Identidade de Género: “Definimos que ser homem ou mulher é, anatomicamente, ter um pénis ou uma vagina”
- Inês Lopes Costa
- 17/01/2022
- Atualidade Portugal Saúde
Adão ou Eva? Homem ou mulher? Nascemos pré-definidos sem nos sentirmos definidos. Agora, podemos ser quem somos. Lourenço Ódin Cunha e Júlia Mendes Pereira são a prova disso.
[Reportagem de Inês Lopes Costa]
“Só há duas formas de chegar ao mundo dos adultos, ou somos meninos, ou somos meninas”, afirma Lourenço Ódin Cunha,homem transexual. A atribuição do sexo à nascença é feita através da análise da nossa genitália externa, ou seja, “nós definimos que ser homem ou mulher é, anatomicamente, ter um pénis ou uma vagina”, afirma Zélia Figueiredo, Psiquiatra e Sexóloga. “É unicamente essa unidade de análise que é usada para definir o nosso género, quando nós nos podemos definir de forma completamente diferente daquilo que possa ser a expectativa de determinada genitália”, afirma Júlia Mendes Pereira, mulher transgénero.
Quando isto acontece, “a primeira afirmação que te passa pela cabeça é: eu não sou normal, isto não é normal”, afirma Lourenço Cunha. Esta situação tem explicação podendo usar-se dois termos para nos referirmos a ela, transexualidade e/ou transgénero.
Transexualidade é “uma incongruência entre o sexo do cérebro e o sexo biológico da pessoa, o sexo do corpo” explica Décio Ferreira, médico de cirurgia plástica. Transexual é a pessoa que vivencia esta incongruência e que altera, através de intervenções de afirmação de género, o sexo biológico pelo sexo pretendido.
A transexualidade, em 2018, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) na Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID), deixou de ser considerada um distúrbio mental e de estar inserida nas doenças psiquiátricas e passou a ser vista como “incongruência de género”, estando apenas no CID como uma doença ligada ao sexo. |
O termo transgénero ou trans surge como um termo mais abrangente, ou como se costuma dizer um termo “guarda chuva.” Engloba, por um lado, “indivíduos que não se identificam com o sexo biológico atribuído à nascença e que pretendem alterar os caracteres sexuais primárias e/ou secundários através de intervenções médico-cirúrgicas -transexual- e, por outro, incluem-se os indivíduos que não se identificam com a classificação de género binária masculino-feminino (por exemplo género queer, não-binário, género fluído)”, explica João Miguel Correia Rodrigues, no documento disponibilizado online “Discriminação de Pessoas Trans no Serviço Nacional de Saúde (e barreiras ao seu acesso).”
O termo transgénero, além de mais abrangente, acaba por não tão estar associado à ideia de patologização, como está o termo transexual. A despatologização, hoje, é reconhecida dentro da comunidade médica, académica, científica,OMS, Organização das Nações Unidas (ONU), instituições europeias. A própria lei portuguesa já deu os primeiros passos para a despatologização com a publicação da Lei n.º 38/2018 relativa Direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de género e à proteção das características sexuais de cada pessoa. A Ordem dos Médicos também tem caminhado para a despatologização. Com as recentes alterações,tendo em conta a Lei de autodeterminação, deixa de ser necessário requerer autorização à ordem dos médicos para realizar cirurgias de afirmação de género. |
O sofrimento que a pessoa sente devido à incongruência entre sexo do cérebro e sexo biológico traz fortes entraves à pessoa em relação à sua identidade de género – perceção pessoal em relação ao seu género, podendo este corresponder ou não ao sexo biológico.
Júlia Mendes Pereira e Lourenço Ódin Cunha são dois exemplos, duas histórias de vida distintas, mas com uma coisa em comum. Ambos desafiaram a primeira lei da vida, “nascer-se com um determinado género e comportar-se como tal”, afirma Lourenço Cunha.
Escolheram Portugal, país onde residem, para realizar as cirurgias de afirmação de género.
Júlia Mendes Pereira, nascida a 8 de maio de 1990. Mulher transgénero, termo com que se prefere designar, não se relacionando com o termo transexual. Ativista, atual diretora da Ação Pela Identidade (API), primeira mulher transgénero dirigente de um partido político em Portugal, rosto da campanha #DireitoASer, reconhecida pelo papel essencial que teve na Lei da Identidade de Género, de 2011, e na Lei da autodeterminação, de 2018.
Júlia é, atualmente, uma referência o que lhe permite dar “mais visibilidade às lutas, às necessidades da nossa população e conseguir criar mudanças,” mas não deixa de reforçar que tem o lado mau, como a dificuldade em encontrar emprego, dificuldades com a de saúde mental, transfobia e a necessidade de, apesar de já ter dado tanto à comunidade trans, sentir que tem que “provar tudo desde o 0.”
