Turismo? Travão a fundo
Paralisação no turismo industrial
Por: Allan Almeida
Estima-se que a pandemia da Covid-19 teve um impacto superior a 500 mil euros nos cofres municipais de São João da Madeira. Apesar do impacto económico ser brutal, os funcionários do projeto Turismo Industrial não tiveram os seus rendimentos reduzidos e também não houve despedimentos. Quem o garante é Alexandra Alves, chefe da unidade de Turismo e Alzira Silva, membro do Centro de Arte Oliva.
Descomunal, forte e cruel. Estas são algumas palavras que podem adjetivar o impacto económico que a pandemia da covid-19 teve na economia de Portugal. O município de São João da Madeira (SJM) não foi exceção, Jorge Sequeira, Presidente da Câmara Municipal (PCM) mais pequeno do país (cerca de 8 km²), garantiu a 16 de abril de 2020, em conferência de imprensa, que o impacto direto da Covid-19 nos cofres municipais será superior a 500 mil euros.
O 1º caso positivo à covid-19 no concelho foi registado a 17 de março, sendo que 1ª vítima mortal ocorreu dias mais tarde a 23 de março. Neste momento, segundo o SINAVE (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica) conta com um total de 80 casos confirmados. Segundo o matemático do Instituto Superior Técnico, Henrique Oliveira, SJM é o “concelho português onde existe mais probabilidade de haver contágio de Covid-19”. O Matemático faz as contas através do “número de casos, densidade populacional e o tamanho do concelho”, porém, foi notório o esforço dos responsáveis políticos para que não houvesse uma ainda maior fonte de contágio. A câmara gastou cerca de 88 mil euros na aquisição de ventiladores e materiais de proteção individual e também perdeu cerca de 292 mil euros em receitas (taxas de licenças, rendas da Oliva Creative Factory e da Sanjotec, educação, concessões, bilheteria dos museus e da Casa da Criatividade, parquímetros, etc.).
Licenciada em Gestão do Património Cultural na Escola Superior de Educação do Porto, Alexandra Alves de 39 anos, é diretora da unidade de Turismo da Câmara Municipal e garante, por escrito, que apesar das visitas às fábricas, museus e centro de arte estarem proibidas, os trabalhadores do projeto Turismo Industrial não foram despedidos e não tiveram os seus rendimentos reduzidos. Revela também ter em média cerca de 22 mil visitantes anuais e que apesar desta paragem há muito “trabalho por fazer”.
Turismo Industrial – O que é?
Para os moradores ou naturais do conselho, o que SJM tem de melhor são as fábricas e o seu sentido empreendedor e inovador, não é por acaso que a região possui 3 zonas industriais e é conhecida como sendo a capital do calçado e do chapéu. Foi, nesse sentido que foram criados os roteiros de turismo industrial em que as pessoas têm oportunidade de conhecer o interior das empresas que aderiram ao projeto, visitando-as em plena laboração. Este, foi o primeiro projeto do género a ser criado em Portugal, com a particularidade de ter um centro de acolhimento (Welcome Center) aos turistas, localizado na Torre da Oliva, que gere e organiza as visitas de um projeto que oferece uma imagem peculiar do concelho e da região. Para dar inovação na gestão dos grupos e das visitas, o turismo industrial de SJM disponibiliza recursos humanos altamente credenciados para a realização das visitas dentro das diferentes unidades fabris, bem como todo o equipamento necessário para a boa realização das mesmas, nomeadamente, equipamento de vestuário e áudio.
