Saúde Íntima: Ginecologistas ajudam a esclarecer mitos e a melhor forma para ter uma boa higiene
- Inês Matos
- 30/12/2021
- Atualidade Portugal Saúde
Higiene Íntima Feminina pode parecer um assunto banal, mas este tema é muitas vezes desconhecido, o que causa várias dúvidas. Daí a importância do papel do ginecologista, profissional responsável pela saúde íntima da mulher, e também das conversas sobre o tema no seio familiar.
[Texto de Inês Matos]
Desde as mulheres mais jovens até às mais adultas existem várias perguntas que precisam de resposta, dúvidas e curiosidades que necessitam de ser esclarecidas. Patrícia Isidro Amaral e Leila Wesller, ambas ginecologistas-obstetras explicam o que fazer e o que evitar para ter uma boa saúde íntima. As questões tratadas vão desde qual o tipo certo de roupa interior que se deve utilizar até qual o produto que se deve usar na altura da higienização íntima.
Permanecer com o biquíni molhado
Principalmente na altura do verão, onde as idas à praia e piscina são comuns, muitas mulheres permanecem várias horas com o biquíni molhado, mesmo na hora do regresso a casa. Esta prática pode causar alguns problemas. “Permanecer com biquíni molhado por longos períodos de tempo pode favorecer o aparecimento de algumas infeções vaginais, especialmente a candidíase. Os fungos da candidíase moram dentro da vagina e adoram um ambiente quentinho, molhadinho e escurinho, exatamente como a mulher fica quando está com biquíni molhado por várias horas”, explica a Doutora Leila Wesller.
Corrimento: sinónimo de problemas vaginais?
O corrimento vaginal é algo comum e normal em todas as mulheres, sendo estes fluídos necessários para a humidificação e lubrificação da vagina, essencial para realizar a sua função reprodutora. No entanto, por vezes, o corrimento vaginal pode dar pistas de que algo se passa com o sistema reprodutor feminino – “o corrimento normal é branquinho, sem odor e sem prurido associado. Os demais precisam ser avaliados pelo ginecologista”, explica a ginecologista Leila.
A forma correta de limpar a região íntima
Após a ida à casa de banho, deve-se ter cuidado na forma como se limpa a região íntima. Pequenos erros podem levar a grandes complicações.
Depois de urinar, a mulher pode somente usar papel higiénico para higienização. No entanto, se a mulher defecar o ideal é que a higienização seja feita com água. Caso isso não seja possível, ao limpar-se com papel higiênico, “o correto é de frente para trás”, conforme diz a especialista Leila. Acrescenta ainda: “quando passamos o papel higiénico de trás para frente, transportamos bactérias e germes da região anal para a região vaginal. Isso pode aumentar os riscos de ter infeções urinárias e vaginais”.
Toalhitas na Higiene Íntima Diária
Embora existam centenas de diferentes toalhitas íntimas à venda no mercado, a sua utilização não deve ser recorrente. “As toalhitas devem ficar reservadas para situações excecionais como costumo dizer, em SOS. Recorrentemente não devem ser utilizadas, pois são mais agressivas e podem causar irritações na zona íntima”, explica Patrícia. Já Leila acrescenta que, quando se utilizar, devemos escolher toalhitas “sem cheiro e hipoalergénicas”.
Roupa Interior, o que escolher?
No que se refere a este ponto, não faltam opções. Desde roupa interior mais conservadora à mais provocadora, às rendas, ao sintético, a oferta é vasta e desta forma é preciso saber o que se deve escolher na hora de comprar.
Para as ginecologistas a escolha é óbvia, deve-se optar por roupas interior de algodão pois estas são “hipoalergénicas e auxiliam com que circule mais o ar na região íntima do que os tecidos sintéticos”, afirma Leila. Diz-nos ainda que mulheres com irritações e infeções regulares “devem fazer a troca das suas roupas íntimas por cuecas de algodão”. Patrícia diz ainda em tom de brincadeira: “rendas, sedas e fio dental devem ser reservadas para dias especiais”.
Pensos Higiénicos na Higiene Diária
Os pensos higiénicos são grandes aliados no que toca à higiene íntima, especialmente na altura da menstruação. No entanto, devem apenas ser utilizados nesse período. De acordo com as especialistas o seu uso diário “aumenta as secreções vaginais, provoca mais corrimento e infeções”. Leila afirma ainda que estes “prejudicam a saúde íntima”.
Assim, deve-se apenas usar pensos higiénicos no período da menstruação. Para além de fazer melhor à saúde íntima, ajuda também a nível financeiro.
Menstruação e Higiene Íntima
Aquando da menstruação também existem cuidados a ter. Patrícia Amaral dá principal destaque a “mudar regularmente de penso, tampão ou esvaziar e higienizar o copo menstrual”, cerca de 3/4 vezes ao dia. Esta cautela pode prevenir diversas infeções e irritações na zona íntima. Caso a mulher não se sinta confortável com os pensos e tampões mais habituais, existe ainda a opção de pensos e tampões de algodão, que irão diminuir o desconforto.