A transfobia ainda lhe provoca medo, como a própria explica “sinto que não é seguro para mim, nem para as outras mulheres como eu e é nesse sentido que falo de medo”, mas a melhor forma de lidar “é fazendo política com ele.”
“Gosto de dizer que sou uma mulher em desconstrução. Levei muito tempo da minha vida a construir-me, a mulher que eu queria ser e que eu sonhava ser quando era pequenina. Levei muitos anos a conseguir isso e quando consegui isso, o que eu entendi é que não acabava ali, não havia nada que acabasse ali,havia ali um ponto de princípio que a partir dali eu tinha que me desconstruir. A mulher que eu sou hoje, já superou e muito a mulher que eu me via a ser quando era pequenina.Eu consegui ser essa mulher e estou a conseguir ir além disso e desafiar os meus próprios conceitos do que é ser mulher e do que é estar no mundo e é essa a mulher que sou. Uma mulher em desconstrução a aprender todos os dias.”
Júlia Mendes Pereira
Foi num pequeno e discreto café, numa zona com pouca luz, perto do balcão e de frente para aqueles que entravam de vez em quando que Lourenço deu a conhecer todos os pormenores da sua vida. Numa mesa de quatro lugares, apenas dois foram necessários ocupar para desvendar todos os pormenores. O barulho dos funcionários e das máquinas ali presentes eram absorvidos pela importância do tema que estava a ser tratado.
Nascido a 6 de março de 1982 como Ivone, é hoje homem de corpo e alma.
A sua mudança começou em 2012 quando mudou o nome e realizou as cirurgias de reatribuição sexual, 20 no total.
Um ano mais tarde entrou como concorrente de um reality show, com o objetivo de “poder ajudar pessoas como eu, que não tiveram respostas.” A entrada no programa tornou-o uma referência. Foi a resposta às inquietações de pessoas que passam ou passavam pelo que passou, mas que desconheciam o que era e que tem solução.
“Essas pessoas [as que querem passar pelo processo] procuram-me, procuram referências, procuram uma pessoa que já esteja operada. Querem ver.”
Lourenço Ódin Cunha
Tem trabalhado para conquistar algo que já ambiciona há oito anos. Abrir uma instituição de apoio ao transexual na zona norte, formada por profissionais que possam ser albergues capazes de dar o apoio e os esclarecimentos necessários. Dá voz à urgência de existir uma equipa cirúrgica que faça operações, mas também à luta por um maior apoio à transexualidade.
Escreveu o livro: “Dar Corpo à Alma”, onde explica tudo pelo que passou de forma detalhada, permitindo assim conhecer uma ínfima parte da sua história.
“Hoje sou completo! Hoje sou eu e quem me rodeia pode-me ver como eu sou.”
Lourenço Ódin Cunha
Nasci assim, não sou assim: Os comportamentos que podem indicar Incongruência de género
No embrião, a parte genital, tanto no homem, como na mulher, inicialmente é igual. Posteriormente é que estas estruturas se vão moldando. Como explica Décio Ferreira “a parte interna dos pequenos lábios das mulheres é o que, no embrião masculino, vai dar do movimento da uretra até a extremidade que na mulher é o clítoris, mas que no homem se liberta mais e dá um pénis. Os grandes lábios unem-se ao meio e formam o escroto.” Enquanto o desenvolvimento do embrião vai definindo os órgãos genitais e por conseguinte o sexo do corpo, “a partir dos cinco meses, o cérebro, quando atinge o seu desenvolvimento normal”, define o sexo, como masculino ou feminino. Durante este período de desenvolvimento onde o sexo do cérebro e o sexo do corpo se definem, pode ocorrer uma discrepância entre sexo, ou seja, o cérebro pode definir um sexo e o corpo outro.
Zélia Figueiredo, psiquiatra e sexóloga no Hospital Magalhães Lemos, acompanha casos com disforia de género desde 2008, tendo avaliado até à data cerca de 700 casos, explicou alguns dos possíveis comportamentos que podem indiciar disforia de género.
Os sinais de não conformidade de género apenas se manifestam a partir dos dois anos. Um comportamento comum é “as preferências em criança, no fim da infância, pelas coisas do outro género, por quase tudo. Pelos brinquedos, pelos grupos, comportamentos, a roupa.” Lourenço Ódin Cunha, recorda no seu livro, que ainda em criança, quando chegava à escola “remexia na profundidade da mochila que levava às costas até retirar a indumentária que me permitia movimentar dentro do que eu me reconhecia. Os vestidos davam lugar aos calções, às t-shirts e às calças.” É, nessa mesma página, que continua, de forma precisa e objetiva, a descrever os comportamentos que adotava desde criança e que, Zélia Figueiredo, refere como comuns. “A seleção natural pelo grupo de rapazes era uma rotina”; a troca das “brincadeiras características dos agregados onde o rosa é a cor mais predominante e as conversas onde abordam as barbies novas nas estantes, ou o mais recente colar oferecido pelo avó” por “dar um pontapé na bola, discutir estratégias de jogo”.