No que respeita à inovação, este projeto permite que os jovens tenham noção real do que é a atividade industrial e ganhem gosto pela mesma, observando a empresa e conceitos de produtos únicos no país e diferenciados no seu conceito de inovação. Nestes Circuitos estão integradas seis empresas, duas instituições e dois museus. São elas a Viarco, única fábrica de lápis em Portugal, a Cortadoria Nacional do Pelo e a Fepsa, empresa líder no mercado internacional, da indústria da chapelaria, a Heliotêxtil, fábrica de passamanarias, a Bulhosas, empresa de etiquetas; a Flexitex e a Molaflex da indústria da colchoaria. Ao projeto associaram-se também o Centro de Formação Profissional da Indústria de Calçado e o Centro Tecnológico do Calçado de Portugal, entidades às quais se junta o Museu da Chapelaria, único na península Ibérica, o Museu do Calçado, a Oliva Creative Factory e o seu Centro de Arte da Oliva e a Sanjotec.
Esta iniciativa explora o património histórico e industrial do concelho e dá a conhecer as inovações tecnológicas que traduzem a dinâmica empreendedora dos industriais sanjoanenses, e ainda, propõe-se a oferecer um turismo de experiência idêntico àquele que já existe noutros países da Europa, mas diferenciador pelo facto de compilar tudo no mesmo concelho e com gestão de uma autarquia.
Centro de Arte Oliva
Alzira Silva, de 58 anos, assistente da diretora, Andreia Magalhães, do Centro de Arte Oliva, tirou o curso de Secretariado no extinto Externato Portuense de Instrução Prática, vai de encontro às declarações da responsável do Turismo e garante que “não houve e nem vai haver despedimentos”
O Centro de Arte Oliva, situa-se, tal como o nome indica, na Oliva Creative factory, autodefine-se como “um local para o contacto, conhecimento e interpretação das artes visuais dos séculos XX e XXI”, foi inaugurado a 19 de Outubro de 2013, não tem coleção própria, portanto não é considerado um museu, e sim um centro de exposições. Alzira, apesar de ser administrativa, fez várias formações em arte bruta e contemporânea, pois o Centro de Arte alberga permanentemente duas coleções, uma de cada vertente artística.
A entrevistada, revela que houve grande divulgação no centro e norte de país e que devido a essa publicidade, todos esperavam que em 2020 o centro de arte ultrapassasse, em larga escala, os 8 mil visitantes alcançados em 2019, porém, por decreto do PCM e devido à pandemia, o Centro de Arte fechou as portas ao público dia 13 de março, registando um total de 1799 visitantes, e reabriu a 29 de Maio de 2020. Neste período de confinamento a equipa de funcionários trabalhou em regime de rotatividade. Apenas uma pessoa deslocava-se até à Oliva, enquanto os outros estariam em teletrabalho.
Para reabrir com a maior segurança possível, os funcionários receberam formação da Proteção Civil e adotaram várias medidas de prevenção, tais como:
- Abertura ao público somente às sextas, sábados e domingos.
- Estabeleceram um limite máximo de visitantes de acordo com o tamanho das salas. A maior sala, recebe 15 pessoas, enquanto a menor, recebe 10.
- Disponibilizam gel e máscaras de proteção para os visitantes à entrada.
- Deixaram de receber visitas orientadas.
- Novo circuito, com itinerário assinalado, para não haver cruzamento de pessoas.
A funcionária do Centro de Arte, fala acerca da importante parceria com a Unidade do Turismo Industrial, revelando que a função do turismo é agendar e calendarizar as visitas orientadas, na sua grande maioria provenientes das escolas, de forma a não haver overbooking.
Contudo, como revelou Alexandra Alves, o turismo está “a trabalhar a meio-tempo. Os museus só estão a abrir às sextas, sábados e domingos e as visitas guiadas/orientadas às empresas e ao centro de arte ainda não estão disponíveis.”
Por fim, questionada sobre como a unidade de Turismo Industrial se irá reinventar daqui por diante de forma a ultrapassar esta crise, Alexandra Alves, é sucinta e apenas diz que a partir de agora os percursos de visita serão mais curtos, direcionados para grupos mais pequenos. Já Alzira Silva, fala acerca de um projeto 100% digital derivado do Centro de Arte, Do It Home, que visa manter o contato com o público à distância.