Além da troca frequente do penso, tampão ou copo, também se deve reforçar a limpeza íntima, sendo esta de acordo com as necessidades de cada mulher. Esta limpeza mais recorrente previne maus odores, contudo Patrícia Amaral alerta: “não se deve lavar nem a mais, nem a menos, é preciso haver bom-senso”.
Dormir sem Roupa Interior
Esta é uma questão com resposta óbvia, “Sim!”. Tal como ao fim do dia temos a necessidade de retirar a máscara do rosto para deixar a pele respirar, a vagina necessita do mesmo cuidado. De acordo com a Ginecologista-obstetra Leila, “A vagina e vulva precisam respirar. É recomendado dormir algumas noites sem cuecas para diminuir a humidade genital, equilibrar a flora vaginal, diminuir infeções e irritações vulvares”. Já Patrícia Amaral recorda que apenas se deve dormir com roupa interior na altura da menstruação, uma vez que não há outra solução.
Depilação na Saúde Íntima
A depilação é uma questão de gosto e da cultura onde a mulher se insere, uma vez que não existem estudos que comprovem que optar por uma depilação completa ou integral ou até mesmo não depilar interfira na saúde íntima feminina.
Embora seja uma escolha individual de cada mulher, os pelos púbicos “servem para proteção da região genital”, declara Leila Wesller. Acrescenta ainda que estes podem diminuir o risco de contaminação de duas Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST), como a Herpes Vaginal e o Vírus do Papiloma Humano (HPV).
O que é o Vírus do Papiloma Humano e o Herpes Genital? De acordo com a Associação para o Planeamento da Família (APF), o Vírus do Papiloma Humano (HPV) e o Herpes Vaginal trata-se de doenças sexualmente transmissíveis. O HPV infeta a pele e algumas mucosas, o que pode originar o aparecimento de lesões em vários locais do corpo. Esta é uma das infeções de transmissão sexual mais comuns mundialmente, sobretudo nos adolescentes e atinge tanto o sexo masculino como feminino. O HPV transmite-se por contacto direto com a pele ou mucosas infetadas durante o contacto sexual, com ou sem penetração. O Herpes Genital, no caso feminino, vaginal, transmite-se durante a relação sexual (dos diferentes tipos) com alguém que possua a infeção, pelo contacto com a pele ou mucosas infetadas pelo vírus. |
Roupas justas e a saúde Íntima
Embora dependa de mulher para mulher, deve-se sempre privilegiar o uso de roupas mais largas para a parte debaixo. O uso de roupa demasiado justa pode provocar “irritações e infeções genitais”, afirma a ginecologista Leila. Isto porque impossibilita que a região genital respire. Assim, dar preferência ao uso de roupa mais larga no quotidiano é “benéfico”.
Higienização da Zona Íntima
A higiene da zona íntima deve ser feita apenas externamente, ou seja, a vulva. Esta limpeza deve ser feita em “média duas vezes por dia”. No entanto, em dias onde a mulher se exercita, está menstruada, ou outra situação específica, poderá ser necessário um maior número. As vezes que cada mulher procede à higienização é uma questão “pessoal e de bom-senso”, diz Patrícia Amaral.
A higiene íntima deve ser realizada preferencialmente com água ou com um produto com características específicas e adaptadas à zona íntima. “Da mesma forma que temos produtos diferentes para o rosto e para o corpo também devemos ter para a vagina”, acrescenta ainda Patrícia. Leila Wesller afirma ainda que se deve dar preferência a “sabonetes líquidos, hipoalergénicos, glicerinados, sem cor e sem cheiro”. Para as amantes de produtos naturais, “sabonetes com óleo de coco e camomila, são ótimas opções”, afirma Leila.
Assim, cada mulher deve encontrar o que funciona melhor para o seu corpo.
Relações Sexuais: cuidados a ter
Antes das relações sexuais, o cuidado a ter é opção pessoal e não tanto uma recomendação. “Depende de cada mulher e casal. Após as relações sim, existe a recomendação de ser realizada a higiene e a micção”, diz Patrícia Amaral.
Patrícia diz em modo de brincadeira que é “obrigatório” ter estes cuidados após as relações sexuais. Uma das razões está relacionada com o sémen apresentar um pH mais alcalino, o que poderá condicionar alterações do equilíbrio do pH vaginal. Urinar após o contacto íntimo também é muito importante, para evitar as infeções urinárias na mulher.
Dicas para uma boa Saúde Íntima: Utilizar um sabonete suave específico, para não alterar a flora vaginal; Manter uma higiene diária; Utilizar hidratante vaginal (interno ou externo); Usar toalhitas apenas para situações pontuais; Dizer não à roupa interior na hora de dormir; Evitar roupa muito apertada e privilegiar cuecas de algodão. |
Olá, o meu nome é Inês Matos, tenho 20 anos e frequento o 3º ano do curso de Ciências da Comunicação na Universidade Lusófona do Porto. Segui este curso porque desde muito cedo me apercebi que adorava comunicar. Neste projeto pertenço à editoria de Saúde.