“Depois há aquela ideia de uma menina pode gostar de calças e não ser trans. Os meninos trans quase sempre dizem, eu sou menino ou eu sou uma menina, ao contrário do seu género biológico. Afirmam-se muito: Eu sou, eu gosto, eu quero isto, eu quero aquilo.”
Zélia Figueiredo
A psiquiatra e sexóloga acrescenta que uma forma de perceber alguns sinais é, por exemplo, nas escolas que “ainda têm as coisas para os meninos e para as meninas, porque os meninos vão para as coisas das meninas e ao contrário.” Comportamentos simples que podem, por vezes, levar ao equívoco, tanto por pais, como professores, mas que acabam, muitas vezes, por ser ignorados.
Nós ainda temos uma sociedade em que é muito cor-de-rosa e azul. Há poucos pais que dizem que não querem cor-de-rosa e azul. Há pouco pais que não querem que as brincadeiras não sejam separadas. Há poucos pais que dão carros às meninas e bonecos aos meninos, mesmo que eles peçam.
Zélia Figueiredo
Existe uma inocência infantil que se revela e mostra diferentes formas de reagir. Zélia Figueiredo relembra que há pessoas que lhe dizem: “na infância foi muito fácil, não sofri, porque nem percebi logo que não tinha ou tinha pilinha.” No entanto, para outras crianças, a infância foi marcada por um sofrimento inexplicável, perante aquilo que queriam e não tinham. Décio Ferreira relembrou: “conheço alguns [transexuais] de famílias muito católicas que, com três/quatro anos, rezavam à noite e pediam à Nossa Senhora para acordar no outro dia no corpo certo.” Algumas crianças, por exemplo, quando são filho ou filha única começam a sofrer no momento em que vão para o infantário “quando estão a mudar as fraldas e pensam sou menina, mas aquela ali ao lado é menina também e tem umas coisas diferentes das minhas.” Outras, quando têm irmãos, apercebem-se e pensam “o meu irmão tem ali uma coisa que não tenho”, esclarece o cirurgião.
O questionamento sobre a Identidade de Género pode surgir em criança e persistir ou, noutros casos, surgir no início da puberdade.
“Na puberdade exacerba-se tudo. Há um exacerbamento do mau estar, percebe-se tudo”, afirma a psiquiatra e sexóloga. É comum, tanto no rapaz como na rapariga, o mal estar com o corpo. Existe “um grande sofrimento na altura da menstruação, para rapazes trans, o não querer mostrar os órgãos genitais, por exemplo, nas raparigas trans, que não querem sequer tocar no pénis. A barba é uma coisa horrível, que elas [mulheres transexuais] tentam tirar, mas muitas vezes não conseguem. O peito começa a crescer é horrível”, explica Zélia Figueiredo. As evoluções físicas do corpo associadas ao sexo biológico causam imensa repulsa, sofrimento e mal-estar com o corpo em pessoas trans.
“Havia um desejo, cada vez maior, de sair daquele corpo, de me arrancar daquelas formas e poder sentir-me em casa comigo e com os outros.”
Lourenço Ódin Cunha
“Estar deprimidos, estar ansiosos, não querer ir à escola, na escola não quererem ir para o balneário, não quererem fazer ginástica, aguentam muito tempo sem ir à casa de banho”, enumera Zélia Figueiredo. São situações onde é “preciso ver o porquê [de acontecerem].”
Júlia Pereira conta que “usava a casa de banho em casa, antes de sair, e tentava aguentar o dia inteiro sem ir à casa de banho, para só ir em casa.”
Se os WC das escolas são um problema, os WC públicos também o são. “Lembro-me de deixar, também, de frequentar WC públicos, nunca sabia em qual entrar. Lembro-me de ter provocado desde gritos de mulheres a dizer “está um homem no WC das mulheres”, a chamarem o segurança. Cheguei a estar mais de oito horas sem ir ao WC, eram umas dores horríveis”, explica Lourenço.
Os locais públicos, como a praia, normalmente evidenciam fisicamente o corpo, deixam de ser opção. Júlia explica: “deixei completamente de ir à praia. Comecei a dizer que não gostava à minha família, para não me chatearem e insistir que fosse.” Lourenço, relembra a sensação de incómodo que ir à praia lhe proporcionava, “ir à praia de calções e tirares e estares com sutiã era uma coisa, para mim, absurda.”
