Viver a Covid entre Itália e o Brasil
Miguel Louro, 46 anos, natural do Porto, é empresário no setor de importação de equipamentos para aquecimento. A residir há cerca de oito anos na capital de Estado de Santa Catarina, Florianópolis, no Brasil, Miguel conta-nos como viveu o início da propagação da Covid-19 em dois países: Itália e Brasil.
No dia 19 de fevereiro, ainda antes de se adivinhar a dimensão da pandemia que paralisaria o mundo, foi a trabalho à cidade de Verona, em Itália, para participar numa feira internacional, com regresso agendado para o dia 26. O empresário aproveitou a passagem pelo país transalpino para visitar outras cidades como Milão e Veneza.
Foi precisamente a partir do dia 22 de fevereiro que o surto epidemiológico da Covid-19 começaria a galgar terreno em Itália, com cerca de 100 casos confirmados e duas vítimas mortais, com especial incidência na região da Lombardia e de Veneto.
Miguel foi assistindo a uma alteração repentina nos comportamentos sociais em solo italiano. Primeiro o medo, depois a desorientação a apoderarem-se da população. Começam então as restrições impostas pelas autoridades para garantir a saúde pública. Até que sucede o inédito: um dos maiores carnavais do mundo é suspenso. Veneza é obrigada a cancelar a festa, mascarando-se de vazio, num tom condoído, grave, pesaroso.
Pelo ambiente de alarme gerado, confessa-nos que antecipou a sua saída de Itália, pois havia nas pessoas um clima de insegurança generalizado, influenciando-o a abandonar o país a 24 de fevereiro, mais cedo do que aquilo que estava previsto. Já não havia condições para permanecer descontraído. Os sinais eram demasiado evidentes para serem ignorados. Estava na hora de regressar a casa, no Brasil.
No dia em que aterrou em Florianópolis, não existiam ainda casos confirmados de pessoas infetadas com o novo coronavírus, no entanto, submeteu-se, voluntariamente, ao período de 14 dias de quarentena, aconselhado pelas autoridade de saúde.
A sensação de alívio foi fugaz, subitamente, em meados de março, a infeção multiplicou-se de forma galopante, transportando Miguel Louro, de novo, para um dos epicentros da pandemia.
Atualmente, no Brasil, a doença apresenta um amplo crescimento, quer pelo número de mortes, quer pela evolução do contágio comunitário – a 20 de maio regista cerca de 272 mil infetados – fixando cada Estado as regras de confinamento.
A adaptação profissional exigiu criatividade ao português, que reinventou o seu modelo de negócio. Já construiu uma plataforma digital para promover e comercializar os seus produtos, depositando assim todas as esperanças no negócio online. A nível pessoal protege-se o mais que pode. Permanece em casa, acompanhado de alguma angústia e de incerteza no futuro, sem deixar de reconhecer, quando liga a televisão e se depara com a crise sanitária, social e económica daquele país, que é um privilegiado.
Contudo, com a atual perda de valor do real face ao euro, taxa de câmbio que se tornou impraticável a quem importa da Europa para o Brasil, com o seu negócio paralisado nas últimas semanas, voltar a Portugal surge como uma realidade. Mantendo-se esta tendência, terá que suspender a atividade profissional que desenvolveu naquele país durante os últimos oito anos e preparar o regresso.
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Por José Mendonça