Ligia Vilaça tem 39 anos e é enfermeira de anestesia no bloco operatório do Hospital Pedro Hispano. É residente na Póvoa de Varzim e foi recrutada para uma equipa de cuidados intensivos, área na qual nunca tinha trabalhado, para ajudar no combate à Covid-19.

Fala na mudança drástica das suas rotinas e até dos seus percursos. “Afastar-me do meu filho e do meu marido foi uma das coisas que mais me custou neste processo”, diz. – ”O meu marido e o meu filho estão a morar no rés chão e eu no primeiro andar. Fazemos circuitos completamente diferentes. Até a minha entrada é diferente da deles”, refere claramente emotiva, de olhos vidrados, enquanto fala das adaptações a que todos tiveram de se render em sua casa, para que fosse mantida a segurança de todos.

Os turnos de 12h de trabalho, a falta de material de proteção individual e a  baixao remuneração  prometida aos enfermeiros, deixam esta profissional de saúde desanimada – Ligia exprime o seu desagrado e a desilusão perante as medidas governamentais. Há a sensação de abandono do Estado. “Não acreditem no que vos dizem. É tudo mentira! O que nos chega ao Hospital, chega muito pela boa vontade das pessoas.” afirma assertivamente, reiterando que não existe material de proteção individual suficiente nos hospitais para que os profissionais se possam proteger durante os turnos. 

Sobre o seu tempo livre, a enfermeira diz que mesmo sem trabalhar, a sua cabeça está sempre no trabalho e que, principalmente, nesta nova fase da sua vida, dedica-se a expandir os conhecimentos. “Eu estudo, estudo muito, porque eu tenho um grande receio de não corresponder às expectativas que as pessoas estão a depositar em mim”, desabafa.. “Como disse, não sou enfermeira de cuidados intensivos, nunca trabalhei em cuidados intensivos” reflete, acrescentando que é  “alguém que foi apanhada no meio disto tudo e se esforça muito para corresponder às expectativas.”

Ligia deixa ainda uma mensagem de carinho e positiva aos portugueses, confiante de o país conseguirá ultrapassar este período menos feliz.

Vê o conteúdo na integra em: https://infomedia.atavist.com/o-ano-em-que-o-mundo-parou#chapter-5850927