Há a ambição de despir uma imagem física para jamais ser reconhecida enquanto homem ou mulher, de acordo com o seu sexo biológico. Querer evitar os olhares inerentes ao preconceito e ao desconhecimento, faz com que conscientes do que pretendem, mas ainda com tenra idade comecem a mudar fisicamente, adotando determinados comportamentos, como alterar o cabelo, esconder os genitais mais visíveis e que definem, socialmente e anatomicamente, homem ou mulher, vestir roupas associadas ao sexo com que se identificam.
”Quando comecei a ter alguma autonomia para controlar como é que tinha o meu visual, deixei o meu cabelo crescer e tentava, mesmo tendo de comprar roupa na secção masculina e na secção dos meninos, comprar sempre aquilo que me apetecia e que toda a gente chamava unissexo e que me parecesse menos masculinizante”, relata Júlia.
“Não chegava só ter uma imagem geral varonil, era necessário eliminar os pormenores. Aqueles que deitavam por terra o meu eu. E como amputar seios? Como?”
Lourenço Ódin Cunha
Lourenço Cunha “usava cabelo rapado, roupa masculina e o peito já sofria estratégias para passar despercebido”, através do uso de t-shirts mais largas e soutien desportivo.
Para Lourenço e Júlia, apesar de diferentes, existiu uma opção comum a ambos. Algo não visível a olho nu, mas acima de tudo, uma escolha pessoal nem sempre universal, adiar a exploração sexual. Lourenço explica que “enquanto mulher, eu nunca perdi a minha virgindade. Nunca tive uma experiência afetiva e sexual com um homem e nunca me arrependi. Quando acontecesse, teria que acontecer em consonância com tudo aquilo que acreditava e tudo o que acreditava estava no corpo de uma mulher, que seria minha.” Júlia explicou que “adiei completamente a exploração da minha sexualidade, foi algo que meti na cabeça que só quando estivesse plenamente como Júlia, quando não tivesse dúvidas em que qualquer pessoa que fosse estar comigo na intimidade não iria ter outra ideia na cabeça, de estar com outra pessoa, outro corpo que não fosse o meu, a minha identidade, que não fosse a Júlia, que eu não o queria fazer.”
Os sintomas ficaram para trás e, atualmente, Júlia Pereira e Lourenço Cunha mostram sem pudor, aquilo que antes escondiam, evitavam. Através das suas publicações nas redes sociais vê-se que ambos vão à praia. Ambos têm um relacionamento. Ambos publicam fotografias, como querem, sem haver a necessidade de esconder algo que se associa ao sexo oposto.
Tratamento hormonal e os procedimentos cirúrgicos: “Enganei a genética, dei a volta a algo que a medicina me permitiu ser possível”
A incompatibilidade entre sexo do cérebro e sexo biológico tem soluções capazes de responder às necessidades que muitas pessoas procuram.
Uma das soluções é a terapia hormonal de substituição “que consiste na administração de fármacos, de forma a induzir efeitos de masculinização/feminização, redução dos níveis hormonais endógenos e, como tal, as características sexuais secundárias do sexo biológico do individuo e a indução de características sexuais secundárias do sexo pretendido”, afirma Francisco Neri Gomes, num artigo de revisão publicado em 2017 acerca da “Disforia de Género e a Endocrinologia”.
O tratamento hormonal é um processo que “acaba por ser para toda a vida”, explica Décio Ferreira. A quantidade administrada e o período de tempo em que deve ocorrer depende de caso para caso, daí a necessidade de um bom acompanhamento médico. Zélia Figueiredo explica que o processo hormonal também pode ser adaptado de acordo com aquilo que cada um pretende. Em conversa recordou-se do caso “de uma pessoa que quis tirar o peito e tomar poucas hormonas porque não gostava muito de barba.” Há coisas possíveis de se fazer em termos hormonais, outras que não, por exemplo, “não posso ficar com a voz grossa e depois não ter pelo.” O tratamento atua como um todo, se houver doses baixinhas, posso ver que ela [a pessoa] vai ficar com algumas coisas e que não tem muita barba”, explica a psiquiatra e sexóloga.
Lourenço Cunha, descreve, no seu livro, as alterações físicas decorrentes do tratamento hormonal. Começa por explicar que “não estavam a corresponder às minhas expectativas”, mas que as pessoas à sua volta já notavam diferenças, como “observavam a minha voz um tom mais grave”, alguns “pelos começavam a aparecer na zona da barba” e “a própria massa gorda estava mais densa.”
Se o tratamento hormonal é uma mais-valia para as pessoas transexuais, a realidade é que pode revelar-se mortífero se não for bem controlado. Décio Ferreira explica que o “processo hormonal é traumático para o fígado”, então é necessário uma monitorização constante, de modo a verificar “se dá mais hormonas, menos hormonas”.
Lourenço Cunha conta, apesar das várias alterações corporais, o que o tratamento hormonal lhe proporcionou. A verdade é que quase morreu devido a desconhecimento médico. “As injeções deveriam ser dadas de três em três meses e tomava-as de duas em duas semanas.” Isto fez com que os valores hormonais chegassem aos 1400, quando deveriam estar entre os 400/700, valor normal num homem biológico.
