Ser bailarina profissional em tempos de pandemia: dificuldades e superações
Raquel dos Santos tem 21 anos. É bailarina profissional e interprete de dança. Encontra-se em Bath, Inglaterra, onde reside há três anos para dar continuidade ao seu sonho, estudar e especializar-se na área.
A jovem artista está a terminar a licenciatura em dança pela Bath Spa University e isso revela-se um dos maiores desafios que encontra neste tempo.
Uma vez que as aulas são todas práticas, é difícil adaptá-las ao espaço que tem em casa bem como, conjugá-las com tarefas simples como por exemplo, ir ao supermercado.
Mas mais que isso, estar longe dos familiares é outra dificuldade que enfrenta. Apesar de também eles terem emigrado para Inglaterra, há um ano, Raquel vive com o namorado, e por isso, neste momento não pode conviver com os pais e irmãos.
Num tom indignado reflete sobre a falta de apoio por parte do governo Inglês, que os artistas, no geral, estão a sentir neste momento. Visto que o principal e em muitos casos, único sustento, advém dos espetáculos, que foram cancelados.
“As artes são a primeira coisa a que as pessoas recorrem quando passam tempo com elas mesmas, por isso não entendo. Fiquei desiludida”, acrescenta.
Raquel criou uma rotina de forma a gerir melhor as emoções e, de certo modo, esquecer por momentos a fase que o mundo está a ultrapassar. Acorda cedo e prepara-se para o dia.
Apesar de ocupar as horas a dançar, entre outras coisas, admite sentir muita falta do estúdio de dança e dos professores que lecionam na universidade que frequenta.
Com o isolamento aprendeu a gerir melhor o seu tempo e vê esta fase, por isso, como algo positivo e um momento de grande aprendizagem.
“A sociedade está sempre a mil. Há muito que é exigido de nós e às vezes não temos tempo para tudo e sentimo-nos culpados de ter tempo para nós próprios e isso não é correto”
Considera que as pessoas, na generalidade e principalmente no lugar onde se encontra a viver são muito “materialistas e superficiais” e só agora começaram a valorizar pequenas coisas da vida, que tão importantes são na sua opinião, como o abraço.
Acrescenta, “O abraço neste momento é uma arma e torna-se importante de repente”
E por isso, descreve o isolamento social como algo positivo, caótico, mas sobretudo, necessário.
Termina o seu testemunho transmitindo-nos a ideia de que é importante e crucial valorizar mais a arte de forma a que “o mundo fique bem.”