ter posto no colégio tudo seria diferente”.
O músico fez parte do projeto “Vozes de Rádio”, um grupo vocal masculino da Invicta e integra a banda, “Os Aliados”. Rui Veloso, Miguel Guedes dos Blind Zero, a vocalista angolana Selda, Sérgio Godinho, Jorge Constante Pereira, Diana Costa, entre outros, são artistas com quem já trabalhou.
Para além dos espetáculos e de todo o mundo artístico no palco, ainda é professor de guitarra.
A cooperativa do Porto, “O Fio de Ariana” foi um projeto marcante na vida de Rui. A cooperativa visa ao tratamento de problemas da psicomotricidade, estuda os comportamentos do indivíduo através do corpo em movimento, na relação com funções psíquicas e cognitivas. O artista conta o percurso nesta cooperativa, como professor de guitarra, mas também refere que um dos projetos mais importantes que realizou foi “Os amigos do Gaspar”, juntamente com Jorge Constante Pereira e Sérgio Godinho, Rui Vilhena recorda os momentos que viveu com estes dois artistas com uma enorme admiração.
No papel de professor, o maior motivo de orgulho para Rui é quando ouve os alunos tocar, perceber que tem algo dele na forma como tocam. Sentir que é uma influência para os alunos é gratificante para o artista. Conta ainda que se orgulha dos alunos que teve, e que um deles tornou-se professor de guitarra clássica. Muitos outros ficaram amigos.
“Já aconteceram situações de dois alunos meus que se conheciam e não sabiam, nem um nem outro que fui professor deles. E um vê o outro aluno a tocar e pergunta: “Olha tu tiveste aulas com o Rui Vilhena não tiveste?””
O melhor elogio que se pode dar ao músico é conhecer bem a música que este produz e a forma como toca, confessa. “Dos melhores elogios que me podem fazer é quando alguém me está a ouvir e não a ver e diz que é o Rui Vilhena que está a tocar”.
Outra das funções que exerce é codirigir o coro sénior da Fundação Manuel António da Mota, composto por pessoas reformadas que se juntam para cantar. Desde a pandemia, tornou-se impossível ensaiar presencialmente. Houve uma adaptação por parte de todos e os ensaios decorrem online, sendo o principal objetivo que o coro não pare de cantar. O músico fez questão de fazer um especial agradecimento a esta fundação: “independentemente de não haver ensaios nós vamos continuar a pagar-vos, asseguraram”. Relativamente aos espetáculos houve uma queda muito grande e foram vários os concertos que acabaram por ser desmarcados. Algumas instituições acabaram por dispensar colaboradores e Rui Vilhena foi um deles. O vocalista utilizou a rede social Facebook para tocar algumas músicas, no entanto a diferença entre online e presencial é notável. A sensação presencial “é completamente diferente e única, não há substituição para isso”. Online “é mais frio, mais distante!” sublinha o músico.
Rui Vilhena termina a cantar e tocar uma música de um projeto que já tinha referido e que lhe é próximo. A música chama-se: “Canção dos abraços” do projeto “Amigos do Gaspar” de Sérgio Godinho e Jorge Constante Pereira.