Uma outra solução, por vezes adotada em conjunto com o tratamento hormonal, são as cirurgias de reatribuição sexual. Operar o cérebro, introduzir o género que corresponde ao corpo biológico, não é possível. Apenas é possível operar o corpo. Esta é uma das soluções e cabe à pessoa decidir o que pretende fazer: “operares, não operares, viveres assim o resto da vida, aceitares”, exclama Lourenço Cunha.
A realização de qualquer procedimento médico é opcional. É necessário destacar a realização dos procedimentos cirúrgicos que exigem a apresentação de dois relatórios médicos. É feito um primeiro diagnóstico para verificar se a pessoa sofre de incongruência de género e o segundo diagnóstico é uma segunda opinião. Se ambos forem coincidentes, o diagnóstico está feito e a pessoa pode avançar para os restantes procedimentos. Os procedimentos médicos, atualmente, são realizados em dois hospitais: Hospital de Jesus, privado, e Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, público. |
Foi a uma terça-feira, num dos locais mais calmos da casa, com um computador e um bloco de notas à frente que João Décio Ferreira, médico de Cirurgia Plástica no Hospital de Jesus, premiado mundialmente pelas técnicas que tem aplicado no ramo das cirurgias de mudança de género e com um número extenso de casos operados, explicou o processo cirúrgico.
“Acho que mais ninguém teve contacto com tanto transexual como eu e já com o diagnóstico feito. Eu acabo por ter casos que vêm de sítios de norte a sul do país e mesmo do estrangeiro.”
João Décio Ferreira
O processo de masculino para feminino, segundo a sua forma de operar, consiste numa cirurgia ao genital de oito/nove horas, onde a pessoa “entra no no bloco operatório com um pénis e um escroto e com os testículos e sai com uma vagina, com a vulva, com o clitóris, com pequenos e grandes lábios.” Passados quatro/cinco/seis meses pode precisar de pequenas correções, por exemplo, “suponhamos que tem um pénis muito grande, pode (deixar até uns) ficar com um tamanho de pequenos lábios, que depois pode achar grandes demais e pretende reduzir.” Pode, ainda, realizar outras cirurgias se o tratamento hormonal não for suficiente, como “pôr umas próteses mamárias, modificar a própria face, mas isso já são coisas da cirurgia plástica e da cirurgia maxilofacial”, a sua realização é opcional.”
“Quando era muito pequenina, dava uma novela brasileira que tinha uma personagem trans e, depois, a minha mãe comprava a revista e tinha lá uma notas explicativas que vinha no contexto da telenovela e essa informação deixou claro que eu tinha solução, não era a única menina com estas características,com este corpo e que tinha nascido desta forma. Havia soluções para eu poder afirmar-me como menina que eu era.”
Júlia Mendes Pereira
O processo cirúrgico de feminino para masculino é mais longo e exige mais intervenções cirúrgicas.
Normalmente, a primeira cirurgia é a Mastectomia. Retira-se o peito, a glândula mamária e “tem que se deixar um tórax, com as aréolas e mamilos de aspeto o mais masculino possível, para termos um Tórax Masculino”, explica o cirurgião.
“O símbolo que representa a feminilidade na sua expressão máxima, a mama, tinha sido arrancado de mim e isso trazia-me a sensação de que o mundo estava mais justo.”
Lourenço Ódin Cunha
Uma outra cirurgia é a Histerectomia que vai “tirar tudo, ovários, útero, vagina”, explica Décio Ferreira.
Algumas vezes os pacientes, após esta intervenção, decidem terminar o procedimento para não ter mais cicatrizes pelo corpo. Nestes casos, o que preferem fazer é libertar “o clitóris que já está bastante aumentado devido à hormonoterapia, fazer dele um mini-pénis, fica como se fosse uma criança de dois anos, três anos e unindo os grandes lábios para fazer um escroto e pôr lá dentro umas próteses testiculares”, explica o cirurgião.
Quando os pacientes querem realizar o processo de construção de pénis completo realizam uma faloplastia. Décio Ferreira faz a Faloplastia chamada retalho tubular abdominal, onde utiliza uma técnica de cirurgia plástica chamada retalho tubular abdominal, para sempre com segurança fazer as transposições do retalho até estar no sítio que queremos para fazer o pénis.” A transferência destes retalhos, é feita, normalmente, com anestesia local (e pretende evitar sequelas), tentando sempre reduzir ao mínimo as sequelas. Termina com uma cirurgia de anestesia geral, onde há a colocação de uma prótese peniana ou enxerto de cartilagem (total) costal, dando então (formato) rigidez ao pénis.
O enxerto de cartilagem é um pedaço da cartilagem da costela da própria pessoa para dar rigidez ao pénis, mas não permitem dobrar o pénis. As próteses penianas são feitas para meter dentro dos corpos cavernosos de pénis naturais, que (já) é uma estrutura bastante rígida. Como nestes pénis reconstruídos não há corpos cavernosos, as próteses penianas têm de ser colocadas dentro de próteses vasculares especiais. As próteses penianas semirrigidas (além disso) tem a vantagem de se poder dobrar. (As próteses penianas são colocadas, mas com próteses vasculares à volta por). |
“O futuro pénis seria arrastado e colocado, finalmente, no sítio definitivo a que lhe pertencia. O meu corpo estava, neste momento, quase talhado ao pormenor para ser aquilo que deveria sempre ter sido- um corpo masculino”
Lourenço Ódin Cunha
Além destas cirurgias, o cirurgião plástico informa no seu website, que podem ser necessárias outras cirurgias, “como correções do tamanho dos mamilos, corrigir qualquer complicação que surja como resultado das várias cirurgias e no final eventualmente correção de cicatrizes em geral.”
“As pessoas não fazem noção dos números. É uma minoria,são meia duzia deles. Depois tem o que está na moda. Isto não é uma moda, ninguém quer passar por uma moda em que tens que passar por um processo cirúrgico que é irreversível.”
Lourenço Ódin Cunha
Tanto Décio Ferreira como Zélia Figueiredo explicam que nem toda a gente quer realizar as cirurgias todas. “Há pessoas que não querem ser operadas aos órgãos genitais, podem ser transexuais, que se sintam completamente mal no seu corpo, mas acharem que as cirurgias ainda não correspondem a terem uma uma genitália que seja de acordo com aquilo que preferem igual à do género com que se identificam e as pessoas que nasceram assim, ainda não se aproxima e eles acham que não vale a pena, vale a esperar, por exemplo”, afirma Zélia Figueiredo. Décio Ferreira explica que “há uma coisa que eles querem sempre, por exemplo, do feminino para o masculino, é fazer a mastectomia, tirar peito e ficar com um tórax masculino e depois deixar crescer a barbinha. Alguns, depois ficam a pensar se querem fazer mais alguma coisa.”
Os mitos: Vamos entender a verdade
Já é possível, um/ uma transexual ser pai ou mãe biológico? Décio Ferreira: “se foi do masculino, para o feminino, para ficar com um aspeto mais feminino, também lhe tiraram os testículos, não pode engravidar ninguém. Alguns fazem uma coisa, guardar espermatozoides, para depois poderem engravidar alguém. E aí eu faço este exercício mental: Era homem fez todas as cirurgias, ficou mulher.Guardou os espermatozoides, então vamos lá ver: se tem uma orientação sexual mais típica do sexo feminino, certamente vai ter um parceiro masculino. Não vai engravidar esse homem com os seus espermatozoides, pois não? A única hipótese de engravidar alguém ou é mesmo uma barriga de aluguer ou então, era homem, ao transformar ficou mulher e tem uma orientação sexual lésbica e aí junta-se com uma mulher. Aí nessa altura, pode usar os espermatozoides que tinha antes para engravidar essa mulher. Se for o contrário, também é possível guardar óvulos para ter filhos biológicos.” Identidade de género e orientação sexual, qual a relação? Lourenço Ódin Cunha: “Identidade de Género, não tem nada haver com identidade sexual. Eu conheço rapazes, que hoje são rapazes, mas já foram raparigas, e têm namorados, namoram rapazes.” |
Saúde Mental: Um muro que nem todos conseguem saltar
A saúde mental e a transexualidade andam de mãos dadas. Há um antes, um durante e um depois do processo de afirmação de género que devido ao mesmo e à influência de fatores externos acabam por ser entraves a uma saúde mental plena.
“Ansiedade, depressão, quando são jovens, tentativas de suicídio, automutilações, tem a ver com a impossibilidade de se fazerem entender, de serem validados, de terem o seu espaço, de serem entendidos como pessoas, como as outras, e isso faz com que elas se isolem”, explica Zélia Figueiredo.
Numa fase inicial, na grande maioria dos casos, “as pessoas escondem muito tempo, adiam-se muito tempo e têm medo de falar. [É algo que] custa muito porque acham que vão desiludir os pais, acham que vão sofrer de bullying.” Depois de dar o primeiro passo, falar é um caminho sem retorno. A forma como as pessoas reagem a isto acaba por influenciar. Muitos melhoram consideravelmente, outros funcionam um pouco como “acordeão” porque “em casa tomam uma hormona e a família ainda não sabe muito bem, tenta mudar o nome, mas a família não chama, mastectomia, nem pensar. É um grupo em que o tal mal-estar com o corpo e o mal-estar com a sua identidade vai sendo difícil.”
“Queria tudo menos magoá-los. Por isso, foi uma caminhada, diria, solitária até ao momento que as partilhas fizeram parte do nosso quotidiano”
Lourenço Ódin Cunha
A aceitação da família assume para muitos um papel importante. Há uma necessidade de serem entendidos e de se fazerem entender, o que, por vezes, não acontece ou demora a acontecer e isso acaba por influenciar muito, não só porque existe o sentimento de medo e dúvida de como irá ser no futuro, mas acaba por atrasar o processo de afirmação de género, havendo assim um maior prolongamento do mal-estar com o corpo.
O medo, a frustação e o receio, não apenas enquanto não se realiza as cirurgias, mas, em alguns casos, sempre é algo que não deixa de estar presente, em situações como a não utilização do nome escolhido, do pronome adequado e no reconhecimento da pessoa no sexo pretendido. Isto é algo que preocupa as pessoas transexuais, pois, por exemplo, “se me sinto masculino e quero muito que me vejam como um rapaz, se eu vou escolher um nome, começo a terapia hormonal e começo a ter algumas coisas de masculino eu gostava muito que os outros me vissem como tal e que as pessoas não andassem sempre na rua a pergunta: é menino ou menina? é rapaz ou rapariga?,” explica a psiquiatra e sexóloga.
Isto nem sempre é fácil e, às vezes, não se trata de ser preconceito, mas da dificuldade de perder um hábito que se teve toda a vida. A psiquiatra e sexóloga explica que “os mais pequeninos tratam logo é mais fácil, são mais plásticos e há menos anos que chamam aquele nome. Os pais têm alguma dificuldade e podem querer chamar o outro nome, o nome social, mas não conseguem logo, sais-lhes.” As reações acabam por ser muito diversificadas, há quem perceba bem e há quem fique chateado. Zélia Figueiredo, em conversa, explica que existem casos de pessoas que mesmo já tendo passado pelo processo há muitos anos, os pais ainda se enganam. Quando isso acontece as formas de reagir são diferentes, há quem diga “vê, está sempre a enganar-se”, outros “não dizem nada. Acho que é por se sentirem bem tratados.”
“Nunca conheço os nomes porque vejo o novo e risco o outro. Tento sempre chamar, perguntar qual é o nome, logo no primeiro dia. Há pessoas que dizem que ainda não escolheram, trato na mesma no feminino ou no masculino, pode não ter nome, mas usamos o pronome.” Isto é a técnica que a médica utiliza para nunca se enganar, pois “vir a uma consulta ou falar com alguém que se diz especialista na área, a primeira pessoa que se vai falar, que não reconhece o nome ou o pronome, é muito mau”, exclama.
“Largava atrás de mim trinta anos de uma vida e um nome que me prendia a ela. Estava livre…”
Lourenço Ódin Cunha
Não é apenas ser chamado pelo nome que pretendem que importa, mas também, serem reconhecidos no registo civil, pelo sexo e nome que pretendem. Júlia Pereira define, numa única palavra, o sentimento que esta mudança lhe proporcionou: alívio. “É o alívio de nos livramos de um monte de coisas. Mais do que uma coisa efusiva de termos ganho uma coisa na nova vida, foi o de perder problemas.” Problemas que Lourenço acaba por explicar quando fala, também ele, desta mudança. “[Mudar de nome] não era uma prioridade pessoal, mas torna-se prioridade para ti, porque vais a um hospital, [chamam] Ivone e levanta-se um gajo de barba, por isso é que é importante mudar os papéis, precisamente por causa desse tipo de coisas fora do normal.”
O mal estar corporal, antes e durante o tratamento hormonal e das cirurgias, também é uma agravante à saúde mental. O antes é marcado por uma repulsa ao corpo biológico e a ambição de fazê-lo corresponder ao cérebro. O durante revela-se complicado, porque, às vezes, a pessoa não fez o processo completo ou tem muitas cicatrizes e isso ainda incomoda. É em prol desta ideia que Zélia Figueiredo acaba por mostrar uma preferência pelo termo disforia do corpo, invés de disforia de género. “Disforia de Género, mal-estar com o género, elas sentem-se do outro género, elas podem é não estar bem com o seu corpo”, esclarece.
“Não existe a possibilidade de uma saúde mental plena, numa sociedade tão transfóbica e que rejeita tanto as pessoas como eu, que me sinto tão rejeitada, tão sobre-analisada, tão sobre-explorada.
Júlia Mendes Pereira
O desconhecimento e o preconceito do que é a transexualidade não deixam de estar presentes na vida de quem passa ou já passou pelo processo.
Júlia Mendes Pereira explica que há uns anos, com gerações anteriores, “as pessoas discriminavam porque não sabiam que existia, porque era estranho, porque não lhes fazia sentido, porque achavam que era uma realidade obscura, uma coisa marginal na sociedade e que não fazia parte das competência dela lidar com isso e compreender isso.” Atualmente, ainda há pessoas que, por não perceberem, erram, mas “sinalizando o erro que estão a cometer corrigem e esforçam-se por corrigir e fazer melhor.” No entanto, existem situações que não são assim. As camadas jovens estão mais informadas, “vai procurar informação, vai ler, às vezes vai buscar coisas muito académicas, muito aprofundadas, que, muitas vezes, não é pelo bem, pela empatia, não é para compreender e respeitar, é para combater, é para arranjar toda uma nova forma de ter um discurso de ódio muito mais fundamentado.” Lourenço Cunha também refere que a geração mais nova “é a pior geração porque são a primeira geração a julgar.” Recorda-se que quando saiu do reality show sentiu uma maior aceitação por parte das pessoas mais velhas que iam ter com ele “a dar-me os parabéns porque perceberam que havia pessoas diferentes, porque perceberam o que era a transexualidade.”
O preconceito já é uma realidade em dois mundos, online e offline. Lourenço afirma que a geração mais nova é “a primeira geração a ir para a internet, espalhar boatos e fazer comentários negativos.” Júlia explica que existem pessoas “que sabem que estão perante uma pessoa trans, que sabem qual é o seu pronome, qual é o nome que elas preferem e que optam como ferramenta para as magoar.”
“Não falar sobre ele [preconceito], acreditando que só existe se a cabeça dos demais o deixar existir.”
Lourenço Ódin Cunha
O preconceito é, muitas vezes, sentido no ramo da empregabilidade. Lourenço costuma dizer: “há vários assuntos que não posso dar certezas porque nunca senti na pele o chegar a um empregador e ele dizer que não tem emprego por isto ou por aquilo, mas como se chama ou como é que não se chama”, mas conhece casos em que as pessoas “estão no emprego e estão em mudança e é muito difícil o patrão aceitar. É difícil para os colegas de trabalho aceitar. Não tinha que ser difícil porque a vida não é deles, a pessoa é que está a passar pela dificuldade no fundo. As pessoas recusam-se a chamar o nome que a pessoa quer, as pessoas chamam o nome que está no cartão de identidade.” Júlia, contrariamente a Lourenço, afirma que a visibilidade fez com que não a aceitassem em empregos. “Basta colocar o meu nome no Google para toda a gente saber que sou trans e isso dificulta muito que consiga ter uma estabilidade económica e laboral.”
A saúde mental pode ser prejudicada por vários sintomas,”não é um sintoma só”, afirma Zélia Figueiredo. A força mental para lidar com eles varia de pessoa para pessoa, mas para muitas isto torna-se uma barreira tão grande que tentam suicídio ou suicidam-se. Décio Ferreira explica que, “antigamente, havia mais suicídios. Havia suicídios de pessoas que nasciam no corpo errado e não tinham solução e ainda por cima eram martirizados pela família, pelos amigos que não sabiam o que era aquilo, achavam que estavam com uma ideias malucas e acabavam por se suicidar. Quando começou a haver as consultas de sexologia começaram a ser acompanhados por psiquiatras, psicólogos e diminuíram, praticamente desapareceram os suicídios. Depois entrou-se na outra fase, que era verem-se estropiados em cirurgias a que foram sujeitos e que aí acabavam em suicídio também.”
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Informações sobre a lei: | https://dre.pt/dre/detalhe/lei/38-2018-115933863 https://eco.sapo.pt/opiniao/lei-da-identidade-do-genero/ |
Website sobre informação do processo cirúrgico: | https://joaodecioferreira.com/pt/ |
Reportagem: | Linha da frente| O meu género| Ep. 214 Jan. 2021 | temporada 23 https://www.rtp.pt/play/p8165/e518004/linha-da-frente |
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Organizações: | lga Portugal-Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo. https://ilga-portugal.pt/ Ação Pela Identidade-Ação pela identidade intervenção Transexual e intersexo. https://apidentidade.wordpress.com/ Associação Amplos- Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género. https://amplosbo.wordpress.com/about/ |
Inês Lopes Costa, 20 anos, nascida e criada numa freguesia de Vila Nova de Famalicão. Cresceu no meio do povo e o povo viu-a crescer, talvez este seja um do dos motivos que a faz gostar tanto de pessoas e falar com pessoas. Quando era pequena, ainda sem saber ler, gostava de olhar para os desenhos dos livros e inventar histórias. Hoje, adulta, espera poder ouvir histórias reais e espalhá-las pelo mundo. Sonha também dar voz a quem não a tem, tornando o invisível visível. Essas são talvez as razões que a levaram a escolher Ciências da Comunicação, estando neste momento no último ano da licenciatura. Ambiciosa, aventureira e curiosa são os adjetivos que a definem, pois ,diariamente, esforça-se para conquistar o que quer e partilhar o que gosta e aprendeu.